Caliban no Fabrique Club: Carisma, Peso e Nostalgia em São Paulo

Fotos por Thammy Sartori (@thammysartori) gentilmente cedidas pelo https://www.tramamos.com.br/

No último sábado (06) os alemães do Caliban tocaram no Fabrique Club na cidade de São Paulo, como parte da turnê sul-americana realizada pela Liberation MC, divulgando seu último trabalho Back From Hell. Sendo São Paulo sua última apresentação antes de encerrarem a turnê, tendo se apresentado também na Colômbia, Chile e Argentina.

Essa turnê foi muito especial para os fãs latinos do Caliban, pois a última vez que a banda se apresentou por essas bandas das Américas foi há15 anos atrás. Se não me falha a memória, essa deve ser a quarta passagem da banda pelo Brasil e levando em conta o tempo de sua última aparição, essa turnê foi muito bem-vinda pelos fãs, ainda mais no momento em que a banda se encontra.

Broad And Sharp 

Abrindo a noite tivemos o Broad And Sharp subindo ao palco por volta das 17h45 – horário divulgado pela produtora previamente nas redes sociais – a banda que conta com Israel Taiguara e Fernando “Gordo” nas guitarras, Roger Guinalia na voz, Filipe Santos na bateria e Tiago Boni no baixo, tem influências de bandas estadunidenses de metalcore e nas partes melódicas com vocais limpos, percebe-se bastante influência de post-hardcore. Apesar da influência e do nome em inglês, cantam em português. Na ativa desde 2010, suas letras têm um tom mais pessoal transmitindo a visão de mundo da banda.

“Perdido” do álbum Reagir foi a música de abertura, enquanto o público ia chegando no Fabrique Club. Na sequência tocaram o single “Sobre Meninos e Lobos” e “Abusos” também do mesmo disco – música delicada que trata de abuso/violência contra a mulher, lembrou a banda em um momento tenso onde as pessoas estão nas ruas enquanto eu escrevo este texto(7/12), exigindo o fim da violência contra as mulheres. Além de tocarem um cover da banda For Today, encerraram com o single “Nossa Causa É Morrer” e “Convicto” de Reagir.

A apresentação do Broad And Sharp encerrou por volta das 18h20, mostrando uma banda que surpreendeu quem não os conhecia com uma performance entrosada e uma dinâmica bem legal entre o guitarrista Israel e o baixista Tiago dividindo e alternado os vocais limpos e melódicos das músicas em contra-ponto ao vocal grave e cheio de drive do vocalista Roger, que por sua vez também não deixou a desejar e segurou a bronca muito bem até o final.

Fim do Silêncio

A segunda banda de abertura da noite, foi o Fim do Silêncio, que dispensa muitas apresentações – banda paulistana formada em 1999, tocando hardcore/metal com uma identidade própria – após se prepararem, começaram a tocar por volta das 18h45.

Abriram o com música “Real Vida Suja” do álbum Cor à Palidez de 2005, clássico da banda, seguido de “Marreta” do mesmo álbum. Nesse início a nostalgia já bateu forte, com a casa um pouco mais cheia era visível perceber a galera cantando alguns trechos das músicas. Seguiram com “Gota” do álbum homônimo de 2008, “Devolvendo Cor à Palidez”, “De Olhos Fechados” e “Punhos Cerrados do Cor à Palidez, “Ausência” do álbum homônimo e para fechar a sua apresentação por volta das 19h13, tocaram a catártica “Um Novo Dia de Revolta” do Cor à Palidez – levando todo mundo a cantar “Vidas levadas sem serem vividas” junto da banda no trecho final da música e nos apresentaram a inédita “Estado Laico”, música nova da banda que ainda não está nas plataformas digitais, onde houve uma grande entrega do vocalista Leandro Carbonato, deixando claro o quanto ele estava a vontade nessa nova composição.

O Fim do Silêncio hoje conta com a seguinte formação: Leandro Carbonato e Felipe Flip nas vozes, Rodrigo Fú e Paulinho nas guitarras, Carlos Abreu no baixo e Daniel Medeiros na bateria. Em breve a banda lançará material novo e já é possível ouvir o single “Plástico, Glamour e Corrosão” nas plataformas digitais.

Atração principal: Caliban

Com o Fabrique Club mais cheio, o palco devidamente preparado e a galera ansiosa pela atração principal, afinal faz 15 anos desde sua última aparição por aqui, os alemães do Caliban sobem ao palco. Seu integrantes vão entrando ao som de “Ressurgence – Intro”  do Back From Hell seu último cd, num palco iluminado, com uma arte bem cabulosa da banda no telão de fundo, baseada na capa do Back From Hell, com a bateria no meio, um pouco mais alta que o piso para que o baterista Patrick Grün não perdesse a visão do público. Cada membro é ovacionado conforme vão tomando seus postos: Denis Schmidt e Marc Görtz guitarristas, Iain Duncan baixista e claro, Andreas Dörner o vocalista.

