City and Colour em SP: notas de um domingo musical íntimo e impactante

Texto por Melissa Buzzatto e Fotos por Gustavo Diakov

É difícil achar um artista que consegue abraçar sua dualidade criativa de forma tão harmoniosa como faz Dallas Green.

O músico canadense iniciou sua carreira musical em 2001, como vocalista e guitarrista da banda de post-hardcore Alexisonfire. Porém, foi com seu projeto solo, City and Colour, que ele encontrou mais oportunidades de mostrar sua versatilidade e profundidade artística.

Desde então, há mais de 20 anos, ele mescla a sua capacidade de criar sobre temas mais gerais, como política, com os mais pessoais, falando de suas experiências e relações. Em suma, uma coisa é certa: em ambos, ele consegue conversar com o seu público, gerar identificação e mostrar sua humanidade em tudo que narra.

“City and Colour” vem de seu próprio nome: Dallas (uma cidade) Green (uma cor), criando um jogo de palavras que reflete o caráter pessoal colocado neste trabalho.A escolha do nome também é estratégica, garantindo a rotatividade dos músicos escolhidos para tocar no projeto, sem que isso comprometa o conceito criado por Green.

Celebrando duas décadas de existência, City and Colour retornou ao Brasil nos últimos dias 14 e 16 de junho, com a turnê do álbum The Love Still Held Me Near (2023), seu último trabalho de estúdio.

A casa Tokio Marine Hall, localizada na Zona Sul de São Paulo, foi a escolhida para sediar o reencontro tão aguardado pelos fãs. Assim, às 19h59, embalados pela intro de Into Something (Can’t Shake Loose), de O.V. WrightCom, Green e companhia começaram a subir ao palco, recebidos por um público ávido e apaixonado.

São Paulo, let’s get emocional

Essa é a frase usada para introduzir Meant To Be, parte do último lançamento de City and Colour, e primeira música da setlist preparada a apresentação de São Paulo.

Apesar de “nova”, a música foi muito bem-recebida pelo público, algo raro de se ver em shows de bandas com tantos clássicos mais antigos, como é o caso desta.

Cantando palavra por palavra, os presentes não pareciam se importar em abrir um espacinho no coração para novas formas de celebrar o sentimentalismo característico de City and Colour. O mesmo ocorre com Underground, uma das mais amadas em The Love Still Held Me Near e que já nasceu clássica, entoada em
alto e bom som.

Northern Boots Blues (rs) foi a responsável por quebrar esse clima e trazer mais gingado à noite. Os arranjos da canção também foram responsáveis por dar destaque, pela primeira vez na noite, à importância de uma banda completa para a execução perfeita do espetáculo pensado para a turnê.

Beirando os 30 minutos de apresentação, o frontman decidiu dar um descanso para a viola e interagir com o público (pra valer) pela primeira vez: “É lindo estar de volta aqui. Desculpem-me por ter demorado tanto”. E então deu abertura para We Found Each Other in the Dark, uma música que, segundo ele, “é sobre o momento de
sermos mais simpáticos uns com os outros”.

Se no domingo tivemos um Dallas Green mais reservado e quieto, canções como Two Coins e Astronaut trataram de evidenciar uma vantagem do show em São Paulo, se comparado com o do Rio: a presença de telões ao fundo do palco, que serviram para deixar o palco ainda mais bonito, incrementando o jogo de luzes usado ao longo da apresentação e criando, por fim, uma atmosfera mais intimista e imersiva. Outro destaque – e maravilhosa surpresa para os fãs de longa data – foi a inclusão de The Girl, que só veio no bis, mas foi pedida durante toda a apresentação.

Apesar de passear por todos os sete álbuns já lançados ao longo de 20 anos de carreira, o set de City and Colour deu maior atenção aos álbuns Little Hell (2011) e o The Love Still Held Me Near (2023), com cinco faixas de cada. Dentro de duas horas, também houve espaço para o cover de Nutshell, a música de Alice In Chains que é uma das preferidas de Dallas Green. Elegante e emocionante.

Conclusão


Depois desse espetáculo, fica claro que City and Colour é mais do que um projeto musical para que seu criador se expresse através dele, como se fosse um diário; é uma jornada emocional, com todas as suas alegrias e tristezas, altos e baixos, para todos aqueles que se deparam com ele.

Dando destaque para o último álbum, motivo desta turnê, somos apresentados a uma reconciliação com o processo de luto, suas perdas e seus ganhos, e como a música pode ser um refúgio para aqueles que buscam conexão e significado para os percalços da vida. Na melancolia e nos momentos mais introspectivos, também há beleza, e esse show perfeito, tanto em estética quanto em técnica, veio para provar isso.

Dallas Green continua a inspirar e emocionar com sua voz única e suas composições tocantes, deixando um legado duradouro na cena musical e, é claro, o desejo de que o próximo “come to Brazil” não demore a se realizar

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About Guilmer da Costa Silva

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