Em turnê, Ghost retorna ao Brasil com Re-Imperatour

Com espetáculo de tirar o fôlego, a banda apresenta performance repleta de clássicos em seu repertório

Fotos: Amanda Sampaio

Para as pessoas que estavam interessadas em presenciarem um verdadeiro espetáculo,
elas conseguiram permanecer em completa paz e euforia. A turnê Re-Imperatour teve início
ainda na América do Norte estendendo ao Sul, em que o Brasil foi agraciado, podendo
aproveitar a passagem da banda, pois fazia anos que eles não performavam por aqui. No
entanto, adianto que a memória pelo país era viva na memória do vocalista, que demonstrou
muito afeto e carinho com o público.


Inicialmente, Ghost havia anunciado apresentação única (20/09), mas após esgotarem
os ingressos em pouquíssimo tempo, a banda resolveu presentear o público com uma data
extra (21/09), que teve o mesmo resultado. Ambas as apresentações ocorreram no Espaço
Unimed, na cidade de São Paulo, com o objetivo de promover o quinto álbum Impera
(2022).

Abertura de caminhos

Por volta de 20h, diferente do primeiro show que não houve abertura, a banda
feminina brasileira de Death Metal Crypta ficou responsável em animar o público,
impressionando a todos com muita simpatia. Principalmente, nos breves momentos entre uma
música e outra, em que conversava com as pessoas presentes.


A apresentação que teve duração de mais de uma hora contou com canções do novo
álbum Shades of Sorrow (2023), em que podemos destacar The Outsider e Lord of Ruins.
E é claro que o show de luzes em tons avermelhados e branco era espetacular, em que
destacavam as integrantes, ainda mais a vocalista e baixista Fernanda Lira, com seus olhos
expressivos e energia em alta.


Lembrando que o show de abertura realizado nesta última quinta-feira foi o primeiro a
abrir as portas à nova turnê da banda feminina, em que Lira contou ao público com muito
orgulho, destacando o fato de ser uma honra em que Ghost pôde nota-las.

O culto ao Papa Emeritus IV

De todos os shows em que compareci no Espaço Unimed, eu nunca vi tanta gente
reunida como no show do Ghost. Era, literalmente, um mar de gente que se formou e podia ser mais visto dos mezaninos, local reservado para a imprensa. Chegou em um nível em que a
saída da pista Premium estava totalmente bloqueada, por conta do volume exacerbado de
pessoas.


Enquanto a apresentação não começava, ao fundo, podíamos ouvir Klara stjärnor, de
Jan Johansen; seguida por Miserere mei, Deus, composta por Gregorio Allegri; algo que só
foi aumentando as expectativas e a euforia do público, que contavam os minutos para ver a
banda sueca. De praxe, eles estenderam um tecido branco em frente ao palco, trazendo mais
mistério e finalizando os últimos detalhes necessários.


Aos curiosos, o setlist presente no show foi muito variado, dando uma atenção
igualitária ao Meliora (2015) e Impera (2022). No entanto, o vocalista não deixou os
clássicos de fora, em que fizeram o gosto desde os fãs mais antigos aos fãs recentes. Com sua
presença de palco inigualável, Papa Emeritus IV surge com seu blazer de paetê dourado ao
som de Kaisarion, esbanjando toda a sua performance.


O palco que estava totalmente iluminado, decorado com as ilustrações de vitrais, em
referência ao que vemos nas arquiteturas de igrejas católicas, as luzes se apagam, revelando
uma iluminação em laranja e azul marinho. Em seguida, não demorou muito para os
primeiros acordes começarem e recebermos a pedrada Rats, do álbum Prequelle (2018). O
público estava incontrolável, em que todos gritavam, batiam cabeça no ritmo do refrão e, não
menos importante, gesticulavam malocchio, seguindo cada batida da bateria.

Quando estamos falando de Ghost e suas performances, seja nos palcos ou nos clipes,
é necessário reconhecer que há toda uma preocupação visual, em que é vendido uma
dramatização ao público. O show consegue se alinhar verdadeiramente com a palavra
espetáculo, por conta de todos os adereços presentes no palco, assim como as vestimentas
impecáveis do Papa Emeritus IV e dos Nameless Ghouls.

