O vocalista da banda finlandesa de Deathcore Where’s My Bible, Jussi Matilainen, que também toca instrumentos típicos finlandeses, conversou conosco sobre as experiências na América do Sul, sobre como o público difere do europeu, o processo de gravação e composição do novo álbum Kave, lançado em Setembro, e sobre trabalhos futuros já em processo de criação. Confira:
Fernando Queiroz: Bem, vocês lançaram o novo álbum em Setembro, certo? Como tem sido a recepção por parte de fãs e mídia em geral até agora, da percepção de vocês como banda?
Jussi Matilainen: Acho que é uma boa pergunta! Tem sido um feedback realmente incrível. Porque sempre que você faz uma coisa nova, você quer fazer algo na qual você acredita. Mas, claro, sempre queremos saber como as pessoas vão reagir, se vão gostar, e coisas assim. Mas, sim, sinto que o público tem gostado muito, e isso é muito bom de ouvir. A mídia também tem sido muito boa. Quando vemos os reviews por aí, quase todos dão nota máxima, e para nós é muito legal ver isso, a música que criamos e acreditamos ser tão elogiada até agora.
Fernando: Vocês são uma banda mais voltada ao deathcore, uma abordagem mais moderna dentro do metal. Na Finlândia, um país conhecido por suas bandas com sonoridade mais clássica e tradicional, tem sido difícil se colocar no cenário por conta da abordagem ser um bocado diferente?
Jussi: Confesso que um pouco, sim. A maior dificuldade, porém, é fazer com que sejamos vistos. Tem tantas bandas incríveis por aqui, de diferentes gêneros, então é bem difícil fazer com que seu nome seja notado. E sim, muito também pelo nosso som ser um pouco diferente de quase todas as bandas por aqui, o que pode ser muito bom, mas ao mesmo tempo pode ser uma maldição. Então, sim, é difícil de tocar esse estilo, mas quando nós realmente gostamos da coisa… como posso dizer…?
Fernando: Você apenas faz e deixa rolar, ver no que dá, certo?
Jussi: Exatamente! E eu acho que o difícil é se fazer ser notado, mas quando você de fato é notado, fazendo algo que ninguém fazia, a coisa rola legal!
Fernando: Poderia nos contar um pouco sobre o processo de criação e produção do álbum, e como ele difere do anterior nesse ponto?
Jussi: Sim, claro! O processo de criar esse foi bem diferente do anterior, porque não tivemos tanto tempo assim para fazer o processo. Tivemos um tempo bem limitado para fazer ele completo. Geralmente, quando fazemos as músicas, vamos ao estúdio do nosso guitarrista, o Pasi [Löfgrén], e lá gravamos tudo, desde baterias a vocais. Mas dessa vez, como tivemos pouquíssimo tempo, gravamos tudo em nossas casas e o Pasi mixa tudo depois, menos os vocais, que gravamos lá com o Pasi, pois era mais fácil. Mas, por exemplo, tivemos que montar um pequeno estúdio no porão do Teppo [Ristola], onde ele montou a bateria dele, gravou lá mesmo, e daí mandava para o Pasi e daí tinha aquela coisa de enviar, ver se está bom, às vezes voltar, aí enviar, depois gravar o próximo, coisas assim. E foi uma experiência muito legal, na verdade, fazer as coisas assim, pois nos ensinou a fazer coisas nesse tempo mais diminuto, um pouco sob pressão. Então foi bem legal, mas é melhor fazer as coisas mais no nosso tempo. Mas, bom, algumas vezes você tem que se apressar (risos).
Fernando: Em relação a turnê, vocês já têm perspectiva de tocar fora da Europa, como ir aos EUA, ou até mesmo por aqui, na América do Sul?
Jussi: Sem dúvidas queremos. Tentamos sempre, na verdade, fazer acontecer, e seria realmente fantástico voltar aí para a América do Sul. Nossa primeira experiência por aí foi fantástica! Vamos também fazer turnês por aqui, claro, mas voltar aí seria fantástico, espero que aconteça logo.
Fernando: Muito bom saber! Dizem que o público daqui é bem animado, não é?
Jussi: Com certeza. A gente adora o público aqui da Finlândia, de verdade, mas é uma plateia mais parada. Amamos o público daqui, mas quando voltamos da América do Sul, foi algo completamente diferente. Sempre ouvimos que era um público muito animado, mas quando você realmente vive a experiência, é muito diferente. Quando voltamos aqui pra Finlândia, depois da turnê na América do Sul, nós realmente sentimos o quão diferente é; o público finlandês nem parecia mais o mesmo. Em comparação aos sul-americanos, parece que estão até parados (risos). Pessoal por aí realmente é muito maluco, no melhor sentido da palavra.
Fernando: Da perspectiva de uma banda um pouco mais nova, como você vê o cenário heavy metal finlandês hoje, e como o compararia com o que era nos anos 90 e 2000, você acha que mudou muito?
Jussi: Bem, sim, mudou bastante. Mas sempre tem uma certa ‘linha’ para o metal finlandês, que eu acho que é uma coisa das coisas mais melódicas, e a melancolia que estão sempre muito presentes na música finlandesa no geral. Então, é, mudou um tanto, mas ainda temos os mesmos tipos de elementos que fazem o que somos, que dá aquele sentimento.
Fernando: Vocês já estão trabalhando em novos materiais para a banda, ou acha que é o momento de fazer shows, acalmar um pouco o processo criativo, para depois voltar a escrever?
Jussi: Sim, já estamos fazendo novas músicas. Claro, também planejando turnês, queremos começar o quanto antes. Mas sim, já estamos escrevendo novos materiais. Na verdade, já esses dias eu vou com o Pasi para o meio da floresta, vamos fazer um acampamento por lá, vamos levar alguns instrumentos tradicionais (finlandeses), vamos gravar os sons do acampamento, o vento, a própria fogueira, e se isso se transformar em boas ideias, vamos já gravar esses instrumentos típicos por lá.
Fernando: Vocês têm músicas com letras no idioma Finlandês, algo que eu achei muito interessante, que combinou bastante. Vocês vêem isso como um diferencial que pode atrair um novo público, especialmente pela curiosidade em ouvir a língua finlandesa no metal?
Jussi: Eu acho que sim. Esse foi também um dos motivos pelo qual quisemos fazer algumas músicas em finlandês. Mas também porque tem muita coisa de mitologia finlandesa e nórdica em geral no álbum, então nos pareceu bem natural usar algumas partes em finlandês. E achamos que colocar esses elementos finlandeses, como o idioma, faria as pessoas se interessarem pela tradição e a cultura finlandesa.
Fernando: Bem, isso é tudo! Gostaria de deixar uma mensagem aos ouvintes brasileiros do seu som?
Jussi: Claro! Eu gostaria realmente de desejar que todos fiquem bem, seguros, que espalhem bastante amor através da música, e ouçam bastante metal! E, como sempre, ‘Horns Up!’ \,,/! Nos sigam nas redes sociais, ouçam nosso som, e logo mais estaremos por aí em algum show!
Fernando: Valeu, Jussi! Pelo seu tempo, suas palavras, sua atenção! Foi um prazer.
Jussi: O prazer foi todo meu!