Pensei em pular do sexto andar diversas vezes – e se você chegou até aqui é sinal de que ainda não pulei.
Estar em dezembro de 2021 é como chegar numa festa de aniversário surpresa, onde você não conhece nenhum dos convidados.
Celebrar o fim desse ano é inevitavelmente algo sem sentido. O que vem depois?
Será que em 2022 os progressistas criarão juízo? Será que os nossos demônios e os nossos medos, todos materializados em direitistas conservadores nos últimos 6 anos, retornarão a condição de serem apenas sombras refletidas nas paredes das cavernas? Será que em 2022 se tornará possível sair daqueles mercadinhos velhos no Largo do Arouche com duas caixinhas de cerveja e alguma merda de trocado no bolso? Eu não sei e sou pessimista.
Largar os cigarros e guardar o dinheiro é a minha única meta traçada para o ano novo.
E nos preparativos para o fim do mundo, eu tenho colecionado músicas, é a busca para a trilha sonora perfeita para a ocasião e acabo de atualizar a minha coleção.
O novo single do Marcionilio, “Indonésia Tupiniquim” celebra a nossa sobrevivência.
É a resistência, como o nosso mais belo ato de bravura.
Foram milhares de centenas de mortos e agora nós que ficamos, carregamos a alcunha de sobreviventes.
Em 2022, eles terão que lidar conosco, os sobreviventes da Indonésia Tupiniquim, os raivosos que não morreram.
“INDONÉSIA TUPINIQUIM”
tive sorte sobrevivi a Indonésia tupiniquim
de canalhas, aporofóbicos
gente de sangue ruim
de fascista e de racistas
porcos bem sebosos
de entreguistas da milícia
de engodos religiosos
ei, eu te pergunto meu bem
você não sente o mesmo que eu?
ei, eu te respondo meu bem
você sente o mesmo que eu
se eles não tem medo de matar ou de morrer
não pode ser só meu.