KOOL METAL FEST – OS PORTÕES DO INFERNO SE ABREM, E SATÃ PULA DA FOGUEIRA

Texto por Monalisa Souza

O Kool Metal Fest já é conhecido por reunir ícones do underground internacional e nacional, porém a edição que ocorreu no dia 09 de junho na Vip Station em São Paulo, foi com certeza um marco na história da cena brasileira, reunindo seis bandas pesadas da música extrema, o evento foi um espetáculo completo que evidenciou os talentos do underground brasileiro como: Facada, Cemitério, Velho e o ilustre Vulcano. O evento também trouxe outras duas lendas do metal mundial, o Venom Inc. e o Possessed. 

A tarde ensolarada de domingo fez que com os metaleiros saíssem cedo de casa, pois era 14h e já podíamos ver uma concentração de fãs aos arredores do Vip Station, que se situa numa área residencial de Santo Amaro. Com a abertura das portas às 14:30, a galera já foi garantir seu lugar perto do palco, tirar foto no backdrop do evento e de quebra adquirir os merchs oficias do evento, que proporcionaram combos com preços honestos, veja a seguir: 

Camiseta R$ 70,00
Copo R$ 20,00
Pôster R$ 30,00
Boné R$ 70,00
Combo R$ 100,00
(Camisa, pôster e copo)
Combo R$ 150,00
(Boné, camisa, copo e pôster)

Vale também ressaltar que havia expositores diversos vendendo discos, CDs, acessórios e etc…, assim como as bancas das bandas do evento, e outras diversas da cena underground, era um verdadeiro marketplace do metal. 

FACADA, PARA OS QUE ANSEIAM O RITUAL 

As 15h00 a casa já estava bem movimentada e com público atento, quando o trio cearense Facada subiu ao palco para abrir o evento. Formada em 2003 na cidade se Fortaleza pelo baixista e vocalista Carlos James, a banda é um dos principais nomes nacionais do Grindcore. 

Começaram com um cover da música “Genital Grinder” do Carcass e subitamente “Tu Vai Cair”, com uma rajada rápida de riffs tortos, baterias violentas e barulhentas como um canteiro de obras, e um baixo roncado que se assimila à um motor de trator. Ali fizeram uma coleta da história da banda, com músicas dos álbuns: “O Joio” “Indigesto” e “Nadir”. Músicas que rapidamente incentivaram os primeiros mosh pits do festival, um aquecimento do que estava por vir. 

Houveram poucas pausas, que era só para anunciar qual seria a próxima agressão sonora, e antes das duas últimas músicas, com o agradecimento da banda ao público presente, o trio toca o clássico “O Cobrador” e finalizam com a ignorante “Guarda Esse Mantra Pra Ti”, tocando um total de 16 músicas, que em matéria de Grindcore é quase um álbum completo, algo em torno de 30 minutos. 

Formação: 

Carlos James – Vocal, baixo 

Danyel Noir – Guitarra 

Vicente Ferreira – Bateria 

Setlist:

Genital Grinder (Carcass Cover)
Tu Vai Cair
Socorro
O Joio
Playing With Souls
Descendo Sangue Igual Torneira
9mm de Redenção
Tudo Me Faltará
Feliz Ano Novo
Nadir
Emptier
Apocalipse Agora
Cidade Morta
Falta Excesso
Podem Vir
O Cobrador
Guarda Esse Mantra Pra Ti

OS PORTOES DO CEMITÉRIO SE ABREM! 

Era quase 16h e a pista já estava praticamente lotada, a massa de público já se concentrava perto do palco ansiando o show do devastador Cemitério, que já é bem querido entre o público do Kool Metal Fest. 

“A Volta Dos Mortos-Vivos” da início a outra sessão de mosh pits e bate cabeça do início ao fim, sem parar. O trio liderado por Hugo Golon, baixista, vocalista e a mente por trás da banda, é fiel ao verdadeiro Death Metal Old-School dos anos 80, envolto de temáticas de filmes de terror, que são o tema central da banda, explicitamente nas músicas “Sexta Feira 13” e “Massacre No Texas”, todas fazendo o público entoar os refrões. 