E isso foi algo singular, pois se o público não está distraído com a música que está
tocando, ele acaba prestando atenção em outros fatores que estão ocorrendo no palco. Mas há
um ponto negativo também: A experiência é tão gratificante, que o tempo passa correndo e
mal percebemos.

Após algumas canções, chega a vez de Spillways, algo mais “tranquilo”, em que
podemos retomar o fôlego para o que nos aguarda mais tarde, podendo cantar e dançar. Em
seguida, é iniciado Cirice, em que retorna à pegada dramática tão popular no repertório das

composições da banda. Sem contar que neste momento, Papa havia feito sua primeira troca
de figurino, em que surge com o meu visual favorito: o blazer preto em que na abertura dos
braços do vocalista, há um tecido que faz alusão às asas de um morcego.
Uma pena que o traje não perdura muito tempo, pois assim que chega em Ritual, do
Opus Eponymous (2010), ele se apresenta com um blazer preto, mas sua camisa é de um
azul turquesa, um tom semelhante presente na capa do álbum. As luzes no palco
permaneceram completamente brancas, trazendo um ar ainda sombrio, mas frio ao mesmo
tempo.

Já em Call Me Little Sunshine, o público começa a sentir aos poucos que está
chegando em um dos momentos clássicos e aguardados do show, em que o Papa com sua
postura menos glam da noite, utilizando do seu traje solene acompanhado da mitra.
Con Clave Con Dio se inicia e Papa retira o acessório de sua cabeça, surgindo com
um turíbulo, em que ele defuma o palco, enquanto proclama a letra em uníssono com o
público, que canta perfeitamente em italiano, seguindo a oração da música. Enquanto
algumas partes do palco com os outros integrantes, permanecem em um enorme breu, luzes
vermelhas piscam sem parar acima do vocalista, completando um dos ritos da noite.

Para arrematar a convocação dos demônios, engatamos em Year Zero, pertencente ao
Infestissumam (2013), em que podemos flertar com o ritmo da banda de uma década atrás. É
interessante como os álbuns possuem estéticas e Papas diferentes, mas ainda assim, dialoga
com todos os outros projetos antigos e futuros presentes no setlist.

Interações com os fiéis

Em outra pausa breve, é interessante como tudo dentro da apresentação está
equilibrado. Mesmo que as letras possam aparentar um teor soturno, ainda assim, parece que
o Papa adormece, dando lugar ao Tobias Forge para conversar com o público. Seu sotaque
leve contrasta com o seu alter ego, que logo ressalta como estava calor naquela noite em São
Paulo.


Como o espaço havia se tornado um forno, o vocalista foi empático com o público e
providenciou que fosse distribuído copos descartáveis e mini garrafas de água. Esta ação foi o
suficiente para dar um up nos fãs, em que já estavam se preparando para a continuação do
espetáculo. Os Nameless Ghouls apenas se abanavam e gesticulavam como tirassem o
excesso de suor dos capacetes que não saem de suas cabeças em nenhum momento.

E falando nos servos do Papa Emeritus IV, eu preciso destacar como eles demonstram
afeto com o público. Eles gesticulam, pedem palmas e se empolgam em tocar os acordes,
enquanto não pensam duas vezes para se ajoelharem e fazer o gosto dos fãs.
Eles jogam inúmeras palhetas para que os sortudos possam ter alguma recordação
daquele momento. E, não menos importante, o público ama jogar objetos no palco,
principalmente bandeiras do Brasil e da causa LGBTQIA+, fazendo com que um dos
Nameless Ghouls colocasse em seus ombros, como forma de carinho.

De volta ao culto

Com muito mistério, uma luz baixa e Spöksonat sendo reproduzido ao fundo e sem a
presença do vocalista. Há muita fumaça no palco, quando nos damos conta, surgem homens
empurrando com um carrinho de mão, uma cúpula de vidro com almofadas vermelhas que
confortam Papa Nihil. Ele não apenas sai de onde estava adormecido, como realiza um solo
de saxofone, dança e interage com o público, para depois retornar de onde veio.


Encaminhando para o final do show, o público continua blasfemando enquanto canta a
todos os pulmões He Is. Neste momento, estava esperando que o Papa descesse do palco e
distribuísse algumas hóstias, como ele faz no clipe da canção. Não ocorreu, mas pudemos
conferir a animação do vocalista que vai de um canto ao outro, sempre aprontando com os
seus servos, enquanto dão tudo de si.


