Texto: Guilherme Góes / Fotos: Isis Trindade
Durante apresentação especial na Audio, grupo finlandês de power metal revisou todos os principais sucessos da carreira. O grande destaque da noite foi a presença de palco do vocalista Tony Kakko, que comandou o público com maestria. A abertura ficou por conta da banda Firewing, que, infelizmente, teve seu setlist prejudicado por problemas técnicos. Confira:
Certamente, o terceiro final de semana de março foi memorável para os fãs paulistanos de power metal. Na sexta-feira (17), o clube Terra SP recebeu o “Angra Fest“, um evento que contou com um lineup poderoso, reunindo nada menos do que os dois principais nomes nacionais desta ramificação do heavy metal: Viper e, é claro, os “donos da festa”, a lendária banda Angra. Já no sábado (18), a casa de espetáculos Audio sediou a apresentação do Sonata Arctica, que após 3 anos desde seu agendamento inicial, finalmente pôde apresentar o fabuloso setlist da 25th Anniversary Tour na maior cidade da América do Sul – originalmente, o show estava marcado para abril de 2020, mas devido à pandemia de Covid-19, precisou ser reagendado.
Formada em 1996 na cidade de Kemi, a banda é um dos principais representantes do power metal melódico finlandês. Com mais de 25 anos de carreira e dez álbuns de estúdio, o grupo é conhecido por sua habilidade em criar músicas repletas de arranjos complexos em conjunto com composições marcantes, que variam desde histórias fantasiosas com seres fictícios à narração de vivências pessoais. Além disso, o conjunto também é admirado por sua capacidade de reinvenção, demonstrada em projetos como o álbum de covers “Takatalvi” e os discos com releituras acústicas “Acoustic Adventures Vol 1 and 2”, algo inusitado dentro do gênero. Atualmente, o quinteto segue divulgando “Talviyö“, último trabalho completo, lançado em 2019.
A casa abriu ao público geral por volta das 19h. Antes do primeiro show, os presentes puderam tirar fotos com um belíssimo pôster da turnê na área de convivência (uma espécie de “atração secundária” já tradicional em gigs organizadas pela HonorSounds), além de conferir a barraca de merchandising com itens exclusivos.
Perto das 20h, “Carry On” (Angra) e “Walk” (Pantera) vieram para incendiar a pista, com o DJ da casa realizando “paradinhas” estratégicas nos refrãos. Ao observar o público gritando loucamente trechos desses clássicos do metal, foi possível perceber que a galera estava ansiosa e que a noite seria animada. Em seguida, Pompeu, vocalista da banda Korzus, subiu ao palco e anunciou: “Tenho o prazer de apresentar essa banda “multinacional” chamada Firewing, que tem gente de todos os cantos da terra… dos Estados Unidos, da Europa… se brincar, até da China”.
O grupo iniciou o set com a música “Obscure Minds”, porém, os PAs da bateria estavam desregulados, o que acabou prejudicando a execução da faixa que destacava um excelente solo intercalado entre guitarra e baixo, destacando a técnica tapping. Continuando com faixas do álbum “Resurrection“, desta vez sem maiores interrupções, a banda seguiu com “Demons of Society”, uma música ousada, que combina a base de guitarra power metal com algumas passagens de batidas grinds – um estilo mais comum em gêneros como o death e black metal. Além disso, o vocalista Jota Fortinho conseguiu estimular a plateia a participar da música durante o refrão. No entanto, durante a balada mais lenta “Far in Time”, problemas técnicos voltaram a ocorrer, desta vez no microfone do guitarrista Caio Kehyayan, impossibilitando-o de fazer backing vocal na canção. Felizmente, durante a execução de “Time Machine”, outra faixa “balada power metal”, o som funcionou normalmente.
Tudo estava indo bem até a introdução de “Eternity“, quando, de repente, o som da guitarra de Caio simplesmente “caiu”. Nesta ocasião, o problema foi tão grave que os roadies precisaram entrar no palco, atrapalhando completamente o show.
Apesar das adversidades, os rapazes ainda seguiram animados em “Tales of Ember & Vishap: How Deep is Your Heart?”, “Tales of Ember & Vishap: The Meaning of Life” e Last Gasp, com Caio correndo pelo palco exibindo caras e bocas, enquanto Jota tentava obter o máximo de apoio dos fãs da atração principal da noite.
Firewing é uma banda talentosa, possui músicos experientes e grande presença marcante. Certamente, foi uma escolha certeira para abertura, já que o grupo exibe uma sonoridade alinhada ao Sonata Arctica. Porém, a avalanche de problemas técnicos atrapalhou a experiência geral dos set dos rapazes. Tomara que o conjunto tenha a oportunidade de demonstrar a força de suas canções emblemáticas em um futuro próximo sob condições mais favoráveis.
