Fotos por Amanda Sampaio
Expectativas não faltavam para a apresentação, com orquestra e gravação de material audiovisual oficial, da cantora finlandesa Tarja Turunen – ainda mais pela presença do ex-colega de Nightwish, Marko Hietala, que também faria um show acústico, que por motivos de força maior, acabou não acontecendo, no primeiro grande revés do dia. Tudo conspirava para uma apresentação histórica, ainda mais pela promessa de se redimirem do ano passado, quando acabaram a tour antecipadamente por conta de saúde, mas o que tivemos foi “mais um” show – competente, claro, como sempre, devemos dizer – de Tarja, como tantos outros, e uma orquestra que mais parecia enfeite, e problemas de som persistentes. Um show que podia ter sido um marco na carreira de ambos, mas não foi.
FILA QUILOMÉTRICA DURANTE A TARDE INDICAVA CASA CHEIA:
É simplesmente surreal a dedicação dos fãs de algumas bandas de metal sinfônico, em especial Nightwish e Tarja. Ainda próximo às 16h – a casa abriria apenas às 19h -, a fila dobrava a esquina do Tokio Marine Hall, com a calçada tomada por gente em seus visuais “góticos” e camisetas de diversas bandas sinfônicas. Muitos, claro, estavam ali por nostalgia, e algumas pessoas com quem conversamos falavam claramente que a presença do baixista e vocalista Marko Hietala tinha sido o real motivo de terem ido ao show – compreensível, pois ano após ano, a cantora está no Brasil incansavelmente, para alegria dos fãs -, e a vontade de ouvir clássicos como “Wish I Had an Angel” e “Wishmaster” falou alto! Falo por mim, inclusive, como um fã incondicional de Nightwish que sou, a perspectiva de ouvir essa dupla junta novamente, com gravação de material oficial ao vivo, orquestra, e clássicos que vi com eles em 2005, no Live N Louder, foi um motivo de animação.
Apesar do horário ruim, levando em conta que seriam, em tese, três bandas tocando, pontualmente as portas abriram, e a fila andou rapidamente e sem problemas. Nota dez para a organização e para a educação dos fãs.
MADZILLA – UM SHOW SEM SENTIDO DE UMA BOA BANDA:
Equatorianos, mas radicados em Las Vegas, o Madzilla, banda chamada para a abertura do evento tem grandes músicos! A guitarrista americana Sarah Dugdale, que recém entrou na banda, mostrou-se, para todos os efeitos, uma grande shredder, e seus colegas do Equador não ficam atrás, tocando finamente seus instrumentos. Se estivéssemos em um show de thrash metal, eles teriam dado aula! Mas a noite, com dois dos maiores ícones do metal sinfônico do mundo, deixou a apresentação deslocada, e mesmo com tocando apenas cinco músicas, em um limitado tempo de palco, mais cansou que animou a galera presente. Infelizmente, a banda certa para o evento errado. Mesmo assim, é interessante conhecer seu som, em estúdio, com a cabeça aberta para um som mais pesado, mais próximo do metal “pesado”, por assim dizer – em uma ocasião mais pertinente, esse show poderia ter sido um destaque, até pela simpatia do vocalista e guitarrista David Cabrezas, que claramente se esforçou para agitar, interagir em português, e agradar os (ainda poucos) presentes.
SHOW DE MARKO HIETALA É CANCELADO POR MOTIVOS DE SAÚDE, NO GRANDE REVÉS DA NOITE:
Como dissemos, não era incomum quem estivesse no show especialmente – ou até unicamente – para ver o show do ex-Nightwish Marko Hietala. As expectativas para o show dele eram enormes, quiçá maiores que pelo show de Tarja. Mesmo sendo um show acústico, a ideia de ouvir “The Islander” novamente ao vivo, na voz do próprio, era animadora. Infelizmente, tudo desmoronou rapidamente.
Já com atraso para o show, um dos produtores do evento subiu ao palco e avisou a todos que o cantor, por motivos de saúde (não citados) não poderia se apresentar. Ele estava, segundo falaram, sendo atendido por médicos no momento, e algumas pessoas relataram ter visto o guitarrista Tuomas Wäinölä deixando o lugar, claramente frustrado. Nos telões pela casa, a mensagem do cancelamento estava estampada, e foi anunciado, também, o reembolso do ingresso para aqueles que desejassem. Um triste momento, que deixou a noite mais triste. Ainda havia, porém, segundo falaram, a possibilidade do cantor participar do show de Tarja – o que, de fato, aconteceu!
TARJA TURUNEN, A VOZ ORIGINAL DO NIGHTWISH, ENTREGA UM SHOW COM ÓTIMA PERFORMANCE, ATRAPALHADO POR PROBLEMAS DE SOM E ORQUESTRA SUBUTILIZADA:
Não me entendam mal: Tarja sempre faz um baita show! É incrível como a voz da cantora não envelhece, não perde potência, e seu carisma no palco é algo contagiante. Merecidamente, uma das mais renomadas e queridas vocalistas do gênero mundialmente. Mas, verdade seja dita, houve um marketing enorme em cima de apresentação com orquestra, e pelo fato de estar tocando músicas do Nightwish com Marko Hietala, então esperava-se algo grandioso – maior que o normal. No fim, tivemos apenas mais um bom show da cantora, como temos todos os anos quase incessantemente ano após ano.
Casa cheia, onde mal se conseguia andar no Tokio Marine Hall, devemos fazer um comentário sobre o tamanho da pista comum e da pista vip: a parte “vip” ocupava quase todo o lugar, e apenas uma faixa minúscula servia como “comum”. Não deveria ser o contrário? Bem, é uma escolha bem duvidosa da produção. De qualquer forma, a lotação da casa estava quase completa, e após mais de duas horas após o fim do Madzilla, levando em conta o cancelamento do acústico de Marko, além de quase quarenta minutos de atraso por si só, finalmente as luzes se apagam, e logo a cantora, sua banda, e orquestra, nos agraciaram com sua presença!

