Misturando diferentes gerações em um curadoria diferenciada, o C6 Fest se consolida como um dos festivais mais interessantes de São Paulo e entrega performances emocionantes e inesquecíveis na edição de 2025
Fotos por André Santos
A terceira edição do C6 Fest, que aconteceu no Parque Ibirapuera (SP) de 22 a 25 de maio, consolidou o evento como um dos festivais mais interessantes e completos do circuito. Com uma curadoria impecável, um line-up sólido e performances memoráveis, o C6 se destacou na concorrida agenda de festivais, que se torna cada vez mais frenética e intensa nos últimos anos.
O festival aproveita muito bem o espaço do Ibirapuera, com banheiros, pontos de hidratação e restaurantes de fácil acesso, além de locais de descanso. Tudo muito bem sinalizado e com profissionais qualificados à disposição do público. Outro ponto que merece destaque é a pontualidade dos shows, algo que geralmente é um problema em grandes festivais. A curadoria do C6 também é outro ponto fora da curva, misturando gerações, mesclando o clássico com o contemporâneo e evitando se repetir. A distância entre os palcos segue sendo um dos “problemas”, assim como o conflito de horário entre alguns shows de destaque — algo que gerou muitos comentários durante a divulgação da grade e levou a organização a realizar ajustes com base no feedback do público.
Falando das apresentações, o Sonoridade Underground esteve presente no festival nos dias 24 e 25 de maio e vai compartilhar as impressões sobre os shows que tivemos a oportunidade de presenciar na terceira edição do C6 Fest.
Beach Weather mostra o poder de seu indie pop para público tímido e reduzido
O Beach Weather foi o responsável por abrir os trabalhos na Arena Heineken. A banda, liderada pelo vocalista e guitarrista Nick Santino — também conhecido por seu trabalho com a banda A Rocket to the Moon —, trouxe o poder do seu indie pop para um público reduzido e tímido. Apesar de pegar o movimento fraco do início do festival, a banda entregou uma performance bem honesta e pareceu aproveitar bem seu tempo de palco, divertindo-se com os fãs colados na grade. Ao longo da apresentação, o Beach Weather conseguiu até mesmo colocar alguns curiosos para mexer o corpo ao som de músicas como “Unlovable” e “Hardcore Romance”. Nick ainda brincou com o público, dizendo que estava sentindo o cheiro forte de erva no ar e que eles eram “pessoas más”. Um começo agradável e gostoso na Arena Heineken.
Stephen Sanchez esquenta o final de tarde com muito folk e rockabilly
O cantor e compositor de Nashville, que vem se destacando no cenário musical desde o lançamento de seu primeiro EP What Was, Not Now (2021), chegou para esquentar o festival com suas canções calcadas no folk e rockabilly. Stephen Sanchez soube prender a atenção do considerável público que se posicionava em frente a Arena Heineken. O músico foi consistente em sua performance, além de mostrar muito carisma e alegria em estar tocando no Brasil. Sanchez ainda transportou o público diretamente para os anos 60 com um cover certeiro de “Oh, Pretty Woman”, do saudoso Roy Orbison, mostrando como o rock n’ roll clássico é uma de suas maiores influências. Stephen encerrou o show de forma explosiva, indo até a grade para cantar o final da canção “Shake” com o público, que se empolgou com a entrega do cantor.
Gossip entrega um dos melhores shows do C6 Fest e transforma o palco em uma verdadeira pista de dança
A Tenda MetLife estava lotada para o show do Gossip. Quem acabou trocando o show do The Pretenders pelo da banda liderada pela carismática Beth Ditto, presenciou um dos melhores (se não o melhor) shows da terceira edição do festival. A banda incendiou o palco da Tenda Metlife desde o início de “Listen Up!” até o último momento de “Heavy Cross”. O festival virou uma verdadeira pista de dança e ao final de cada música, o público gritava e aplaudia com tanta intensidade que Beth ficava emocionada e impressionada. A vocalista chegou a perguntar para a plateia se não queriam ver o Pretenders e disse que ficou com o coração partido com a resposta, já que ela queria ver o show.
A vocalista relembrou que o Gossip tem 26 anos e que ela está com 44 anos, afirmando que nunca esteve melhor. Sua performance vocal e presença de palco são fora de série, deixando o público atordoado a cada música. Dançando sem parar, Beth contagiava os fãs, que cantavam emocionados e empolgados durante toda a apresentação. No meio da canção “Standing in the Way of Control”, Beth cantou um trecho de “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana, e aproveitou para dizer enquanto segurava a bandeira LGBTQIA+ que não existem direitos gays sem diretores trans e que não existe feminismo sem feminismo trans. Um show explosivo e contagiante, que mostrou toda a potência musical do Gossip.
AIR hipnotiza o público com apresentação memorável ao performar o álbum Moon Safari na íntegra
O show do AIR era um dos mais esperados da terceira edição do C6 Fest. Com a proposta de tocar o icônico Moon Safari na íntegra, a influente dupla francesa formada por Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel hipnotizou o público do festival com sua performance que exaltava a sofisticação da música eletrônica e do experimentalismo. Com um show atmosférico e centrado, o duo deixou a plateia impressionada com sua perfeição, chegando a arrancar comentários como “é igualzinho o disco de estúdio”.
