Em entrevista, Matt Smith do Theocracy discute novo álbum, possível turnê sul-americana e muito mais

Inicialmente formado como um projeto solo do atual vocalista Matt Smith em 2002, na cidade de Athens, Geórgia (EUA), o Theocracy segue sendo um dos grandes nomes no power/prog metal cristão. Nosso colaborador Daniel Agapito recentemente teve a oportunidade de bater um papo com Matt, discutindo desde seu novo álbum, “Mosaic” até o cargo da internet no sucesso da banda.

Sonoridade Underground: Opa, tudo bem gente, Daniel Agapito aqui para o Sonoridade Underground, e hoje eu tenho a honra de estar aqui com o Matt do Theocracy. Matt, como vai?

Matt Smith: Vou bem, Daniel e você? É ótimo poder estar aqui.

Sonoridade Underground: Estou bem também! Para os que não conhecem, o Theocracy é uma das maiores bandas do metal cristão. Eles têm notas de power metal, de metal progressivo e acabaram de lançar um disco novo este mês (“Mosaic”). Esta entrevista vai tratar bastante deste novo disco, mas também vai ter algumas perguntas mais gerais para aqueles que nunca nem ouviram falar do Theocracy. Vamos começar então?

Matt Smith: Com certeza!

Sonoridade Underground: Como você diria que foi o processo de gravação e produção deste novo álbum?

Matt Smith: O processo de produção e gravação na verdade foi bem suave. É sempre muito trabalho, é claro, mas tendo feito 5 álbuns já, sem contar toda a produção e gravação que fiz para outras bandas (Soulspell, Blackwelder, Paladin), basicamente já sei o que esperar. Todos os caras da banda agora são absolutamente profissionais, já gravaram bastante, já fizeram várias turnês, já sabem o que esperar também.

A produção mesmo foi suave, foi o entorno que foi mais complicado. Para fazer curta uma história longa, decidi descansar um pouco depois do último álbum, “Ghost Ship” (2016) porque eu precisava de um tempo mesmo para recarregar e me recompor antes que pudesse começar novas composições. Aquilo ia acontecer de qualquer jeito. Durante meu descanso, comecei a compor material novo, mas daí veio o COVID, aí trocamos de gravadora, aí trocamos de formação, tudo isso se juntou e fez o processo inteiro demorar mais do que inicialmente esperávamos.

Aquela parte foi desafiadora, mas a gravação em si foi tranquila.

Sonoridade Underground: “Mosaic”, o novo álbum, é bem diferente, sonoramente falando, do “Ghost Ship” (2016). O que esse álbum significa para a banda e como cabe na sua trajetória evolutiva?

Matt Smith: Essa pergunta é difícil de responder porque estou tão perto do disco, sabe? Eu ouvi isso bastante durante estas entrevistas, que está diferente e tudo mais. Adoro ouvir isso, porque acho difícil realmente detectar esse tipo de coisa. Já mencionei antes, mas tenho um medo gigante de que tudo que faço soe semelhante, então as pessoas ao meu redor têm que me encorajar e falar “não, não, este está diferente.” É bom ouvir este retorno inicial de que está diferente.

Talvez este novo LP seja um pouco mais thrash do que o último, mas isso não foi nada intencional, foi só a maneira como as músicas saíram quando as compus. Acho que essa é a maior diferença; o timbre das guitarras é mais agressivo, coisas do tipo. Mesmo assim, acho que é uma boa representação do que fazemos, no geral.

Sonoridade Underground: Poderia falar um pouco mais dos temas líricos abordados no “Mosaic”?

Matt Smith: Sim, claro! Para a faixa-título e o título do álbum em si, “Mosaic”, estava pensando neste conceito de como durante o tempo de uma vida não temos uma grande perspectiva, a perspectiva que Deus teria sobre nossas vidas. Só vemos pequenos pedaços. Vemos um evento ali, um dia, uma semana, um mês de cada vez, coisas ruins, coisas boas, mas nunca teremos a perspectiva completa de como esses acontecimentos se juntarão e te afetarão como pessoa ao longo de seus anos de vida. Estava pensando nisso, e é basicamente disso que se trata a “Mosaic”. Acho que isso abriu a porta para um baita nome para o álbum e uma capa muito boa.

Tem uma boa variedade, não é um projeto conceitual. Abordamos desde a situação política americana a morte e legado, há partes mais históricas, com histórias da Bíblia, paralelismo com tempos modernos.

