De casa cheia, Judas e Pantera se unem em uma noite histórica em São Paulo

Texto: Bruno Santos

Após a apresentação espetacular feita pelo Trivium na quarta-feira (14), que abriu os sideshows da primeira edição do Knotfest no Brasil, chegou a vez de dois grandes nomes do Metal dividirem o palco em uma noite que promete ser histórica. O local escolhido para sediar os shows foi o Vibra São Paulo, casa com uma excelente estrutura de palco, som e iluminação. Muitos fãs chegaram cedo para fazer um esquenta na fila e nos arredores da casa. Os portões foram abertos às 18:00, algumas pessoas garantiram itens do merch oficial das bandas e aos poucos, a pista e os camarotes foram sendo tomados pelo público.

Ao entrar na pista, de cara, nos deparamos com o “bandeirão” do Pantera, com o logotipo da banda estampado em vermelho, já sendo o suficiente para aumentar a ansiedade dos fãs pela apresentação da banda. Enquanto ocorriam os últimos preparativos no palco, rolou uma discotecagem com nomes de diversas vertentes do Rock/Metal, bandas como Rage Against the Machine, Pearl Jam, White Zombie, Guns N’ roses e Coal Chamber fizeram parte de uma ótima playlist de músicas. 

Em tributo à história da banda e homenageando a vida dos irmãos Abbott, o Pantera iniciou uma série de shows de “reunião” após mais de vinte anos desde seu último show, realizado no Japão em 2001. Fazendo parte da turnê “Extreme Steel”, a apresentação teve participações especiais de Kerry King (Slayer) e Evan Seinfield (ex Biohazard). E foi o último com o guitarrista Dimebag Darrell e o baterista Vinnie Paul integrando a banda.

A formação do supergrupo conta com dois dos membros originais do Pantera, Phil Anselmo (vocal), Rex Brown (baixo/backing vocals) e dois músicos convidados, sendo Zakk Wylde (guitarra/backing vocals) e Charlie Benante, do Anthrax (bateria). Infelizmente, Rex não irá realizar os últimos shows da turnê sul-americana devido a problemas de saúde, sendo substituído pelo baixista Derek Engemann, que integra o projeto solo de Anselmo e outras bandas, como o Scour e o Cast the Stone.

As luzes se apagam por volta das 20:30, despertando a alegria dos fãs, que gritam por “Pantera! Pantera!”. Eu estava na lateral do palco e avistei Phil subindo antes dos demais músicos, que inclusive sorriu e acenou para nós que estávamos próximos da grade. Alguns minutos depois, os telões acendem com imagens do “Vulgar Legacy”, que é repleto de filmagens da banda com sua formação clássica em turnês e bastidores. Como trilha dos vídeos, “Regular People (Conceit)”, do álbum “Vulgar Display of Power” de 1992, traz os elementos essenciais das músicas do Pantera, preparando o terreno para o que está por vir. Os fãs assistem atentamente, cantam e balançam a cabeça ao ritmo do som.

Após o término do vídeo, as luzes se apagam novamente. “In Heaven (Lady in the Radiator Song), de David Lynch & Alan R. Splet é responsável pela introdução do primeiro ato do show. Música com ar sinistro, como das músicas tocadas em rádios de filmes como “O massacre da Serra-elétrica”, deixa o clima do ambiente pesado. O bandeirão cai, em sincronia com a banda, que inicia a apresentação com “A New Level”, com sua intro densa que é sequenciada com velocidade e peso. Phil Anselmo mostra que se preparou com competência para essa turnê, com uma ótima voz, potente e matadora. Os fãs cantam em alto e bom som, com uma energia incrível. Ao final da música, Phil mira para o público, aprovando a recepção calorosa de todos. “Mouth for War” vem na sequência, sem pausa para respirar. A iluminação em vermelho e os painéis com o logo de “CFH” iluminados por uma luz azulada, coincidem com o clima “infernal” da roda que abre no meio da pista, em sincronia com a velocidade que a música toma após o solo. Essa dobradinha do “Vulgar Display” foi certeira para iniciar a noite.

