Com bom show, Hammerfall dribla percalços

Com muitas horas de atraso, indefinição de horário por vôos atrasados, e reclamações por parte do público, Hammerfall faz show de madrugada e com setlist reduzido, mas entrega ótimo show.

Fotos por Bárbara Matos (@babi_matos)

Em primeiro lugar, é bom deixar algo claro: quando falamos “grande apresentação”, entendam como algo dentro dos limites possível — uma banda cansada, exausta por conta do que passou (explicaremos logo mais) tem suas limitações físicas, e isso é perfeitamente compreensível. Dito isso, deixo claro que, para quem aguentou até o fim dessa odisseia que foi o evento, o que se presenciou foi um show louvável dos suecos. Vamos ao que interessa, então?

O PERRENGUE EXPLICADO:

Faltando um dia apenas para o show, a produtora responsável anunciou o perrengue: o vôo que levaria a banda de Amsterdã, na Holanda, para São Paulo foi cancelado. Com isso, o horário inicial das 20h para o show do Hammerfall foi alterado para a meia noite! Sim, pode parecer absurdo, mas teríamos praticamente uma “noitada” power metal. Mas calma, pois nada está tão ruim que não possa piorar.

De toda forma, vale a menção: a culpa, nesse caso, não é da banda nem da produtora. Embora algumas pessoas possam argumentar que o jeito como lidaram com a situação não foi a melhor, o que é justo, se é para culpar alguém, esse alguém é a empresa aérea holandesa KLM. O fato do show ter ocorrido, por si só, é uma vitória, e que isso fique claro.

No dia do show, quando chegamos, claro, mais más notícias. Aparentemente, o Hammerfall e sua equipe tiveram que ser acomodados em aviões separados, e até aquele momento, às 19h, Joacim Cans e Oscar Dronjak, além de outros membros da equipe técnica, não haviam ainda pousado no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, São Paulo. A primeira coisa que me veio à mente: “isso vai atrasar ainda mais!” Dito e feito!

MUITA ESPERA PARA UM GRANDE PÚBLICO:

Fora isso tudo, a entrada do público na casa foi tranquila, sem problemas, e pouco a pouco, a casa ia enchendo – e enchendo bastante; provavelmente um dos shows mais cheios que vi na VIP Station, casa de shows escolhida para ser palco do evento. Sem que se tivesse qualquer notícia extra, estava tudo pronto para começar a apresentação da primeira banda de abertura, que subiu ao palco às 20h.

Aqui precisamos fazer a primeira crítica: o horário das bandas de abertura. A primeira às 20h, e a segunda apenas às 22h tornou tudo mais cansativo, assim como o horário de entrada do público. O ideal, ao meu ver, seria colocar a abertura da casa para às 20h, a primeira banda às 21h, e a segunda próximo das 23h, se a previsão de show às 00h fosse realmente ocorrer – bem, não ocorreu, mas mesmo assim, teria sido menos cansativo.

PRIMEIRO SHOW AGRADA COM SOM CONDIZENTE:

Pontuais, os paulistanos do Cova Rasa mostraram perante um público já grande seu típico power metal: teclados altos (altos demais, aliás, naquele dia), pedais duplos, e vocais agudos são o “pão com manteiga” do gênero, e dentro dessa proposta, fazem seu trabalho muito bem! Com dois álbuns lançados, sendo o último deste ano corrente – o primeiro trabalho deles totalmente em inglês -, a proposta de fazer músicas sobre histórias de terror e mistério não é exatamente comum para o estilo que seguem, sendo algo mais utilizado em vertentes mais extremas do metal. Apesar de diferente, casou bem! Em especial, as músicas do disco Another Time, último lançado, são as que mais funcionam ao vivo em se tratando do contexto do evento, em especial pelo idioma – o inglês definitivamente combina mais com power metal. Com cerca de uma hora de palco, e um público ainda com energia, tiveram a missão cumprida, e foram ovacionados pelos presentes. Valeu assistir, e vale conhecer!

Interessante dizer, o vocalista Ivan Martins foi vocalista, no início de carreira, de um Hammerfall Cover, no meio dos anos 2000, e disse no palco que era uma honra estar ali. Curiosamente, a primeira vez que o vi ao vivo foi com esse tal cover, em um evento em homenagem a Andre Matos, ainda em vida, muitos anos antes de falecer, em 2007, onde eles tocaram um set completo do Viper.

Até aquele momento, tudo parecia dentro da normalidade, dentro dos limites do possível. Nos bastidores, não era bem assim. O avião que levava o vocalista e o guitarrista principal do Hammerfall ainda não havia pousado! Se permitem uma suposição, acredito que o tempo tenha influenciado bastante. Como se soube por notícias naqueles dias, havia um tufão passando pelas regiões sul e sudeste do Brasil, inclusive causando uma tragédia no estado do Paraná. Em São Paulo, a noite anterior havia sido complicada, com rajadas de vento e muita chuva (eu mesmo fiquei por algumas horas sem energia em casa) – tal fato pode ter levado a atrasos gerais em vôos. Mas, novamente, isso é uma suposição. Fato é que, infelizmente, o início do show dos suecos atrasaria mais, e isso foi logo confirmado.

