Information Society entrega renovação do retrô em show nostálgico na Capital Paulista

Texto: Heverton Souza / Fotos: Gustavo Diakov

2023 promete ser um ano bastante movimentado em termos de shows, ainda como forma de compensação pelos anos ausentes em pandemia. Artistas e produtoras querem retomar o tempo perdido de suas atividades mais lucrativas. Dito isso, na noite de sábado do dia 28 de janeiro, já deu pra sentir como será esse “fervo” que deve seguir ano adentro, com mais uma apresentação dos americanos do Information Society.

Na ativa desde 1981, o trio eletrônico formado por Paul Robb (sintetizadores), James Cassidy (baixo e teclado), o frontman Kurt Harland Larson (vocais), se apresentou na Capital Paulista, contando com os músicos de apoio Michael Wimer (percussão) e o VJ Falcotronik. A casa, inaugurada em outubro de 2022 tem fácil acesso apenas para os moradores da Zona Sul de São Paulo, sendo de locomoção bem desagradável a quem vem de quaisquer outras regiões da cidade. Mas fã que é fã, vai! Só vai! Com o estranho horário das 23h, a banda synthpop paulistana TECHNIQUE, foi responsável pela abertura da noite, que já vinha sendo devidamente aquecida por DJs. Formado por Alex (vocais), Beto (teclados) e Marcio (percussão), o trio encontrou o desafio de lidar com um público que se misturava entre reais fãs da banda americana e ouvintes de FMs pouco ligados em qualquer coisa que não fossem hits da Billboard. Tendo início às 23h07, o show dos caras passou por músicas do álbum Touching the Void (2015), como “So Cold” e “Guilty”, as faixas-título do EP Last Beat e do álbum Connected, ambos de 2018 e alguns covers, versões na verdade, todas muito interessantes. “World In My Eyes”, do Depeche Mode, foi a primeira delas executada e o que mais se via na pista eram as “caras de ué” de quem não sabia o que a banda estava tocando. Logo após a citada “Guilty”, Alex anuncia que a próxima seria conhecida do público. Ledo engano! O hit “The Great Commandment”, da banda alemã Camouflage deveria mesmo ser reconhecido e celebrado por muitos, mas eram poucos os que a conheciam ali na pista, infelizmente. Situação um pouco melhor para “True Faith”, do New Order, mas porque Kurt Harland apareceu no meio da música e cantou um trecho do refrão, desafinado e tudo, como quem está apenas de curtição. Mas reconhecida mesmo por todos, apenas “Enjoy the Silence”, o maior hit da história do Depeche Mode. Também pudera! De todo modo, a banda fez sim um bom show em pouco mais de 40 minutos, um pouco tímido por parte de seu frontman, mas passando pelas claras inspirações de sua música e assertivo em mostrar que o Brasil tem representatividade no synthpop com qualidade de nomes europeus, que são referências maiores do estilo.

Mais um pouco de discotecagem mantendo a noite agitada, porém, ficando cada vez mais impossível de se mexer, quem dirá dançar.
Tudo porque, a casa, com capacidade de até 4 mil pessoas contando todos seus setores, estava com a metade da pista em frente ao palco tomada por mesas. Tendo em vista que o local já oferecia camarote aos pagantes, com ótima visão da parte superior, foi descabido ter mesas ocupando a pista, que estava abarrotada. Sair para chegar ao bar ou ao banheiro era um grande transtorno, sem contar a ausência de sinal de telefonia ali dentro. Ou seja, se você se perdesse de alguém, já era! Em meio a isso, fotógrafos relataram a falta de educação e grosseria de quem ocupava a “grade” dessa pista, numa total falta de empatia com profissionais que se matavam apenas para fazer seu trabalho.