Setlist
Obscure Minds
Demons of Society
Far in Time
Time Machine
Eternity
Tales of Ember & Vishap: How Deep is Your Heart?
Tales of Ember & Vishap: The Meaning of Life
Last Gasp
Após uma breve pausa para alterações no cenário e troca de instrumentos, Pompeu apareceu novamente. Desta vez, o frontman do Korzus agradeceu aqueles que guardaram os ingressos para o evento durante 3 anos e ainda pediu para que os fãs comprassem merchs, assim ajudando o trabalho das bandas.
De repente, a música “Always Look On The Bright Side Of Life”, do cantor Eric Idle começou a tocar nos altos falantes da casa, acompanhando a entrada de Tommy Portimo (bateria), Tony Kakko (vocal), Henrik Klingenberg (teclado), Elias Viljanen (guitarra) e Pasi Kauppinen (baixo) no cenário. Ao término da sonora, Tony correu para a beira do palco e estimulou o público para “The Wolves Die Young”, exibindo logo de cara a sua principal habilidade como frontman – o poder de dominar os fãs. Após a abertura triunfante, Henrik não deu tempo da galera respirar e iniciou a introdução de “The Last Amazing Grays”, faixa do álbum com mesmo nome. Aqui, destaque para a performance marcante do baterista Tommy Portimo, que preencheu a faixa com um stomp furioso, digno de fazer inveja a bandas como Terror e Hatebreed.
Tony agradeceu o público e disse que a banda iria seguir com música nova, assim emendando sua fala com “Storm the Armada”, um verdadeiro “tutti-frutti” sonoro, que conta com bases pré programadas de violão, riffs pesados e passagens de teclados complexas com certas influências de prog metal. Para contrapor com a “piração” da música inédita, veio “Paid in Full”, um heavy metal “generição”, soando até um pouco “sem identidade definida”. Seguindo na mesma linha, os finlandeses mandaram “Sing In Silence”, cuja execução foi decorada com um jogo de luz azulado, gerando um incrível clima melancólico do ambiente. Provavelmente, após ter reparado a “queda na empolgação” do público durante as faixas mais lentas, Tony perguntou:
“Vocês querem algo rápido?”.
Assim, o frontman e a banda protagonizaram uma reviravolta radical com “Kingdom For a Heart”, música que apresenta um riff ágil e uma base de teclado que mais lembra a trilha sonora de um game de batalha de naves da geração 16-bits. Já na dobradinha com “Caleb” e “Closer to an Animal’, o vocalista deu uma verdadeira aula de domínio de plateia e “jogo de cintura” ao lidar com situações inusitadas: além de ter colocado todos os presentes na pista para bater palmas e dançar no ritmo das canções, o músico não se mostrou incomodado com presentes que foram atirados em direção ao palco, e até acabou se apoiando na grade de proteção para autografar um item pessoal de um fã. Após ter arrancado uma salva de palmas com sua simpatia,
Tony entregou os holofotes da apresentação ao guitarra Elias em “Black Sheep”, que encantou os presentes ao executar de forma impecável o solo da faixa, que mistura, de forma incomum, notas rápidas, shredding e tapping.
Já com o jogo completamente ganho, a banda nem precisou se esforçar no bloco final do set regular, que contou com as músicas “I Have a Right”, “Tallulah” e “FullMoon” – todas compostas com versos e refrões repetitivos, na qual o público fez questão de cantar a plenos pulmões. Depois de uma breve pausa, o quinteto retornou ao palco e mandou um bis com “Replica”, “The Cage” e” Don’t Say a Word”, o que pode ser considerado como um “erro estratégico”, já que, apesar se serem músicas importantes da carreira do grupo, não possuem o mesmo impacto das três últimas músicas destacadas anteriormente.
A apresentação do grupo finlandês não contou com os melhores efeitos visuais (aliás, é possível dizer que a decoração foi bastante simples, destacando apenas uma bandeira com o logo da banda aos fundos), mas o quinteto realizou um espetáculo de competência musical em conjunto com uma conexão “público/artista” incomparável. Certamente, o grande destaque da noite foi a presença de palco do vocalista Tony Kakko, que comandou a pista como um gigante, e ainda foi capaz de segurar os seus seguidores na palma da mão em cada momento, induzindo-os a fazer o que bem entendia, resultando em uma experiência memorável. Em tempos onde a música muitas vezes é apenas uma atração secundária em um show, sendo “coadjuvante” de efeitos especiais, Sonata Arctica entregou justamente aquilo que os verdadeiros fãs de música desejam em uma apresentação ao vivo – composições de qualidade sendo executadas de forma profissional.
Setlist
The Wolves Die Young
The Last Amazing Grays
Storm the Armada
Paid In Full
Sing In Silence
Kingdom For a Heart
Caleb
Closer to an Animal
Black Sheep
Broken
I Have a Right
Tallulah
FullMoon
Bis:
Replica
The Cage
Don’t Say a Word