“Obrigado por voarem conosco!”: Ritchie cantou os clássicos em apresentação única em São Paulo

Em comemoração ao seu primeiro LP “Voo de Coração” que completa 40 anos

Fotos: Isis Trindade

O cantor anglo-brasileiro Ritchie traz ao Cine Joia, em São Paulo, uma celebração dos
40 anos do álbum Voo de Coração, seu primeiro LP da carreira, lançado em 1983. Com tom
enigmático, o cantor iniciou seu espetáculo com 20 minutos de antecedência, que estava
marcado às 22h, pois seu público não parava de clamar e aplaudir pela presença dele.
Ele, trajado totalmente de preto, utilizando de capuz e óculos escuros – apenas na
primeira canção – abre o show com No Olhar, em que ele foi se abrindo e revelando o seu
temperamento carismático e muito expressivo ao público. Acompanhado de um copo e
alguns acessórios, que ele utilizou durante sua apresentação, ele bebericava entre uma canção
e outra mantendo seu alto astral.


Como segunda canção, ele optou por A Vida Tem Dessas Coisas, um dos seus
clássicos, fazendo todo mundo presente berrar e dançar. Confesso que o ver pessoalmente não
tem nenhuma diferença de ouvir sua canção em formato digital, falo isso como elogio, pois
existem cantores que ficam mais velhos e sua voz muda, não consegue chegar ao mesmo tom
e até a sua energia no palco fica diferente, o que se torna algo compreensível, mas o Ritchie é
um ponto fora da curva.
Em meio às suas composições, ele sempre gostava de conversar com o público e
perguntava se estava “tudo bem”, ele trazer mais alguma história da sua carreira ou vida
pessoal, contando nos mínimos detalhes. A parte mais engraçada é que por ele ser inglês, seu
sotaque soa como alguém que cresceu no Rio de Janeiro, o que não foi o caso,
necessariamente, apesar de ele ter tido um relacionamento amoroso com uma carioca.
“Quero que vocês façam um bom voo conosco!”, Ritchie exclama e complementa
dizendo que além de cantar as canções presentes no álbum referente ao show, ele também
trará outras músicas de outros projetos que ele ama e, que talvez, o público não conheça. O
que foi algo difícil, pois tirando as performances em inglês, todo mundo não apenas sabia,
como cantava cada verso em uníssono.

E, neste momento, ele inicia Lágrimas Demais, do seu álbum Auto-Fidelidade,
lançado em 2002. Os outros membros da banda, assim como o próprio cantor, simulam durante a música como se estivesse chovendo. A iluminação do local ficou em completo azul
anil, reforçando à alusão. Enquanto isso, todos eles enxugam o rosto, fazendo gestos com as
mãos como se sentissem as gotas d’água.

Em A Mulher Invisível, disponível no single de mesmo nome, de 1984; mas também
em E a Vida Continua, de 1984; apesar da música ser muito divertida e eu amar, eu comecei a
me questionar se o Ritchie possui algum apreço por mulheres misteriosas ou mulheres que
existam apenas na sua mente. Pois, assim como o título, já conseguimos ter uma noção do
que se trata, muito semelhante à Menina Veneno, que fala de uma mulher que surge em seu
quarto à noite, em que o ouvinte se questiona se ela, de fato, ali.

Assim como na canção anterior, Ritchie toca flauta acompanhando a música e os
outros membros da banda, tirando o instrumento de um suporte próximo ao seu microfone,
embarcando a seguir em Loucura e Mágica, do álbum de mesmo nome, lançado em 1987.
Antes de iniciar Shy Moon, cantada por Caetano Veloso, Ritchie conta o motivo dele
performar a tal música. Comicamente, ele falha em meio às próprias gargalhadas o sotaque
baiano de Veloso e conta que por volta de 1984 e 1985, ele foi ao show de Caetano, que
gostava de ter a mania de realizar primeiro a turnê e depois o lançamento do disco, e em uma
conversa no camarim, revelou ao Ritchie que esta canção sempre ficou em uma linha tênue
em ser gravada ou não.

Ritchie recebeu um telefonema em sua residência, do próprio Caetano, pedindo para
que ele comparecesse ao estúdio para auxiliar em uma gravação naquele momento: 1h da
manhã. E, nisso, resolveram na própria reunião, o ultimato relacionado a Shy Moon.
O espetáculo já estava chegando na metade, quando foi dado o início de Voo de
Coração, a canção de mesmo nome do álbum em comemoração. Durante a música, enquanto
Ritchie se ausentou para beber no fundo do palco, aconteciam solos de saxofone e guitarra,
em que traziam o cantor dançando, fazendo gestos com o rosto e as mãos, como pudesse
fazer malabares com as notas musicais que saiam dos instrumentos.

E, logo menos, mais história relacionada à outra música dentro do show: Telenotícias,
do álbum Circular, de 1985. O cantor resolveu incluir esta canção no repertório, pois ele
recorda de quando realizou uma turnê junto ao Leo Jaime, no município de Crato, no estado
do Ceará. E, ao se deparar com um de seus fãs, ele pediu a tal música, pois revelou que na
cidade era mais popular do que Menina Veneno. E como o Ritchie gosta de agradar os seus
fãs, é claro que naquele dia, ele a adicionou ao setlist, assim como na noite de hoje.