Entre o último álbum e este, todos meus avós se foram, perdi outros que tinha proximidade também, então isso aparece bastante nas letras, aparece mais do que tinha percebido e mais do que tinha planejado. Isso fica evidente em músicas como “Return to Dust” e “The Greatest Hope”, e é mais indireto em outras músicas. Sabe, é interessante porque alguns destes temas recorrentes não são notados até que eu dou um passo para trás e reflito sobre o álbum e olho mais por cima. Estas foram alguns dos temas que abordei desta vez.

Sonoridade Underground: O disco também está cheio de músicas com letras fortes e impactantes. Na sua opinião, qual a música com a letra mais impactante?

Matt Smith: O que aprendi até aqui é que depende bastante do ouvinte, o que ele está passando na hora e o que ele está disposto a interpretar de cada música. Eu sei que é uma resposta meia-boca, mas é verdade. Aprendi isso ao longo de nossa carreira com coisas que os fãs vêm me dizer após os shows sobre como tal música é importante para ele, como tal música o ajudou a passar por uma situação difícil, coisas do gênero.

As vezes não são nem coisas que havia pensado na hora. As pessoas pegam a situação em que estão e colocam na sua interpretação da música, e as vezes é que eu nem tinha pensado sobre. Tais músicas podem ser mais impactantes para alguns do que para outros e algumas músicas que não eram inicialmente impactantes podem impactar o ouvinte após um certo tempo. Realmente depende de onde você está na vida, o que você está passando, as perguntas que está fazendo. Todas estas coisas.

Para mim, pessoalmente, é a “The Greatest Hope”, a balada. Ela é gigante para mim por conta das perdas que já mencionei, tudo que eu passei. Ela é bem direta neste quesito. Mesmo não sendo sobre uma pessoa em especial, é sobre um aglomerado de pessoas que se juntam para criar uma história maior. Acho que essa é bem efetiva para mim por causa de onde estou na vida atualmente.

Sonoridade Underground: O “Ghost Ship” de 2016 foi um álbum muito forte, muito bom. Como foi fazer uma sequência a um álbum tão importante para a banda.

Matt Smith: Foi difícil (risos). Criar uma sequência não foi fácil. Geralmente boto muito pressão em mim mesmo nesse processo. Vale lembrar também que não lançamos muita coisa, só fizemos 5 álbuns mesmo depois de todo este tempo (21 anos de banda). Desde o começo queria que todo nosso material fosse bom; nenhuma música “pior”, nenhuma composição de segunda. É algo que leva tempo. Fora isso, leva a várias dúvidas e hesitação. Faz com que eu descarte várias ideias que não estavam boas o bastante, recomeçar muitas coisas. É um desafio, mas é o único jeito que sei fazer.

Eu adoro ter 5 álbuns lançados e ter um grande orgulho de todos. Obviamente, não posso falar que nosso repertório inteiro é ótimo, mas posso com certeza te garantir que tudo que fizemos foi absolutamente o melhor que poderíamos ter feito dadas as devidas circunstâncias e que demos 110% em relação a eles.

É sempre duro porque também adoro o “Ghost Ship”, e ficava pensando “como que vamos suceder esse disco”. Inicialmente era como um monstro de 7 cabeças, mas com o passar dos anos, fui compondo músicas com mais naturalidade e alguma hora você tem que parar de se preocupar com se comparar o passado e dizer “esse é o melhor que pude fazer, espero que goste”. (risos)

Sonoridade Underground: Com certeza” A discografia de vocês é muito sólida e muito consistente! “All killer no filler”!

Matt Smith: Muito obrigado! Sempre adoro ouvir isso, é isso que quero fazer. Não é fácil…

Sonoridade Underground: Em uma entrevista de 2003 com o site dinamarquês Power Of Metal você disse que a música do Theocracy não é direcionada para o mercado cristão, ao mercado secular nem a qualquer outro mercado. Como você se sente em relação à repercussão do Theocracy no mercado cristão e secular?

Matt Smith: Eu ainda acho que as músicas permanecem assim. É engraçado porque, esqueço o qual foi a pergunta exata, mas alguém me perguntou alguma coisa do tipo, não necessariamente a ver com mercados específicos. Para falar a verdade, eu não me importo quando estou compondo. Não tentando diminuir nada, sou muito grato por todos os nossos fãs, a aqueles que ficaram conosco desde o começo, mas não posso pensar nisso enquanto estou compondo, tenho que compor um álbum que eu, pessoalmente, escutaria, sabe? Isso é tudo que sempre tentei fazer.

