Mesmo com público reduzido, 3ª edição do Insane Music Festival agita cena underground paulistana

Texto: Guilherme Goes / Fotos: Mariana, em cobertura para o portal Musicult, gentilmente cedidas

Nem mesmo a “toda poderosa” banda Pense HC, uma das mais bem-sucedidas da última década e conhecida por realizar shows sempre lotados, conseguiu atrair um público significativo para a terceira edição do Insane Music Festival, que ocorreu no terceiro domingo de junho (18). 

O espetáculo, amado pelos seguidores do underground paulistano, é organizado pela Agência Sobcontrole e teve início em 2018. Nas suas primeiras edições, o evento sediou sets arrasadores de nomes emblemáticos do cenário hardcore/metal nacional, como Dead Fish, Surra, Mukeka Di Rato, Project 46 e Ratos De Porão, reunindo multidões e proporcionando episódios memoráveis para o cenário independente.


No entanto, apesar de manter uma programação de peso e incluir a atração internacional Sudarshana, o festival conseguiu encher apenas metade da tradicional casa de shows Carioca Club no último encontro. Isso provavelmente se deve ao grande número de shows que vem acontecendo na cidade de São Paulo praticamente todos os finais de semana.


As portas da casa foram abertas ao público geral por volta das 14h, e os poucos espectadores que compareceram logo no início do evento tiveram a oportunidade de explorar stands com produtos exclusivos e participar das filmagens com os representantes do canal Chuva TV, que estavam entrevistando membros de algumas das bandas presentes no lineup. Além disso, os fãs puderam sugerir perguntas e interagir de forma mais próxima com os artistas.


A abertura do festival ficou por conta da banda de hardcore straight edge Vendetta, um dos nomes mais tradicionais da cena do ABC Paulista, que estava ausente dos palcos há alguns anos. Em um set curto, o grupo entregou um som pesado, com influências do hardcore nova-iorquino e youth crew, além de letras politizadas e críticas ao capitalismo, consolidando sua identidade sonora e mensagem engajada.
Após a impactante performance do Vendetta, o festival prosseguiu com Mar Morto, uma banda de hardcore melódico originária da Praia Grande, litoral paulista. Apesar da proposta mais acessível, o som do grupo apresenta passagens guturais, além de breakdowns e solos de guitarra extremamente técnicos. Durante o set exclusivo para o festival, o quarteto surpreendeu a plateia ao apresentar o single “Ditadura Maquiada”, que contou com a participação especial de Sandro, do grupo Cannon Of Hate. Essa adição trouxe uma nova dimensão à música e elevou a energia do público presente.


Adentrando o universo real emo, veio Metade De Mim, um dos maiores destaques da cena atual. O show dos rapazes de Piracicaba foi uma verdadeira obra de arte, com uma produção impecável que incluiu efeitos em animação dos encartes do EP “Depois De Tudo Que Eu Passei” e outros singles, reproduzidos no deslumbrante telão de LED da casa. Em pouco mais de 30 minutos, o grupo conseguiu executar praticamente toda a sua breve, porém marcante, discografia. No encerramento com “Você Não Vale o Trampo Que Dá”, um single que já pode ser considerado como um dos maiores hits do rock alternativo nacional desta década, os presentes cantaram a plenos pulmões, gerando no primeiro momento de euforia generalizada do evento.

Assim como na edição do ano passado, Bayside Kings deu início ao show com uma sonora de “Don’t Forget the Struggle, Don’t Forget the Streets”, da banda de NYHC Warzone. Com a casa agora mais cheia, o vocalista Milton Aguiar convocou o público a dar quatro passos para frente, criando de imediato uma atmosfera íntima e envolvente. O que se seguiu foi uma verdadeira “chuva” de stage dives, com os fãs se entregando ao frenesi enquanto a banda apresentava um repertório variado, mesclando músicas antigas em inglês, como “Still Strong” (que havia ficado fora do setlist por um bom tempo), e canções em português, incluindo várias do recente EP “#LIVREPARATODOS”. Em determinado momento, Milton fez questão de ressaltar que não existem barreiras entre o público e os artistas dentro do hardcore. Como prova disso, ele desceu até a pista e cantou “Refuse to Sink” e “Miragem” junto aos seguidores, criando um momento de interação verdadeiramente memorável. Sem dúvidas, esse foi um dos shows mais energéticos e empolgantes do rolê. O único ponto negativo foi a reutilização da mesma imagem de 2022 como plano de fundo… porém, foi apenas um detalhe. 


