Fotos por Gustavo Diakov (@xchicanox)
O The 69 Eyes é daquelas bandas que desafiam o tempo com classe, elegância e integridade.
Com mais de três décadas de carreira e 13 álbuns de estúdio no currículo, os chamados Helsinki Vampires retornaram ao Brasil para uma apresentação única em São Paulo, no Fabrique Club, no domingo (31), dentro da turnê Just Drive LATAM Tour 2025. E entregaram tudo o que seus fãs esperavam: repertório afiado, performance sólida e uma atmosfera que transformou a casa em um verdadeiro ritual gótico.
Não era apenas mais um show. Vinte anos separam esta visita da estreia brasileira, no festival Live N’ Louder (2005), e 15 anos do último show solo em São Paulo, no Carioca Club (2010). Em 2024, a banda havia passado pelo Summer Breeze Brasil (hoje Bangers Open Air), mas problemas técnicos atrapalharam a apresentação. Dessa vez, vieram para compensar, e conseguiram com sobra.
As aberturas: Drama e When I Die
A noite começou com a carioca Drama, que retornou em 2023 após sete anos de hiato. Com forte identidade industrial/gótica, a banda apresentou uma mistura de guitarras pesadas e bases eletrônicas pulsantes, evocando influências como Rammstein, Nine Inch Nails e Depeche Mode. Em pouco mais de 30 minutos, faixas como “O Monstro” e “Obrigado” mostraram o peso e a relevância que ainda carregam dentro da cena. A formação atual conta com Eddie Torres (vocal), Melissa Diabolyme (baixo), Ricardo Amorim (guitarra), Jorge César (bateria) e Tcharles Cipriano (sintetizadores).
Na sequência, os paulistas do When I Die entregaram um dos melhores shows de abertura vistos recentemente no Fabrique. Sem baterista, a banda aposta em bases eletrônicas e synths que remetem ao EBM e ao pós-punk dos anos 80. O destaque ficou para o “duelo vocal” entre Johnny Monster e Juliana Chacon, que trouxe dramaticidade às canções. O set incluiu “For You in Hell, Pills” e um cover caótico de “Hells Bells” (AC/DC), além de encerrar com “Lucretia My Reflection”, clássico do The Sisters of Mercy. Para muitos que não conheciam, como eu, foi uma revelação.
A catarse gótica dos vampiros de Helsinque
Com o público já tomado por roupas pretas, botas pesadas e olhos delineados, o The 69 Eyes subiu ao palco com alguns minutos de atraso, abrindo com “Devils”. Logo na primeira música, todos cantavam em uníssono e levantavam os punhos no ar, transformando o Fabrique em uma celebração coletiva.
Jyrki 69 surgiu sob luzes azuladas e vermelhas, com gestos contidos, voz grave e magnetismo teatral. Durante “Perfect Skin”, pediu palmas do público, e foi prontamente atendido. Em “Never Say Die”, exigiu mais barulho, e teve resposta imediata. Já em “Drive”, do mais recente álbum Death of Darkness (2023), o vocalista não resistiu e ensaiou passos de dança, enquanto os guitarristas Bazie e Timo-Timo brilhavam com riffs certeiros.

Momentos como “Betty Blue” e o cover de “Gotta Rock (Boycott)” reforçaram o lado glam da banda, entre riffs sujos e refrãos pegajosos. Já “Still Waters Run Deep”, raramente executada ao vivo, foi recebida com entusiasmo. A energia cresceu ainda mais em clássicos como “Cheyenna”, “The Chair” e, claro, “Gothic Girl“, a minha favorita da banda, e uma música que muitos no público conheciam como a porta de entrada para o universo dos finlandeses.
O baterista Jussi 69 também foi um show à parte. Com pegada pesada e gestos performáticos, lembrou em alguns momentos Tommy Lee (Mötley Crüe), arrancando aplausos a cada virada.

O bis trouxe uma das maiores surpresas da noite: Supla, apresentado por Jyrki como “Papito Vampire”, dividiu os vocais em “I Just Want to Have Something to Do” (Ramones). Espirituoso e irreverente, o brasileiro mostrou porque ainda é um dos melhores frontmen do rock nacional. A química entre ele e os finlandeses arrancou gargalhadas e aplausos.
O desfecho veio com “Dance d’Amour” e “Lost Boys”, recebidas de forma catártica pelo público. A última, referência ao clássico filme dos anos 80, coroou uma noite de nostalgia, intensidade e celebração.
Mais do que um simples show, o The 69 Eyes reafirmou sua consistência e longevidade. Raras são as bandas que atravessam três décadas preservando a mesma formação, sem abrir mão da identidade ou cair na caricatura. Em 2025, no palco do Fabrique, os finlandeses mostraram que ainda têm energia de sobra e que a chama do gothic rock continua viva.
Setlist – The 69 Eyes (Fabrique Club, São Paulo – 31/08/2025)
- Devils
- Feel Berlin
- Perfect Skin
- Betty Blue
- Gotta Rock (Boycott cover)
- Still Waters Run Deep
- Drive
- Hevioso
- The Chair
- Cheyenna
- Never Say Die
- Gothic Girl
- Wasting the Dawn
- I Love the Darkness in You
- Brandon Lee
Bis:
16. I Just Want to Have Something to Do (Ramones cover, com Supla)
17. Dance d’Amour
18. Lost Boys