Mesmo com vários sucessos fora do setlist, a banda conseguiu conquistar o público com uma performance intensa e impecável
O Placebo retornou ao Brasil para uma apresentação única no último domingo (17), no Espaço Unimed, em São Paulo. Em sua quinta passagem pelo país, a banda gerou algumas polêmicas devido a restrições ao uso de celulares durante o show e pelo setlist não óbvio que priorizou o álbum Never Let Me Go, lançado em 2022. Apesar das polêmicas, o Placebo entregou um belo espetáculo, com uma performance intensa e sem ressalvas na parte técnica.
A banda de Brian Molko e Stefan Olsdal já não é mais a mesma que lançou o álbum autointitulado em 1996. Ao longo dos anos, o grupo foi atualizando seu som e se consolidando como um dos principais nomes da música alternativa no final dos anos 90 e começo dos 2000, com suas temáticas sobre androginia, sexualidade, saúde mental e o uso de drogas.
Com uma discografia sólida, recheada de hits e apresentações grandiosas ao redor do mundo, o anúncio de uma apresentação única no Brasil deixou os fãs empolgados e nostálgicos, já que a banda não se apresenta em solo brasileiro há dez anos.
Mas a aguardada passagem do Placebo pelo país veio acompanhada de algumas “polêmicas”. Uma delas foi a escolha do setlist atual da banda, que prioriza o disco Never Let Me Go, seu lançamento mais recente, tocando o álbum quase na íntegra, deixando de fora do repertório apenas as faixas The Prodigal, This Is What You Wanted e Chemtrails. Com essa escolha, clássicos como Every You Every Me, This Picture, Special K, Nancy Boy, A Million Little Pieces, Battle for the Sun, entre muitos outros, foram deixados de lado.
Essa ausência de sucessos em seu setlist acabou dividindo os fãs, já que muitos estavam vendo a banda pela primeira vez e gostariam de ver os hits e suas músicas favoritas ao vivo. A outra polêmica foi referente aos pedidos do grupo no início de seus shows para que os fãs não usem excessivamente celulares nas apresentações. O Placebo afirma que isso atrapalha a experiência e torna difícil uma conexão entre artista e público, além de ser um desrespeito com quem tem sua visão prejudicada pelos celulares levantados ao longo dos shows.
Esses dois pontos refletiram no público do show, que não chegou a lotar completamente a casa, tendo ingressos disponíveis mesmo no dia do show, o que acaba sendo algo curioso, já que era uma apresentação única em todo o país.
Big Special
A abertura do show ficou por conta da banda Big Special. Desconhecido pela maior parte do público brasileiro, o duo formado por Joe Hicklin e Callum Moloney surpreendeu os presentes com um som diferente que misturava rock com sintetizadores. O vocalista e baterista fizeram o possível para conquistar os fãs do Placebo em seu curto show. Utilizando de faixas pré gravadas e uma presença de palco explosiva, o duo foi se encontrando ao longo da performance e conquistou a simpatia do público, que chegou a gritar o nome da banda ao final da apresentação. O Big Special se prepara para lançar seu álbum de estreia em maio e aproveitou para mostrar para os brasileiros faixas como SHITHOUSE, Butcher’s Bin, Tress, entre outras.
Big Special – Espaço Unimed 17/03/2024
Black Country Gothic
This Here Ain’t Water
Shithouse
Butcher’s Bin
Dust Off / Start Again
Trees
Dig
Placebo e sua performance impecável
Perto do início do show, apareceu o aviso nos telões da casa sobre o uso dos celulares. O aviso pedia para que os fãs não passassem o show todo filmando, já que isso dificulta a conexão da banda com o público, além de ser desrespeitoso com os colegas que vão ao show. Também falou sobre viver o presente, já que aquele exato momento nunca mais iria se repetir. Na sequência, a voz de Brian Molko leu o recado na íntegra e logo depois a mensagem é lida também em português, dessa vez na voz de Anderson Bellini.
“Caros fãs do Placebo. Gostaríamos de pedir para que vocês não passem o show inteiro filmando com celulares. Isso torna a performance do Placebo muito mais difícil. Fica mais difícil se conectar com vocês e comunicar efetivamente as emoções de as músicas. Também é desrespeitoso com seus colegas que vão aos shows e querem assistir de verdade e não ficar vendo a parte de trás do seu telefone. Por favor, estejam aqui agora, no presente, e aproveitem esse momento. Porque esse exato momento nunca acontecerá de novo. Nosso propósito é criar comunhão e transcendência. Por favor, nos ajudem em nossa missão. Com respeito e amor. Paz. Namastê.”
