Em entrevista, Olli-Pekka Laine fala sobre influências, lançamentos e é claro, Summer Breeze Brasil

Em um Bate-papo descontraído com o colaborador Fernando Queiroz, Olli também mencionou a expectativa em se apresentar no Summer Breeze Brasil, que acontece nos dias 26, 27 e 28 deste mês

Texto: Fernando Queiroz

Fernando Queiroz: Primeiro de tudo, não é a primeira vez que você e o Amorphis tocam no Brasil, mas é a primeira vez que tocam em um grande evento, em um festival que é comparável aos festivais europeus de verão, o Summer Breeze Brasil. Como você sente a diferença entre tocar em grandes festivais na Europa em comparação com eventos do tipo em outros lugares do mundo, como na Ásia, na América do
Norte, ou aqui na América Latina?

Pekka: Certo, essa é uma questão difícil para mim, já que eu nunca toquei em um festival assim fora da Europa, o que torna a ocasião ainda mais excitante para mim ver como vai ser, mas não sei como vai ser. Não sei para os outros caras, mas eu estou realmente curioso para ver como vai ser.

Fernando Queiroz: Entendi, e como estão as expectativas, boas?

Pekka: Sim, mas gostaria de saber, é um festival aberto?

Fernando Queiroz: Sim, é um grande festival aberto, para mais de quinze mil pessoas.

Pekka: Óh, meu deus! Estou então bem ansioso, é sempre excitante tocar para um público tão grande! Tocamos no Wacken no último verão, para mais ou menos quarenta mil pessoas, foi muito legal. Tocamos em um festival na Holanda também para quarenta mil pessoas.

Fernando Queiroz: Falando nisso, é muito diferente para você, o sentimento como músico, tocar em casas de show comuns comparado com eventos do tipo festivais grandes?

Pekka: Sim, é bem diferente. Pessoalmente, eu gosto mais de tocar em casas fechadas menores, é mais intimista, você tem um maior contato com o público presente, o que é bem importante para mim, ter esse contato próximo com as pessoas. Em festivais, o público está mais distante. Então sim, são sensações bem
diferentes, e há lados bons e ruins de ambos os casos. Mas claro, ficamos sempre muito animados esperando os festivais, é a melhor coisa do mundo viajar tocando. Festivais são muito legais, pois você conhece e encontra muita gente legal, assiste outras grandes bandas. Outra coisa que é muito difícil é criar o setlist para festivais, pois geralmente você tem relativamente pouco tempo, muitas vezes quarenta e
cinco minutos ou uma hora, então é muito difícil encontrar um setlist que agrade as pessoas e a própria banda. Mas em geral, eu prefiro shows fechados, mas ambos são muito bons de tocar.

Fernando Queiroz: Sobre o setlist, quando vemos os últimos setlists do Amorphis, a música “The Bee” (do álbum Queen Of Time, de 2018) tem sido uma das músicas de encerramento dos shows. A maioria das bandas tem seus hits muito cedo na carreira, então para vocês foi uma surpresa ter essa música, tão recente, como um tipo de hino para a banda, sendo essa uma música de um álbum tão recente?

Pekka: Nunca sabemos o que esperar quando lançamos um álbum, quais músicas vão se sobressair, ainda mais pela produção de nosso álbum ser em um período tão curto, de três ou quatro meses, então não ensaiamos tanto aquelas músicas juntos Então é apenas quando vamos fazer shows e começamos a tocar as músicas, que é sempre um ótimo teste para as músicas, e sim, The Bee eu acho que se sobressaiu imediatamente quando começamos a turnê do Queen Of Time. Nós a tocávamos como a primeira dos shows, por ser a primeira do álbum, e eu acho que ela tem ótimos elementos, elementos bem diferentes do que a banda sempre fez, com referências orientais.

Fernando Queiroz: E ela tem um refrão muito empolgante, acho que isso ajudou bastante.