Como um soco no estômago, “Strength Beyond Strenght”, do álbum “Far Beyond Driven” de 1994 é executada sem cerimônias. Pedrada, fazendo jus a frase “Stronger Than All”, faz o pessoal do mosh dar continuidade as atividades. Não me surpreenderia se ouvisse relatos de socos no estômago, no sentido literal, pois foi insano. Brincadeiras à parte, devo dizer que Charlie Benante apresentou um desempenho matador nas baquetas. Os bumbos de sua bateria estão estampados com o rosto de Vinnie Paul e Dimebag Darrell, respectivamente, cercados com mais duas peles com o logo de “CFH”, formando um visual impactante. 

Após essa sequência destruidora, a banda faz uma pequena pausa e Phil Anselmo faz um discurso, dedicando a noite aos irmãos Abbott, informando que o estado de saúde de Rex Brown está muito melhor e que ele anseia pelo retorno aos palcos. Por fim, nos apresenta Derek Engemann como substituto, o elogiando pelo seu desempenho nas quatro cordas. 

“Becoming” traz de volta o clima denso, riffs com efeitos de distorção e os harmônicos precisos que são uma das marcas registradas do Pantera. Phil deixa o refrão por conta do público, que canta em perfeita sincronia. Nos segundos finais, o encerramento de “Throes of Rejection” é atrelado à música. “I’m Broken” da continuidade a densidade e peso, com Zakk Wylde fazendo backing vocals que são aprovados por Phil, que dá sinais de “jóia” para ele, com expressão de orgulho. É indispensável citar que o guitarrista executa os solos de ambas as músicas com maestria, mostrando que foi a escolha perfeita para assumir as seis cordas. O trecho final de “By Demons Be Driven” é atrelado ao momento final da música, prova de que cada detalhe foi bem articulado pelo quarteto. “5 Minutes Alone” encerra a sequência do clássico álbum de 94, com a banda em perfeita sincronia em partes progressivas, técnicas e claro, de muito peso.

Iluminação baixa, luzes em azul e muita fumaça mudam totalmente a atmosfera do palco para um cenário dark, perfeito para a introdução de “This Love”. A voz grave de Phil se uniu a esses elementos e me fez lembrar de Peter Steele, falecido vocalista do Type O Negative. “Yesterday Don’t mean Shit” é anunciada (sendo a única música do álbum “Reinventing the Steel”, de 2000, inclusa no setlist), pelo frontman citando uma frase que nos faz refletir em como tudo na vida nem sempre sai de forma perfeita, mas que podemos fazer o que está ao nosso alcance. Pedindo palmas e dizendo o quão gratificante é excursionar com o Judas, aos gritos de “Priest! Priest!”, a destruição de “Fucking Hostile” encerra a primeira parte da apresentação com o público desperto em uma energia animal.

O ponto mais emocionante do show se dá em uma homenagem e celebração á vida e as recordações dos irmãos Abbott. As luzes se apagam e os telões nos apresentam imagens de ambos em turnês e momentos descontraídos, unidos, sorrindo e se divertindo com os companheiros de banda, fãs, amigos e família. A introdução de “Cemetery Gates” toca de fundo, emocionando os fãs presentes na casa. Nesse momento, pensei em minhas irmãs e me recordei dos meus pais, em vida. Em poucos minutos, refleti em como nossa vida é imprevisível e infelizmente, pode ser passageira. Os músicos entram e fazem um cover de “Planet Caravan”, do Black Sabbath. Zakk está trajado com um colete repleto de patchs com imagens dos irmãos. Benante usa uma camiseta com ambos desenhados em traços de “Os Simpsons”. No final, Phil aponta para o telão, pede palmas e diz: “Dime and Vince, Forever”.

