Miss May I celebra 15 anos de metalcore com energia contagiante em São Paulo -

Fotos por Gus Palma

Na noite fria de quinta-feira (29), São Paulo viveu uma daquelas experiências que renovam a paixão pela música ao vivo. O Miss May I desembarcou no Brasil para uma única apresentação, encerrando um hiato de 13 anos desde sua última passagem por aqui. O show, realizado no City Lights, em Pinheiros, foi uma celebração à trajetória de 15 anos da banda de Ohio e um presente aguardado ansiosamente por fãs que formaram filas desde o final da tarde.

A noite começou com um aquecimento de peso. O Into the Void, banda de deathcore de Piracicaba, abriu o palco com riffs agressivos e breakdowns implacáveis que fizeram a temperatura subir. Músicas como “Burn” e “Desolation” mostraram a força do grupo e contaram com um momento especial: André Barrial, vocalista da Fim da Aurora, subiu ao palco para uma participação explosiva, arrancando aplausos e gritos de aprovação da plateia. A banda parece que saiu diretamente de 2009 onde o MySpace reinava.

Em seguida, foi a vez do John Wayne, uma das maiores referências do metalcore nacional. O grupo paulista entrou em cena e não deu descanso aos presentes: “Aliança” e “Reconectar” foram pontos altos que uniram todos em um só coro, mostrando o poder das letras cantadas em português e a capacidade de mobilizar uma legião de fãs. As participações especiais de Daniel Martins (Into The Void), Milton Aguiar (Bayside Kings) e André Barrial adicionaram ainda mais energia à apresentação, simbolizando a força e a amizade que unem a cena underground.

Quando finalmente chegou a hora do Miss May I subir ao palco, a ansiedade transformou-se em um turbilhão de emoção. A banda abriu o set com “At Heart”, um hino que dispensa apresentações. Sob as luzes vermelhas e o som ensurdecedor dos primeiros acordes de “Hey Mister”, Levi Benton assumiu o microfone com um sorriso largo e uma presença magnética. O público respondeu à altura, cantando cada palavra e criando um mar de braços erguidos, moshpits e stage dives que pareciam não ter fim.

Durante pouco mais de uma hora, o Miss May I revisitou todas as fases de sua carreira. Clássicos como “Relentless Chaos” e “Forgive and Forget” resgataram memórias de fãs que acompanham a banda desde os primeiros álbuns, enquanto músicas mais recentes como “Unconquered” e “Into Oblivion” mostraram que o grupo continua evoluindo, sem perder a essência do metalcore melódico que os consagrou.

Mas o que mais impressionou foi a entrega emocional dos músicos. Levi Benton, sempre interativo, agradeceu várias vezes pelo carinho do público brasileiro, dizendo que o show era um sonho antigo que finalmente se concretizava. Ryan Neff, equilibrando a brutalidade dos vocais guturais com linhas melódicas que arrepiaram a espinha de muitos, era a personificação de tudo o que faz o metalcore ser tão apaixonante: peso, melodia e sinceridade.

A cada pausa para água ou troca de olhares entre os integrantes, a banda demonstrava que não estava apenas cumprindo uma data*+9 de turnê: estavam ali para celebrar uma história de 15 anos construída com suor, dedicação e uma base de fãs que atravessou oceanos e esperou mais de uma década para poder cantar junto novamente.

O encerramento do show foi uma catarse coletiva. “Shadows Inside” fechou a noite com chave de ouro, deixando no ar a certeza de que a conexão entre Miss May I e seu público brasileiro vai muito além da música — é uma relação de respeito, admiração e paixão que só quem esteve ali pode descrever. Mesmo com um setlist conciso, a energia trocada entre banda e plateia foi intensa o suficiente para preencher qualquer lacuna.

Ao sair do City Lights, ainda com os ouvidos zunindo e o coração acelerado, era impossível não pensar em como a música ao vivo — e especialmente o metalcore — tem esse poder de unir pessoas, de dar voz a sentimentos que muitas vezes ficam guardados. E o Miss May I, com toda sua história e entrega, mostrou que essa chama do metalcore continua viva e pronta para queimar por muitos anos mais.