Emo Vive reúne veteranos e cria uma noite de catarse e pertencimento para quem sente demais

Festival mistura nomes clássicos e atuais do emo e cria noite inesquecível na Audio, em São Paulo.

Com shows intensos, reencontros e surpresas emocionantes, o Emo Vive não só celebrou o passado como reafirmou a vitalidade da cena emo e alternativa no Brasil.

Fotos por Raíssa Correa

No sábado, 7 de junho, a cidade de São Paulo foi palco de uma celebração que mais parecia uma viagem no tempo. Na Audio, zona oeste da capital, aconteceu o terceiro dia do Emo Vive, edição especial do já tradicional Festival Polifonia, que desta vez resolveu abraçar de vez os corações partidos, os órfãos do MySpace e a memória afetiva de uma geração inteira.

E vamos combinar: não tem que “make Brazil emo again”. O emo sempre esteve aqui, e ainda sente tudo com muita intensidade. Emo Vive foi uma ode a isso: à resistência da música orgulhosamente sentimental, à coletividade dos que nunca pararam de sentir, e ao poder da nostalgia quando ela encontra um propósito.

Com um line-up que misturou nomes históricos da cena gringa com nomes nacionais que ajudaram a construir esse universo por aqui, o evento foi, sem dúvida, um marco para a cultura alternativa do país. Para saber como foi, confira a resenha abaixo: 

O que tem de melhor na nova geração

Quem abriu os trabalhos foi a paulista boasorte, banda que tem surfado bem entre o shoegaze, o emo e o alternativo noventista. Mesmo ainda não sendo uma banda tão conhecida, foram muito bem recebidos por um público animado e curioso. O quarteto faz parte da curadoria do Banda de Casinha, festival com foco em midwest emo e bandas independentes no começo de carreira, que levou também as bandas Projeto Hare, Def e Morro Fuji como atos de abertura em outros dias de Emo Vive. 

Hateen e o poder da longevidade

Na sequência, Hateen subiu ao palco cantando seu repertório em inglês e puxando um cover que fez muita gente se emocionar: “In Circles”, do Sunny Day Real Estate

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A conexão com o público oscilou — os mais jovens talvez não tenham pego a fase áurea da banda entre o final dos anos 90 e começo dos anos 2000 — mas os veteranos da cena cantaram junto, vibraram e retribuíram o carinho com a mesma intensidade da banda. Os paulistanos interagiram bastante, chamaram na responsa e mostraram que seguem firmes como parte importante da história do emo nacional.

Mae: delicadeza e devoção

A banda americana Mae (originária da Virgínia) veio ao Brasil pela primeira vez e entregou um show quase transcendental. Com um set baseado no álbum The Everglow, emocionaram com músicas cheias de sutileza, alternando entre momentos de delicadeza e outros de explosão. O vocalista agradeceu inúmeras vezes, visivelmente tocado com a recepção brasileira. A devoção foi tanta que, dias depois, ele tatuou o Cristo Redentor — um gesto meio brega, talvez, mas genuinamente fofo.

Euforia em alta voltagem com Emery

Quando a Emery entrou em cena, foi que o clima esquentou de verdade. O show era um dos mais aguardados da noite e eles não decepcionaram — embora tenham prometido um set específico (do álbum The Weak’s End) e entregado um mais abrangente da carreira, o resultado foi catártico. “Walls”, cantada em uníssono com participação do Esteban Tavares (ex-Fresno), foi um dos momentos mais bonitos do festival. Teve até crowd surfing do Esteban, sendo carregado de ponta a ponta na pista da Audio.

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Os integrantes da banda estavam em um look uniforme estiloso e apresentaram um show potente, com presença de palco impressionante. Membros da Fresno assistiram tudo do cantinho, como fãs — o que diz muito sobre a simbologia do evento.

Com novo vocalista, Anberlin reafirma sua importância na história do emo

Depois da tempestade emocional da Emery, entrou Anberlin — banda de peso, mas que acabou sofrendo com uma “quebra de energia” pós-Emery. O set do álbum Never Take Friendship Personal começou forte, mas foi ficando um pouco morno com o tempo. No geral, a banda honrou sua história e entregou um show consistente, equilibrando emoção e técnica. Músicas aclamadas como “Feel Good Drag” e “Paperthin Hymn” reacenderam memórias em quem os acompanhou nos anos 2000, e o público respondeu com entusiasmo. 

Talvez tenha pesado o fato de que a formação atual da banda não conta com o vocalista original (Stephen Christian), sendo substituído agora por Matty Mullins, do Memphis May Fire. Apesar disso, foi um show bonito e importante, especialmente para quem nunca teve a chance de vê-los ao vivo. Mas faltou uma certa fagulha.

“Bem-vindos ao início de tudo” com repertório histórico de Fresno 

Se ainda havia dúvidas sobre quem era o headliner moral da noite, Fresno tratou de esclarecer. A casa estava absolutamente cheia, muita gente ali só pra vê-los.

Ver uma banda brasileira encerrando um festival com esse porte foi simbólico e emocionante. E a Fresno cumpriu com as expectativas, trazendo um set poderoso que revisitou os primórdios da carreira.

Foram três álbuns: Quarto dos Livros, O Rio, A Cidade, A Árvore e Ciano, não na íntegra, mas com os highlights mais importantes e músicas que não eram tocadas ao vivo há decadas. Começaram com “Teu Semblante” e encerraram com “Quebre as Correntes”, fazendo da pista um mar de lágrimas e vozes esgoeladas. Muita gente chorou. Muita gente gritou como se tivesse 15 anos de novo. 

Um dos momentos mais especiais da noite aconteceu durante “Alguém Que Te Faz Sorrir”, quando rolou um pedido de casamento no palco: Marina, baterista da boasorte, foi pedida em casamento pela namorada. Emo vive, o amor também.

A construção de um novo legado

Apesar do atraso inicial para abertura dos portões (que acabou impactando “só” 20 minutos na programação), o saldo do festival foi extremamente positivo. O único incômodo mais técnico ficou por conta do som: em alguns shows, estava visivelmente baixo, o que tirou parte da potência de Anberlin, por exemplo. Ainda assim, a Audio foi um espaço ideal para o evento, com boa estrutura e uma área de convivência essencial para quem queria descansar entre um show e outro.

A crítica mais recorrente entre o público foi sobre a duração curta dos sets. Outro ponto foi a divisão em duas datas em São Paulo. Apesar de bem-intencionada, pode ter diluído a força da audiência. Talvez uma única data teria sido o ideal para essa primeira edição no novo formato.

Mas o que importa é que o Emo Vive mostrou que a cena emo tem, sim, força, memória, mercado e, acima de tudo, emoção de sobra. A mistura de gerações, sons, sotaques e sentimentos fez dessa noite uma pequena epifania coletiva, um reencontro com a própria história. 

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