De volta ao álbum Voo de Coração, Preço do Prazer traz novamente às canções com
teor romântico na última potência em conjunto à Agora ou Jamais, presente na trilha sonora
de Olho por Olho, novela de 1993; pode ser encontrado também no álbum Outra Vez – Ao
Vivo no Estúdio. São músicas que vemos o público cantar em tom de serenata, em que os
casais ficam abraçados, como se jurarem amor eterno ou relembrar do início de tudo.
Ritchie possui uma voz semelhante à do cantor Peter Gabriel e não é de hoje. No
entanto, o compositor admite que sempre gostou de cantar para si mesmo, em momentos que
tomava banho, mas nunca imaginou performar para alguém. Foi quando ele participou de
uma coletânea e gravou Mercy Street, trazendo seu sotaque inglês à tona, com muito charme e
elegância.
Daqui para frente, foram apenas hits atrás de hits. A cada canção, todo mundo ficava
mais eufórico, eu já tinha alguns palpites qual seria a canção que fecharia com chave de ouro,
mas não tinha certeza. Particularmente, eu estava muito ansiosa para ouvir uma música em
específico e estava torcendo para que fosse a próxima a cada final de uma canção.

Só Prá o Vento e Casanova foram performadas uma atrás da outra. Foram canções
empolgantes que andavam de mãos dadas com o show de luzes, que passavam pelos
integrantes da banda, pousando no Ritchie. O globo de luz no meio do espaço refletia
pequenos feixes que traziam um clima perfeito ao ambiente.
Eu até preciso respirar para escrever esse parágrafo, porque eu não paro de relembrar
como foi escutar as primeiras notas dessa música. Eu estava esperando este tempo todo por
Pelo Interfone. Eu gritei, foi algo extremamente automático, ao mesmo tempo que eu pulava
de alegria, pois eu não acreditava que eu estava ouvindo uma canção, em que ouvia desde
criança, sobre um artista que sua mãe tinha muito apreço.

Esta música em específico fez o Ritchie encarnar o “último romântico”, ele se
entregou por completo para a dramatização. Enquanto ele suplicava por “mais uma noite ao
menos para a gente”, ele ficava de joelhos, abria os braços, quase requebrava no palco pela
atenção da mulher que desejava na canção. Misturou inglês com português, gesticulando,
fazendo honra ao seu personagem – ou sua própria personalidade – apaixonado.

Se você chegou até este ponto do texto e não me julgou por ficar alegre com a canção
anterior. Então, não julgue novamente! Pois, existiam outras mulheres como eu no local, e
tinha uma fã em minha frente que pedia a cada fim de música por Transas, novamente do
álbum Loucura & Mágica. E, por fim, o Ritchie resolveu tomar este pedido, trazendo com
toda a emoção à flor da pele da moça que estava próxima a mim.

E, claro, para fechar o nosso setlist, tivemos Menina Veneno, um clássico que
qualquer pessoa tem cada verso na ponta da língua. Assim como também existe a discussão
sobre a cor do abajur: Carne ou carmim? E cá para nós, todos sabemos que o objeto possui a
coloração do alimento, na realidade.

Ritchie, com uma versão estendida da canção, como se não quisesse que o show
acabasse, cantava e dançava com muita alegria. Indo de um lado para o outro, dando atenção
a cada integrante da banda. Foi um momento maravilhoso, muito gostoso de poder presenciar.
Eu não tenho o que dizer sobre a energia do Ritchie, ela é extremamente contagiante, não tem
como não ficar eufórico. Ele parece um adolescente, sua alma é muito jovem e alto astral.
Após se despedir, todos se retiram do palco e logo o público surge pedindo por mais.
Imaginei, por um momento, que iria acabar ali mesmo, mas não demora muito para todos
surgirem novamente, trazendo mais três canções para o bis, como: Elefante Branco, do álbum
Tigres de Bengala, de 1993; um projeto musical realizado com Cláudio Zoli, Vinícius
Cantuária, Dadi, Mú e Billy Forghieri. Seguido do cover de You’ve Lost That Lovin’ Feelin, originalmente dos The Righteous Brothers, um clássico do filme Top Gun – Ases Indomáveis, de 1986. No entanto, não foi por conta do longa-metragem, mas para homenagear o jornalista esportivo Rodrigo Rodrigues,
que faleceu durante a pandemia da Covid-19. Ritchie era muito amigo dele e lembrou com
carinho da canção, assim como dos momentos de conversas que passaram juntos.
“Obrigado por voarem conosco”, exclamou Ritchie antes de dar início à última canção
Um Homem em Volta do Mundo, que foi tema de outra novela, ” Cara & Coroa”, de 1995. Ele
sempre lembra com carinho de como ele pôde contribuir nas trilhas sonoras, estando presente
na vida dos telespectadores das dramaturgias durante os anos 90.


Em meio aos agradecimentos à sua equipe, eles fotografaram todos abraçados com o
público ao fundo, em que todo mundo pulou, permanecendo em clima de festa. Ele
aproveitou ainda este momento para anunciar a sua volta aos palcos no dia 13 de agosto, durante o Dia dos Pais, no Espaço Unimed. Completando que ele percebe que os palcos são
sua vida, ele não consegue viver sem estar junto do seu fiel público.

Ritchie – Cine Joia – 25/05/2023

  1. No Olhar
  2. A Vida Tem Dessas Coisas
  3. Lágrimas Demais
  4. A Mulher Invisível
  5. Loucura e Mágica
  6. Shy Moon
  7. Vôo de Coração
  8. Telenotícias
  9. Preço do Prazer
  10. Agora ou Jamais
  11. Mercy Street (Cover de Peter Gabriel)
  12. Só Pra o Vento
  13. Casanova
  14. Pelo Interfone
  15. Transas
  16. Menina Veneno
  17. Elefante Branco (BIS)
  18. You’ve Lost That Lovin’ Feelin (Cover de The Righteous Brothers – Homenagem)
  19. Um Homem Em Volta do Mundo (BIS)
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About Bianca Matz

Jornalista por curiosidade, cinéfila por natureza, vegetariana por amor e paulista desde sempre.

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