Renomado e aclamado grupo francês de música folclórica nórdica entrega ao público paulistano uma experiência viking autêntica e atmosférica, no melhor sentido possível.
Fotos por Gabriel Gonçalves (@gabrielgoncalvesfotografia)
Não é sempre que temos shows de um estilo tão “específico” como o folk nórdico, pelo menos, não um vindo diretamente da Europa. Geralmente, há uma certa abundância de eventos de folk, mas que se resumem a bandas brasileiras, ou de folk metal — que é algo bem diferente da música folclórica norte-européia “raiz”, que era o foco da noite. Cerca de um ano após a fantástica apresentação dos noruegueses do Wardruna, era a vez dos bardos do Skáld, com uma proposta relativamente parecida, embora diferente, como bem sabe quem é mais próximo e ligado ao estilo. Novamente, não decepcionou!
Antes, precisamos fazer um esclarecimento:
Muitos podem se perguntar “como um grupo francês pode fazer música típica e autêntica nórdica?”, e a questão é válida. Mas a verdade é que sim, tem a ver! A França historicamente tem grande influência do povo do norte europeu, vulgarmente (e muitas vezes erroneamente) conhecidos como Vikings. Um bom exemplo? A Normandia, local famoso por ser onde as tropas americanas desembarcaram para o “Dia D” da Segunda Guerra Mundial, é a Terra dos Normandos, que significa Homens do Norte — foi, no caso, uma colônia de assentamentos nórdicos na região.
Bem, chega de papo histórico, vamos ao que interessa.
Cerca de uma hora antes das portas do Carioca Club, palco do show, se abrirem para a entrada do público, havia ainda pouquíssima gente na fila. Definitivamente não era algo inesperado, porém: diferentemente do Wardruna, muito popular por conta da série de TV Vikings, o Skáld não atingiu o público em massa, e é restrito a um nicho específico de fiéis apreciadores da “cultura nórdica” — esses, sim, presentes, que foram chegando ao longo do evento. Apesar de diminuto, era bem legal ver que os presentes, muitos deles, estavam a caráter, com roupas temáticas, mostrando sua devoção ao estilo — não apenas estilo visual ou musical, mas cultural —, e sorrindo descontraídos pela oportunidade de ver um evento como aquele, que não se vê todo dia.
Como sempre faço questão de comentar, em qualquer ocasião, a pontualidade é uma qualidade que poucas produtoras hoje em dia podem se gabar de ter. A Overload é uma delas! Às 19h30, horário marcado, as portas se abriram, e as pessoas começaram a entrar. Como era de se esperar, nesse momento mais pessoas foram chegando, e parece que a promoção de levar um acompanhante ao comprar um ingresso funcionou, relativamente. O público não estava tão baixo assim.
Tudo tranquilo até o momento, e logo era hora da banda de abertura. Já adianto,foi uma ótima escolha!
MULHERES EM DESTAQUE NA ABERTURA:
Formada apenas por mulheres, o grupo brasileiro Yön, do mesmo gênero e estilo da banda principal, subiu ao palco pontualmente no horário marcado. Era bem claro que o público não as conhecia, o que poderia ter causado certo nervosismo nas moças. Não foi o caso! Começaram sua apresentação sob muitos aplausos e gritos da plateia, que mesmo não sabendo direito quem eram, logo reconheceram que estavam no lugar certo, na hora certa. Com uma mistura de músicas próprias e “covers” (entre aspas mesmo, pois estão mais para releituras) de clássicos de diversos gêneros, tudo parecia estar em perfeita harmonia. As canções eram em variados idiomas, inclusive: do sueco ao nórdico antigo, ao inglês. Os instrumentos típicos eram destaque — particularmente, eu não imaginaria que o universos conspiraria para pessoas com aqueles conhecimentos musicais, que tocassem aqueles instrumentos tão diferentes, e com gostos musicais tão parecidos e particulares se encontrassem e formassem uma banda; não no Brasil, ao menos, mas aconteceu, e o que se viu foi uma apresentação formidável, de um grupo muito bem ensaiado, e com ótima produção de palco.
VIKINGS FRANCESES ENTREGAM SHOW QUASE RITUALÍSTICO:
Com nova pontualidade, as cortinas do palco voltam a se abrir, e lá estava o Skáld! Embora em sua formação “normal”, nas gravações, a banda seja bem mais numerosa, os membros presentes na apresentação eram cinco, os principais, que aparecem em fotos e fazem as turnês — mas sempre deixam claro a importância dos músicos que gravam com eles. Se me perguntarem o nome dos instrumentos, terei que confessar que não passo nem perto de saber! Todos instrumentos típicos, folclóricos — de percussão e cordas. Boa parte dos sons ambiente e orquestrais, assim como corais, porém, eram em playback; compreensível, pois é um som extremamente cheio e detalhado.
É muito curiosa a dinâmica entre público e banda em um show do tipo — não há, pela barreira linguística, aquela sinergia do “cantar junto”, e sem a energia que se tem em um show de rock ou metal, embora muitos dos apreciadores de ambos os gêneros sejam os mesmos. Mas há uma conexão diferente, são músicas para respirar fundo e sentir. Sentir-se em outro plano, em outra época. Também é difícil dizer se estavam “tocando bem”, pois são instrumentos exóticos. O que podemos afirmar é que os “batuques” eram intensos, de fazer pulsar o coração, e as cordas davam a suavidade necessária. O contraste da incrível e suave voz de Marie Potosniak com as vozes fortes de Marti Ilmar e Steeve Petit dão um “nó” no cérebro, que te faz viajar.
A pouca interação de banda com público era sempre muito bem elaborada, e as pessoas seguiam a banda. Dominavam seu show, e tocavam com todo o entusiasmo possível, mesmo para um público que deveria ser bem maior.
Após quase duas horas de show, a banda saiu do palco, mas claro, voltou para o bis, quando tocaram um clássico folclórico, “Herr Mannelig”, uma canção que já foi regravada por inúmeros artistas folk mundo afora — e nunca cansa, pois a música é ótima, independentemente da versão — e “Gleinpir”.
No fim das contas, um show onde ambas bandas se completaram, e deixaram uma sensação de missão cumprida e sorriso no rosto de quem lá estava. Extremamente agradável, com clima leve, um som consistente e boa iluminação. Outro destaque foi o cenário de palco do Skáld que, mesmo incompleto em relação ao que fazem na Europa, nos faz sentir em um salão comunal da antiga Escandinávia, onde os bardos cantavam suas canções em meio ao banquete. O Brasil tem público para esse tipo de música, e as meninas do Yön provaram, também, que podemos criar músicas nesse gênero.
Setlist:
Heiemo og Nykkjen
Ódinn
Yggdrasill
Hross
Mani Liour
Sækonungar
Ó Valhalla
Ljósálfur
Rún
Då månen sken
Fimbulvetr
Elverhøy
Níu
Hafgerðingar
Jörmungrund
Hinn mikli dreki
Draumakona
Troll Kalla Mik
Grótti
Her mannelig
Gleipnir

































