GRAVE DIGGER APRESENTA REPERTÓRIO CLÁSSICO EM NOITE CHEIA NA CAPITAL PAULISTA

Em comemoração aos quarenta e cinco anos de estrada, precursores do metal alemão não quiseram saber de burocracia: clássicos atrás de clássicos, com alguns poucos – e muito bem escolhidos – sons contemporâneos da banda.

Foto por Amanda Sampaio (@amandasampaio.ph)

O heavy metal alemão, e consecutivamente o mundial, tem muito a agradecer ao Grave Digger. Eles, o Accept, o Running Wild e o Rage são os responsáveis por termos o país com uma das cenas mais longevas, bem-sucedidas, e influentes de metal no mundo. Depois de quarenta e cinco anos na estrada, entre altos e baixo, nada faria mais sentido que uma celebração deste marco, e é aí que temos a atual turnê dos coveiros, a 45th Anniversary Tour – na América Latina, a ocasião ficou denominada The Latin America Celebrations.

Já tinham, em 2020, feito a celebração de quarenta anos, e agora, quarenta e cinco. Bem, com a carreira que eles têm, nada melhor que tirar um pouco dos louros dessa longa jornada. Mesmo assim, a banda tem material novo para tocar, e não deixaram de fora canções de seu último disco, o polêmico, mas sonoramente bem aceito Bone Collector (2025), que deu o que falar pelo uso de inteligência artificial na capa. Além disso, havia como outra novidade em solo brasileito a presença do guitarrista Tobias Kersting, que entrou na banda poucos meses após a última passagem deles pelo país, no Summer Breeze Brasil (atual Bangers Open Air) em sua primeira edição, na primeira metade do ano de 2023.

Afinal, então, como foi a noite, a apresentação, o repertório, o público? Vamos ver!

HORÁRIO NÃO AJUDA, E FILA COMEÇA TÍMIDA:

É verdade que os horários em uma sexta-feira podem ser mais maleáveis, afinal, o dia seguinte já seria fim de semana, e muita gente poderia aproveitar até mais tarde. Isso não muda o fato de que a maioria ainda depende do transporte coletivo, que em São Paulo vai até à meia-noite. Ao mesmo tempo, grande parte precisa sair do trabalho, ir para casa, tomar banho, se trocar, para então ir à casa do espetáculo. É um dia realmente complicado de horários, e com banda de abertura ainda, tudo fica mais complicado, lógico.

Pelos motivos supracitados, pouco antes das portas do Carioca Club abrirem, a fila estava tímida, com algum movimento na frente, e nos bares da região. Suficiente, porém, para uma sensação de que não seria um “flop”, como dizem no linguajar atual – no fim, foi bem longe disso! Com pontualidade, algo que vem sendo o padrão com produtoras sérias e responsáveis, ainda bem, às 19h as portas abriram, e tranquilamente todos foram entrando. Quem entrou nesse começo, se deu bem, e pôde pegar a famosa “grade”, ou, como era nesse caso, ficar colado no palco, pois não havia a área de fotógrafos, demarcada pela grade em questão.

Aos poucos, o que parecia ser um show de ocupação mediana foi aumentando cada vez mais, e logo já não se conseguia chegar ao meio da pista. Tudo se encaminhava para o sucesso que a banda merece.

JUST HEROES FAZ SHOW OUSADO, E AGRADA PÚBLICO CRESCENTE:

Escolhidos em concurso, por votação popular dentre mais de cinquenta bandas participantes, os paulistas Just Heroes tinham a missão de provar esse voto de confiança que lhe deram. Conseguiram!

Uma apresentação ousada, com visual temático bem “galhofa” (no melhor sentido possível) anos 80, qualidade de som bem decente para os padrões de bandas de abertura, e performances individuais e coletiva magistrais, tivemos um gosto do que um grupo de músicos muito experientes na cena pode fazer – não para menos, o baterista Marcus Castellani foi simplesmente o baterista do próprio Manowar por cerca de dois anos. O destaque, porém, foi o vocalista Maciell S. com seu estilo completamente inspirado em Rob Halford – roupa de couro, chapeuzinho tipo “cap”, além de ter entrado com uma capa! Roubou a cena.

Seu repertório de músicas próprias foi condizente com a ocasião. Heavy metal tradicional, com pouca firula, passeando um pouco pelo “power” da coisa, mas sem entrar nesse ramo de fato. Mais ou menos como os donos da noite são. No fim, um excelente cover de “Breaking the Law”, do Judas Priest, coroou seu show. Realmente, foi merecido terem vencido o concurso.

