Em sua nona edição, Coala Festival celebra o melhor da antiga e a nova música brasileira

A festa reuniu um extenso elenco, que abrangeu diversas gerações e cenas, desde o underground até o mainstream, do rock experimental ao MPB e do RAP à música eletrônica. O evento também se destacou pela abundância de atividades interativas e pela distribuição de brindes, que enriqueceram a experiência geral.

Texto: Guilherme Góes / Fotos: André Santos

*Obs: Essa matéria não conta com resenhas de shows que aconteceram na sexta-feira, dia 15.

No último final de semana (15,16 e 17), o Memorial da América Latina recebeu novamente uma de suas festas mais tradicionais: o Coala Festival, um dos mais prestigiados encontros musicais dedicados inteiramente à música brasileira.

Em sua nona edição, o evento se destacou por apresentar um dos lineups mais ecléticos de toda a sua história. A diversidade musical estava em pleno destaque, com a presença de renomados artistas que abraçam uma ampla gama de gêneros, exibindo desde o pagodeiro Péricles até grupos de rock alternativo como Boogarins e Metá Metá. Igualmente, o festival contou com a participação de verdadeiras lendas da música popular brasileira, como Jorge Ben Jor, Fernanda Abreu, Marina Lima e Novos Baianos. Uma proposta empolgante, que começou na edição 2022, mas foi ampliada este ano, foi a dinâmica de “sets conjuntos”, proporcionando ao público a oportunidade exclusiva de testemunhar colaborações únicas entre seus ídolos favoritos. 

Histórico

A concepção do Coala Festival teve origem ainda no início dos anos 2010, tendo como principal objetivo valorizar a cena musical brasileira, frequentemente negligenciada e sem a visibilidade merecida. Após alguns anos de planejamento, a proposta amadureceu até que, em março de 2014, viu-se a luz da primeira edição da festa. Naquela ocasião, nomes como Criolo, Tom Zé, O Terno, Trupe Chá de Boldo, Charlie e Os Marretas e 5 a Seco protagonizaram o evento, que atraiu aproximadamente 6 mil pessoas.

O Memorial da América Latina sempre ocupou o lugar de destaque como sede oficial do festival, desde os seus primórdios até os dias atuais. Com o passar do tempo, o Coala cresceu exponencialmente, incorporando um número cada vez maior de grupos e artistas. O evento já abrigou alguns dos maiores ícones da música brasileira em seu palco, incluindo nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Mano Brown, Baco Exu do Blues, Milton Nascimento, Johnny Hooker e Marina Sena.

Experiência geral e shows

Nos últimos anos, tornou-se comum encontrar atividades interativas e “espaços instagramáveis” em praticamente todos os festivais de música no Brasil. No entanto, o Coala Festival 2023 elevou essa experiência a um patamar superior, contando com quase uma dúzia de estandes de patrocinadores espalhados pelo Memorial da América Latina.

O espaço da cerveja Amstel se destacou por oferecer uma sala espelhada com um ambiente profissional para fotografia, além de um bar exclusivo que se revelou um verdadeiro refúgio durante o calor escaldante que marcou todo o fim de semana.

Por sua vez, o ponto da Matte Leão contava uma atmosfera mais descontraída e “good vibes,” com redes, pufes e sofás, que praticamente convidavam os visitantes a relaxar. Além disso, os staffs estavam oferecendo degustações gratuitas de novos sabores da marca. Nesse espaço, também era possível adquirir um brinde bastante cobiçado: um chapéu cor laranja, que se tornou extremamente popular ao longo do festival. No entanto, o brinde mais concorrido foi o boné da marca de whiskey Jameson, que se tornou objeto de ostentação por excepcional qualidade de costura e apresentação profissional. A marca de cosméticos Natura aproveitou sua presença no evento para apresentar os mais recentes produtos da linha Ekos, distribuindo pequenas amostras gratuitas aos visitantes.

