Texto por Fernando Queiroz e Fotos por Gustavo Diavok
Depois de cinco anos sem se apresentar no país, os ‘pais’ do Metal Sinfônico, em única apresentação em solo brasileiro, e próximos de se afastarem dos palcos, como afirmou em rede social o líder Christofer Johnsson, fazem uma apresentação que tinha tudo para ser histórica, especialmente pela presença da amada vocalista Lori Lewis, de volta aos palcos com a banda, mas peca por setlist longo e com muitas músicas ‘lado b’ e ausência de clássicos e canções mais populares do repertório imenso da banda, com as mais famosas ficando apenas para o final.
O PÚBLICO DEMOROU, MAS CHEGOU:
Shows em meio de semana não são exatamente os preferidos do público, e com razão. Por isso, ao horário de abertura das portas do Carioca Clube, pouco antes das 19h, se tinham duzentas pessoas, era muito! Se fosse em um sábado, seria algo preocupante, mas numa quarta feira, era de se esperar. Não era de se esperar um grande público, porém, mas já chegando o horário do show, surpreendentemente o local estava com ótimo público. Não perto da capacidade total da casa, mas bem cheio, ainda mais levando em conta o dia. Claro, uma banda com certa popularidade no nicho, que não vinha há cinco anos, certamente geraria um bom hype para o show. Certamente, muitas pessoas saíram direto do trabalho para o show, outras pediram folga. De qualquer forma, via-se claramente que todos fizeram um esforço para ir ao evento, e mostra que o gênero Sinfônico está ainda firme e forte, apesar de com outra demografia de outrora — pessoas mais velhas, em geral eram a regra, não mais adolescentes “góticos” como nos anos 2000.
PONTUALMENTE, O SHOW:
Um ponto a (quase) sempre se elogiar de shows no Carioca Clube é a pontualidade. Exatamente às 20h30, horário marcado para o show previamente, as luzes se apagaram e a introdução começou. Claro, o público foi abaixo, com gritos de “Therion, Therion”, lembrando muito o que se ouve no clássico DVD e CD Ao Vivo Live Gothic, de 2008. Para fãs, como eu, é impossível não ter uma boa dose de emoção e nostalgia com isso.
A apresentação começou com a excelente Seven Secrets Of The Sphinx, faixa que abre o álbum Deggial, de 2000. Uma faixa muito querida por fãs assíduos, embora não tão popular, mas funcionou bem para abertura de show. Em seguida, The Crowning Of Atlantis, do álbum homônimo de 1999, foi tocada. Embora seja a faixa-título do álbum, nunca foi realmente considerada um ponto alto do álbum em questão, e embora seja uma boa música, é surpreendente terem colocado no setlist, dada sua baixa popularidade. Estreando as faixas do último disco, Leviathan III, tivemos Ruler Of Tamag em seguida. Finalmente, após três músicas, os clássicos “boa noite, São Paulo” por parte dos vocalistas. Thomas Vikstrom e Lori Lewis serviam como mestres de cerimônia, e se comunicavam muito bem com o público, com as clássicas palavras que estavam com saudades de tocar no Brasil, e que fazia muito tempo. Logo, apresentaram a próxima faixa. A outra vocalista, Rosalia Sairem, anunciou um dos maiores clássicos da banda, uma que todos estavam ansiosos em ouvir. Gritou, como muita potência, Ginnungagap, do álbum Secret Of The Runes, de 2001. Ponto mais alto da primeira metade da apresentação, o público foi ao delírio!
SETLIST POLÊMICO, E UM POUCO DECEPCIONANTE, A PARTIR DAÍ:
É preciso deixar claro uma coisa: sou um fã de antiquíssima data de Therion, então sim, entendo perfeitamente que, para muitos fãs mais “hardcore” como eu, ouvir músicas mais lado b foi ótimo, uma grata surpresa. Porém, sabemos que fãs assim são exceções, não a regra. Por isso, e pela ausência de músicas muito mais clássicas, como Wand Of Abaris, Tuna 1613 e Kali Yuga III, e outras que nunca foram tocadas no Brasil, ou que não são tocadas há muito tempo, poderiam ter entrado no lugar de alguns ‘b-side’, já que a maior parte do público é formada por público comum, geral — fãs que não são assíduos, ou não ficam ouvindo todas as músicas de todos os álbuns a toda hora para lembrar de todas. Estes fãs ficaram, sim, notoriamente decepcionados com o geral do setlist, e ouvia-se comentários sobre isso durante boa parte da apresentação.
Após o clássico inconfundível Ginnungagap, a excelente Ninkigal, com o baixista Chris Davidsson nos vocais guturais, junto com Rosalia Sairem também mostrando que sabe muito bem fazer a técnica extrema na voz. Uma música ótima, que pode ser chamada de um dos destaques do último, porém não tão amado álbum. Tocaram mais algumas músicas lado b, Uthark Runa, Clavicula Nox, e uma “não tão” lado b, porém, também não pode ser chamada de hit, Typhon, do álbum Lemuria. Black Sun, El Primer Sol, Litany Of The Fallen e Eye Of Algol também não animaram muito o público, que já começava a demonstrar cansaço. Já não se ouvia mais coros de “Therion, Therion”, e a cada música anunciada, menos empolgação, como vimos em Mark Of Cain, Tuonela e Ayahuasca — essa última um tanto mais ovacionada, mas não a ponto de dizermos que havia recuperado o espírito do show, muito menos uma explosão por parte dos fãs.