Antes do início do show da segunda abertura, foi anunciado no microfone mais um adiamento: a apresentação ficou então prevista para às 00h40. Com isso, já podíamos ouvir lamentos, pessoas sentando pelas paredes da casa, e até xingamentos direcionados à produtora, à banda, a quem quer que fosse. Compreensível! Já estávamos ali há horas, com a certeza da demora, e agora mais um adiamento em quarenta minutos – parece pouco tempo, mas no cansaço, qualquer minuto a mais é desesperador. Imagino como deveria estar para aqueles que ficaram plantados na grade para ver a banda principal de perto!

MELODIC DEATH METAL INFILTRADO FOI BOA ESCOLHA PARA ABERTURA:

Vamos falar de coisa boa mais um pouco? E não estou falando da Nova Tekpix, “a câmera e filmadora mais vendida do Brasil”, mas sim do excelente – e um pouco deslocado, é verdade – show dos brasileiros do Throw Me to the Wolves, provavelmente o mais notório grupo de melodic death metal do país na atualidade. Outra banda com um lançamento recente excelente, seu primeiro disco completo denominado Days of Retribution, deste ano, o quinteto vem sendo destaque em diversos eventos ao longo do ano (e também do ano anterior). Você pode pensar “o que diabos uma banda de death metal está fazendo num evento de power metal espadinha?” e, bem, tem razão, ficou de fato estranho – mas não tão estranho quanto imagina! Eles têm muita influência de clássicos da cena de death metal melódico de Gotemburgo, na Suécia, como o In Flames, Dark Tranquillity e Soilwork (vale destacar neste último, o genial Björn Strid participou no single “Gaia”, de 2024, dos brasileiros), e o que não tanta gente sabe, é que o guitarrista Oscar Dronjak, da principal atração da noite, participou do In Flames nos primórdios – especificamente no debut Lunar Strain, que teve os vocais gravados por Mikael Stanne -, além de ser guitarrista da banda de death metal Ceremonial Oath. No fim das contas, melodic death metal e power metal, pelo menos na Suécia, são convergentes. Esses fatos foram citados pelo vocalista Diogo Nunes, que até fez uma piada, colocando no telão um meme sobre death metal e power metal no mesmo evento (segue imagem).

No geral, apesar de não terem levantado tanto o público pela diferença de gêneros, e o cansaço de todos ali (muitos estavam na casa desde às 19h), além da ansiedade pela indefinição de quando e se aconteceria o show principal – sim, muitos já estavam duvidando disso -, fizeram uma apresentação extremamente sólida, competente e, se você tiver interesse em uma vertente mais pesada do metal, com certeza deve conhecê-los. Quanto a vê-los, garanto que oportunidades não faltarão, pois são presença constante em vários eventos. Destaco, além do grande vocalista que é Diogo Nunes, o guitarrista Fabrício Fernandes, a mais recente adição da banda, com ótimos timbres nas sete cordas, e o baterista já veterano na cena, Maycon Avelino.

Já passava das 00h, mais de uma hora após o show da segunda abertura, e nem sinal de começarem a montar o palco. Outro grande problema que ouvimos lá dentro era que, também, os equipamentos, que não haviam chegado. Aparentemente, havia instrumentos faltando, que vinham em outro vôo com alguém da equipe, assim como pratos da bateria. Nos falaram que Throw Me to the Wolves chegou a oferecer os instrumentos para o Hammerfall tocar, mas não seria possível, pois usam guitarras de sete cordas, em outra afinação, e com pontes flutuantes, impossibilitando a troca rápida para o tom original das músicas dos suecos por motivos da própria anatomia desse modelo de guitarra. De toda forma, lá se vai mais demora – além disso, um show deles sem a guitarra em formato de martelo de Oscar Dronjak seria no mínimo estranho.

A produção foi novamente ao microfone avisar que, por esses motivos, o show agora estava previsto para começar à 1h30 da manhã! Ou seja, mais de uma hora de espera. Honestamente, ninguém mais, fosse do público ou da produção, queria estar lá mais – pessoas já cochilavam pelos cantos, a cerveja da casa tinha acabado, reclamações de fome por todo lado, pois não havia lanches sendo vendidos por ali. E o pior: a casa estava simplesmente lotada! Confesso que cheguei a pensar em ir embora, em determinado momento da noite. permaneci pois, enfim, já estava lá, era madrugada, e sair à 1h ou às 4h, não faria diferença mais. Energético pra dentro e levamos. Não apenas isso tudo ocorrendo dentro, também nos relataram que do lado de fora havia alguma agitação de um punhado de pessoas pedindo dinheiro de volta e reclamações do tipo! Caos. Não o pior caos, mas, caos.

