Touché Amoré faz show enérgico e impecável em uma noite sold out

Banda californiana não poupa emoção e entrega em sua passagem pelo Brasil

Texto por Raíssa Corrêa e Fotos Pedro Henrique

Como prometido e esperado pelos fãs, o retorno do Touché Amoré ao Brasil não passou despercebido. Com ingressos Sold out, no último sábado (10), quem esteve presente na City Lights — casa de shows localizada em Pinheiros —  testemunhou não apenas um show, mas um espetáculo fora de série. A superlotação do lugar foi um bônus na já sensacional apresentação da banda californiana de post- hardcore. O que se via eram fãs apaixonados, dispostos a transformar aquele momento em algo histórico (e foi!). Sem medidas, a conexão entre banda e público foi de arrepiar. 

O clima em SP estava como o habitual: uma chuvinha chata, um frio tímido e uma movimentação não muito intensa para um sábado à noite. Parecia tranquilo nos arredores da City Lights. A casa abriu suas portas às 17h, e, enquanto a DJ Beatriz Vaccari (Downstage/Banda de Casinha) aquecia o local, o público chegava tranquilo. Aos poucos, os espaços na frente do palco estavam sendo preenchidos, com todos animados, porém contidos, para um comecinho de noite.

Janeiro Industrial: A tristeza ficou apenas nas letras

Pontualmente às 18h, a Janeiro Industrial, banda de Sorocaba que diz trazer “músicas tristes para dançar”, iniciou os trabalhos da noite. Com alguns fãs os apoiando na ponta do palco, a banda entregou melancolia e sentimento em 

suas letras intensas e dolorosas. Mas, apesar disso, nada de tristeza nessa noite especial: a todo momento, os integrantes agradeciam a oportunidade de estar ali. Em destaque, o baterista Yuri Naoto — que ensaiou apenas dois dias antes do show e assumiu as baquetas pouco tempo antes —  não economizou e, mesmo com um setlist curtinho, fez o momento da banda se tornar ainda mais especial. 

Com 7 músicas, a Janeiro Industrial mostrou para o que veio e deixou um gosto de “precisamos ver mais” e dançar esse sofrimento em outras oportunidades.

Setlist:

Janeiro Industrial – City Lights 10/05/2025

01 – Deitou sem sono (…dessa vez não foi tão mal)

02 – Medianeiras 

03 – Todo

04 – Olvidar

05 – Sorocaba, 2021

06 – Supernova 

07 – Meia noite 

De Carne e Flor deixando o clima aquecido

Seguindo a programação da noite, De  Carne e Flor seguiu o cronograma e não atrasou nenhum minuto. Neste momento, a casa já estava com um público maior— ainda sem atingir seu ápice —, mas já se podia notar que as linhas daquele dia seriam escritas por um público bem intenso. 

A interação com a banda de post-hardcore paulistana era forte. Era possível escutar, ao final de cada música, comentários como “essa música é linda”, “incrível” e outros tantos elogios que elevavam a qualidade do grupo e exaltava a entrega que os integrantes apresentavam em cima do palco, sem economizar. O vocalista Bruno Araújo — que, em muitos momentos, lembra Renato Russo — se entregava de corpo e alma, deixando o clima mais acalorado e intenso, preparando com cuidado e muito sentimento a chegada dos anfitriões da noite.

Setlist

De Carne e flor – City Lights 10/05/2025

01 – A última canção do mundo não é essa

02 – A âncora que jogamos

03 – Nas poças se transforma

04 – Furores perdidos

05 – Orquídea 

06 – De um teto não familiar

07 – Sinos

08 – Teto, parte ll

O Furacão Touché Amoré passou e deixou marcas

Assim que terminou a performance da De Carne e Flor, a City Lights já estava lotada, com pouquíssimos espaços vazios. Muitas pessoas desciam do mezanino e se apertavam o mais próximo que podiam  do palco. Já outras, subiam na esperança de conseguir ter uma visão melhor do que estava prestes a acontecer. Com um breve atraso de 15 minutos, o que se escutava era um alto e sonoro “Olé, Olé, Olé, Touché, Touché”

O ambiente estava totalmente tomado pela expectativa, ansiedade, euforia e emoção. Bruno Genaro — responsável pela produtora NDP — deu uma tranquilizada no público quando subiu ao palco para passar alguns recados e pedir que espaços fossem disponibilizados, já que ainda havia pessoas na fila esperando para entrar. Foi aí que percebemos o impacto de um show completamente lotado — o verdadeiro significado de um Sold Out. 