Toda a bronca da guitarra fica encargo de Douglas Gatuso, que entre solos e riffs de alta velocidade agita e canta com a galera. E tudo isso sob o ritmo frenético do habilidoso e preciso baterista Guilherme “Fructoso” Souza, que dispõe de muita energia física. Tambem tocaram “Oãxiac Odèz”, que que não deixou tempo para o público respirar, e incentiva até um stage dive, que é comum nos shows da banda.  

Logo após os agradecimentos ao público e ao realizadores, eles tocam “Morte Infernal”, uma versão em português da música “Infernal Death” do lendário Death, e encerram com os primeiros riffs de “Transylvania” do Iron Maiden. 

Formação:  

Hugo Golon – Vocal, baixo 

Douglas Gatuso – Guitarra 

Guilherme “Fructoso” Souza – Bateria 

Setlist:

A Volta dos Mortos-Vivos
A Vingança de Cropsy
Quadrilha de Sádicos
Massacre no Texas
Tara Diabólica
Oaxiac Odez
Dia de satã
A Sentinela Dos Malditos
Sexta Feira 13
Holocausto Canibal
Natal Sangrento
Morte Infernal (Infernal Death – Death Cover)

O BLACK METAL DO VELHO PARA OS JOVENS 

Era quase 16h30 e a pista da casa já estava lotada de fato, tendo somente espaço nos camarotes e saídas da pista, pois a galera estava toda se reunindo ansiosa, e clamando em gritos, pela banda Velho. A banda de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, começou 10 minutos antes do horário previsto, com uma rápida passagem de som e de imediato abrindo com “Mais um Ano Esfria”, que rapidamente cativou todos presentes, e levando os seus fãs ao delírio. Apesar da falta de presença em redes sociais, a banda é um sucesso entre os mais jovens, que eram a maioria naquele dia. A musicalidade poética e obscura do vocalista e guitarrista Thiago Caronte, se conecta facilmente com o público, como foi nas clássicas “Cadáveres e Arte” e “Coma Induzido” 

O setlist foi curto em decorrência do tempo, mas não desanimou público em nenhum momento, que abriam mosh pits e erguiam as mãos chifradas cantando. “Satã, Apareça!” incitou todos a cantarem em plenos pulmões, deixando o publico numa espécie de transe ritualístico, e logo em seguida a banda encerra o seu breve ritual com “O Único Caminho”, sendo ovacionada massivamente pela plateia. 

Formação:  

Thiago Caronte – Vocal, guitarra 

Dod – Guitarra 

Rafael Lopes – Baixo 

Thiago Splater – Bateria 

Setlist:

Mais um Ano Esfria
Senhor de Tudo 
Cadáveres e Arte
Coma Induzido
A Mesma Velha História
Perto dos Portais da Loucura
Satã, Apareça!
O Único Caminho

VULCANO E SUA DESTRUIÇÃO TOTAL 

O Vip Station já estava abarrotado de pessoas, quando o Vulcano começou se posicionar no palco. A lendária banda da baixada “satanista”, é tida como uma das pioneiras do metal extremo brasileiro, estando desde 1981 na ativa, tendo aberto o apoteótico show do Venom e Exciter em São Paulo, em 1986.  

Pontualmente as 17h30, o ex-vocalista da banda Angel Uruka sobe ao palco e faz a clássica introdução, “Os portais do inferno se abrem…” Dando a deixa para Luiz Carlos Louzada e a banda iniciar “Holocaust”. Zhema Rodero, fundador e único membro original, mostra as novas gerações toda sua disposição tocando “Dominios Of Death” e “Witches Sabbath”, dividindo solos com o também exímio Cleiton Nunes, (que estava substituindo Gerson Fajardo na guitarra), e deixando o baixo para Ivan Pellicciotti, que é o produtor a frente do próximo álbum da banda. Bruno Conrado, baterista, toca com pura agressividade e precisão rítmica. 

