Apreensão. Revolta. Polêmica. Muita polêmica!
Texto por Fernando Queiroz (@fer_nando_nwl) e fotos gentilmente cedidas pela revista Roadie Crew (@roadiecrewmag) e André Santos (@andresantos_mnp)
Basicamente foi isso que tivemos na semana que antecedeu o que teria sido o M.A.D. Metal Fest, um evento agendado desde o ano passado, que contava com muitas grandes bandas de Black Metal, inclusive ambas principais da noite que ocorreu. Nargaroth, Opera IX, Yoth Iria são alguns dos nomes que se apresentariam, mas esses, infelizmente, não nos agraciaram com sua presença na noite.
Após o cancelamento do evento supracitado, o que nos restou foram Dark Funeral e Besatt, além dos brasileiros Mystifier e Luxúria de Lilith. Para complementar, tivemos a presença da banda mexicana Suicidal Nazareth.
O evento diminuto, em comparação ao que seria, no fim das contas aconteceu sem maiores problemas!
FILA PEQUENA, PÚBLICO FIEL:
É comum em shows com bandas menores abrindo, muita gente chegar mais para o fim do evento, para ver as bandas principais. Dito isso, foi exatamente o que tivemos naquele começo de tarde absurdamente quente e ensolarado. A fila, cerca de meia hora antes do show, era pequena, com muita gente espalhada pela calçada, e bastante movimentação no bar à frente da VIP Station. O público presente, porém, era claramente fiel ao gênero – camisas de bandas que iriam tocar, e de outras representantes do gênero eram abundantes. O assunto, invariavelmente, era o mesmo: a polêmica do festival cancelado, com algumas pessoas mais inteiradas sobre o assunto, outras menos, mas todos lamentavam o ocorrido. Não faltaram palavras de ofensa ao produtor do citado evento, nem as de indignação por termos um cast tão diminuto. Claro, era unânime aquele “bom, pelo menos teremos show, não é?” E de fato, depois de tudo aquilo, como o título do texto mesmo diz, era um show que não deveria ter acontecido – e até dois dias antes realmente não aconteceria. Se têm razão em culpar o tal produtor ou não, não nos cabe aqui julgar, é algo que deixamos para cada um de vocês tirar suas próprias conclusões. De qualquer forma, quase pontualmente, às 13h, a casa abriu, e a fila começou a andar. Pouco a pouco, todos que estavam no bar foram entrando.
Dentro da VIP Station, aos poucos o público ia aumentando. Não era show, claramente, de lotação total, muito menos para as primeiras bandas, mas via-se que, de qualquer forma, não seria um show ‘flopado’. As bancas de merch de todas as bandas era onde se concentrava uma boa parcela do público, que compravam material de todos os artistas presentes, em especial, claro do Dark Funeral, os suecos que seriam a atração principal.
LUXÚRIA DE LILLITH ABRE A NOITE DE FORMA PESADA:
Em uma inesperada troca de ordem – O Suicidal Nazareth era previsto para abrir o evento – os brasileiros do Luxúria De Lillith abriram a tarde com cerca de cinco minutos de atraso, às 14h10. Os goianos liderados pelo vocalista Drakkar trouxeram seu black metal de certa forma melódico e obscuro, com letras em português, para uma apresentação de cerca de uma hora. Velhos conhecidos do público, a tradicional banda não desapontou, como sempre, e durante toda a apresentação foram ovacionados pela ainda pequena plateia, que parecia um pouco confusa com a mudança de ordem, mas nem por isso se deixou intimidar. O som era decente, e a iluminação ajudou na apresentação, que parecia realmente trazer alívio a todos, vendo realmente o evento acontecer. Saíram, claro, ovacionados do palco.
SUICIDAL NAZARETH ERA O DESCONHECIDO DA NOITE, MAS FEZ SEU TRABALHO DIGNAMENTE:
É bem verdade que muita gente que chegava no horário da apresentação dos mexicanos estava, na verdade, querendo ver a banda anterior, por conta do horário anunciado anteriormente – alguns, inclusive, ficaram um bocado decepcionados. Apesar disso, não se intimidaram, e com seu som bem mais cru, reto e direto, e até mais agressivo, levantaram um público complicado de se lidar, e em também cerca de uma hora de apresentação, não fizeram feio. As letras em castelhano eram bem distinguidas pelo ótimo gutural do vocalista Lord Babatis.
A banda foi respeitada pelo público durante toda a apresentação, mas o desconhecimento sobre a banda impediu um maior entusiasmo do público presente, ainda não em grande número, não chegando a metade da VIP Station cheia.
Aplaudidos, saíram dignamente do palco sob aplausos, embora, pelo que se podia ouvir pelo local após a apresentação, não tenham agradado a todos.
MYSTIFIER TOCA COM POLÊMICA NAS COSTAS, E FAZ APRESENTAÇÃO ENÉRGICA:
A banda baiana que esteve no centro da polêmica com o produtor do festival cancelado foi a próxima a entrar no palco. Pegando gancho da notoriedade que conseguiram com a briga, no palco o guitarrista Beelzeebubth já chegou ao microfone chamando o tal produtor de estelionatário, mas dizendo que iriam entregar a apresentação, para jogar lenha na fogueira. No público, pessoas com camisetas com o rosto do produtor cortadas ajudavam a alimentar a coisa. Como dissemos, não é nosso papel dizer quem está certo ou errado na história – se é que há um certo naquele caos. Com isso, a apresentação seguiu enérgica. Era aparente que a banda queria mais que nunca entregar seu melhor show possível, e tinha motivação para isso.
Mais cerca de uma hora de show foi suficiente para um set pesado, agressivo, de muito metal extremo tocado com competência. O público, que agora sim ia chegando em maior número, percebeu isso, e acompanhou a banda – bem, talvez não com o mesmo entusiasmo dos músicos, já que um show de black metal dificilmente é algo muito agitado por parte da plateia. De qualquer forma, entregaram um show competente, com bom som, e que faz jus à longa e bem sucedida carreira dos baianos. Mais uma banda que saiu ovacionada do palco.
BESATT, UMA DAS GRANDES ATRAÇÕES DA NOITE, MANTÉM A QUALIDADE:
Vindos da Polônia e, segundo relatos, tendo sido “resgatados” do aeroporto de Quito, no Equador, onde estavam ilhados sem passagem para vir, foi uma das bandas que muitos duvidaram que conseguiria de fato tocar naquele dia. Felizmente, lá estavam eles!
Ainda era dia quando tocava e, não, a casa não estava cheia. Muita gente, de fato, foi apenas para ver a atração principal. De qualquer forma, já mais da metade da casa estava completa.
Divulgando seu último trabalho, Supreme and True at Night, o repertório não se limitou a músicas recentes. Houve, na verdade, um passeio pela carreira da banda, que data de 1997 seu primeiro álbum. Por algum motivo, porém, o som dos poloneses não estava com a melhor qualidade. Muitas vezes microfones estourando, e guitarras muito estridentes. Era nítido, também, o cansaço já de boa parte do público, afinal, muitos ali tinham visto já três bandas, e estavam desde o começo da tarde de pé. Claramente, várias pessoas nem sequer conheciam a banda, mas se tem um público fiel é o do black metal. Aplausos e gritos tímidos de “Besatt” eram ouvidos entre as músicas, mostrando o respeito que tinham pela banda e, de boa parte, até a admiração. Quem não conhecia passou a conhecer uma ótima banda do gênero, mesmo que em ocasião não tão favorável. Um aquecimento fantástico, no fim das contas, para os headliners.
DARK FUNERAL ENTREGA TUDO QUE SE ESPERA, COM ÓTIMA PRODUÇÃO DE PALCO E SOM IMPECÁVEL:
A grande atração da noite! Sim, agora já escuro. Apesar do peso do nome e de sua história e popularidade, os suecos do Dark Funeral não foram suficientes para lotar a casa. Porém, não estava vazio. Pelo menos uns setenta por cento de lotação. Um ótimo feito, já que dois dias antes nem sequer se sabia se aconteceria o show – ainda mais se tratando de uma banda de um gênero que não costuma atrair públicos colossais.
O telão com o logo da banda foi ligado, a música ambiente cessou, e enfim começava a introdução do show, com algum atraso. Escuridão era o que víamos! Em momento quase nenhum se podia ver o rosto dos integrantes, em um breu só quebrado pelos fracos feixes de luz e a própria do telão. Algo bem condizente com a proposta da banda, o que víamos eram silhuetas no palco.