Não tinha espaço e  se movimentar era uma tarefa complicada. Ainda assim, a emoção estava à flor da pele — e foi nesse ambiente e clima que Jeremy Bolm (voz), Elliot Babin (bateria), Tyler Kirby (baixo), Clayton Stevens (guitarra/violão), Nick Steinhardt (guitarra/violão) subiram ao palco, causando simplesmente um alvoroço descontrolado já nos primeiros acordes. O mezanino tremia, e a sequência de stage dives era constante. “Tilde” era cantada com uma emoção fora do normal — todos queriam compartilhar aquele momento com o vocalista, que andava de um lado para o outro no palco e levava o microfone ao público a todo momento. 

Se as letras das músicas do Touché Amoré demonstram melancolia e a dor elevada ao extremo, a entrega no palco não deixa nada a desejar. A cada música, a sensação de elevação do clima era maior — e, em muitos momentos, parecia que o ápice havia sido alcançado. Mas não, ainda não. 

Mesclando seus maiores hits com as músicas de seu último trabalho, Spiral in a Straight Line (2024), cada faixa parecia um catarse, como se Jeremy lavasse não só sua alma, mas a de todos presentes na casa. “Nobody’s”, “Green”, “Praise/love” eram cantadas com tamanha intensidade que um soco no estômago doeria menos.

Em poucas palavras, Jeremy agradecia por aquele momento e demonstrava não acreditar na entrega que estava acontecendo ali. Quase não se sentia o chão da City Lights — e ninguém, absolutamente ninguém, gostaria de estar em outro lugar. Todos estavam anestesiados com o furacão Touché Amoré. O momento épico chegou quando “Honest Sleep” — um dos maiores sucessos da banda, presente no álbum autointitulado de 2008 — deu seus primeiros acordes, e o coro ficou tão alto, tão intenso, que mal se escutava os riffs. O público escalava um por cima do outro para atingir o microfone de Jeremy, que  colocava na altura de quem estava próximo ao palco, em uma mistura de emoção e de “só se vive uma vez”.

Os outros integrantes da banda olhavam anestesiados, não muito diferentes do vocalista, e cantavam todos em uma só voz. Com um setlist de 21 músicas, executadas tecnicamente e emocionalmente em perfeita simetria, a banda deixou para o finalzinho seu maior sucesso. A mais aguardada por todos, “Flowers and You”, foi precedida por um discurso comovente de Jeremy sobre o significado, impacto e importância do Dia das Mães, data que seria celebrada no dia seguinte ao show. Foi tão sublime que muitas pessoas choravam por estar vivendo aquele momento. Quem não chorou, com certeza, estava com os olhos marejados. A conexão do público com a banda era tão intensa que, em alguns momentos, não se distinguia banda e fãs — eram todos iguais, dividindo as mesmas angústias e dor naquele momento, que mais parecia uma terapia em grupo. Um momento único, que se transformou em um coro sonoro no final da música, fechando com chave de ouro essa breve passagem da banda por solos paulistanos.

O retorno do Touché Amoré ao Brasil foi um momento extremamente aguardado, desde o anúncio da turnê até segundo antes de começar o show. A ansiedade tomou conta de todo mundo. Foi incrível, histórico e, até o momento, um dos melhores shows do ano. Na saída, ninguém queria ir embora. A despedida foi dolorosa, e o que esperamos é que eles retornem em breve para que possamos, novamente, ter esse momento especial em nossa vida e memória mais vezes.

Setlist:

Touché Amoré – City Lights 10/05/2025

01 – Tilde

02 – New Halloween 

03 – Nobody’s

04 – Green

05 – Amends

06 – Praise/love

07 – Reminders 

08 – Hal Ashby

09 – Home away from here

10 – Disasters 

11 – Harbor 

12 – And now it’s happening in mine

13 – Uppers/downers 

14 – Come heroine 

15 – Just exist 

16 – Pathfinder

17 – Palm Dreams

18 – Rapture

19 – Limelight

20 – Honest Sleep 

21 – Flowers and you 

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