Sepultura – 30 anos de “Chaos A.D.”, a transformação da música pesada

No dia 2 de setembro de 1993, a lendária banda brasileira Sepultura lançou o seu quinto álbum de estúdio, “Chaos A.D.”, pela Roadrunner Records, marcando um marco de três décadas de um dos álbuns mais icônicos da história da música pesada. Produzido e mixado por Andy Wallace, este álbum representou uma mudança radical na sonoridade de uma banda que até então havia sido identificada principalmente com o thrash metal.

Com faixas memoráveis como “Refuse/Resist”, “Territory”, “Kaiowas” e “We Who Are Not As Others”, os membros da banda – os irmãos Cavalera (Max e Igor), Andreas Kisser e Paulo Jr. – começaram a explorar novas influências musicais, expandindo suas fronteiras sonoras. Eles incorporaram batidas tribais, elementos da música brasileira, traços típicos do hardcore e da música industrial, e até mesmo toques mais melódicos e alternativos, como evidenciado na surpreendente versão de “The Hunt”, da banda New Model Army. Foi nesse ponto que as portas da criatividade se abriram para os Sepultura de maneira inédita.

O álbum “Chaos A.D.” marcou o nascimento dos Sepultura mais versáteis, surpreendentes e fundamentais na história da música pesada. A lenda conta que, antes de optar por Andy Wallace (que já havia trabalhado com a banda em “Arise”), os membros da banda consideraram outros produtores, incluindo o renomado compositor de jazz de vanguarda John Zorn e até mesmo Al Jourgensen, do Ministry.

A história dos Sepultura começou em Belo Horizonte, em 1983, quando os irmãos Cavalera, Max e Igor, convidaram Paulo Jr. e Jairo Guedz, colegas de escola, para formar uma banda. Um ano depois, eles foram descobertos pelo dono da Cogumelo Records, que os contratou imediatamente após vê-los tocar em um festival. Isso resultou no lançamento de “Bestial Devastation” em 1985.

Após um breve período, Jairo foi substituído por Andreas Kisser, e a banda lançou “Schizophrenia” em 1987, que chamou a atenção e vendeu cerca de 10.000 cópias nas primeiras semanas. O sucesso levou-os a assinar com a Roadrunner Records em 1989, onde lançaram o aclamado “Beneath The Remains”. Gravado em apenas nove dias e produzido por Scott Burns, esse álbum os estabeleceu como sérios competidores no cenário do thrash metal, sendo comparado ao clássico “Reign in Blood”, do Slayer.

A partir desse ponto, os Sepultura começaram a se aventurar internacionalmente, fazendo sua primeira turnê fora do Brasil, que incluiu uma apresentação memorável no Dynamo Open Air para cerca de 26.000 fãs, onde conheceram Gloria Bujnowski, que se tornaria a gerente da banda. Isso marcou o início da escalada para o sucesso.

Em 1991, eles tocaram para 50.000 pessoas no Rock in Rio II e, dois meses depois, lançaram “Arise”, que vendeu cerca de 160.000 cópias nas primeiras oito semanas. Dois anos depois, “Chaos A.D.” foi lançado, marcando o início de uma nova fase com influências tribais e gerando os singles de sucesso “Refuse/Resist”, “Territory” e “Slave New World”.

Trinta anos após o lançamento de “Chaos A.D.”, o legado dos Sepultura continua a influenciar e inspirar gerações de músicos, solidificando seu lugar como uma das bandas mais importantes da história da música pesada. Este álbum não apenas marcou uma transformação musical, mas também abriu as portas para novas possibilidades sonoras e criativas no mundo da música pesada.

5 COISAS QUE VOCÊ NÃO SABIA SOBRE O “CHAOS A.D” DO SEPULTURA.:

1. O álbum Chaos A.D. originalmente ia se chamar Propaganda.

O Sepultura trabalhou tão intensamente na música que não pensou muito no nome do álbum. Inicialmente, o vocalista Max Cavalera decidiu nomeá-lo Propaganda, em referência à sexta faixa do disco. Fazia sentido, já que o álbum tratava de temas como censura (“Slave New World”), religião organizada (“Amen”) e conspiração governamental (“Biotech Is Godzilla”). No entanto, quando o prazo se aproximou para enviar o título do álbum ao departamento de arte da gravadora, Cavalera desistiu de Propaganda e substituiu por Chaos A.D. — um título que ele escolheu, em parte, devido à sua coleção de discos punk. “Pensei no álbum Earth A.D. dos Misfits e decidi misturá-lo com a palavra ‘Chaos’, porque era o estado do mundo em que estávamos vivendo. A gravadora ficou louca porque eu entreguei isso a eles no último segundo. Mas é um nome muito melhor do que Propaganda.”