Em relação aos mercados, eu não faço ideia onde temos mais sucesso com vendas ou qualquer outra medida. Sabe, não me preocupo com isso porque sempre terá alguém que irá reclamar. Alguns fãs de música cristã vão falar que as faixas não são cristãs o bastante, alguns da música secular nem darão uma chance ao disco porque é muito cristão. Por aí vai. Não pode se preocupar com isso; você enlouqueceria.

Tem funcionado bem ultimamente, porque pelo menos para mim sempre foi sobre honestidade. Até vindo de uma perspectiva cristã, falo de coisas reais, sem eufemismos, sem belezinhas, as vezes falo de perrengues em todas minhas composições. Crentes e não crentes se identificam com esses temas, e tivemos pessoas de diversas crenças como ouvintes, e fico eternamente grato em relação a isso.

Sonoridade Underground: Eu vejo o Theocracy como uma das bandas gospel mais acessíveis. Você realmente não precisa ser crente para ouvir as músicas da banda. São realmente muito abrangentes.

Matt Smith: Acho que tantas das minhas influencias iniciais, ter ouvido Queensrÿche quando criança, a inteligência com que construíam suas músicas, as coisas que abordavam, era tudo tão diferente do que tocava no rádio. Realmente foi algo que me mudou. Acho que é isso que tentamos fazer e que esperamos que as pessoas se identifiquem com, de todos os cantos da vida.

Mesmo se elas não entendam ou necessariamente se relacionem com a música, espero que possam ver que é tudo bastante honesto e que há um nível de qualidade que tentamos atingir.

Sonoridade Underground: Naquela mesma entrevista com a Power Of Metal você disse que a internet foi algo vital para o sucesso da banda e que deviam todo o sucesso de vocês para ela. Também foi dito que a internet te ajudava a criar uma comunidade próxima. Isso tudo ainda é o caso?

Matt Smith: É interessante, certamente era verdade lá atrás, tínhamos nosso próprio fórum, e acho que o motivo por ter sido tão verdadeiro para mim foi porque o primeiro álbum do Theocracy foi um álbum solo, só comigo. Aquilo não foi intencional, não queria ser um artista solo, só não conhecia nenhum outro músico local que gostava do tipo de música que eu gostava. Felizmente, logo depois que o LP foi lançado eu encontrei alguns músicos.

Lá no começo eu não podia sair e tocar shows e fazer todas as coisas que me garantiria uma base de fãs da maneira tradicional. Tem uma música no nosso primeiro disco chamada “Serpent’s Kiss”, e essa música saiu em uma compilação para um festival local daqui de Atlanta, o ProgPower USA, e ele tem uma comunidade relativamente pequena em torno dele. Mesmo assim, aquela música teve bastante sucesso online. Se eu me lembro corretamente, a maioria das músicas daquele compilado tinham durações normais de uns 3 ou quatro minutos, mas a “Serpent’s Kiss” tem uns 11 ou 12. Era única. Naquela pequena comunidade uma expectativa foi gerada, que se converteu em antecipação para o primeiro álbum. A comunidade online cresceu em torno disso. Naquela época era assim.

Agora temos tocado tantos shows e agora é uma mistura de tudo. Todos estão online toda hora hoje em dia, então grande partes dos fãs vão vir disso, mas também temos vistos vários destes fãs em pessoa. No começo a internet com certeza foi algo vital.

Sonoridade Underground: Você mencionou agora o fato de terem tocado em vários shows, vocês fizeram shows no mundo inteiro já, acabaram de voltar da Alemanha, já assinaram com gravadoras do mundo inteiro. O que você acha do sucesso do Theocracy em escala internacional?

Matt Smith: É incrível. Nunca imaginei que sendo quem somos, uma banda cristã com um estilo tão particular que tantas pessoas ligariam para nós. Comecei fazendo álbuns que eu pessoalmente ouviria. Lembro que tocamos em um festival europeu, o Elements of Rock em 2009 e aquele foi um momento gigante. Todos os shows que tínhamos feito foram aqui perto e ninguém ligava, ninguém aparecia, e agora, do nada, estávamos neste festival, em uma sala cheia de gente cantando nossas músicas.

