Entrevista – Niclas Engelin – The Halo Effect

Foto por Navjot Kaur Sobti

O guitarrista sueco Niclas Engelin, da banda de Death Metal Melódico The Halo Effect e ex-membro do In Flames, respondeu a nós algumas perguntas sobre sua carreira, o passado, o futuro da banda, o processo de gravação e produção do vindouro álbum March Of The Unheard, que será lançado agora em Janeiro via Nuclear Blast, além de falar sobre suas guitarras e equipamentos preferidos. Também nos deu pistas de um ou mais possíveis shows no Brasil em um futuro próximo! Confira: 

Fernando Queiroz: Seja bem-vindo, Niclas! Muito obrigado por estar aqui conosco, é um prazer imenso.

Niclas Engelin: O prazer é meu! Muito obrigado pela oportunidade dessa entrevista.

Fernando: Bem, vocês vão lançar agora em Janeiro o segundo álbum do The Halo Effect, March Of The Unheard, certo? Pelo que ouvi, ele me soa um álbum ainda mais maduro, moderno e completo que o Days Of The Lost, que já é um grande disco. Ao mesmo tempo, não perdeu a essência e o direcionamento. Você acha que esse tempo juntos, maior entrosamento e tocar ao vivo foi crucial para essa evolução natural do som de vocês?

Niclas: Sim, eu acho que sim. Essa é a beleza de tocar junto ao vivo em vários shows, viajar a vários cantos do mundo, conhecer muitas pessoas incríveis e perceber o apoio de todos nesse caminho. E isso vem desde que começamos a escrever o Days Of The Lost – na verdade o que veio a ser o Days Of The Lost. Mas, na verdade, a primeira semente do que veio a ser esse álbum (March Of The Unheard) nasceu quando íamos tocar nosso primeiro show juntos, no Sweden Rock Festival, no palco principal, quando tivemos uma hora de show. Isso foi em junho, quando o primeiro single saiu, mas o álbum (Days Of The Lost) só iria sair em agosto. Então, tivemos que tocar o álbum inteiro de cabo a rabo. Isso no nosso primeiro show juntos! E isso foi bem assustador e muito desafiador. Bom, o álbum tem cerca de quarenta e dois minutos, e tínhamos uma hora para tocar! Então eu fiz uma introdução e um encerramento. E eu acho que eu fazer essa introdução, sentar e escrever ela, foi a primeira semente do que viria ser o March Of The Unheard, porque quando estamos em turnê, estou sempre escrevendo, compondo. A música título do “March Of The Unheard” foi algo que fizemos usando partes dessa intro dos shows. Tinha aquele “lalalala” e tal, e as pessoas pareciam gostar disso, gostavam dessa intro, começaram a cantar junto nos shows. Era algo meio chiclete, que gruda na cabeça. E, bom, disso nós começamos a escrever e gravar músicas. Nós nunca paramos, na verdade. E, bom, foi bem como você disse, mesmo que eu não goste muito da palavra “maduro”, pois, bom, somos velhos como vampiros (risos). Mas sim, tocamos cerca de sessenta shows nessa turnê, e disso saiu o novo álbum, e aqui estamos com o March Of The Unheard, que é o resultado de toda a tour, mas também de toda a vibe positiva que recebemos ao longo desse período. 

Fernando: Sei que o Mikael (Stanne, vocalista) é um cara muito ocupado, tanto com o Dark Tranquillity quanto com seus outros projetos, e sei que vocês também têm seus projetos. Tem sido difícil para vocês conciliar a agenda para terem uma consistência de shows e turnês?

Niclas: É, de fato precisamos nos planejar bastante quanto a isso com antecedência. De verdade, sentamos juntos com um calendário na mão do próximo ano, e do ano depois, sempre vendo o que podemos fazer, quando não podemos fazer e coisas assim. E depende bastante mesmo do Mike o quando ele consegue, já que o Dark Tranquillity faz muitas turnês, muitos shows. E fazer turnês é algo que exige muito das pessoas, é bem desgastante ir para países diferentes, daqui para ali. Mas, pelo menos por enquanto, está indo bem tudo. Desde que nós façamos os planos com antecedência, ter o calendário em mãos como falei. Não funcionaria se fizéssemos algo como “ei, temos esse show na Inglaterra na próxima semana!”, e aí vemos que “ah, poxa, seria muito legal, mas não podemos fazer assim tão rápido.”, entende?

Fernando: Maravilha! Falando de turnês, poderia nos adiantar se têm planos de virem à América do Sul, em especial o Brasil, ou ainda é muito cedo para dizer?

Niclas: Nós temos falado muito nisso. Nós estamos loucos para ir tocar na América do Sul, é um lugar muito bonito! É como tocar para torcedores de futebol! Vocês cantam junto o tempo todo, a atmosfera é sempre muito positiva. Eu sempre tive ótimas experiências na América do Sul, e a sua comida é “hummm”, deliciosa. E na verdade, estamos planejando isso exatamente agora, enquanto conversamos aqui, temos já os e-mails rolando e tudo, arrumando as coisas. Então definitivamente queremos muito ir à América do Sul! 

Fernando: Eu venho acompanhando o The Halo Effect desde o começo, então sei que muita gente compara vocês com o In Flames, que esse assunto até já está bem saturado de comparações, então quero ir para um lado diferente. Como você acha que a experiência de cada um de vocês no In Flames, seja juntos ou em períodos diferentes, ajudou a moldar o que hoje é o som do The Halo Effect?