2. A faixa instrumental tribal “Kaiowas” foi gravada dentro do Castelo de Chepstow, no País de Gales

Quando o Sepultura contratou Wallace para produzir o álbum, ele insistiu que a banda o gravasse nos estúdios Rockfield, no País de Gales. A caminho do estúdio, o Sepultura passou pelo Castelo de Chepstow — a fortaleza de pedra mais antiga que sobreviveu à era pós-romana na Grã-Bretanha — e Cavalera decidiu que queria gravar a canção acústica tribal “Kaiowas” dentro do edifício. “Pensei que seria incrível gravar em um castelo galês, e foi”, disse Cavalera. “Andy tornou isso possível. Ele trouxe todo o equipamento e cabos para lá. E o lugar onde gravamos não tinha teto, então, quando a música começa, se você ouvir com fones de ouvido bem alto, pode ouvir todas essas gaivotas voando ao redor.”

3. O título de “Refuse/Resist” foi concebido durante um passeio no metrô de Nova York

Um dia, quando estava em Nova York andando de metrô, Cavalera ficou intrigado com os personagens excêntricos no trem. Um deles, em particular, chamou sua atenção — um homem afro-americano usando uma jaqueta preta decorada com palavras de um discurso político. Ele gostou da vibração punk-rock da roupa e usou as últimas três palavras como inspiração para a faixa de abertura do álbum com influências punk. “Dizia ‘refuse and resist’, então usei isso para a música e depois escrevi letras bem simples: Chaos A.D. / Tanques nas ruas / Confrontando a polícia / Sangrando o povo. São letras orientadas para o Discharge. Eu ouvia muito Discharge na época e são o mais simples possível. As músicas têm duas linhas que são muito poderosas e incríveis. Mesmo hoje, ‘Refused/Resist’ parece música de protesto para mim.”

4. Jello Biafra, vocalista dos Dead Kennedys, escreveu a letra de “Biotech Is Godzilla”

Como fã de longa data de bandas de punk-rock, incluindo Black Flag, Bad Brains, Circle Jerks e especialmente Dead Kennedys, Cavalera estava entusiasmado com a ideia de ter Jello Biafra, vocalista dos DK, contribuindo para o álbum. Ele não queria que ele cantasse, apenas queria as letras. “Não acho que Jello seja um mau cantor, apenas acho que suas letras são ótimas. Elas são tão sarcásticas e inteligentes. Então, pedi a ele para escrever as letras e ele disse: ‘Sobre o que devo escrever?’ Eu disse: ‘O que você quiser, cara.’ Então ele criou ‘Biotech is Godzilla’, que fala sobre a Cúpula do Rio de 1992, onde todos esses políticos se reuniram para discutir tecnologia. A grande teoria de Jello era que a AIDS foi inventada por cientistas em laboratórios. Era uma doença criada por nós.”

5. Enquanto estava em turnê pelo Chaos A.D., Cavalera foi preso em um festival em São Paulo, Brasil, acusado de profanar a bandeira brasileira

Em 1994, o Sepultura estava se apresentando em um festival no Brasil, na frente de 20.000 pessoas. Parecia a celebração definitiva de tudo o que eles haviam alcançado desde que surgiram em Belo Horizonte, Brasil, em 1988. Mas a festa teve um fim abrupto quando alguém na plateia jogou uma bandeira brasileira no palco. “Eu a peguei e a ergui para a multidão para simbolizar o orgulho brasileiro, mas fui preso porque alguém no local disse que pisei na bandeira como um protesto contra o Brasil”, lembra Cavalera. “De repente, havia 20 policiais no meu camarim e fui levado para a prisão e acusado de ser anti-brasileiro. A história foi crescendo e crescendo. As pessoas começaram a dizer que cuspi na bandeira e depois urinei nela, e finalmente, estavam dizendo que defequei na bandeira. Liguei para minha avó e ela disse: ‘Por que você teve que fazer isso com a bandeira brasileira?’ E eu disse: ‘Vó, eu não fiz nada com a bandeira. Só a segurei. Tudo o mais foi inventado!'”

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About Guilmer da Costa Silva

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