QUARENTA E CINCO ANOS DE GRAVE DIGGER EM UMA NOITE:

A espera foi padrão entre a apresentação da banda de abertura e a entrada dos alemães no palco – pouco mais de meia hora, que é o comum em shows competentemente feitos. Precisamente às 22h, horário marcado para a atração principal, luzes se apagam, a música ambiente acaba, e lá estava no palco, para agora um público massivo, num Carioca Club quase lotado, o Grave Digger, comemorando seus quarenta e cinco anos de estrada. De novidade ali, apenas o guitarrista Tobias Kersting, mas de resto, todos os velhos conhecidos dos brasileiros de 2018 para cá – Marcus Kniep, na bateria desde aquele ano (e nos teclados, em estúdio, desde 2014), além de Jens Becker, que assumiu o baixo em 1997, e o capitão do navio, o líder e vocalista Chris Boltendahl, único remanescente da formação original.

O início do show já chegou com “antigueiras” (ou quase), com “Twilight of the Gods” e “The Grave Dancer”, respectivamente dos álbuns Rheingold, de 2003, e Heart of Darkness, de 1995. Interessante dizer que essa primeira foi tocada pela primeira vez ao vivo, naquele mesmo ano de lançamento, no Brasil, especificamente na cidade de Porto Alegre, capital gaúcha. Tivemos o primeiro som, então, do último disco, Bone Collector, lançado este ano: “Kingdom of Skulls”. O álbum em questão, vale a nota, como dissemos, se tornou polêmico por uso de Inteligência Artificial na arte da capa, o que desagradou muita gente.

Tivemos novidades, aliás! “The Keeper of the Holy Grail”, lançada em 1998 no disco Knights of the Cross nunca havia sido tocada no Brasil antes, e finalmente pudemos ouvir esse clássico dos anos noventa nesta turnê (como nota, a música havia sido tocada alguns dias antes, em Brasília e Curitiba, mas essa foi a primeira turnê que a tocaram por esses lados). De resto, uma coletânea de hits que iam de oitenta até os dias de hoje, com um grande peso nas canções dos anos noventa. Algumas mais famosas fizeram a alegria de todos, como é o caso da sempre presente e celebrada “Excalibur”, “The Round Table (Forever)”, e aquela saideira de mentira, que sempre fazem antes do bis (algo que, ao meu ver, já ficou sem graça para shows em geral), “Rebellion (The Clans Are Marching)”, provavelmente seu maior sucesso. Tudo perfeito até então: som, iluminação e, especialmente, performance. Chris Boltendahl e seus comandados nunca decepcionam, e Tobias se mostrou um substituto à altura de seus predecessores.

A volta ao palco foi longa, com simplesmente quatro músicas de bis! O horário não ajudava, e já na terceira do encore, penúltima do show, já se via pessoas saindo do local – passava das 23h30, e como sabemos, o transporte coletivo em São Paulo vai só até meia noite, em geral. Essa sessão final não poderia contar com melhores escolhas: “Scotland United”, “Circle of Witches”, Witch Hunter” e, finalmente, terminaram de vez com “Heavy Metal Breakdown”, a música que os impulsionou ao sucesso no heavy metal, de seu primeiro álbum, que também leva o nome desta canção. Show terminado, missão cumprida para a banda, e alegria dos fãs.

BANDA CLÁSSICA, SET ÓTIMO, E AULA DE HEAVY METAL:

Muitos consideram o Grave Digger como uma banda precursora do que viria a ser o power metal; outros, os chamam de speed metal. O que se precisa saber apenas é que são heavy metal, independente da vertente. Dão aula disso, e fizeram um show para os fãs disso, para quem vive isso. As questões técnicas ajudaram bastante, com luz e som de primeira, além da pontualidade – embora, de fato, o próprio horário não ajudasse.

É verdade que shows deles são comuns no Brasil, e oportunidades nunca faltaram para vê-los – esperamos que continuem não faltando -, mas como sempre, vê-los ao vivo é um privilégio, o privilégio de poder ver uma aula do que é o “metal raiz” da Alemanha.

Setlist – 45th Anniversary Tour:

Twilight of the Gods
 The Grave Dancer
 Kingdom of Skulls
 Under My Flag
 Valhalla
 The Keeper of the Holy Grail
 The Dark of the Sun
 The Curse of Jacques
 Shadows of a Moonless Night
 The Round Table (Forever)
 Excalibur
 The Devils Serenade
 Back to the Roots
 Rebellion (The Clans Are Marching)

Bis:
 Scotland United
 Circle of Witches
 Witch Hunter
 Heavy Metal Breakdown

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