Combinando elementos clássicos e contemporâneos, Andrea Bocelli entrega espetáculo encantador no Allianz Parque

Texto: Guilherme Goes / Fotos: Gustavo Diakov

O italiano Andrea Bocelli superou a perda da visão aos 12 anos para se tornar um dos artistas mais amados e respeitados do mundo, sendo reconhecido como um dos maiores tenores de todos os tempos. Sua jornada musical começou cedo, com o aprendizado de piano, flauta e saxofone. Já seu talento excepcional foi descoberto pelo renomado Luciano Pavarotti, que o incentivou a desenvolver seu potencial artístico.

Desde o lançamento de seu álbum “Romanza” em 1996, que apresentou ao mundo o icônico sucesso “Con te partirò” (também conhecido como “Time to Say Goodbye”), Bocelli tem nos presenteado com uma vasta gama de trabalhos marcantes. Sua versatilidade abrange desde as mais sublimes óperas até colaborações lendárias com artistas como Celine Dion e Michael Jackson. Sua habilidade única de transitar entre a técnica operística e a música popular tem cativado audiências ao redor do globo, consolidando sua posição como um verdadeiro ícone musical.

No último final de semana, o público paulistano foi presenteado com duas apresentações de Andrea no Allianz Parque, que fazem parte de sua nova turnê “Andrea Bocelli 30: The Celebration”, comemorando três décadas do legado do tenor para o mundo da música. Representantes do Sonoridade Underground (Gustavo Diakov e Guilherme Góes) estiveram presentes no show de sábado, dia 25, e puderam vivenciar de perto o espetáculo comandado pelo icônico artista e os demais músicos de sua equipe.

  • Experiência geral e shows

Originalmente, a turnê “Andrea Bocelli 30: The Celebration” teria apenas uma apresentação em São Paulo. No entanto, devido à alta demanda, uma data extra foi adicionada para sábado, dia 25. Curiosamente, o evento não atraiu uma audiência massiva, com centenas de assentos vazios, especialmente nas arquibancadas superiores. É possível afirmar que os fãs do tenor ocuparam menos de dois terços dos lugares disponíveis no estádio.

Para criar uma atmosfera de ópera no Allianz Parque, cadeiras foram montadas no campo, proporcionando uma experiência única em um estádio de futebol. O público da pista foi dividido em setores “Platinum”, “Esmeralda” e “Rubi”, com o setor “Platinum” oferecendo uma visão mais próxima do palco.

A abertura dos portões para o público geral ocorreu pontualmente às 17h. Durante as primeiras horas, os presentes puderam tomar seus lugares nas cadeiras tranquilamente e admirar a gigantesca estrutura do palco, marcada pela presença de diversos instrumentos. Nos corredores, era possível encontrar barracas de merchandising de Andrea Bocelli, oferecendo produtos que iam de camisetas e bottons a um vinho com a marca do cantor. Os fãs também tiveram a oportunidade de se conectar com outros entusiastas da ópera e do tenor, um estilo que, infelizmente, ainda é bastante “nichado” no Brasil, devido ao alto custo dos ingressos e ao pouco investimento do governo neste segmento musical. Para aprimorar ainda mais a experiência, taças de champanhe estavam disponíveis para compra (algo incomum nos shows do Allianz Parque), aumentando ainda mais a sensação de exclusividade do evento.

A sessão de música ao vivo do show teve início com o tenor Davide Carbone, conhecido na cena tenor-ópera como “o italiano mais brasileiro do mundo” devido à sua fluência impecável em português, sua admiração pela cultura brasileira e suas frequentes visitas ao Brasil, onde já se apresentou em praticamente todos os estados. Carbone trouxe um som interessante, que combina elementos da música clássica com a delicadeza do jazz e do soul, apresentando um setlist curto com releituras de nomes populares da música italiana, como o sucesso “Strani Amori”, de Laura Pausini. Os momentos de destaque incluíram um cover de “Quem de Nós Dois”, de Ana Carolina, mesclado com trechos da composição original “La Mia Storia Tra le Dita”, de Gianluca Grignani, além da participação do guitarrista Armandinho em um cover de “Eva”, sucesso da banda homônima. Embora não tenha apresentado nada inédito, o artista impressionou ao trazer um toque de sofisticação a sucessos já conhecidos.