Louzada declara ao público: – “Não vamos tocar nada de material novo… Só coisa antiga” que imediatamente já desperta s gritos dos fãs. Ele conclui: – “Mas pra manter esse clima, do álbum “Live” de 1985, o próximo som remete as origens de heavy metal da banda”. Assim, ele anuncia “The Signals” que não estava originalmente no setlist, e que acabou por sacrificar “Legiões Satânicas”, mas que foi compensada pelo final explosivo com o hino “Guerreiros de Satã”. 

Formação: 

Luiz Carlos Louzada – Vocal 

Zhema Rodero – Guitarra 

Cleiton Nunes – guitarra 

Ivan Pellicciotti -Baixo 

Bruno Conrado – Nateria 

Setlist:

Holocaust
Dominos of Death
Spirits of Evil
Witches’ Sabbath
Ready to Explode
Death Metal
Incubus
Total Destruição
Guerreiros de Satã
Legiões Satânicas

IN NOMINE VENON INC. 

Já era 18:00 quando legião de metaleiros esperavam o Venom Inc. começar o ritual. A banda carrega o legado do guitarrista Mantas, que infelizmente não estava presente por conta de problemas de saúde, mas foi devidamente substituído pelo guitarrista americano Curran Murphy.  

O vocalista e baixista Tony “Demolition Man” Dolan é conhecido e bem quisto pelos fãs pelo seu carisma e sua performance, já de cara entrando no palco fumando e com uma garrafa de Jack Daniels na mão. 

“Witching Hour” se inicia como uma explosão, deixando a plateia frenética de cara, a bateria tocada por Marc JXN, recém-chegado na banda, parecia uma locomotiva em alta velocidade. No anúncio de “Welcome To Hell”, o grito dos fãs foi ensurdeceor, ao deenrolar da música, dois sinalizadores surgiram na plateia, em meio aos mosh pits, fazendo uma fã colocar um deles na boca enquanto era erguida no alto, ao mesmo tempo que todos cantavam juntos. E mesmo as músicas originais da banda como “War” e “Inferno” cativaram o bate cabeça geral do público, que estava fervendo e parecia estar realmente possuídos por uma entidade. 

Depois de toda energia de “In Nomine Satanas” e “There’s Only Black”, a casa foi a extrema loucura com o hino “Black Metal”, que foi um dos ápices do evento. Crowdsurfings levavam fãs ao palco que logo após subir tentavam resistir aos roadies que os “devolviam” a pista de maneira segura, só com uns empurrãozinhos. Em certo momento, enquanto o microfone de Tony é substituído rapidamente, a casa estremece com um grito selvagem de-“Lay down your soul to the gods rock ‘n roll!”, foi de arrepiante.  

Em meio aos “Ole ole ole Venom”, Tony Dolan deu um gole no whisky e presenteou a galera com a garrafa ainda cheia, e agradeu em seguida -“Nós te amamos Brasil, te amamos São Paulo!”. E encerraram o show com “In League With Satan”, “Countess Bathory” e um bónus, “Sons Of Satan” fazendo o público cantar em plenos pulmões até o final. 

A performance visceral do trio, com o ritmo brutal do baterista Marc Jackson, junto a habilidade e presença de palco de Curran Murphy e do carismático Demolition Man, mostra que o Venom Inc. não se trata somente de uma banda “cover”, e sim um nome diferente, que emana o real legado ao vivo do Venom. 

Formação:  

Tony “Demolition Man” Dolan- Vocal, baixo 

Curran Murphy- Guitarra 

Marc “JXN” Jackson- Bateria 

Setlist Venom Inc. 

Witching Hour 
Bloodlust 
Come to Me 
War 
Welcome to Hell 
Inferno 
Live Like an Angel (Die Like a Devil) 
Blackened are the Priests 
Carnivorous 
In Nomine Satanas 
There’s Only Black 
Black Metal 
In League With Satan 
Countless Bathory

POSSESSED, OS GUERREIROS DO INFERNO TRIUNFAM 

Com o final épico do show do Venom Inc. a casa já estava plenamente lotada ao máximo, coisa de mais de 3 mil pessoas, sem contar que havia fãs ao lado de fora da casa. Já era 20h e só se podia ver o baixista Robert Cardenas e o guitarrista Claudeous Creamer no palco, passando os equipamentos, e os fãs atentos a qualquer sinal de Jeff Becerra.  