À 1h15 da manhã já do domingo, pôde-se ver, do fumódromo, na área externa, o equipamento que faltava da banda chegando. Ao menos, as chances de cancelamento acabaram.

FINALMENTE, HAMMERFALL!:

Apesar da previsão de começo para à 1h30, foi apenas às 2h, exatamente que, finalmente, o Hammerfall subiu ao palco. Finalmente, o perrengue acabou, e agora sem mais más notícias! Banda completa, equipamento completo. Tem Jogo!

Sem grandes alterações no setlist que vinham tocando na turnê europeia, que terminou no começo de outubro, começaram com “Avenge the Fallen”, faixa-título de seu último álbum, de 2024 (diga-se de passagem, considero um dos melhores lançamentos daquele ano), e sem interrupções, “Heeding the Call”, clássico do disco Legacy of Kings, de 1998. Tínhamos guitarra de martelo de Oscar Dronjak e tudo mais! Sob gritos entusiasmados, na medida do possível pelo cansaço, de “Hammerfall! Hammerfall!”, a banda cumprimentou o público com um “good evening”, mas que já era praticamente um “good morning”, como disse o colega ao meu lado na hora. Joacim Cans se desculpou pelo atraso, claro, e agradeceu aos que estavam ali, mesmo com todos os imprevistos. Seguiram com mais um clássico, “Any Means Necessary”, e emendaram em “Hammer of Dawn”.

Como disse o vocalista, em mais de trinta anos de banda, sempre se comprometeram em entregar o melhor show onde quer que fosse e em qualquer situação. Apesar disso, era nítido o cansaço dos músicos – algo compreensível, afinal, longas horas de vôo de Amsterdam para São Paulo, após atrasos no aeroporto, e vindos direto para o local, sem nem passar em hotel para um banho sequer, é trabalho hercúleo. Eu mesmo, antes da metade do show já estava esgotado, e precisei sentar por alguns minutos para conseguir seguir, pois além de tudo, estava extremamente abafado em meio à multidão. Sabem aquela do “tira casaco, bota casaco”? Era mais ou menos isso, pois atrás estava bem fresco – do lado de fora, ainda por cima, garoou quase a noite toda.

A qualidade de todos ali era inegável, e a entrega, idem. Impossível não elogiar, aliás, o setlist, pois seguimos com “Blood Bound”, e a extremamente celebrada “Renegade”. Tivemos “Hammer High”, mas foi a seguinte que realmente levantou o cansado público: “Last Man Standing” já é um hino do power metal! E após Fury of the Wild, era previsto que teríamos outra música, um medley, na realidade, do álbum Chapter V: Unbent, Unbowed, Unbroken no entanto, em decisão acertada, por causa do perrengue de antes do show, este foi cortado, e fomos direto para outro clássico, aquele que, de certa forma, dá o nome da banda: Joacim fala “Hammer”, e a plateia responde “Fall”. Então claro que viria “Let the Hammer Fall”. Porém, um outro clássico, e uma das melhores da banda, acabou ficando de fora – infelizmente não tivemos “Glory to the Brave”. Com “The End Justice”, outra do último disco, e a famosa “(We Make) Sweden Rock”, a banda sai do palco ovacionada.

Era hora de bis, não? Mesmo com todos cansados, ainda havia espaço para pelo menos alguma coisa a mais! “Hail to the King”, single que deu ao mundo um gosto de Avenge the Fallen e, finalmente, a saideira, o maior sucesso dos suecos: “Hearts on Fire” drenou as últimas energias que tínhamos.

VALEU O PERRENGUE? DIFÍCIL DIZER:

Verdade seja dita, tivemos três ótimas bandas, boa qualidade de som em todas as apresentações e, especialmente, os donos da noite entregando o melhor que podiam, o cansaço, exaustão, estresse pela incerteza de se o show iria ocorrer, e quando iria ocorrer, deixam qualquer evento menos prazeroso. Foram sete horas entre a abertura das portas e o começo do show do Hammerfall. O sono, a fome, as pernas e pés doloridos tiram o brilho de um evento, e em determinado momento, parecia que todos estavam ali apenas para “cumprir contrato”. Sair do show às 3h30 da manhã também não é lá a melhor coisa que se pode querer.

Os suecos lendários do power metal entregaram o melhor show que podiam, mesmo também exaustos depois de atrasos em aeroporto, vôos muito longos, e nenhum descanso após pousarem. De toda forma, é impossível dizer que aquele foi o melhor show que já fizeram em terras brasileiras ou paulistanas, mas seu comprometimento para com seus fãs é louvável, e de fato não decepcionam. Talvez tivesse sido melhor adiar o show para outro dia? Talvez sim. Talvez não. Não sei como estava a questão logística – tanto da banda, quanto dos muitos fãs que vieram de longe para vê-los. De toda forma, não ficamos sem show, e isso que importa, no fim das contas.

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