O frontman apresenta a banda e dá início ao encore, anunciando a clássica “Walk”. Todos vão a loucura, ovacionando a banda. Segundos depois, Phil interrompe e diz que embora esteja gostando da energia do público, quer muito mais! Eles recomeçam a música, com os fãs atendendo ao pedido, cantando muito alto, prestigiando o momento. Sem pausa, a banda emenda com o breakdown de “Domination”, que atrelado ao trecho final de “Hollow” traz um dos momentos mais pesados da apresentação. O hino de “Cowboys from Hell” encerra a noite, com Anselmo agradecendo a presença de todos e novamente, dedicando a noite aos irmãos Dime e Vinnie. Prova de competência e dedicação por parte dos músicos em executar um tributo memorável, o Pantera fez um espetáculo. Apresentando um setlist composto por clássicos, presentearam os fãs com muito peso e destruição, além de momentos emocionantes. 

Após a destruição do Pantera, começam os preparativos para o próximo show. Excursionando em comemoração aos cinquenta anos de carreira, com a turnê “50 Heavy Metal Years”, o Judas Priest traz uma estrutura de palco incrível, com cenários e efeitos impecáveis. Atualmente, a banda conta com o “Metal God” Rob Halford (vocais), Richie Faulkner e Glenn Tipton (guitarras/backing vocals), Ian Hill (baixo) e Scott Travis (bateria). 

Às 22:50, mais um clássico do Sabbath, “War Pigs”, toca nos falantes do Vibra, como alerta de que em alguns minutos, os gigantes do Metal irão subir ao palco. O público canta, bate palmas, empolgados e ansiosos. De repente a música é interrompida e dá espaço à “The Hellion”, introdução do clássico “Screaming for Vengeance”, de 1982. O característico tridente, que simboliza a banda, aos poucos é erguido no palco, com luzes vermelhas que dão um ar sombrio ao ambiente. 

“Eletric Eye”, é a escolhida para iniciar a apresentação. A banda entra no palco com muita empolgação e contagia todos da platéia. Halford, estiloso como de costume, está trajado com um colete de couro preto, com detalhes em dourado. A dupla de guitarristas interage com os fãs que estão na grade e, vale ressaltar a simpatia e carisma de Faulkner, que a todo o momento provoca reações na galera. Com refrão e solos marcantes, a escolha foi certeira. “Riding on the Wind” faz com que todos entrem em uma vibe dançante de Rock N’ Roll e por fim, a emblemática “You’ve Got Another Thing Coming” fecha a sequência do clássico “yellow álbum” do Priest com chave de ouro. A recepção é incrível, a banda tem o público nas mãos.

Com o frontman caminhando por todo o palco e executando falsetes incríveis, “Jawbreaker”, do álbum “Defenders of the Faith” de 1984, da continuidade ao show. A cada solo de guitarra, vemos Rob muito animado, curtindo ao lado dos guitarristas. O setlist transita dos clássicos para “Firepower”, faixa título do trabalho de estúdio lançado em 2018. A música soa moderna, mas sem perder a essência da banda, com riffs e bases caricatas e pedais duplos rápidos e contínuos. O telão ao fundo do palco traz uma imagem do tridente envolto em chamas, implementando a estética do palco. Retornando aos clássicos, “Devil’s Child” nos traz novamente a vibe “Classic Rock”, com os integrantes dançando, proporcionando uma verdadeira festa. Ian Hill performa com seu baixo, seguindo o ritmo da música, imerso na onda dos companheiros. “Turbo Lover”, do álbum “Turbo 30” de 86 segue na mesma linha, com a plateia cantando o refrão em alto e bom som. 

