O folk ainda (r)existe | New Model Army domina os palcos Carioca Club em show de nova turnê

Texto por Melissa Buzzatto e Foto por André Simões

Referência do rock alternativo e folk britânico retorna a São Paulo para duas noites marcantes.

Referência do rock alternativo e folk britânico retorna a São Paulo para duas noites marcantes.

Em meio à onda de shows internacionais que tem tomado os finais de semana da capital paulista, estavam os shows da nova turnê de New Model Army, que retornou ao Brasil para uma série de apresentações após quase seis anos desde sua última vinda.

Formada em Bradford, Inglaterra, no turbilhão político e social da década de 1980, a New Model Army emerge no cenário musical britânico como uma força de resistência e expressão. Combinando punk, rock e folk, a banda está mais ativa do que nunca, e é um dos raros casos em que o artista não se torna um mero cover de si mesmo, conseguindo inovar, lírica e melodicamente, a cada novo lançamento.

Fundada pelo vocalista e guitarrista Justin Sullivan – único membro da formação original que permanece até hoje –, a New Model Army nunca foi uma banda de grandes hits nas rádios, mas ganhou notoriedade e espaço entre os alternativos por sua abordagem autêntica e visceral às questões sociais, políticas e pessoais, cativando ouvintes com sua energia intensa e compromisso com a autenticidade artística, fazendo com que sua base fiel de fãs continue os acompanhando ao longo das décadas.

Essa paixão que vem de anos ficou estampada durante o show performado no último sábado (8), em um Carioca Club aquecido pelo calor do bom e velho rock n’ roll. O Sonoridade esteve presente nessa celebração e te conta mais detalhes de como foi o retorno de New Model Army ao Brasil; confira:

Abertura com Os Brutus

O grupo paulista Os Brutus foi o responsável por dar início aos trabalhos em um Carioca Club ainda (consideravelmente) esvaziado. A apresentação contou com mais de 10 temas, todas sendo um surf rock instrumental cheio de balanço. Para os mascarados, o tempo separado foi de 30 minutos. Se tivesse durado mais, teria sido cansativo de assistir.

Depois disso, teve início uma espera torturante. Contrariando à hipotética pontualidade britânica, New Model Army só subiu aos palcos depois das 19h20, com quase 25 minutos de atraso.

Entretanto, desde os primeiros acordes, já deu para ver que a espera valeu a pena; enquanto uns sacavam os celulares para gravar, outros preparavam o gogó para acompanhar a noite do barulho.

Here comes New Model Army

Para entregar o melhor que o folk pode oferecer, subiram ao palco Justin Sullivan (vocal e guitarra), Michael Dean (bateria), Dean White (guitarra), Ceri Monger (baixo) e Nguyen Green (teclado).

Para quem já conhece como funcionam os shows da banda, não houve decepção quando se deparou com um repertório diverso, fugindo da “fórmula de sucesso” cheia de clássicos. O disco de estreia, por exemplo, não teve sequer uma canção tocada. Mas, isso não significa que apenas as novas faixas tenham sido contempladas; ao longo de quase duas horas de apresentação, New Model Army passeou de forma harmoniosa por sua história, relembrando às últimas duas décadas – que se mantêm atuais em conceito – e enaltecendo o presente e futuro.

A escolhida para a abertura foi a enérgica Coming or Going, parte do álbum Unbroken, lançado em janeiro deste ano. Em seguida, o público recebeu, com fervor consideravelmente menor, State Radio, de Today Is a Good Day (2009). Esse desânimo foi compensado já na terceira música, na medida em que os primeiros acordes de First Summer After eram identificados pela plateia.

Outra música relativamente recente e bem-recebida foi a belíssima Winter, faixa-título do álbum lançado em 2016. Em seguida, Stormclouds veio para mudar bruscamente o clima do show, como uma verdadeira montanha-russa de emoções. Para esta canção, o baixo de Monger foi substituído por uma percussão estremecedora.

Do You Really Want To Go There? e Never Arriving foram outras que vieram igualmente estrondosas, apesar de mais melancólicas em letra e sonoridade, mas ainda preparando terreno para o que viria a seguir. Assim, a situação no Carioca Club voltou a incendiar pouco depois, quando a clássica Here Comes the War, do disco The Love of Hopeless Causes (1993) começou a ecoar como um grito de guerra.

Outra música que envolveu a plateia de forma generalizada foi Green and Gray, dedicada por Sullivan aos que vieram do interior para morar em grandes cidades como São Paulo, visto que a canção narra a jornada de êxodo rural de um trabalhador inglês.

51st State foi outro momento extremamente emocionante do show por ser, senão o maior, um dos grandes clássicos entre os fãs brasileiros. Entre críticas ao modelo neoliberal oitentista e situações caóticas que respingam na atualidade global, um coro dedicado encobria os vocais de Sullivan com gritos de devoção.

As críticas sociais e de cunho ambiental, econômico, político e religioso seguiram com faixas como Angry Planet e Purity, reforçando a autenticidade das letras de New Model Army.

Para encerrar a noite, como faixas-bis, vieram Vagabonds – requisitada incansavelmente desde o início do show –, The Hunt e I Love The World, fechando a celebração da mistura de folk com rock de maneira apoteótica.

Como esperança para os fãs, fica a promessa de retorno dos britânicos aos palcos brasileiros em um futuro breve, bem como a vontade de que continuemos sendo agraciados com o brilhantismo e grandeza do trabalho de Sullivan e companhia para com o (resistente) cenário alternativo.

Setlist completa:

1. Coming or Going
2. States Radio
3. First Summer After
4. Language
5. Winter
6. Stormclouds
7. Do You Really Want to Go There?
8. Never Arriving
9. Here Comes the War
10. 225
11. Green and Grey
12. Idumea
13. 51st State
14. Angry Planet
15. Purity
16. Wonderful Way to Go

Encore:
17. Vagabonds
18. The Hunt
19. I Love the Worl

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About Guilmer da Costa Silva

Movido pela raiva ao capital. Todo o poder ao proletariado!

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