Abriram o show com a pesada “Nosferatu”, do último álbum We Are The Apocalypse, de 2022. Nosferatu, aliás, personagem que estampava ambos os lados do telão. Seguiram com o clássico “Atrum Regina”, uma das músicas mais curiosas da banda, pois apesar de pesada, tem até mesmo um toque “romântico”, vamos dizer assim.
Falar de peso em qualquer música da banda é redundante, pois não há um segundo de paz no show. O vocalista Heljarmadr se apresentou ao público, agradeceu, e seguiram seu set. “To Carve Another Wound” e a absurdamente agressiva “The Arrival Of Satan’s Empire” seguiram o ritmo acelerado. O público, aparentemente com energia renovada, gritava e fazia coros de “Dark Funeral” a todo momento, e a cada música anúnciada, como “Unchain My Soul”, era aquela gritaria de aclamação.

Uma das partes mais esperadas do show foi a segunda, onde tocaram na íntegra o EP In The Sign Of The Horns, que foi recentemente regravado. Um dos trabalhos mais aclamados da banda, foi o momento de tocar sem parar, sem descanso ou falatório. As quatro músicas retas e diretas.
Infelizmente, tudo que é bom dura pouco, e após o EP tocado, fizeram um encore. Agradeceram novamente o público, prometeram retornar, e foram para as saideiras: uma música do último disco, “Let The Evil In” e “Where Shadows Forever Reign”, um dos grandes sucessos da banda. Acabava, com cerca de uma hora apenas, o grande momento da noite.

APESAR DOS PESARES, O SHOW VALEU CADA CENTAVO:
Depois de toda apreensão e incerteza, o que tivemos foi um grande show. Quem utilizou o ingresso já comprado para o M.A.D. Metal Fest, que não ocorreu, sem dúvidas sentiu que valeu a pena manter e ir ao show diminuto. Som impecável, ambiente soturno e muito peso. Foi isso que vimos nesse dia quente de março!
Esperemos, agora, uma nova oportunidade de ver a banda com mais tempo de palco, e em circunstâncias menos polêmicas.
SET LIST:
Nosferatu
Atrum Regina
To Carve Another Wound
The Arrival of Satan’s Empire
When I’m Gone
As One We Shall Conquer
Unchain My Soul
Open the Gates
Shadows Over Transylvania
My Dark Desires
In the Sign of the Horns
Let the Devil In
Where Shadows Forever Reign