Niclas: Eu acho que ajudou muito pois acabamos fazendo parte desse gênero musical por muito tempo. Estamos aí desde o começo, os anos noventa, e todos tocamos em bandas com diferentes membros da cena, então nos conhecemos há décadas. Acabou ficando natural escrever músicas assim. Acabamos sendo assim, somos nós, a cena de Gotemburgo.

Fernando: Legal! Bom, falando na cena do metal sueco de Gotemburgo que… É uma das mais ricas do mundo, com bandas como o At The Gates, In Flames, Dark Tranquillity, agora o The Halo Effect. Como você vê a cena, vocês como um todo, hoje em comparação ao que era nos anos 90 ou começo de 2000?

Niclas: Eu acho que a grande diferença é que lá atrás, não sabíamos muito o que estávamos fazendo, não sabíamos como compor músicas propriamente. Não tivemos aulas de instrumentos, apenas ouvíamos nossos álbuns favoritos do Judas Priest, do Kreator, o Arise do Sepultura, Iron Maiden… então ensaiamos, ensaiamos, dávamos rolês, fazíamos alguns shows, e tudo acabou evoluindo daí. Foi meio como uma bola de neve, não pensamos muito na coisa na época, até que, em um momento, percebemos que “wow, o que está acontecendo? Pessoas de outros países estão ouvindo o que fazemos!”. Não pensávamos muito em decolar, só tocávamos porque tínhamos vontade, gostávamos muito disso. E acho que precisamos dessa vibe para fazer o que fazemos hoje. É isso que fazemos com o The Halo Effect. Quanto me encontrei com o Jesper (Strömblad, guitarrista) para compor algumas músicas, ou “fazer uma mágica”, como gostamos de chamar, e começamos a pensar em álbuns que gostamos muito, e acabou indo assim. Não ficamos naquela de “devo fazer isso. Não, devo fazer aquilo.”, nada disso. Quando já estamos com os dedos calejados, é porque já entendemos como fazer. Vamos lá nos divertir fazendo isso.

Fernando: A segunda metade do March Of The Unheard acaba ficando mais cadenciada, mas sem perder o peso. O que eu achei muito legal. Essa mudança sutil de andamento a partir de “Forever Astray” foi algo que surgiu naturalmente durante as gravações ou foi previamente pensado?

Niclas: Acho que foi natural. Mas dessa vez, eu tinha já na cabeça um “tracklist”, eu sabia o que eu queria no começo, no meio e no fim. No fim, ficou só um pouco diferente do que eu tinha em mente, mas manteve a vibe. Mas acho que ficou um andamento muito bom, muito gostoso de ouvir. Acabou que acho que ficou um daqueles álbuns que você coloca, ouve no carro, em casa, onde quer que seja, e quando menos repara, “nossa, já acabou? Preciso colocar de novo!”. Acho que foi um pouco assim que saiu, e é o que eu mais gosto, de fazer músicas que dão essa sensação. 

Pergunta: Agora, uma pergunta sobre você, como guitarrista. Quais seus modelos preferidos de guitarra hoje em dia, e como esse gosto mudou do começo da sua carreira para agora?

Niclas: Bem, quando eu comecei, eu tinha uma Charavel, tinha uma Jackson, aí claro uma B.C. Rich Mockingbird, que eu sempre adorei! E aos poucos acabei indo para Gibson RD’s, que acabei adotando ao longo do tempo. E eu adoro tanto elas, o shape delas. Eu tenho uma aqui, que é uma custom, uma Dunable, que usa o corpo RD também. Tem essa vibe mais vintage. É uma Dunable feita pelo próprio Sacha. (Nota: neste momento, Niclas mostra a guitarra). 

Fernando: Se você precisasse escolher apenas uma guitarra para tocar o resto da sua vida, qual seria ela? (risos)

Niclas: Cara, essa é difícil! (risos) Mas acho que seria mesmo uma RD! Gibson ou Dunable. É definitivamente meu modelo preferido hoje em dia!

Fernando: Muito bom! Eu também tenho minhas Les Paul que são minhas preferidas (risos) Bem, uma última pergunta apenas. Poderia nos contar um pouco do processo de gravação, composição e produção do March Of The Unheard?

Niclas: Então, nós trabalhamos nesse álbum muito próximos do Oscar Nillson (produtor), que é dono do Crehate Studios. Eu e ele trabalhamos juntos há mais de doze anos, quando gravei com o Engel, e vários projetos nesse período. Então todos ficamos muito juntos nesse processo de gravar ou construir música, algo que já estamos bem acostumados, já fizemos muitas e muitas vezes. E, bom, quando se trata de fazer música, gravar música, a coisa fica bem sensível. Então começamos com um esqueleto de músicas. “Ok, aqui estão as músicas! Porque estamos gravando essa música?”. Precisamos ter a resposta dessa pergunta sempre. Quando achamos a direção, do tipo “quero ir para esse lado, ou ir para aquele lado”, aí fica fácil colocar todos a bordo, e trabalhar junto, pois já sabemos “ok, queremos chegar neste resultado”, e queremos chegar o mais sólido possível nisso. E todos temos que segurar a tocha, pois se você deixa cair, vira uma bagunça. Então embora tenha sido fácil por nosso entrosamento, ainda precisamos fazer ressoar entre todos nós. Enfim, foi um processo muito legal, todos estamos muito juntos nisso. Mas ainda precisávamos achar aquele “porquê” de estarmos fazendo aquilo. E acho que encontramos!

Fernando: Bem, muito obrigado, Niclas! Obrigado por sua atenção e seu tempo.

Niclas: Disponha! Obrigado vocês pela entrevista, pela disponibilidade!

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About Guilmer da Costa Silva

Movido pela raiva ao capital. Todo o poder ao proletariado!

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