Outro aspecto notável do festival foi a impecável manutenção dos banheiros, com uma equipe dedicada à limpeza das cabines imediatamente após o uso dos frequentadores. Além disso, a pontualidade dos shows foi impressionante, contando até com um cronômetro que exibia o momento exato em que as bandas e artistas iriam surgir no palco.

No sábado, a primeira apresentação ficou a cargo da banda paulistana de Jazz Instrumental Metá Metá. O grupo brindou o público com um som experimental que mesclava saxofone e violão de forma épica. Em várias faixas durante o set, destacaram-se riffs enérgicos no violão, incorporando influências do punk em meio a composições que abordavam elementos naturais e os Orixás. Na metade da performance, o rapper Rodrigo Ogi fez uma entrada triunfal, aproveitando a oportunidade para estrear algumas músicas novas. A partir desse ponto, a banda e o músico convidado uniram forças, combinando rimas de teor social a um instrumental distorcido. Foi uma ocasião extraordinária para o público apreciar como o rap pode harmonizar-se perfeitamente com bases acústicas e percussão.

Em seguida, foi a vez da Suraras dos Tapajós, um grupo feminino do Pará que ergue a bandeira contra o machismo e exalta o empoderamento das mulheres indígenas. O show teve início com um protesto sob o tema “demarcação já”. À medida que a performance avançava, o público foi dominado pela envolvente percussão, movimentos de dança cativantes e os ritmos contagiantes do carimbó. Às vésperas do encerramento, Lucas Estrela, um dos guitarristas mais renomados do Norte do Brasil, fez uma breve participação especial, adicionando ainda mais brilho ao espetáculo. Foi um set muito criativo, marcado pela dança, pela beleza dos trajes tradicionais indígenas e por uma produção visual deslumbrante.

O rapper brasiliense Don trouxe banda completa para a apresentação no Coala Festival. Essa escolha indiscutivelmente enriqueceu o shoe, adicionando elementos de jazz com saxofone e backing vocal que expandiram as fronteiras das suas músicas mais icônicas, como “Depois das Três,” “Morra Bem, Viva Rápido” e “Aquela Fé.”

Fechando a segunda noite, Novos Baianos, foi, inegavelmente, foi o ponto alto da festa e, ousaria dizer, o ponto culminante de todo o festival. A performance foi marcada por uma sequência de sucessos, inclusive para alguém como eu, que não possui uma profunda familiaridade com o gênero musical em questão. A presença de palco exibida foi verdadeiramente impecável, e a interação com a audiência foi notável. Para mim, mais do que um simples espetáculo, foi uma celebração de música de alta qualidade.

Domingo de muito sol e Rock Alternativo

No domingo (17), a sessão de shows começou com um estilo que, de certa forma, sempre esteve presente no Coala Festival e ajudou na popularização da marca: o rock alternativo. 

O primeiro grupo a se apresentar foi Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo, banda que surgiu recentemente, em 2019, mas já está se destacando na cena musical alternativa com sua proposta barulhenta em conjunto com certas passagens de indie e pop rock. Além de apresentar músicas do seu álbum homônimo lançado em 2021, como “Se Você,” “Deus Lindo,” e “Hello,” o grupo impressionou com sua presença de palco cativante. Durante o show, os integrantes estabeleceram diálogos com o público, fortalecendo a conexão com os fãs de longa data e aproveitando a oportunidade para conquistar novos seguidores.

Na mesma linha alternativa, veio o talentoso músico alagoano Bruno Berle, que presenteou o público com uma fusão de indie rock e influências de música nordestina raiz. Embora costume se apresentar de maneira solo em suas performances, para o Coala Festival, o jovem músico trouxe consigo uma banda completa que enriqueceu ainda mais a complexidade de sua música experimental. Próximo ao encerramento do set, a cantora Bebé Salvego fez uma marcante participação, sinalizando uma promissora parceria que pode render frutos significativos para o futuro da música independente brasileira.

