A textura pode ser fina, mas a casca é grossa!
Texto por Vagner Luís e Fotos por Amanda Sampaio
O heavy metal se tornou tão vasto que é impossível acompanharmos tantas bandas que surgem mundo afora… Mesmo que você possua um subgênero favorito, não há como conhecer tudo, o que é ótimo, pois, de tempos em tempos, conseguimos nos surpreender com algum nome “novo” aparecendo por São Paulo. Se você ainda não desistiu deste texto, a tradução do que foi dito até aqui é simples: este escriba não tem vergonha alguma em admitir que sequer havia ouvido falar da existência do Textures até o flyer de divulgação cair no colo…
E que grata surpresa podermos conferir o material dos caras, mesmo que o mais “recente” play do grupo de Tilburgo, na Holanda, seja Phenotype, de 2016. Pontualmente às 20:00, conforme anunciado, dispararam Shostakovich Beat como intro, composição do Messer Chups, dedicado à surf music e de São Petersburgo! Numa curta ambientação, os membros foram brotando em levas: primeiro Uri Dijk (teclados), Stef Broks (bateria) e Remko Tielemans (baixo) e depois Bart Hennephof e Joe Tal (guitarras) para juntos detonarem na instrumental Surreal State Of Enlightenment. Em português claro, uma puta viagem instrumental bem mais poderosa do que em Drawing Circles (06).

Do mesmo play e marcando a entrada de Daniël de Jongh (vocal), emendaram Regrenesis, bem mais abrasiva ao vivo e com linhas rasgadas lembrando Suicide Silence. Pulando para Sillhouettes (08), mandaram a pedrada Storm Warning e, praticamente sem pausa, fizeram a acessível Reaching Home, de Dualism (11). Finalmente chegando ao citado Phenotype, se saíram com New Horizons e quem esperava a manutenção da pegada cadenciada se enganou. Ela até soou maleável no começo, mas foi para agitar a dar com pau e só se recordar das dores na segunda-feira…
O que estava pesado ficou ainda melhor em outra patada, Old Days Born Anew, com o público confortavelmente espalhado pela pista numa “quase roda”. Com uma música praticamente colada à seguinte, o que fazia falta era justamente o fator às vezes usado em demasia por outros conjuntos e seus vocalistas: comunicação – não custava nada esticarem um pouco os intervalos para deixarem a galera gritar o nome da banda, soltarem alguma piada ou meramente se hidratarem.

E entenda bem: não é que Daniël tenha entrado mudo e saído calado, afinal de contas, ele até chegou a se dirigir aos fãs em dados momentos até então, porém, o conjunto invariavelmente optava por ir diretamente ao ponto, sem falas alongadas. Retomando o baile, Helmets/Polars flertou com o new metal em seu final e o rolo compressor rolou legal mesmo foi em Swandive, com término de engessar o pescoço!
Superando o que adiante descobriríamos ser metade de seu tempo total, mandaram bronca com Messengers e então o frontman agradeceu e fez um pedido antes de Awake: “Obrigado! Certo, senhoras e senhores. Se souberem a letra desta próxima, por favor, cantem junto o mais alto que puderem”. E, sim, o povo cantou alto e não seria exagero cravar alguma influência de Deftones nas melodias vocais dela.

Oficialmente separadas em Phenotype, as duas próximas são indissociáveis a ponto de virarem Zman/Timeless no setlist de palco, padrão não mantido abaixo por mero preciosismo. Na prática, a primeira é um trampo solo lindíssimo nos teclados e a segunda é sua extensão natural com letra e os demais instrumentos explicitando a maravilhosa veia prog metal do sexteto ao superarem uma hora no relógio.
Em sua interação mais elaborada, Daniël soube instigar: “Muito obrigado! Como vocês estão? Esta é o ponto em que pensamos: o que devemos fazer? Ir ou ficar? Muito legal! Esta é nossa primeira vez no Brasil, vocês nos fizeram com que nos sentíssemos aquecidos e em casa, mas acho que vocês podem fazer melhor. Então devemos ir ou ficar? Ir ou ficar? Querem mais? Certo! Vamos dar o inferno a vocês… Mas precisamos de um favor: do momento em que começarmos, até o final, vocês vão enlouquecer, beleza?”, preparando terreno para One Eye For A Thousand, outra para banguear até dizer chega e, até que enfim, abrindo uma roda de verdade no equivalente a 2’56” do CD.

Rumando ao fim, vieram Stream Of Consciousness, de conclusão arrebatadora e com direito a um wall of death e roda subseqüente no meio, Singularity, verdadeiro petardo, porém com espaço para melodia vocal, e a saideira, assim contextualizada: “Certo! Este é o momento em que temos que dizer adeus a todos vocês, pessoas amáveis. Eu sei, eu sei… Mas foi um bom teste, um bom estágio e acho que podemos voltar, certo? Prometo isso a vocês, mas é hora de nossa última música. Quero ver todos gritando! Todos, beleza? Quero que se mexam, não me importo, contanto que se mexam, porque esta próxima música é Laments Of An Icarus”.
Agora precisam cumprir a promessa, regressar e superar o que foi mostrado ao longo de noventa e quatro minutos, incluindo a outro Airwolf Season 4 – Main Title, na real, a vinheta inicial da série Airwolf (84-87), composta por Rick Patterson, especificamente a da temporada quatro, pois, embora fosse sempre o mesmo tema, há sutis diferenças no áudio de ano para ano. Fica o registro: que noitada, indo além da bela película progressiva e com um metal de musculatura parruda!
Setlist
Intro: Shostakovich Beat [Messer Chups]
01) Surreal State Of Enlightenment
02) Regrenesis
03) Storm Warning
04) Reaching Home
05) New Horizons
06) Old Days Born Anew
07) Helmets/Polars
08) Swandive
09) Messengers
10) Awake
11) Zman
12) Timeless
13) One Eye For A Thousand
14) Stream Of Consciousness
15) Singularity
16) Laments Of An Icarus
Outro: Airwolf Season 4 – Main Title [Rick Patterson]