Com todos a postos, assim que encerra a introdução, tocam “Guilt Trip” e “I Was a Happy Kid Once” do Back From Hell na sequência, álbum esse lançado em Abril deste ano (2025) e tinha bastante gente na frente do palco cantando junto com a banda, principalmente nas partes melódicas cantadas pelo baixista Iain Duncan – que faz os vocais melódicos nesse álbum, diferente dos anteriores, onde o guitarrista Denis Schmidt é quem era responsável pelos vocais melódicos até então.

Após o termino do som, o vocalista Andreas Dörner fala um pouco, agradecendo todo mundo por estarem ali, ressaltando que faz tempo desde a última vez que tocaram no Brasil, que estavam felizes por poderem retornar e aproveitou também para nos apresentar ao Iain Duncan, que agora é o novo baixista oficial do Caliban (ele entrou na banda antes do Back From Hell no meio de 2024, no lugar de Marco Schaller que deixou o grupo em 2022) e também nos alertou que não poderia se mexer tanto no palco pois fez uma cirurgia recentemente no joelho e teria de ficar “preso” ao pedestal e chamou a galera para vir mais pra frente e agitar. Spoiler: ele agitou mesmo assim, porém, claro, mais comedido e com cautela.

Dito isso e apresentações feitas, foi a vez de tocarem “Paralyzed” do álbum Gravity, levando todo mundo a cantar as partes melódicas aqui cantadas pelo guitarrista Denis Schmidt. Em seguida tivemos “Davy Jones” do álbum I am Nemesis e após o término dela, Andreas Dörner dedicou a próxima música para os fãs de old-school metalcore, sendo ela “I Will Never Let You Down” do álbum The Awakening de 2007, apesar da boa resposta do público, o que eles não poderiam prever que depois dessa, tocariam a icônica “The Beloved And Hatred” do clássico álbum de 2004, The Opposite From Within. Sem sombra de dúvidas um dos pontos altos do show: galera cantando em peso, agitando, abrindo roda, nostalgia pura!

Depois dessa pedrada, foi a vez de “Forsaken Horizon” e “Ich Blute Für Dich” do álbum Elements de 2018, sendo a primeira uma regravação lançada originalmente no álbum Shadow Hearts lá de 2003. “VirUS” do álbum Dystopia foi a próxima e a banda mantendo o pique do show lá em cima, interagindo com o público a todo momento, esbanjando carisma.

Continuando com o show, o Caliban apresentou mais três músicas do Back From Hell: “Dear Suffering”, “Insomnia” e “Back From Hell” – deixando evidente o quão pesado estão as músicas desse seu último disco. A execução dessas três faixas gerou um momento bem legal na música “Insominia”, onde a banda deixa o palco, restando apenas o baixista Iain Duncan que começa a cantar a sua parte da música ali, sozinho para o público. Ficou muito legal essa interação com a banda entrando em seguida e tocando ela do começo.

Após o término da emocionante “Back From Hell”, a banda se retira do palco para aquela pausa estratégica já na reta final da apresentação. Depois de deixar o público em suspense por uns minutinhos, resultando na galera chamando eles de volta, a banda retorna e nesse retorno, o guitarrista Marc Görtz volta vestindo a camiseta amarela da Seleção Brasileira de Futebol.

Para encerrar a noite e esta volta ao Brasil depois de 15 anos, lembrado pelo vocalista Andreas Dörner no final do show, que inclusive fez questão de agradecer a todos os presentes, tanto público, quanto produção e à Liberation MC, desejando não demorar tanto para retornar com o Caliban por aqui, tocaram “Memorial” do álbum I Am Nemesis, “Devil’s Night” do Ghost Empire e pra fechar a noite, tocaram a marcante “Nothing Is Forever” do clássico álbum de 2006, The Undying Darkness.

Terminando o show por volta das 20h50, esta foi a passagem e o retorno histórico do Caliban no Brasil. Mostrando que seguem sendo um dos pioneiros de metalcore mundial, assim como outros conterrâneos alemães. Permanecendo relevantes mesmo com a mudança de tendências na música pesada, conseguem não só incorporar elementos contemporâneos em seu som, como também conseguem como poucos manter a identidade da banda. Com uma performance ao vivo que demonstra a experiência que a banda vem acumulando com os anos de estrada, estúdio e festivais pelo mundo afora. Foi uma noite cheia de carisma, peso e nostalgia.

Nos sigam e deêm um like na gente \m/
error
fb-share-icon

About André Fagundes

Designer de formação e músico por paixão e teimosia, cresci indo na Galeria do Rock atrás de zines para ler, além de flyers de shows e namorar as guitarras das lojas da Santa Ifigênia no Centro de São Paulo.

View all posts by André Fagundes →

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *