“Iron Maiden era mais uma empresa do que uma família”: Dennis Stratton discute experiência no Iron Maiden, Clive Burr

Em antecipação à sua turnê pelo Brasil, Dennis Stratton e sua banda estiveram presentes em uma coletiva de imprensa no Flaming Youth Exprience nesta última terça-feira (28/11). Confira algumas perguntas feitas ao guitarrista pelo nosso colaborador Daniel Agapito.

Sonoridade Underground: Voltando ao que você disse sobre o Iron Maiden ser mais um negócio do que uma família, como você diria que esta dinâmica “empresarial” afetou suas gravações com o Maiden?

Dennis Stratton: Não afetou meu trabalho (com a banda). Nada realmente afeta meu trabalho. O que afetava meu trabalho eram as músicas que eu ouvia. Basicamente, quando digo que era uma empresa, eu ia à escola, mas não ia muito, e tínhamos um coordenador, não gostava dele. Rod Smallwood (empresário do Iron Maiden na época) era nosso coordenador, e não ia muito com a cara do Smallwood. Ele havia deixado bem claro que queria administrar a banda como um coordenador de escola.

A banda toda era mais nova que eu, eu era o mais velho, e já havia feito turnês ao redor do mundo com bandas como Status Quo antes de entrar no Maiden. Não era um novato. O que me deixava triste era o fato de que ele me dava broncas, ele frequentemente me destacava para brigar comigo por ouvir Eagles no meu hotel, ou brigava pelo simples fato de eu gostar de outras bandas que não eram heavy metal. Quando decidimos conversar sobre isso dizia a ele “acha que minha audição estaria ok se ouvisse Motörhead 24 horas por dia, mesma coisa com minha mente se trabalhasse nas coisas do Maiden.” Ele não sabia o que dizer.

Remus Down Boulevard, banda de Dennis Stratton que fez turnê com Status Quo

Ao meu ver, se você está exercendo seu cargo mais do que precisa, mais do que o necessário, não importa o que você ouve; todos deveriam ter a mente aberta para escutar o que quisessem se estão trabalhando direito e se isso não afeta seu trabalho. Por contra de ser mais uma empresa do que amizade, o Rod estava mais interessado no que as pessoas iriam pensar se me vissem escutando George Benson ou Eagles. Eu gostava de relaxar enquanto não estava tocando.

Também gostava de viajar com nossa equipe, porque eram engraçados. Um dia, estávamos na Alemanha em turnê com o Kiss, e decido entrar em um dos caminhões e me aventurar com os caminhoneiros. Quando cheguei à casa de shows, ele vem e me acha, ali está o coordenador de novo, e estou tomando broncas por não ter viajado no carro com a banda, ainda não entendo o porquê. Ainda havia chegado no local antes de todos, porque os caminhoneiros chegam antes de todos, Eu estava lá adiantado, ele ainda não havia gostado.

Esta é a diferença de estar com uma empresa. Você não pode relaxar e se divertir, tem que fazer o que o coordenador mandar. Isto me desgastou. No final era tipo “por favor pare. Estou fazendo o que tenho que fazer.” Nesta hora ele me disse, “você está trabalhando mias do que jamais havíamos esperado.” Então pedi para que me deixasse sozinho, porque estava muito cansado do jeito em que ele falava comigo, mas ele não parava, então acabamos cortando relações.

Está aí a diferença.

Sonoridade Underground: Você era uma grande amigo de Clive Burr (baterista), tendo sido a pessoa que o trouxe para a banda. Como era seu relacionamento com ele até ele infelizmente ter nos deixado há alguns anos trás?

Dennis Stratton: Eu e Clive éramos realmente muito próximos; cheguei até a carregar seu caixão na capela. Sabe, conheci Clive provavelmente no meio dos anos 70. No leste de Londres tem de estar grande floresta, Epping Forest, e tem um pub que é logo na floresta, na grama mesmo, Golden Fleece. Eu e Clive bebíamos lá. Ele morava com os pais atrás do pub. No verão todo mundo sentava na parte de fora e eu o via muito.

Quando fui aos Hollywood Studios e pediram para que eu entrasse no Iron Maiden, eu notei que havia uma bateria lá, mas não sabia quem que era o baterista deles. Sabia que tinham chamado o Thunderstick para lá pra tocar algumas coisas, mas eu nunca o vi por lá; nunca vi nenhum baterista por lá, só a bateria. Eu até chegava a tocar um pouco quando não tínhamos nada para fazer, só para zoar mesmo. Num dia ensolarado depois do ensaio eu voltei para o pub e enquanto saia do pub o Clive estava entrando. Foi o destino.