O show da banda capixaba Mukeka Di Rato acabou sendo praticamente uma repetição do ano anterior. O grupo utilizou a mesma decoração de cenário que foi apresentada durante a edição de 2022 do Insane Music Festival, além de um repertório similar, com destaque para faixas do recente disco “Boiada Suicida”, juntamente com clássicos como “Minha Escolinha”, “Mickey” e “Maconha”. A única novidade foi a execução de “Rinha de Magnata”, que não era tocada há algum tempo em shows do quarteto. Apesar da apresentação bastante similar à do ano passado, os fãs acabaram curtindo e responderam com uma energia simplesmente absurda no moshpit e nos stage dives. Mesmo com a falta de novidades, a entrega do público fez com que o show se tornasse empolgante e cheio de vibração.

Após um atraso de quase uma hora em relação ao horário oficial, finalmente Sudarshana subiu ao palco do Carioca Club. Antes mesmo de iniciar o set, uma sonora anunciou que todos ali presentes estavam prestes a embarcar em mais uma emocionante etapa da turnê “Reviviendo Tour”, e convocou o público a cantar, pular e se entregar nos stage dives.


Essa convocação foi recebida pelo público como uma missão de extrema importância, e desde a primeira até a última música, foi possível vivenciar uma incrível troca de energia entre a banda e seus seguidores. Durante o show, Sudarshana presenteou o público com clássicos de sua carreira, incluindo faixas memoráveis como “Alimentando El Fuego” e “Rompé el Control”. Em um momento particularmente especial, durante a música “Sudarshana”, houve uma invasão de palco com dezenas de pessoas se unindo ao vocalista Ariel para cantar juntos. Foi um show verdadeiramente emocionante, que saciou a saudade do público após mais de uma década desde a última apresentação dos argentinos em São Paulo.

A penúltima atração da noite, Pense HC, subiu ao palco pontualmente às 20h. Apesar dos problemas técnicos enfrentados durante praticamente todo o show, com uma das guitarras apresentando falhas, e um acidente com um fãs do stage dive, que praticamente paralisou a apresentação por alguns minutos, a banda conseguiu superar as adversidades e entregar a energia já conhecida pelo público em suas apresentações. 


Os mineiros destacaram um repertório que abrange todas as fases dos mais de 10 anos de estrada da banda, revisando as faixas de seus três álbuns de estúdio lançados. Entre os destaques do set, vale destacar “Amigos Valem Mais que Asfalto”, que não apareceu nos últimos shows da banda e a execução “As Cores São Bem Diferentes”, que mostra bem a nova fase do conjunto.
Apesar dos problemas técnicos enfrentados durante praticamente todo o show, com uma das guitarras apresentando falhas, a banda conseguiu superar as adversidades e entregar a energia já conhecida pelo público em suas apresentações. Em nenhum momento os problemas técnicos se sobressaíram à experiência de um grande show.

Para finalizar a terceira edição do Insane Music Festival, nada menos do que Dance Of Days, pioneiros do underground paulistano. Sob a liderança da carismática vocalista Nenê Altro, o grupo proporcionou um show cativante e repleto de energia. Com a sua característica mistura de punk rock melódico e emo, o quinteto conquistou o público desde os primeiros acordes. As performances passionais e os vocais emocionantes criaram uma conexão imediata com os fãs, que cantaram em uníssono as letras marcantes das músicas, criando uma atmosfera de comunhão. O repertório selecionado foi repleto de sucessos, incluindo os clássicos “Adeus Sofia” e “Se Essas Paredes Falassem”, além de b-sides como “Um Dia Comum” e “O Melhor Dançarino De São Paulo”. Essas músicas transportaram a plateia para uma viagem nostálgica, relembrando os momentos marcantes da adolescência durante os anos 2000 e primeiros anos da década de 2010. 


Embora não tenha atraído uma grande multidão, a terceira edição do Insane Music Festival foi marcada por apresentações memoráveis, infraestrutura de excelência e um ambiente intimista e acolhedor. Foi um dia que deixou uma marca duradoura naqueles que estavam presentes. A Agência Sobcontrole e o festival demonstraram mais uma vez por que são tão respeitados no cenário independente. O evento foi um testemunho do comprometimento e qualidade que eles oferecem aos amantes da música.

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About Gustavo Diakov

Idealizador disso aqui, Fotógrafo, Ex estudante de Economia, fã de música, principalmente Doom/Gothic/Symphonic/Black metal, mas as vezes escuto John Coltrane e Sampa Crew.

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