Cerca de 10 minutos depois, era possível ver uma movimentação mais ansiosa da equipe no backstage, estavam subindo Jeff em sua cadeira, numa escadaria estreita que dava acesso dos camarins ao palco. 

A trilha de introdução e a entrada da banda no palco fez a casa vibrar extasiada, o riff de “No More Room In Hell” começa, e assim se inicia o ritual do Death Metal. Era até difícil escutar a voz de Jeff cantando, devido ao baixo volume do microfone e ao publico berrando. Em “Damned” o som da voz estava bem melhor, mas era possível perceber um certo desconforto de Jeff que fazia um sinal para os técnicos de palco, como “não consigo ouvir direito”, o baixista também parecia estar na mesma situação.  

Em “Pentagram” e “Seance”, o mosh come solto e o bate cabeça é contínuo. A Equipe de palco estava a posta e não deixava ninguém subir aos palco, para manter a integridade dos músicos, tendo em vista que os fãs estavam selvagens. Algo que impressionava Jeff que sempre soltava um “Holy shit!” a cada vez que anunciava a próxima música. “The Eyes Of Horror” fez automaticamente surgir os gritos “hey hey hey” e socos ao ar, a medida que o baterista Chris Aguirre crescia o andamento, dando trabalho para o técnicos conterem os retornos na beira do palco, toda vez que alguém vinha carregado pra perto. 

Assim que a clássica introdução de teclado de ‘The Exorcist” tocou, o caos que já estava instaurado só aumentou, um mosh pit massivo se formou no centro da pista e os dois sinalizadores vermelhos e cintilantes retornaram, a cena vista de cima do camarote, dava a impressão que um portal do inferno tinha sido aberto. Com “Demon” e especialmente “Fallen Angel”, a mística pairava com os toques de sinos e as luzes hipnotizantes do palco, como uma missa apocalíptica. Aos sons de bumbos duplos e a cascata dos tons de “Death Metal” subitamente provocaram gritos, que se seguiram de violentos bate cabeças e cânticos guturais, que se estenderam até emendarem “Burning In Hell”, fechando enfim a noite mais blasfema da história do Kool Metal Fest. 

Com o término do show depois dos agradecimentos da banda e do frontman com um “I fucking love you”, os músicos se retiraram do palco. Porém, devido a uma estrutura que não favorecia bem a acessibilidade de Jeff Becerra, os organizadores decidiram desce-lo do palco para a pista, a onde estavam uma parte dos fãs. Isso criou um alvoroço em torno de Jeff que estava sendo protegido por três ou quatro organizadores, diante de mais de 60 pessoas os cercando. Demorou um tempo até conseguirem leva-lo a um corredor isolado, aonde ele se dispôs a atender a todos que quisessem tirar fotos, receber autógrafos e de quebra, tomar um gole da Vodka do próprio. 

Formação:  

Jeff Becerra – Vocal 

Claudeous Creamer – Guitarra 

Daniel Gonzalez – Guitarra 

Robert Cardenas – Baixo 

Chris Aguirre II – Bateria 

Setlist

No More Room in Hell
Damned
Pentagram
Seance
The Word
Storm in my Mind
Dominion
The Eyes of Horror
Tribulation
Graven
he Exorcist
Demon
Fallen Angel
Death Metal
Burning in Hell

Esse foi um daqueles eventos, que até demoram pra cair a ficha e tentar raciocinar o que acabou de ser presenciado. O dia 9 de junho de 2024 marcou de fato um patamar que será difícil de alcançar, pois estava cheio de energias densas, selvagens. Todos os demônios invocados voltaram aos seus respectivos planos, e os headbangers, a sua jornada de volta ao lar, ou a um after party… Mas carregando consigo, uma memória surreal, de algo que eles vivenciaram naquela noite de São Paulo. 

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About Guilmer da Costa Silva

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