Quando me cumprimentou perguntou o que estava fazendo, e o respondi que havia acabado de entrar nesta banda de heavy metal, o Iron Maiden. Falei que estavam procurando um baterista. No próximo dia, fui à sala de ensaio e falei ao Steve (Harris). Ele me falou algo tipo “ah o baterista que ia trazer para tocar com a gente é fantástico, já trabalhei com eles por uns dois anos, mas ele está ficando com problemas auditivos, qualquer música alta iria o ensurdecer. Decidi que era muito alto para ele (Johnny Richardson).” Depois falei para ele que tinha um amigo, Clive, e ele concordou em trazer ele.

Nesta hora roubamos um pouco porque eu fui ver o Clive naquela noite e dei a ele uma fita da banda. Disse para o Clive “ouça bastante esta fita hoje à noite e te levo para o estúdio amanhã. Tente captar algumas coisas de algumas músicas, as mais fáceis.”. Se ele chegasse no ensaio sem ter ouvido nada, ele não saberia o que tocar e soaria meio duvidoso, meio ruim. Basicamente ele ouviu acho que “Prowler” e “Rough Child”. Entramos no carro e colocamos a fita. Ouvimos até chegarmos no ensaio. Perguntava para ele “conseguiu pegar esta parte?”, “sim, sim” – respondia.

Quando chegamos introduzi ele aos cara e o Steve me perguntou se havia escutando algum material da banda. “Não, não, ainda não teve tempo de escutar nada. Ele acabou de chegar. Só falei para ele alguns dos títulos. Vamos tocar ‘Prowler’”. Depois das duas músicas Steve falou “ele é bem bom né”, e ofereceram o cargo lá mesmo. Tocamos mais algumas músicas só para usar o tempo de ensaio mesmo. Depois levei ele de volta para casa à noite.

Chegando à parte em que ele deteriorou, não tenho certeza quando digo isso. Eu levei o Clive, o Paul Brisland, baterista do Praying Mantis, tínhamos que ir ao Japão em meados de 2002 para fazer o álbum duplo ao vivo “Live in Tokyo”, e o Bruce caiu de sua bicicleta e quebrou seu braço. Então perguntei de Clive, da conexão do Iron Maiden. Fui à sua casa e dava para ver que ele estava tendo dificuldades. Não entenda errado, não sou médico, não entendo muito, mas pelo seu olhar podia ver que havia algo de errado. Estávamos sentados ouvindo o material da Praying Mantis e disse a ele “Bruce é um baterista fantástico, então não tente copiar ele, ponha seu próprio feeling nas músicas, faça sua própria interpretação. Clive começou a escrever partes de bateria.

À medida que a turnê se aproximava, ele anotava mais e mais coisas. No final ele tinha um livro. Quando perguntei sobre o livro, ele disse que estava esquecendo várias das seções das músicas. Havia muitos instrumentais com as guitarras harmônicas. Ele queria cair fora da turnê, mas não deixei, estava muito tarde, a turnê estava muito próxima. Então ele veio ao Japão conosco, mas se olhar aos vídeos nos DVDs você pode ver o livro e ver que ele está lendo o livro em praticamente todas as músicas. Se aquilo foi ou não um sinal prematuro de coisas que já não estavam, certas eu não sei, só estou contando os eventos que aconteceram naquela turnê japonesa.

Quando voltamos, ele deteriorou muito rápido. Voltei à casa dele quando os empresários do Maiden pagaram para que sua casa virasse acessível por cadeira de rodas, trocaram a cama dele e tudo mais. Foi muito entristecedor. Ele estava sentado na cadeira e a única coisa que ele podia mexer eram os olhos; era assim (mexe os olhos. Era como um morto-vivo. Ninguém quer isso para ninguém.

Stratton (direita) e Dave Lights (um dos primeiros Eddies, esquerda) com Burr (centro)

Então, vi ele duas semanas antes dele ir e recebi uma chamada da Mimi, sua companheira e fomos lá e falamos com ela. Fomos ao funeral e o Steve estava lá com o Bruce (Dickinson) e batemos algumas fotos. Eu e o Tino do Praying Mantis e alguns membros da equipe carregamos seu caixão sentido à igreja. Foi uma ótima despedida. Foi difícil, mas de alguma maneira foi bom ver que estava em um lugar melhor. Você não iria querer ver alguém sofrer o tanto que ele estava sofrendo. Ele sofria todo ano naquela cadeira.

Sim, fomos amigos do começo ao fim.

Em breve a coletiva inteira estará disponível em nosso site.

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