The Damned – Cine Jóia – 07/03/25

Ícone do punk inglês regressa a São Paulo após longo hiato em noite de homenagem a Brian James

Texto por Vagner Luis e Fotos: Gustavo Diakov em cobertura para o igormiranda.com.br

Foram quase treze anos de espera desde a passagem pela The Clash em abril/12 para que o The Damned, um dos grandes expoentes do punk britânico, retornasse a São Paulo em um dos dois eventos paralelos ao festival capitaneado pelo Offspring no Estádio do Palmeiras no Dia Internacional da Mulher – o outro side show ocorrera na sexta-feira, 06/03, também no Cine Jóia, marcando a estréia do Amyl & the Sniffers na cidade.

Pontualmente no horário prometido de 21:30 e sem intro ou banda de abertura, vieram ao palco David Vanian (vocal), Captain Sensible (guitarra), Paul Gray (baixo), Monty Oximoron (teclados) e Rat Scables (bateria) com uma declaração do frontman saudando a todos e citando o quão triste o quinteto estava devido ao falecimento de Brian James, ex-guitarrista e membro fundador da banda, na véspera, com homenagem a ele antes de o pau comer solto com Love Song: “Queremos dedicar toda esta noite a ele!”.

Grafada como Second Time Around no setlist de palco, exatamente como na versão ao vivo encontrada em The Black Album (80), Machine Gun Etiquette veio emendada enquanto observávamos a simples decoração de palco: o nome do grupo na pele do bumbo; uma bandeira do Brasil estendida próxima ao guitarrista; e arranjos que, de longe, pareciam ser de crisântemos brancos centralizados perto dos retornos – certamente um belo tributo a Brian James. Caso se pergunte por que tais flores, um de seus simbolismos é a mediação entre céu e Terra ou vida e morte.

Para uma casa cheia e com direito à presença de Fernando Magalhães, guitarrista do Barão Vermelho, discreta e coincidentemente posicionado ao lado deste repórter na pista, vieram Wait For The Blackout e Lively Arts, as duas faixas inaugurais do citado The Black Album, o primeiro a contar com Paul Gray nas quatro cordas.

Destacado por Captain Sensible, Monty Oximoron criou a ambientação para The History Of The World (Part 1) e nela o baixo falou alto! E no momento em que constatávamos a estranha ausência de rodas, o comunicativo guitarrista caprichava em nosso idioma, ainda que com leve sotaque: “Um copo de vinho tinto! Uma garrafa de cerveja!”. Brincalhão, ele completou em inglês: “Falo português como um nativo!”. Mais sério, David sentenciou: “Plan 9 Channel 7”, salvo engano deste escriba, a primeira a incluir um solo de guitarra – magistral, diga-se de passagem.

Stranger On The Town mostrou-se contagiante, sucedida por Gun Fury (Of Riot Forces) e, chegando a meia hora que voara, pela ironicamente alegre I Just Can’t Be Happy Today, embora, com o perdão do trocadilho, realmente não desse mesmo para os músicos estarem felizes devido ao falecimento do já saudoso companheiro.

Tão acessível quanto em estúdio, Dr. Jekyll And Mr. Hyde foi descrita pelo vocalista sobre todos termos um lado bom e outro ruim e o guitarrista revelaria o que grande parte da galera já notara: “Mudamos o repertório. Colocamos nele mais músicas de Brian James. Esta é Fan Club”, finalmente a primeira resgatada do début Damned Damned Damned (77) – seriam quatro no total – que continha no line-up três dos músicos que víamos no palco: Dave Vanian, Captain Sensible (à época tocando baixo) e Rat Scabies – além de Brian James.

Única da noite a não estar em qualquer full-length do conjunto e lançada como single em 1986, Eloise foi a próxima e, mais serena e claramente comandada pelo baixo, Life Goes On foi cantada por Captain Sensible, com David permanecendo no palco, mas de canto, “apenas” curtindo o momento. Desnecessário dizer que o guitarrista, recém-promovido a vocalista, terminou a canção ovacionado, agradecendo com um sucinto: “Lovely!”. Born To Kill foi a seguinte e Noise, Noise, Noise foi super bem recebida, chegando a uma hora no palco.

David indicaria o que estava por vir: “E agora vamos aos anos oitenta. Vocês estavam lá? De volta aos anos oitenta, uma música chamada Ignite”, com direito a: coro em alto e bom som; canhão de luz mirado para a galera; e tremendo solo de guitarra – em suma, um espetáculo à parte concluído em versão intimista até reexplodir em magnífica condução do frontman. De quebra, foi a mais longa da noite superando oito minutos. Fechando o set regular, o que já estava bom melhorou ainda mais e a coisa pegou fogo de vez em rodas durante Neat Neat Neat, concluída com um sutil: “Muito obrigado, São Paulo! Obrigado!” da parte do guitarrista.

Regressando para o encore, Curtain Call teve lindo início atmosférico criado por Monty Oximoron, uma espécie de pérola escondida do rock inglês com vibe calcada no progressivo, porém “enxugada”, com “somente” sete de seus dezessete minutos, e seu final se misturou a um curto solo de Rat Scabies. A quase saideira foi New Rose e nela a platéia se ensandeceu novamente – quantos ali presentes talvez tenham tido seu primeiro contato com a faixa em The Spaghetti Incident? (93), play de covers do Guns N’ Roses?

Num misto de despedida e agradecimentos sem sequer deixarem o palco, o baterista se dirigiu a Captain Sensible, que simplificou: “Rat diz mais uma!”, sendo, de fato, “duas em uma”, por assim dizer – na prática, fizeram as duas partes de Smash It Up. Partindo sem outro, jogarem as flores à platéia cravando uma hora e trinta e dois minutos de um senhor espetáculo apenas com material dos cinco primeiros álbuns, exceto de Music For Pleasure (77), sendo: sete de Machine Gun Etiquette (79); cinco de The Black Album; e quatro de Damned Damned Damned e Strawberries (82) – fora o single Eloise.

E haveria mais no dia seguinte no Punk Is Coming!…

Setlist – 21:30–23:02 (1h32’)

David Vanian (vocal), Captain Sensible (guitarra), Paul Gray (baixo), Monty Oximoron (teclados) e Rat Scables (bateria)

01) Love Song

02) Machine Gun Etiquette

03) Wait For The Blackout

04) Lively Arts

05) The History Of The World (Part 1)

06) Plan 9 Channel 7

07) Stranger On The Town

08) Gun Fury (Of Riot Forces)

09) I Just Can’t Be Happy Today

10) Dr. Jekyll And Mr. Hyde

11) Fan Club

12) Eloise [Barry Ryan]

13) Life Goes On

14) Born To Kill

15) Noise, Noise, Noise

16) Ignite

17) Neat Neat Neat

Encore 1

18) Curtain Call

19) New Rose

Encore 2

20) Smash It Up (Part 1)

21) Smash It Ip (Part 2)

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About Guilmer da Costa Silva

Movido pela raiva ao capital. Todo o poder ao proletariado!

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