Para mim foi algo tão emocionante, tão gratificante, depois de tantos anos de perrengue. Foi um momento tipo “eu vou fazer isso, independente das pessoas ouvirem. Algumas vezes pode até ser bastante desanimador, mas aquele foi o primeiro grande momento gratificante envolvendo outras pessoas. Desde então, todas as vezes que fomos à Europa fomos recebidos de maneira muito calorosa. Devemos muito do nosso sucesso à nossa base de fãs internacional e à essa “aceitação” que tivemos.

Acho que por volta do “As the World Bleeds” (2011) os EUA começaram a tirar esse atraso. Começamos a aparecer em algumas paradas de novas bandas por aqui, e gostamos muito de ver isso. Mesmo assim, a Europa certamente nos deu nosso primeiro grande apoio, e continuam nos apoiando todas as vezes que vamos até lá.

Sonoridade Underground: O sucesso de vocês por lá persiste né? Apareceram nas paradas na Alemanha, Suíça e Áustria né?

Matt Smith: Sim, e é algo que continua sendo inacreditável! Não sei como esse tipo de música acaba nas paradas, mas não deixa de ser algo incrível. Fico muito grato por isso.

Sonoridade Underground: Vocês merecem! Pelo menos ao meu ver, uma das razões que vocês acabam em tantas paradas é porque são uma banda um tanto única. O que você diria que diferencia o Theocracy de outras bandas do estilo?

Matt Smith: Essa é uma boa pergunta. Não sei por certo. É engraçado que lá no começo, geralmente pensamos sobre coisas assim. Com suas primeiras composições, você está só imitando seus ídolos, de qualquer jeito e as bandas que você tem ouvido. Isso leva ao pensamento de “ah, será que esse som está muito parecido com banda X ou banda Y”?

Com o passar do tempo, hoje em dia não penso mais nisso, acho que soamos como nós mesmos, só de ter existido pelo tempo que existimos. Acabamos aprendendo que independente da música ou do estilo, uma vez que nos cinco tocamos e eu canto a música, parece Theocracy.

Eu não sei, especificamente, o que nos diferencia, fora talvez o jeito que combinamos riffs mais pesados com nossos refrões grandiosos e alguns flertes com o progressivo. Não fizemos nada que não tenha sido feito antes, mas acho que o jeito que juntamos é algo único. Talvez a qualidade que sempre visamos e as letras e os álbuns inteiros nos dá o som que temos.

Sonoridade Underground: Agora infelizmente teremos que passar para a última pergunta por questões de tempo… Quais são os planos para o futuro do Theocracy?

Matt Smith: Algum tipo de turnê ou shows. Ainda estamos decidimos o que será exatamente. Fizemos umas 5 ou 6 turnês europeias já, tocamos vários shows nos EUA também mas têm sido mais esporádicos. O que dificulta com a nossa banda é a agenda mesmo. Todas as nossas agendas são insanas. Não moramos tão perto uns dos outros, todos nós trabalhamos fora da música, temos família. É difícil juntar todos por 3 ou 4 semanas de uma vez.

Agora estamos discutindo se queremos fazer algo nos EUA ou voltar para Europa ou fazer algo completamente diferente. Ainda não sabemos por certo. Com certeza queremos fazer algo no ano que vem. Fiquem ligados!

Sonoridade Underground: Se vocês acabarem passando aqui pela América do Sul, América Latina posso te garantir que receberemos vocês de braços abertos e nos divertiremos muito!

Matt Smith: Sempre conversamos disso, desde o começo ficam clamando para “come to Brazil”, então realmente espero que dê certo. Algum dia, ano que vem seria incrível, mas não temos planos específicos ainda. Sei que temos que chegar aí eventualmente, vocês tem sido alguns de nossos maiores apoiadores desde o primeiro dia, e queremos tocar aí!

Sonoridade Underground: Com certeza! Tem mais alguma coisa que você queira falar?

Matt Smith: Gostaria apenas de agradecer ao nossos fãs aí do Brasil e a todos que tem nos ouvido. Esperamos que vocês adorem o “Mosaic” e agradecemos por como vocês tem ficado ao nosso lado desde o começo e pelo apoio contínuo de vocês. Muito obrigado, e esperamos ver vocês daqui a pouco.

Ouça “Mosaic” do Theocracy no Spotify: https://open.spotify.com/album/5EL0L9rYE8pc1ZHpK0Vsem

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