A “fiscalização” com os celulares não parou por aí, já que quando o show começou, seguranças se posicionaram para apontar uma lanterna para os fãs que tentassem usar o celular durante a performance. Com a introdução da faixa Forever Chemicals rodando, os músicos subiram no palco e os fãs receberam o Placebo calorosamente.
O público demonstrou fervorosamente sua devoção a Brian Molko e Stefan Olsdal, gritando e aplaudindo sempre que possível, deixando a banda feliz e à vontade. É realmente impressionante ver o Placebo em ação, já que a banda é perfeita tecnicamente, com Brian Molko mostrando total domínio sobre sua voz e encantando os fãs que estavam vendo a banda pela primeira vez. Os músicos que acompanham o Placebo no palco também merecem destaque. Angela Chan (violino e teclado), Bill Lloyd (guitarra), Matt Lunn (bateria) e Nick Gavrilovic (backing vocal, sintetizador e guitarra) fazem a performance ganhar ainda mais corpo e funcionar muito melhor.
As faixas do álbum Never Let Me Go soaram muito boas ao vivo, com os fãs cantando junto e mostrando que, mesmo insatisfeitos com o setlist, abraçaram o último lançamento do grupo. Forever Chemicals, Beautiful James, Hugz e Surround by Spies renderam belos momentos.
Brian Molko e Stefan Olsdal não interagiram muito com o público. Foram momentos pontuais, como quando Brian disse que já faziam dez anos desde a última apresentação, ou antes de tocar Happy Birthday in the Sky, quando avisou que era o momento mais triste do show e ainda aproveitou para dizer que era aniversário de Bill, dizendo que deveria ser um momento de celebração e não de tristeza. O público respondeu cantando parabéns para o músico.
É inevitável ver a diferença de resposta dos fãs quando o Placebo tocou hits queridinhos como Scene of the Crime, Bionic, Soulmates e Too Many Friends, colocando o Espaço Unimed todo para cantar e vibrar com a banda a cada nota tocada. A sequência final com For What It’s Worth, Slave to the Wage, Song to Say Goodbye, The Bitter End e Infra-red foi simplesmente matadora e promoveu uma catarse entre os fãs, com total interação e devoção de todos os presentes.
Para o bis, a banda tocou as faixas Taste in Men, Fix Yourself e Running Up That Hill (A Deal With God), essa última um cover de Kate Bush. Os fãs colaboraram na maior parte do tempo com o pedido de Brian Molko para não usarem os celulares o tempo todo, filmando pequenos trechos de músicas específicas, proporcionando uma rápida volta no tempo, quando não existiam celulares para registrar momentos tão importantes e especiais com tamanha facilidade. No final do espetáculo, Brian Molko recebeu dos fãs uma bandeira do movimento Trans, exibindo para o público que ainda estava presente na casa e se enrolando na bandeira ao deixar o palco.
O saldo final foi um belo espetáculo, com uma performance intensa e tecnicamente perfeita. A restrição ao uso dos celulares foi abraçada pela maior parte do público, e mesmo torcendo o nariz para o setlist, os fãs saíram do Espaço Unimed satisfeitos e com um sorriso no rosto, sabendo que presenciaram uma performance arrebatadora. Boa parte dos fãs já está familiarizada com a postura do grupo e mesmo não concordando, já sabe o que esperar dos músicos. Apesar das polêmicas, é inegável que o Placebo fez um show excelente mesmo abrindo mão de vários hits ou faixas óbvias. A qualidade da apresentação acabou amenizando a insatisfação gerada pelas excentricidades da banda.
Placebo – Espaço Unimed 17/03/2024
Forever Chemicals
Beautiful James
Scene of the Crime
Hugz
Happy Birthday in the Sky
Bionic
Twin Demons
Surrounded by Spies
Soulmates
Sad White Reggae
Try Better Next Time
Too Many Friends
Went Missing
Exit Wounds
For What It’s Worth
Slave to the Wage
Song to Say Goodbye
The Bitter End
Infra-red
Bis:
Taste In Men
Fix Yourself
Running Up That Hill (A Deal With God) (cover de Kate Bush)