O MELHOR PARA O FINAL, E FINALMENTE A EMPOLGAÇÃO:
Com o show já chegando em seu fim, finalmente outro grande clássico foi tocado. Wine Of Aluqah, do álbum Vovin, de 1998, um dos mais amados por todos os fãs, levou a animação de volta à casa, e o público se sentiu aliviado. Um curto solo de bateria precedeu outro momento altíssimo, com Nightside Of Eden, do maior clássico Theli, para alegria dos fãs tanto mais novos quanto mais antigos — público que, devemos frisar, aparentemente mais envelhecido e não muito renovado, com poucos jovens no local. Seguiram Queltzalcoatl, hit do Lemuria, e enfim a faixa-título deste álbum, que talvez seja o grande hit lento da banda. O momento continuou quente, com Sitra Ahra, do álbum homônimo, onde Lori Lewis mostrou porque é uma das maiores cantoras líricas do metal. Finalmente, Christopher Johnsson pegou o microfone e fez um breve discurso, agradecendo a todos, e anunciando, enfim, o maior clássico da banda, que também é a marca registrada deles, To Mega Therion, que como sempre foi o momento mais animado de qualquer show da banda, com essa música que qualquer um no recinto conheceria e cantaria junto.
A banda saiu do palco, mas todos sabemos que isso só poderia significar o bis. Dito e feito, voltaram com a magnífica e uma das preferidas de todos, Rise Of Sodom And Gomorra, do Vovin. Para fechar a noite, e com chave de ouro, a canção com a qual a maioria conheceu a banda, no já distante 2007, Son Of The Staves Of Time, onde o refrão foi cantado a plenos pulmões pelo público, e finalmente a apresentação chegou ao fim.
PERFORMANCE MAGISTRAL COMPENSA SETLIST:
Embora fosse nítido que muitos não gostaram do setlist no geral, e que seja uma unanimidade que foi cansativo, em especial o meio do show, é impossível não ficar impressionado com a perfeição técnica da banda. É verdade que instrumentalmente, não há muita dificuldade ou virtuosismo no Therion, mas a banda tocou cada uma das músicas à risca, o que foi nítido pelo excelente trabalho de técnico de som, conseguindo fazer com que não importa onde você estivesse, ouviria cada nada de cada instrumento. Os vocais são um show à parte. Rosalia Sairem ia dos vocais suaves a agressivos e até guturais; Thomas Vikstrom é um monstro, que em qualquer música, gravada por qualquer vocalista, se saía perfeitamente bem, indo do agudo ao grave, do potente ao estridente. E, lógico, Lori Lewis, a mais querida vocalista que passou pela banda, e que estava afastada dos shows da banda havia anos, mostrou o motivo de tanta adoração, mostrando-se uma verdadeira cantora de ópera, e não apenas uma cantora lírica no metal.
ILUMINAÇÃO PREJUDICOU EXPERIÊNCIA:
A crítica maior, mais que o setlist, deve ficar por conta da iluminação usada na apresentação. Sempre com tons escuros de azul, e os feixes de luz branca irregulares, e muitas vezes apontando diretamente para a plateia, foi difícil para quem estava do meio para trás conseguir ver realmente bem o palco. Em especial o fundo do palco, e levando em conta que é parte da performance da banda dois vocais irem para trás, em uma parte elevada, fazerem coros e vozes de apoio enquanto quem está como solista fica na frente, essa escuridão no palco foi algo que infelizmente prejudicou a experiência — a própria bateria mal podia ser vista exceto pelo branco das peles do bumbo que contrastavam com o cenário escuro. O plano de fundo, com o logo da banda, também estava bem apagado.
SALDO MISTO, MAS COM MAIS PONTOS POSITIVOS:
A apresentação foi longe de ser perfeita. Os pontos citados do setlist longo e cansativo, com ausência de alguns clássicos e muitas músicas “para encher linguiça”, e a péssima iluminação, prejudicaram. Mas a performance da banda, a pontualidade do show, ver e ouvir os grandes clássicos, e pela primeira vez em dez anos ver novamente Lori Lewis no palco, mais que compensou os problemas e más escolhas. No geral, um show, vamos dizer, “nichado” — especial e inesquecível para os fãs assíduos, e para esses sem dúvidas foi o show perfeito, mas para o público geral, o fã “não de carteirinha”, fica um gosto de que poderia ter sido mais, muito mais bem aproveitado, ainda mais levando em conta que dificilmente veremos outro show dos pais do Metal Sinfônico tão cedo.
THERION:
Christofer Johnsson — Guitarra
Sami Karppinen — Bateria
Christian Vidal — Guitarra
Chris Davidsson — Baixo
Thomas Vikstrom — Vocal
Rosalia Sairem — Vocal
Lori Lewis — Vocal
SETLIST:
Seven Secrets of the Sphinx
The Crowning of Atlantis
Ruler of Tamag
Ginnungagap
Ninkigal
Uthark Runa
Clavicula Nox
Typhon
Black Sun
El primer sol
Litany of the Fallen
Eye of Algol
Mark of Cain
Tuonela
Ayahuasca
Wine of Aluqah
Nightside of Eden
Quetzalcoatl
Lemuria
Sitra Ahra
To Mega Therion
BIS:
The Rise of Sodom and Gomorrah
Son of the Staves of Time
Agradecimento especial a Overload pelo credecimento;