Logo, chegamos à Mary On a Cross, do Seven Inches of Satanic Panic (2019),
responsável por alavancar a banda, principalmente durante a pandemia, em que este som
estava atrelado à inúmeras produções de plataformas digitais, como o TikTok e o Instagram. É
quase um crime tocar esta canção e não saber a letra de cor. Com sua letra, assim como as
outras, carregadas de simbolismo e duplo sentido, Papa ainda gesticulava obscenidades
enquanto canta um dos refrãos.


Ao final, em especial, é cantado os últimos versos como: “Mary on a / Mary on a”,
em que o vocalista finaliza pausadamente: “Mary on a cross”, porém o público não o deixava
concluir a canção e ele repreendeu o público, em meio às gargalhadas.

Fim da Missa

Papa Emeritus abre diálogo com o público, agradecendo a presença de todos, por
tornar aquela noite especial e agradece, principalmente, à banda feminina Crypta, por terem realizado a abertura. Ele começa a se despedir, mas o público aparenta desapontamento, pois
por mais que estivéssemos suados e cansados de tanto dançar e cantar, ainda assim,
queríamos mais e mais doses da performance da banda.
Então, o vocalista faz uma comparação maravilhosa do seu espetáculo com sexo. Por
mais que o ato seja de extremo prazer, é muito jubiloso que possamos passar pelo clímax e
resultar em seu fim, em que permanecemos em completo êxtase.

No entanto, como ele é um artista compreensível, ele começa um acordo com o
público, como se estivesse negociando quantas canções traria ainda nessa noite. E em uma
parte bônus, trajando do seu blazer em paetê turquesa, com sua camisa de caráter vitoriana
preta por baixo, somos surpreendidos por Kiss the Go-Goat, em que ele se encaminha para
os extremos do palco, algo que teve bastante em seu repertório, porém ele vinha e lançava
beijos com as mãos para as mulheres presentes, terminando de laçar e conquistar cada uma
com seu charme no palco.

E não podia faltar dois clássicos para fecharem a apresentação com classe: Dance
Macabre, do Prequelle (2018); e Square Hammer, do Popestar (2016), respectivamente.
Ambas foram responsáveis por novamente deixar o público entusiasmado, em que sonhamos
que aquele momento não acabasse jamais.

Papa Emeritus surge com seu outro blazer, desta vez, estava trajado com um vermelho
rubi brilhante. Extremamente charmoso, ele me fez questionar e, sinceramente, nunca vi uma
curadoria tão extensa para vestimentas em um show, principalmente, em questão de uma
banda de rock. Arrisco dizer que ele consegue competir facilmente com o boneco Ken.
Voltando à performance, as canções passavam longe de algo melancólico, o que
deixou o público dançando sem parar, batendo cabeça e arremessando os punhos no ar ao
som da bateria sem parar. Infelizmente, o espetáculo chegou ao fim e pudemos ver cada
membro se despedindo do público com muito amor e carinho, todos se reuniram ao centro, se
curvando em forma de agradecimento.

Jamais esquecerei a energia que senti durante o show, do início ao fim, superou as
minhas expectativas como fã da banda. Espero que eles possam retornar novamente para o
Brasil, em breve! Quem sabe, presenciaremos uma nova Era com um novo Papa.

Ghost – Espaço Unimed – 21/09/2023

  1. Kaisarion
  2. Rats
  3. From the Pinnacle to the Pit
  4. Spillways
  5. Cirice
  6. Absolution
  7. Ritual
  8. Call Me Little Sunshine
  9. Con Clavi Con Dio
  10. Watcher in the Sky
  11. Year Zero
  12. He Is
  13. Miasma
  14. Mary on a Cross
  15. Mummy Dust
  16. Respite on the Spitalfields

    Faixas Bônus
  17. Kiss the Go-Goat
  18. Dance Macabre
  19. Square Hammer

    Canções de apoio
  20. Klara stjärnor
  21. Miserere mei, Deus
  22. Imperium
  23. Spöksonat
  24. Sorrow in the Wind
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About Bianca Matz

Jornalista por curiosidade, cinéfila por natureza, vegetariana por amor e paulista desde sempre.

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