A cantora veio pela primeira vez ao Brasil com sua turnê e já encontrou o Espaço Unimed completamente lotado de fãs fiéis
Texto por Tamira Ferreira e Fotos por Viola Kam
Ado é uma cantora pop japonesa que começou a trilhar seu caminho no estrelato no começo da década e, mesmo com o pouco tempo de carreira, já alcança altos patamares de sucesso.
Seu estilo musical tem como base a cultura do Japão, mas é banhado por diferentes vertentes da música, indo da eletrônica, pop, hip-hop e até rock n’ roll.
O que também chama bastante atenção na cantora é o fato de ninguém saber quem ela é, pois seu rosto nunca foi revelado. Ado possui um avatar que é utilizado nas redes sociais e em seus videoclipes, e, nos shows, é possível ver apenas sua silhueta.
Falando em shows, a cantora esteve no Brasil na última quarta-feira (14), fazendo sua estreia em solo nacional trazendo sua turnê mundial Hibana. E vamos contar para vocês como foi.
Ado faz show lotado para fãs dedicados
O local escolhido para receber a cantora foi o Espaço Unimed, em São Paulo, e os ingressos estavam esgotados.
Por volta das 20h, ainda era possível ver uma enorme fila de fãs entrando apressadamente dentro da casa de shows para ocupar seus lugares. Muitos vestidos com o merchandising oficial de Ado ou de cosplays dos animes em que a cantora já teve música na trilha sonora. Outros fãs se vestiam com o estilo de seu avatar e com roupas tradicionais japonesas. O lado bom disso é que fazia frio, então o clima estava adequado para usar essas vestimentas.
Algo notável era a quantidade de lightstick, algo muito tradicional de se levar em shows asiáticos, mas aqui no Brasil não é tão fácil ver essa cultura, já que são itens bem caros e precisam ser importados. Porém, os de Ado estavam à venda dentro do Espaço Unimed, algo que deveria servir de exemplo para outras produtoras que trazem artistas asiáticos para o Brasil.
Todos os fãs se encontravam posicionados, esperando a entrada da cantora ao palco, que por si só transmitia grandiosidade e uma expectativa ainda maior do que estava por vir. Na parte da frente, era possível ver os instrumentos dispostos no chão; ao fundo, uma grande estrutura com telas e, acima dela, a caixa onde a artista permanece durante todo o show.

Estava proibido filmar e fotografar o show
Mesmo antes do dia da apresentação, todos que estariam presentes foram informados de que seria proibido filmar, fotografar ou até mesmo fazer gravações de áudio do show. Pouco antes do início, o aviso foi exibido em todos os telões, acompanhado de uma mensagem clara: quem não cumprisse a regra seria retirado do local, sem direito a reembolso. Caso a desobediência persistisse, a caixa onde Ado se apresentaria seria desligada, e o público passaria a apenas ouvi-la, sem vê-la no palco.
Essa medida é tomada para proteger o anonimato da artista e para não atrapalhar a experiência de quem estava ali assistindo.
Pode até parecer uma medida radical, ou um choque na hora que lemos a orientação, mas no minuto que o show começou, a restrição passou a fazer sentido.

Atraso, ansiedade e uma das melhores experiências já vividas
O show estava programado para começar às 20h30. Apesar do atraso para alocar todo o público no espaço, todos já estavam aguardando ansiosos pelo início da apresentação. Os avisos de segurança da casa foram passados, mas sem previsão de iniciar o show.
Inicialmente, os fãs estavam animados, gritando pelo nome de Ado, cantando e balançando seus lightstick, mas logo essa animação foi passando e gerou uma frustração geral com o atraso.
Com exatos 43 minutos de atraso, sem explicação, as luzes se apagaram e os músicos entraram ao palco para começar o espetáculo.
Nessa hora, toda a ansiedade passa e dá lugar a uma grande animação. Já que era de consenso de todos que não seria permitido usar os celulares, os fãs decidiram se dedicar ao máximo para aproveitar aquela experiência que ficaria apenas em suas memórias.