Mas às 0h22, todo o estresse seria esquecido quando a introdução “Extraordinary Popular Delusions and the Madness of Crowds” (sim, o nome é esse livro todo aí) começou a rolar na grande tela de fundo do palco. Era a vez dos americanos do INFORMATION SOCIETY. Passada a intro, que também é a faixa de abertura do mais recente disco da banda, o OddFellows (2021), o show começou mesmo com a morna “The Mymble’s Daughter”, música que encerra o citado álbum. Mas não demorou muito para o morno começar a esquentar gradativamente, primeiro com “Run Away”, música que apesar de relativamente “nova”, lançada no álbum Synthsizer, de 2007, já começou a deixar o público mais agitado, mesmo que quase imóvel para quem estava no castigo da pista. Conhecido por seu humor duvidoso, Kurt parece cada vez mais estar quebrando esse estigma. Mesmo sempre com um tom ácido, falando português a todo momento, ele se mostrou carismático e divertido. Citou ter tirado seu CPF – e lhes digo que isso não é nem piada, que já tem conta no Santander, instituição bancária conhecida no Brasil como banco dos jovens e afirmou que mesmo com isso, não é brasileiro, mas sim paulista. Aí era jogo ganho, ainda mais que tal discurso veio seguido de uma mais acelerada versão do clássico “Running”, se distanciando um pouco de sua origem freestyle, mas não menos interessante.
A sequência com “Going, Going, Gone” e a faixa-título de Peace & Love Inc. abordaram esse que talvez tenha sido o último álbum de maior sucesso mundial do IS.

Em palco, o que víamos era o tímido percussionista, o VJ alucinado com suas viradas de imagens, um show à parte, por sinal, dando um ótimo frenesi visual, Paul Robb mais na dele em seus teclados e backing vocals, James Cassidy super empolgado e se movimentando a todo momento com seu baixo e o vocalista Kurt simplesmente inquieto, sempre baquetando seu kit eletrônico. Claro que não se vê mais um cara circulando de patins como lembramos dele, mas ainda garante um bom entretenimento com seus 60 anos e está cantando melhor que há poucos anos atrás, mesmo que sua voz siga bastante fanha. E talvez por ele ser tão agitado, diz que o público estava meia boca. Também pudera, já que justamente em frente ao palco o que a banda tinha como recepção eram as mesas com pessoas que no fim ficaram em pé, mas também sem espaço para se movimentarem e curtirem.

Enquanto isso, na pista e nos camarotes, após o “Something in the Air” nos trazer de volta o mestre James Brown, as pessoas davam seu jeito de agitar “Walking Away”. Se tivessem espaço, com certeza teriam rolado os famosos passinhos das baladas oitentistas.
Kurt reclama do suor, diz ter sal nos olhos, o Terra SP parecia se localizar um pouco mais abaixo no calor. O cantor ainda pergunta sobre moradores de diferentes bairros de São Paulo, mostrando que já está por dentro da cidade e diz que não é morador de um deles, ainda!
Passada a nova “Room 1904” (2021), assim como na apresentação de 2018, a banda apresenta sua belíssima versão de “Dominion”, da banda inglesa The Sisters of Mercy, faixa lançada no álbum Orders of Magnitude, de 2016. Infelizmente, mais um clássico dos anos 1980 conhecido por poucos ali presentes.

Mais um momento de euforia chega com “Think”. E como não cantar o refrão com seu tecladinho grudento? A balada “Cry Baby” levou os mais nostálgicos aos tempos áureos das novelas brasileiras, ela que foi parte da trilha de Deus Nos Acuda, de 1992.Era chegada a hora do hit mor, “Whats On Your Mind (Pure Energy)” e como foi frustrante não poder dançar, mas animador presenciar isso ao vivo. A cara de fim de show estava feita, mas a banda rapidamente voltou ao palco com “Come With Me”, mais um dos hits do clássico álbum Hack (1990), assim como é dele a grooveada “Mirroshades”, devidamente cantada por James Cassidy.
Por todo o show se ouvia os pedidos de uma música e ela daria a voz de encerramento da apresentação. Com todo seu lado emotivo, “Repetition” foi cantada por todos, enquanto a banda se soltava de suas devidas posturas, já relaxando por saber que mais um show estava entregue e com devido esplendor da competência desse time, que mostra que não se entregou ao tempo. Traz versões renovadas de suas músicas, mas sem perder a identidade, todo um trabalho de imagens que mantém muita dinâmica e uma energia que muitos novinhos não teriam nem para um karaokê, quem dirá para noites e noites em turnês de shows de 1h30.
Que a banda siga ativa, que Kurt faça de São Paulo o quintal de sua casa e que o trio volte aos nossos palcos logo menos

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About Gustavo Diakov

Idealizador disso aqui, Fotógrafo, Ex estudante de Economia, fã de música, principalmente Doom/Gothic/Symphonic/Black metal, mas as vezes escuto John Coltrane e Sampa Crew.

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