Novamente ficamos impressionados com o tridente se posicionando no palco, dessa vez, iluminado em azul. “Steeler” do aclamado “British Steel”, lançado no início dos anos 80, inicia uma tríade de clássicos, que segue com “Between the Hammer & the Anvil”, unindo a dupla de guitarristas no centro do palco, com Rob cantando o refrão com maestria e curtindo cada solo executado ao lado dos guitarristas. “Metal Gods” é marcada por um momento único e inesquecível. Ilustrando todo seu carisma e simpatia pelos fãs, Richie distribui palhetas para os que estavam na área reservada a pessoas com deficiência (PcD), indo e voltando com os itens, até se certificar de que todos conseguiram pegar os presentes, proporcionando uma cena bonita de se presenciar.

O frontman tem um momento a sós com a crowd, os desafiando a repetir variadas frases em coros vocais, em preparação para “The Green Manalishi (With the Two Prong Crown)”, cover do grupo setentista Fleetwood Mac, presente em “Killing Machine”, de 1979.  O baterista Scott Travis agradece a recepção do público, demonstrando estar feliz com o retorno da banda ao Brasil. Após o discurso, anuncia “Screaming for Vengeance”, passando a bola pra Rob que executa um falsete potente. Ao final da música, Travis retorna ao microfone e anuncia a aclamada “Painkiller”, faixa título do álbum de 1990. Faz firulas na bateria até que toca o clássico solo que introduz os riffs e solos matadores. Aos 70 anos de idade, com sua barba branca como a neve, Halford ousa em sua performance, que com muito esforço, entrega um resultado satisfatório. 

Em um dos momentos mais memoráveis de toda a noite, Rob entra no palco pilotando sua Harley Davidson preta, usando um cap na cabeça e com um chicote na boca. Estaciona no centro do palco e “Hell Bent for Leather” inicia o encore, com o Metal God cantando montado na moto durante toda a música. O hino de “Breaking the Law” vem na sequência, em uma performance de energia contagiante, com todos se divertindo no palco e na plateia. “Living After Midnight” faz jus ao horário da apresentação, que já excede a meia-noite e encerra o espetáculo do Priest. Ao som de “We Are the Champions” do Queen, os músicos se despedem do público brasileiro, agradecendo a todos por comparecerem e celebrarem a noite. 

Nessa noite de quinta-feira (15), fomos presenteados com dois shows incríveis, com momentos emocionantes e memoráveis. O Pantera deu o “chute na porta”, executando músicas de peso em seu tributo, sem muitas pausas para respirar. O Judas Priest deu uma verdadeira aula de como se faz um espetáculo de Heavy Metal, com um repertório repleto de clássicos. Ambas as bandas merecem seu lugar no grande festival que irá rolar no domingo, encerrando juntos as atividades de um dos palcos principais. 

Setlist Pantera:

  • Abertura: Regular People (Conceit) + In Heaven (Lady in the Radiator Song) (original de de David Lynch & Alan R. Splet)
  • A New Level
  • Mouth for War
  • Strength Beyond Strength
  • Becoming (With ‘Throes of Rejection’ outro)
  • I’m Broken (With ‘By Demons Be Driven’ outro)
  • 5 Minutes Alone
  • This Love
  • Yesterday Don’t Mean Shit
  • Fucking Hostile
  • Cemetery Gates (Tributo aos irmãos Abbott)
  • Planet Caravan (Black Sabbath cover)
  • Walk
  • Domination / Hollow
  • Cowboys From Hell

Setlist Judas Priest:

  • Abertura: War Pigs (Black Sabbath) + The Hellion
  • Electric Eye
  • Riding on the Wind
  • You’ve Got Another Thing Comin’
  • Jawbreaker
  • Firepower
  • Devil’s Child
  • Turbo Lover
  • Steeler
  • Between the Hammer and the Anvil
  • Metal Gods
  • The Green Manalishi (With the Two Prong Crown) (Fleetwood Mac cover)
  • Screaming for Vengeance
  • Painkiller
  • Hell Bent for Leather
  • Breaking the Law
  • Living After Midnight
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About Bruno Santos

O amor pela música nasceu na minha infância e ir em shows é uma de minhas maiores paixões. Também sou um grande fã de games e da cultura geek.

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