Os telões exibiam diferentes imagens que combinavam com as músicas, enquanto várias luzes vindas de cima giravam sobre o público e iluminavam o ambiente. Do chão do palco, feixes de luz de LED subiam e passavam tão próximos que pareciam roçar as cabeças dos fãs.
Quando as músicas eram mais pesadas e próximas do rock n’ roll, as luzes eram vermelhas, verdes e amarelas. Já quando as canções eram mais suaves, elas tinham tons de azul e lilás.
A performance começa com uma canção eletrônica intensa e agitada, acompanhada da entrada dos músicos, que já vinham com uma alta energia e incentivando o público a pular e bater cabeça conforme seguindo o ritmo da canção.
E a cantora não esperou muito para agradar aos fãs e começou o show com a música que consolidou sua carreira, “Usseewa”, o que levou a todos ao delírio.
O show seguiu com “Lucky Bruto”, “Gira Gira”, “Show” e “Kura Kura”, com uma música atrás da outra e sem nenhuma interação com a plateia. Porém, a cada final de música, os fãs gritavam pelo nome de Ado.
Não era possível ver os detalhes da artista, apenas sua silhueta entre as luzes. Ainda assim, era impossível não se encantar com os trejeitos de Ado, que dançava constantemente enquanto cantava.
Dentro de sua caixa havia uma cadeira e um pedestal para o microfone que ela utilizava durante as canções, mas, em nenhum momento, a artista ficava parada. Em certos momentos, ela se deitava sobre a cadeira e balançava as pernas; em outros, se jogava para trás até cair no chão ou deslizava a mão pela parede da caixa, como se buscasse um contato mais próximo com o público.
A canção “Readymade” é mais voltada para o jazz, sendo perfeita para mostrar a habilidade vocal de Ado, que conseguia alternar entre notas altas e baixas em todas as músicas sem desafinar. Mesmo com toda a sua energia para dançar e cantar, parecia que nada fazia a artista se cansar ou diminuir a empolgação que entregava.
Sem muitas paradas, a apresentação continuou com “MIRROR”, “Charles”, “Elf”, “Value” e “Stay Gold”.
As canções de Ado são marcantes por serem agitadas e bem altas. Outro fator que ajudava a aumentar a animação eram seus músicos, que constantemente pulavam, dançavam e batiam palmas enquanto não estavam tocando. Algo que vinha principalmente do guitarrista, que estava sempre olhando os fãs e pedindo para eles baterem palmas ou cantarem juntos com ele.
O show já estava em sua metade, e sua segunda parte contou com “RuLe”, “Utakata Lullaby”, “Aishite Aishite Aishite”, “Gyakkou” e “Hibana”, canção que trazia o nome para a turnê.
“Hibana” significa faísca — um pequeno fragmento capaz de provocar um grande incêndio. Ado leva essa analogia para sua própria carreira, que ainda está no início, mas já mostra potencial para conquistas grandiosas, como sua primeira turnê mundial.
A cantora também apresenta a canção “Episode X” e, antes de “Odo”, inicia uma conversa com os fãs.
Primeiramente, Ado tenta se comunicar em português, dizendo, por exemplo, “Oi, Brasil”. Em seguida, arrisca algumas palavras em inglês, mas termina falando em japonês. Ela permanece cerca de 10 minutos interagindo com o público; alguns conseguem compreender suas palavras, enquanto a maioria apenas aplaude ou grita ao final de cada frase.
O pouco que consegui entender das mensagens é que ela gostava muito do Brasil e estava feliz por estar no país. A cantora comentou que o Brasil não era como a América, pois aqui tudo era lindo, e disse que havia provado açaí pela primeira vez, gostando muito. Ela também elogiou a comida brasileira e afirmou que, apesar do frio, conseguia sentir o calor do público.
Algumas frases apareciam legendadas atrás dela, explicando que aquela turnê era sua segunda, mas a primeira mundial, ou destacando a importância daquele álbum para ela. A cantora comentou que, mesmo que aquela “faísca” pudesse queimá-la, estava pronta para mergulhar totalmente no fogo, fazendo uma analogia entre o fogo e o sucesso no mundo da música. No entanto, a maior parte do que Ado disse ficou restrita àqueles que compreendem japonês.
Ela até fez uma brincadeira dizendo que era a última música dela e esperava que as pessoas falassem não, mas todos continuaram gritando animados. Ela riu disso sem entender que a maioria não sabia o que ela estava falando.
A cantora deixou o palco após “Odo”, mas ninguém na plateia se mexeu, aguardando seu retorno para o bis. Todos levantaram os lightsticks e gritavam o nome de Ado. Houve ainda uma brincadeira com o nome da artista e a música Quadrado, e muitos cantavam em coro: “Ado, aado, cada um no seu quadrado”.
Todas as luzes do palco se apagaram por alguns minutos, quando repentinamente a caixa da artista acende e aparece sua silhueta. Todos começam a gritar e as canções finais iriam ser tocadas: “ROCKSTAR”, “Chandelier” (cover de Sia) e “Shin Jidai” para encerrar aquela noite.
O show de Ado é uma experiência audiovisual única. Tudo é milimetricamente ensaiado e organizado para nos mergulhar em seu universo animado, repleto de sentimentos profundos. Confesso que senti falta de uma interação maior entre a artista e o público, já que ela permanecia o tempo todo em sua caixa, mas isso não impediu que os fãs tivessem uma vivência completamente especial.

Setlist Ado – 13/08/2025 – Espaço Unimed
- Usseewa
- Lucky Bruto
- Gira Gira
- Show
- Kura Kura
- Readymade
- MIRROR
- Charles
- Elf
- Value
- Stay Gold
- RuLe
- Utakata Lullaby
- Aishite Aishite Aishite
- Gyakkou
- Hibana
- Episode X
- Odo
Encore:
- ROCKSTAR
- Chandelier
- Shin Jidai