Abriram a noite com “Eye of the Storm”, e imediatamente tocaram a ótima “In for a Kill”. A banda impecável, com músicos de primeiríssima linha, não decepcionou, mas já podia se perceber que a orquestra estava mal microfonada, e os poucos momentos que eram ouvidos, era quando a banda parava de tocar e apenas as partes orquestrais soavam – nas partes pesadas, era quase impossível ouvir as cordas. A partir da terceira música, “Undertaker”, aparentemente ajustaram o som da orquestra, mas isso tornou as guitarras quase inaudíveis, e o baixo encobria completamente o resto – às vezes, até a voz de Tarja ficava encoberta por baixo e bumbo da bateria. Esses dois problemas se alternaram durante boa parte do show.
A primeira parte do show foi somente de músicas da carreira solo da cantora, e percebia-se que a maior parte do público não ligava muito para elas. A coisa mudou quando, após “Victim of Ritual”, os instrumentos elétricos foram deixados de lado, e com violões, e a presença do ex-guitarrista do Megadeth e Angra, o brasileiro Kiko Loureiro, fizeram um cover “estranho” de “Ovelha Negra” de Rita Lee. A versão realmente não casou com vocais líricos, e o violão de Kiko apresentou problemas. Além disso, a orquestra, nessa parte quase toda, estava apenas enfeitando o palco, e podíamos ver o maestro simplesmente filmando o show de seu celular.

O momento que todos esperavam chegou, e finalmente subiu ao palco Marko Hietala! O vocalista pediu desculpas pelo cancelamento de seu show, e agradeceu, em especial, a equipe médica que o atendeu. Juntos, eles cantaram um medley de “The Crying Moon”, “Feel for You” e “Eagle Eye” também em versão acústica, uma versão também acústica de “Higher Than Hope”, a primeira do Nightwish, e uma música do último disco de Marko, “Left on Mars”. Aplaudidos, anunciaram, então, a próxima, agora com banda completa, e finalmente veio Nightwish em sua forma pesada! Nada menos que a fantástica, e há muito esquecida em shows, “Slaying the Dreamer” do álbum Century Child, o primeiro que gravaram juntos. Após mais uma da carreira solo de Tarja, “Silent Masquerade”, mais um momento de derramar lágrimas, com o hit “Wishmaster”! O vocalista agradeceu a colega, e saiu do palco ovacionado. Cantora, banda e orquestra saíram do palco após “I Walk Alone”, seu primeiro single solo, mas é claro que não pararia ali, não é?
Banda e cantora de volta ao palco, mas, curiosamente, a orquestra, não! Por algum motivo, o bis foi feito apenas com a banda. Triste, embora, de toda forma, não estivesse fazendo tanta diferença. A boa canção “Dead Promises” e, logo depois, uma das músicas mais famosas de sua carreira, novamente com Marko no palco, “Wish I Had an Angel” levou os fãs à loucura, e mostrou que Tarja deveria apostar mais na nostalgia, pois é o que a maior parte do público quer ver! O show, num geral bom, mas abaixo do que poderia, acabou com “Until My Last Breath”, e a carismática cantora e sua banda saíram ovacionados, mas havia uma grande sensação de faltar algo – no caso, durante toda a apresentação a música “Phantom of the Opera”, clássico dessa dupla, foi pedida incessantemente pelos fãs, mas o pedido não foi atendido.

No geral, quem foi não pode dizer que viu uma apresentação ruim – longe disso. Ao mesmo tempo, impossível colocar esse no rol dos grandes shows do ano, por conta dos diversos problemas, escolhas duvidosas de setlist, uma orquestra mal aproveitada e com péssima microfonação, e o desperdício de Kiko Loureiro tocando apenas violão, e especialmente pelo show de Marko que foi cancelado.
Para quem queria ver a cantora finlandesa dar um show com sua incrível voz, e desfilar simpatia e técnica, missão cumprida. Para quem esperava um espetáculo diferente, único e icônico, bem, fica para a próxima. Vamos dizer que, pelo contexto geral, um show “nota 7”.
Setlist:
Eye of the Storm
In for a Kill
Undertaker
Sing for Me
Deliverance
Demons in You
Victim of Ritual
Ovelha Negra
The Crying Moon/Feel for You/Eagle Eye
Higher Than Hope
Left on Mars
Slaying the Dreamer
Silent Masquerade
Wishmaster
I Walk Alone
Dead Promises
Wish I Had an Angel
Until My Last Breath