Iniciando o bloco dos headliners, a performance de Marcos Valle, um dos compositores mais respeitados da nossa música, foi uma verdadeira demonstração de profissionalismo. O show teve início com uma intro instrumental e seguiu com a interpretação de alguns dos sucessos de sua longa carreira. Em um momento memorável, Marcos se juntou a Joyce Moreno e Céu, combinando suas vozes para preencher suas composições icônicas. Um destaque especial foi a interpretação de “Samba de Verão,” que cativou a multidão e resultou no primeiro momento de euforia generalizada do dia.

Lamentavelmente, um dos sets mais esperados do dia passou uma mudança significativa. Angela Rô Rô, que estava programada para se apresentar ao lado de Letrux, teve que cancelar sua participação devido a problemas de saúde. Entretanto, a artista carioca manteve o compromisso com maestria. Com sua personalidade ímpar, maquiagem pesada e movimentos energéticos pelo palco, a cantora conquistou a plateia com suas canções carregadas de sensualidade, como “Hiena” e “Que Estrago”. Houve ainda uma bela homenagem a Angela Rô Rô, com a interpretação de “A Mim e a Mais Ninguém” e “Amor, Meu Grande Amor”.

Próximo ao encerramento, Marina Lima e Fernanda Abreu entregaram uma das apresentações mais marcantes de todo o festival, apesar do notável uso de playbacks em certos momentos. Marina deu o pontapé inicial, e em seguida, Fernanda Abreu tomou o palco com seus sucessos “Rio 40 Graus” e “Garota Carioca”. Logo após, a plateia mandou um emocionante coro de  “parabéns” dedicado a Fernanda Abreu, e também acompanhou letra a letra nos covers de “Ideologia” de Cazuza e “Ainda é Cedo” da Legião Urbana. Além disso, houve uma curta, porém tocante, homenagem ao MC Marcinho, que nos deixou em agosto deste ano.

Fernanda Abreu também destacou a canção “Puro Disfarce”, que ela compôs em parceria com Letrux, que foi acompanhada por imagens de protestos exibidas no telão. Contudo, o momento mais épico e comentado de todo o festival aconteceu próximo ao encerramento, quando Matina Lima e Fernanda Abreu surpreenderam a todos com um beijo e, juntas, encerraram a noite com os hits “Fullgás” e “Uma Noite e Meia”, levando os fãs à loucura. Sem sombra de dúvidas, essa apresentação exclusiva e memorável marcou a importância do Coala Festival.

Para encerrar com maestria a festa, nada menos que o mestre Jorge Ben Jor, um dos maiores heróis da história da música brasileira. Sua apresentação se assemelhou bastante àquela realizada no Festival Turá, em junho, mantendo a mesma dinâmica de palco com todos os músicos no centro, proporcionando destaque igualitário à estrela principal da noite. O setlist também foi praticamente idêntico, assim como o jogo de iluminação. No entanto, o público se emocionou novamente ao ouvir canções como “Salve Simpatia,” “País Tropical” e “Taj Mahal”, reafirmando que as obras desse gênio são atemporais e sempre terão o poder de despertar emoções profundas.

Celebrando mais uma vez a riqueza e diversidade da música brasileira de maneira triunfante, o Coala Festival 2023 foi um evento verdadeiramente memorável. As atrações variadas proporcionaram uma jornada musical emocionante, abraçando uma ampla gama de estilos e destacando artistas incrivelmente talentosos. Além disso, a excelência na organização, a diversidade das atrações secundárias e a impecável limpeza dos espaços contribuíram para enriquecer ainda mais essa experiência única. Que o Coala Festival continue a crescer e a fortalecer a cena musical nacional!

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About Gustavo Diakov

Idealizador disso aqui, Fotógrafo, Ex estudante de Economia, fã de música, principalmente Doom/Gothic/Symphonic/Black metal, mas as vezes escuto John Coltrane e Sampa Crew.

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