Pekka: Sim, tem uma excelente melodia de refrão, e tem aquela parte bem psicodélica no meio, e até um pouco de ‘math metal’ nos primeiros riffs, é uma música muito interessante, e é uma música muito legal de tocar ao vivo, mesmo que já estejamos tocando ela toda vez há sete anos.

Fernando Queiroz: Podemos esperar um setlist baseado nos setlists dos últimos festivais que vocês tocaram, ou têm algum trunfo na manga para essa turnê sul- americana?

Pekka: Bem, nós temos tocado dois ou talvez três tipos de setlist depois do lançamento do Halo (álbum de 2022). Acabamos de tocar um set novo durante a turnê finlandesa no último outono (primavera no Brasil), então o setlist pode ser baseado nesse, mas não temos tocado esse set fora da Finlândia, o que tornaria
legal de tocar ele no Brasil também. É uma boa combinação da história do Amorphis, mas como estamos apoiando o último álbum, então provavelmente vamos tocar esse material mais recente.

Fernando Queiroz: Vocês disseram recentemente em entrevistas que estão trabalhando em um novo álbum, correto? Vocês já começaram as gravações ou ainda estão fazendo um brainstorm de ideias, conversando entre si e com o produtor?

Pekka: Sim, nós vamos começar as gravações agora mais para frente nesse ano, provavelmente em novembro ou dezembro, mas pelo menos a produção vai começar em novembro. Estamos trabalhando separadamente no novo material, ainda não colocamos o material todo junto como banda, então creio que o pessoal esteja trabalhando em músicas para trazermos tudo para a mesa, mas sei que eles já têm coisas ali feitas do tema e estão passando para o inglês, aí já dá para começar a criar melodias de voz em cima. Mas por enquanto, tocamos nosso último show no meio de dezembro, em Helsinki, e estivemos tirando umas férias desde então, e vamos nos encontrar no começo de Abril para ensaios, e vamos discutir a produção vindoura neste momento.

Fernando Queiroz: Falando das letras, o Amorphis sempre teve letras e temas sobre mitos, histórias e lendas europeias em geral. Na América do Sul temos uma cultura muito diferente do norte europeu. Foi uma surpresa para você descobrir que tem tantos fãs aficionados por aqui, mesmo sendo relativamente difícil entender de fato os temas sobre os quais vocês falam?

Pekka: Eu acho que esse tipo de história ancestrais podem ser também um tipo de território em comum para as pessoas, porque acabam sendo coisas universais. O Sepultura fez esse tipo de temática folk e tribal lá nos anos 90, e ficou muito famoso ao redor do mundo, então acho que é possível trazer essa cultura ancestral europeia para pessoas ao redor do mundo e todos gostarem, e não é algo difícil de entrar nessa temática, pois se tornaram universais. São coisas e problemas de pessoas que viveram centenas de anos antes de nós. E eu acho que o ser humano não mudou tanto assim pelos anos. Então, sim, acho que é possível apontar algo pessoal em temas folclóricos.

Fernando Queiroz: O Summer Breeze Brasil vai ter outras grandes bandas no cast também. O que gostaria de perguntar é se as primeiras vezes que você tocou com grandes bandas e músicos assim foi como estar vivendo um sonho? Estar ali com aqueles caras que você costumava ouvir antes

Pekka: Claro! Foi incrível estar ali nos mesmos festivais que o Motorhead, o Deep Purple, o Manowar, que era o que ouvíamos quando éramos jovens, e ainda é ótimo tocar nosso show e aí ir ver por exemplo o Anthrax. É algo recompensador tocar assim como banda, porque por exemplo, quando fazemos uma turnê na Europa, é um trabalho árduo, não é divertido o tempo todo, tem muitas vezes que é só sentar e esperar o show começar, é cansativo, mas o período de festivais é uma situação totalmente diferente, você se sente recompensado ver tantas bandas interessantes, tanto os clássicos quanto os novos aparecendo.

Fernando Queiroz: É ótimo ver novas bandas crescendo, certo?

