Oito décadas de Raul

Texto por Mateus Lacerda e Foto por Raul Rock Clube

Em 1945 um avião sobrevoava o ar e lançava uma bomba atômica chamada little boy sobre o céu de hiroshima despencando de uma altura de muitos metrôs e ao se chocar no chão, fogo e calor radioativo dizimou várias gerações de homens e mulheres e nos dias seguintes, o resto do mundo encarou madrugas de intensos pesadelos. Na Bahia, no mesmo ano, outro acontecimento eclodiu, causou destroços e plantou sementes que abalariam outras muitas gerações de homens e mulheres, no hospital municipal de salvador, nasceu, outro little boy, Raul Santos Seixas.

Raul, foi um acontecimento.

E durante toda a vida, um errante. Na terra dos novos baianos, a criança fundou o primeiro fã-clube de Elvis Presley. Pisou no Rio de Janeiro, já artista e odiou. Se enfiou na metrópole cinza e congelada de São Paulo, e por lá viveu até o último dia da sua vida, e espalhou a história em muitas entrevistas, de que o Rio de Janeiro é uma mentira. Que o cristo redentor já cansado, arqueava os braços e que as pessoas sentadas na areia da praia ignoravam qualquer corpo morto para poder continuar bronzeando.

Daria pra contar mil histórias de cada década de vida do Raul Seixas. Ele viveu feito um meteoro. Uma estrela. Um diabo. Um anjo. Um mendigo. Um louco. Um bruxo. Um exú. Ele foi muitos e para cada Raul Seixas, existem cinco inimigos. E eles ainda vociferam e blasfemam o seu nome, oito décadas depois. Escrevo esse texto, movido por uma angústia que me tomou após ler outros textos que circulam na imprensa tradicional nesta semana em que Raul Santos Seixas comemoraria oitenta anos. Os mesmos textos, que dizem sempre as mesmas coisas: Raul Seixas morreu fodido. Raul Seixas já ficou sem grana. Raul Seixas era um bêbado. Blá blá blá. Deixa pra lá.

É necessário deixar o bem e o mal de lado para falar de uma lenda. É necessário respeito, silêncio e córtex frontal para entender as charadas que Raul plantou no caminho. O homem que aprendeu a falar codificado. Por ser extremamente vigiado. Censurado. E ao mesmo tempo, o homem que aprendeu a falar sobre as coisas mais complexas de forma mais simples, objetiva e clara.

Raul Seixas, além de ser o maior bebum da Luz, região central de São Paulo, foi um divulgador científico. Um filósofo, literalmente, formado pela faculdade federal do Rio de Janeiro, escreveu tratados de metafísica, mas descobriu que o Brasil é um país de gente que não lê. Desencanou de ser intelectual e foi fazer ie-ie-ie.

Abaixo apresento aos amigos que toparam com esse texto, passagens da sua obra, que exemplificam a genialidade do eterno maluco beleza. Saúdo a coragem do homem charada e e faço questão de contar o que não contam.

Raul Seixas viveu num país que censuraram livros e músicas, perseguiam mentes pensantes, matavam os gênios, espancaram os rebeldes e no meio desse caos, nunca se calou. Escreveu e cantou. Roubou ideias geniais. Importou conceitos. Distribuiu tudo isso através da sua maravilhosa discografia.

O Brasil que sempre teve medo de quem pensa diferente, tentou silenciar raul em vida. Hoje, tenta domesticá-lo e caricaturar a sua imagem. Mas Raul não cabe em homenagens oficiais e muito menos em vereditos. Raul Seixas é uma bomba atômica, enterrada no coração da cultura brasileira, prestes a explodir, a qualquer hora. Pode ser em todo lugar.

O CONTO DO SÁBIO CHINÊS

Chung Tzu, o grande mestre taoísta, contou essa história que virou um conto oral, do dia em que descansou embaixo de uma árvore depois de uma longa caminhada e sonhou que era uma borboleta. Quando acordou, foi tomado pela dúvida a vida inteira, se ele era realmente um sábio chinês ou uma borboleta.

QUANDO OS SINOS DOBRAM

A música que reflete sobre a condição do próprio Raul Seixas. Isolado pela genialidade. O título é um furto de um dos maiores escritores da literatura americana, Ernest Hemingway.

O CARIMBADOR MALUCO

Afundado na melancolia, sem gravadora e com fama de garoto problema, Raul Seixas foi salvo por uma ponta no especial do balão mágico. Fez o papel de um burocrata, cantando uma música que fazia citação direta ao pai do anarquismo, o francês Pierre Joseph Proudhon

METRÔ LINHA 743

O disco sumiu do catálogo. Não existe em nenhum streaming. Mas nele, existe o Raul sóbrio, com um violão, inspirado do começo ao fim no bardo, Bob Dylan

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