As projeções do telão ajudaram a complementar a experiência, deixando tudo mais imersivo e transmitindo para os fãs a sensação de estar presenciando uma oportunidade única e sem igual. O público estava conectado com o AIR de uma maneira pouco vista em grandes festivais, onde a plateia podia estar mais dispersa e desinteressada ao final do evento, o que realmente não era o caso. Um show memorável e irretocável que encerrou com maestria um dos dias mais interessantes do festival.
The Last Dinner Party faz estreia poderosa e calorosa no Brasil no palco do C6 Fest
Apesar de ser uma banda nova, formada em 2021, o The Last Dinner Party já conquistou um público fiel e engajado. A Tenda MetLife estava tomada pelos fãs do grupo, que tiveram uma recepção extremamente calorosa ao subir ao palco em sua estreia no Brasil. O público cantou as músicas com a intensidade que só os fãs brasileiros são capazes de entregar, deixando os integrantes da banda muito felizes, que chegaram a comentar sobre a fama da plateia brasileira por sua energia contagiante.
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A vocalista Abigail Morris mostrou todo o seu carisma e satisfação em fazer sua estreia em terras brasileiras. Dançando e entregando uma performance vocal muito consistente, Abigail entregou uma ótima presença de palco. A banda, que mistura influências de glam rock, música clássica e new wave, fez uma apresentação poderosa, surpreendendo até mesmo alguns fãs de Wilco, que chegaram cedo na Tenda MetLife para garantir um lugar privilegiado para o show seguinte. “Burn Alive”, “Caeser on a TV Screen” e “Nothing Matters” foram alguns destaques do show, assim como o cover de “Call Me”, do Blondie. Uma grata surpresa no line up da terceira edição do festival.
Wilco entrega performance bela e emocionante para público devoto, em um dos shows mais esperados do festival
O retorno do Wilco ao Brasil era facilmente um dos momentos mais aguardados do C6 Fest 2025. A última passagem do influente grupo indie foi em 2016, tempo suficiente para deixar os fãs com saudade. Após o show do The Last Dinner Party, a Tenda MetLife foi completamente tomada pelos devotos do Wilco, mostrando que talvez esse show merecesse um espaço maior como a Arena Heineken. Quando a banda finalmente subiu ao palco, a noite já estava ganha. Mas nem por isso o Wilco entregou menos do que o público merecia. Muito pelo contrário. A apresentação da banda foi uma das mais belas e emocionantes do festival.
Desde os primeiros acordes de “Company in My Back” até os últimos de “Spiders (Kidsmoke)”, os fãs aproveitaram ao máximo o momento, cantando todas as músicas, aplaudindo e gritando ao final de cada canção. A conexão entre público e banda era algo muito belo, mostrando que não havia nenhum “turista” perdido por ali, apenas apaixonados por uma das bandas mais importantes do indie e do rock alternativo. O vocalista Jeff Tweedy ficou emocionado com a entrega dos fãs e deixou claro que era uma noite especial. O perfil intimista da banda e de suas canções não impediu o show de ser intenso, principalmente pela performance do guitarrista Nels Cline, que trazia boas doses de barulho para o show. Fica até difícil destacar momentos de uma performance tão “redondinha”, mas “Impossible Germany”, “Jesus, Etc .” e “Handshake Drugs” foram momentos muito especiais. Facilmente um dos destaques do festival.
Nile Rodgers & Chic desfila hits em show contagiante e mostra porque é um lenda viva da música
Ver um músico do calibre de Nile Rodgers ao vivo é um privilégio. Acompanhado pelo Chic, o músico consegue colocar qualquer público para dançar ao som de sucessos como “Le Freak”, “We Are Family” (Sister Sledge), “Get Lucky” (Daft Punk), “Notorious” (Duran Duran) e “Let’s Dance” (David Bowie). E na Arena Heineken não foi diferente. Nile faz parecer fácil dominar a guitarra e comandar a plateia como ele faz. O músico, que é uma referência gigantesca no mundo da música, tendo produzido canções para artistas como Madonna, Beyoncé, Duran Duran, David Bowie, entre outros, interage com o público várias vezes ao longo do show, compartilhando histórias de sua vida, criando uma conexão verdadeira e honesta com os fãs.
Falar que o show do Nile Rodgers & Chic foi excelente é chover no molhado. O músico tem total domínio do palco e uma sinergia fora de série com seus músicos. Acompanhado de um time extremamente competente, Nile entrega um show que é um verdadeiro deleite para os apreciadores da boa música. É impossível você não se divertir e ao mesmo tempo se impressionar com sua performance. Encerrar o festival com um show do Nile Rodgers e Chic foi um tremendo acerto do C6, reforçando que a curadoria do evento é diferenciada e preza pela qualidade musical sempre.
O C6 Fest entregou mais uma edição memorável, mesclando gerações e entregando shows inesquecíveis. Com poucos pontos negativos, o festival se consolida como um dos mais interessantes do circuito e cria altas expectativas para a edição de 2026.