Fotos por Fernanda Pistoresi Arantes
Dois anos após sua última visita e em sua décima passagem pelo país, os suecos do Marduk retornaram ao Brasil para um show único em São Paulo, realizado no último domingo (2), no Manifesto Bar. A ocasião não poderia ser mais simbólica: a banda comemora os 25 anos de“Panzer Division Marduk” (2000), talvez o álbum mais emblemático de sua carreira, executado na íntegra nesta turnê. Com produção do Manifesto, a noite reuniu uma verdadeira celebração do black metal nórdico, intensa, crua e sem concessões.
O Manifesto, conhecido por receber eventos de sonoridade mais acessível, foi uma escolha curiosa, mas acertada: a qualidade do som esteve impecável durante toda a apresentação, algo raro para o gênero. E o público, acostumado a ver o Marduk em casas maiores e menos intimistas, lotou o espaço, cerca de mil pessoas mergulhadas no breu sonoro e visual característico da banda.
Antes dos suecos, a noite teve abertura com os gaúchos do Torches of Nero, um trio de black metal old school que investe em uma estética ritualística, com estandartes e máscaras no palco. Apesar da proposta visual ousada, a execução musical dividiu opiniões. Faixas como “MOKK” e “Hosana Iscariot” conseguiram boa resposta, mas a performance em geral deixou o público ansioso pela atração principal.
Após um breve intervalo, e até um pequeno tumulto resolvido rapidamente pela equipe da casa, as luzes se apagaram e o Manifesto mergulhou na escuridão. Às 21h35, um ruído de guerra ecoou pelos amplificadores: era o prenúncio do massacre. “Panzer Division Marduk” abriu o set com o peso e a fúria de um tanque de guerra. Bastaram poucos segundos para que Daniel Rostén (ou Mortuus, como é conhecido) dominasse o palco, exalando presença e autoridade. O público respondeu com gritos ensurdecedores, e o clima de caos foi instaurado.
Sem pausas, vieram“Baptism by Fire”e “Christraping Black Metal”, ambas executadas com precisão cirúrgica, uma trinca inicial que fez o chão tremer e colocou o Manifesto em combustão. O refrão de “Christraping…” foi cantado em uníssono por uma plateia completamente entregue. “Scorched Earth”, raridade nos shows brasileiros, manteve o ímpeto antes de“Beast of Prey” e“Blooddawn”, que ecoaram com brutalidade impecável.
Encerrando a execução do álbum, “502” e “Fistfucking God’s Planet” foram pura destruição, Mortuus vociferando com intensidade demoníaca, enquanto o guitarrista Morgan Håkansson, único membro fundador remanescente, disparava riffs como metralhadora. O baterista Simon Schilling, na banda desde 2019, impressionou pela velocidade e consistência, dando à performance uma força quase mecânica. Ao final dessa primeira meia hora, o Marduk já havia cumprido sua missão de devastar São Paulo.
A segunda metade do set trouxe uma viagem pela discografia da banda.“Those of the Unlight”, faixa-título do álbum de 1993, abriu essa nova fase com clima sombrio e melodia gélida, seguida pela destrutiva “With Satan and Victorious Weapons” (do álbum World Funeral, 2003). O vocal de Mortuus soava ainda mais intenso, ora gutural e profundo, ora cortante como uma lâmina.
Em seguida, a recente“Shovel Beats Sceptre” (Memento Mori, 2023) mostrou que a banda continua relevante e criativa, mantendo a essência sem se repetir. O Manifesto então foi tomado por uma sequência de clássicos dos anos 90:“Slay the Nazarene” e “The Black Tormentor of Satan”, dois momentos de pura catarse, em que o público parecia hipnotizado pelas luzes vermelhas e o som ensurdecedor.
O encerramento veio com “The Blond Beast”, do disco Frontschwein (2015), uma faixa mais arrastada e opressiva, que ganhou peso e ferocidade ao vivo. Sem despedidas, o Marduk deixou o palco de forma abrupta, enquanto parte do público ainda esperava pelo tradicional bis com“Wolves”, que acabou ficando de fora nesta noite. Um encerramento frio, mas totalmente coerente com a natureza impiedosa do grupo.
Mesmo com um set curto, cerca de 1h10 de duração, o Marduk provou por que é um dos nomes mais respeitados do black metal mundial. A execução precisa, o som cristalino e o repertório devastador compensaram qualquer frustração com o tempo de show. Foi uma apresentação intensa, brutal e memorável, à altura da trajetória de uma banda que, desde 1990, carrega a bandeira do black metal com autenticidade e sem concessões.
Quem já os viu antes saiu com a certeza de que o Marduk segue em plena forma. Quem os viu pela primeira vez, certamente, jamais esquecerá.
Setlist – Marduk (São Paulo, 02/11/2025)
- Panzer Division Marduk
- Baptism By Fire
- Christraping Black Metal
- Scorched Earth
- Beast of Prey
- Blooddawn
- 502
- Fistfucking God’s Planet
- Those of the Unlight
- With Satan and Victorious Weapons
- Shovel Beats Sceptre
- Slay the Nazarene
- The Black Tormentor of Satan
- The Blond Beast