Após uma breve pausa para ajustes no palco, Davide Carbone retornou ao palco e, com o apoio do Coral Jovem do Estado, comandou uma homenagem às vítimas das enchentes no estado do Rio Grande do Sul com o Hino Nacional. Ao término da introdução, por volta das 21h20, às luzes do estádio se apagaram e cenas da carreira de Andrea Bocelli começaram a ser exibidas no telão de LED. Quando as filmagens chegaram ao fim, o tenor finalmente surgiu no palco e iniciou o set com “La donna è mobile”, um clássico absoluto da ópera de Giuseppe Verdi. Durante a performance, a orquestra fez pausas estratégicas, permitindo que Bocelli exibisse sua voz com maior intensidade, conquistando a plateia desde o primeiro momento. Em seguida, vieram “Recondita armonia” de Giacomo Puccini e “Di quella pira” de Giuseppe Verdi. Com as imagens de cenários de catedrais góticas exibidas no telão, a dobradinha de faixas praticamente transportou o público para a Itália, criando uma atmosfera imersiva e mágica.

Na sequência, a soprano Cristina Pasaroiu subiu ao palco para acompanhar Andrea. Juntos, interpretaram peças como “O mio babbino caro” (Giacomo Puccini), “Vicino a te s’acqueta” (Umberto Giordano), “O soave fanciulla” (Giacomo Puccini) e “Libiamo ne’ lieti calici” (Giuseppe Verdi). O destaque ficou por conta da forte presença de palco e da linguagem corporal dos músicos, que, juntamente com projeções de paisagens naturais e cidades do interior da Itália, acrescentaram uma atmosfera teatral à apresentação.

Durante os intervalos, a violinista americana Caroline Campbell encantou a plateia com suas performances, demonstrando talento e habilidade excepcionais. Foi impressionante notar a ausência de ruídos externos, permitindo que a ópera ressoasse livremente, como se a apresentação não estivesse acontecendo em um estádio no coração de uma das metrópoles mais movimentadas do mundo. Outro fator notável foi a atenção do público, completamente concentrado no show e com pouquíssimas pessoas filmando com seus celulares – algo cada vez mais raro nos dias de hoje.

Ao término do primeiro bloco, houve uma breve pausa no set. Após 20 minutos, o evento prosseguiu com uma apresentação de filmagens da fase mais contemporânea de Bocelli. O espetáculo continuou com uma mistura de clássicos e sucessos atuais, variando desde interpretações de canções marcantes do início do século XX, como “O sole mio” (Eduardo Di Capua) e “Besame Mucho” (Consuelo Velázquez), até músicas mais modernas e autorais, como “Vivo per lei” e “Canto della terra”. No entanto, os momentos mais memoráveis da segunda parte do show foram as participações especiais da cantora Sandy em “Amor não testado” e “Time to Say Goodbye (Con te partirò)”, bem como o dueto emocionante de Andrea com seu filho Matteo em “Fall On Me”. Para encerrar com chave de ouro, todos os convidados se uniram na interpretação de “Perfect Symphony”, criando um momento de beleza singular.

Fundindo elementos da música clássica com a contemporaneidade e a grandiosidade da ópera com tecnologia e efeitos visuais, Andrea Bocelli liderou um espetáculo magnífico, cativando não apenas os apreciadores da música tenor, mas também aqueles menos familiarizados com o gênero. Sem dúvidas, um tipo de lazer que deveria ser acessível a uma maior parcela da população.

Andrea Bocelli – Allianz Parque – 25/05/2024

La donna è mobile

(Giuseppe Verdi cover)

Recondita armonia

(Giacomo Puccini cover)

Di quella pira

(Giuseppe Verdi cover)

O mio babbino caro

(Giacomo Puccini cover)

Si, fui soldato

Vicino a te s’acqueta

(Umberto Giordano cover)

Czardas

(Vittorio Monti cover)

O soave fanciulla

(Giacomo Puccini cover)

Libiamo ne’ lieti calici

(Giuseppe Verdi cover)

Mamma

(Beniamino Gigli cover)

Funiculì, funiculà

(Luigi Denza cover)

Ennio Morricone tribute

‘O sole mio

(Eduardo Di Capua cover)

Granada

(Agustín Lara cover)

Amor não testado

(Sandy cover)

Bésame mucho

(Consuelo Velázquez cover)

Fall on Me

Caruso

(Lucio Dalla cover)

Quando, quando, quando

(Tony Renis cover)

Vivo per lei

Canto della terra

Time to Say Goodbye (Con te partirò) (com Sandy)

Nessun dorma

(Giacomo Puccini cover)

Perfect Symphony

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About Gustavo Diakov

Idealizador disso aqui, Fotógrafo, Ex estudante de Economia, fã de música, principalmente Doom/Gothic/Symphonic/Black metal, mas as vezes escuto John Coltrane e Sampa Crew.

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