Pekka: Sim, é provavelmente ainda mais divertido pessoalmente para mim.

Fernando Queiroz: É como ver o nascimento de uma criança.

Pekka: Sim, exatamente isso. Um tempo atrás tocamos em um festival com o Napalm Death, o Obituary, algumas outras, e foi uma ótima noite para tomar algumas cervejas e assistir ótimos shows.

Fernando Queiroz: Você poderia nos falar um pouco sobre suas influências no instrumento e também em composição?

Pekka: Creio que você se refira ao baixo, então lá no começo eu ouvia muito AC/DC, o Cliff Williams, porque era muito fácil de tocar junto e sonhar de tocar rock n roll em um grande palco. E, claro, Gene Simmons é uma de minhas influências. Hoje em dia, caras grandes como Steve Harris, Cliff Burton e quem quer que estivesse tocando coisas bem técnicas. Não é possível estar no mesmo nível, mas é claro que é inspirador ouvir que o baixo pode ter uma posição de destaque nas músicas. Também algumas coisas de jazz. No meio progressivo, Roger Waters toca algo bem simples, mas que é sempre prazeroso de ouvir. Em se tratando de death metal, é muito difícil dizer, já que você não ouve muito o baixo, como no Morbid Angel, por exemplo.

Fernando Queiroz: Você basicamente escuta as baterias.

Pekka: Sim, e os vocais.
(ambos dão risadas)

Pekka: Mas, é, basicamente material de rock, como John Paul Jones, Jack Bruce, todos esses junto com metal, rock clássico e progressivo. Minhas influências são basicamente desse tipo.

Fernando Queiroz: Certo, e do tempo que você ficou fora do Amorphis, lá em 2000, para agora, você acha que o seu estilo de tocar mudou muito daquela época para agora?

Pekka: Ah, sim, até que bastante, porque eu estava tocando apenas músicas do Amorphis até aquela época, mas as influências de Cliff Burton e Steve Harris já estavam bem presentes, pelo menos eu tentava tocar algo um pouco mais complicado, dentro dos meus limites. Mas enfim, depois do Amorphis eu toquei em uma banda chamada Manhai, que foi uma grande mudança para mim pessoalmente, porque era um trio de instrumentos, havia apenas uma guitarra, bateria e baixo, além do vocalista, então havia bastante base para o baixo, e era necessário preencher a lacuna da guitarra base com o baixo, e era algo divertido de fazer, já que dava a possibilidade de tocar o máximo possível, e na verdade te obrigava a tocar o máximo possível. Então aquele foi o lugar que comecei a realmente usar as influências de Jack Bruce do Cream, de Kingston Wall, o Jukka Jylli é uma grande influência, que é uma banda finlandesa de progressivo, e alguns outros bem técnicos. Esse tipo de baixista foram os que me inspiraram mais depois depois do Amorphis, e é algo positivo, pois pude trazer esse tipo de influência para o Amorphis moderno do meu jeito, então é uma situação bem interessante.

Fernando Queiroz: Bom, isso é tudo. Obrigado pelo seu tempo, pela entrevista. Você teria alguma mensagem para mandar aos seus fãs do Brasil?

Pekka: Obrigado Fernando, pela entrevista. Bem, obrigado pessoal do Brasil por estarem com o Amorphis desde o começo. Creio que tenhamos fãs do Brasil desde que estávamos realmente começando, pudemos fazer novos amigos no Brasil, já desde muito cedo, muitas dessas pessoas nos seguem desde sempre, e eu acho que é sempre muito legal ir para aí. Da última vez que estivemos aí em São Paulo fizemos um grande show, e eu estou ansioso para ir de novo. Acho que vai ser incrível!

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About Gustavo Diakov

Idealizador disso aqui, Fotógrafo, Ex estudante de Economia, fã de música, principalmente Doom/Gothic/Symphonic/Black metal, mas as vezes escuto John Coltrane e Sampa Crew.

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