Da Califórnia para São Paulo: Lionheart traz a essência do hardcore para a capital paulista

Um evento que fez os apaixonados pelo hardcore presenciarem uma noite de performances apoteóticas

Texto por Guilmer Silva @guilmer_metal) e Fotos por Gabriel Gonçalves (@dgfotografia.show)

Enquanto muitos aproveitavam a sexta-feira de véspera de Carnaval para curtir os bloquinhos de rua, os fãs de hardcore tiveram uma noite de celebração inesquecível. O evento, organizado pela New Direction Productions, trouxe os californianos do Lionheart para sua primeira apresentação no Brasil, e a ansiedade era evidente nos rostos de todos os presentes.

Uma fila tímida se formava em frente à City Lights, localizada no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Era minha primeira vez no local e, logo, me impressionei com a atmosfera do espaço: palco baixo, banda próxima do público e uma energia que prometia uma noite histórica.

Sujera – Hardcore de rua from zona leste

A abertura ficou por conta da banda Sujera, que se apresentou com uma formação especial para o show. Contando com Rappa Nui nos vocais, Claudinei Ferreira na guitarra e Felipe Promus no baixo, a banda prometia arrasar. Por volta das 19h, iniciaram seu set com o single mais recente, “Não Fica Um”, do álbum East Side Bomba, lançado mês passado. A música, repleta de referências que vão da música pesada ao rap dos anos 90/2000, foi seguida por “Matilha Vira-Lata”, também do mesmo álbum, mostrando que os novos sons funcionam incrivelmente bem ao vivo. O show continuou com as potentes “Sensaki”, “Calle Hood Quebrada” e uma emocionante cover de “Nego Drama”, do grupo Racionais MC’s.

Um dos momentos mais marcantes foi a participação especial de Rob Watson, vocalista do Lionheart, durante a música “Out of the Cage”. Ele surgiu do nada, empolgando a plateia, que se aglomerou em frente ao palco. Assim como apareceu, ele desapareceu, deixando todos em êxtase. O set da Sujera terminou com as pesadas “Zoião” e “Original da Vila”, encerrando um aquecimento digno para a noite que ainda estava por vir.

Worst – Ódio puro e concentrado

Por volta das 20h, subiu ao palco a banda Worst, já consolidada como um dos principais nomes do hardcore brasileiro. Com a casa mais cheia e o público cada vez mais animado, o set foi focado em clássicos como “Desenterrado”, “Enterrado” e “Transbordando Ódio”, que incendiaram o público e formaram rodas de mosh. A banda também executou “Draining Me” e “Vencedores“, esta última cantada em uníssono pela plateia, e antes da mesma, o vocalista Thiago Monstrinho deixou um recado emocionante: “Essa é para aqueles que duvidam de você, do seu corre, da sua capacidade”.

A curta e intensa “Que Se Foda” trouxe um recado feroz, com vocais agressivos e um ritmo instrumental avassalador. A letra, ácida como sempre, é deveras adequada aos que ficam em casa, que não vão aos shows e não demonstram atitude nenhuma. O encerramento do set da Worst foi marcado por “A Verdade”, “Não Pode Ver Paz” e a clássica “Sem Dó”, arrebatando o público. Em tempos de politicamente correto, a banda mostrou que ainda há espaço para contestação e energia bruta.

Lionheart – Uma Noite de Puro Hardcore e Conexão com o Público

Às 21h em ponto, os californianos do Lionheart finalmente entraram no palco. A banda, formada por Rob Watson (vocal), Walle Etzel e Nik Warner (guitarras), Richard Mathews (baixo) e Jay Scott (bateria), apresentaram um set que abrangeu todas as suas fases. A abertura foi com a rápida e potente “Cali Stomp”, do álbum Welcome to the West Coast II (2017), seguida por “DEATH COMES IN 3’S”, do mais recente Welcome to the West Coast III. O set continuou com “Vultures” e uma das melhores músicas da banda, “Hail Mary”, que fez a plateia explodir em rodas de mosh.

“Trial by Fire” e “Burn” transformaram o palco da City Lights em uma chuva de stage dives, consolidando o clima de caos controlado que só um verdadeiro show de hardcore proporciona. Após essa sequência arrasadora, Rob Watson agradeceu a todos pela presença e pediu desculpas pela demora em chegar ao Brasil, prometendo compensar com uma performance inesquecível.

Depois de um breve respiro, a banda executou “Keep Talkin'”, uma faixa que mistura hardcore com nuances de nu metal. Nesse momento, uma jovem subiu ao palco e cantou o refrão junto com Rob, arrancando sorrisos do  vocalista e aplausos da plateia. Por curiosidade, foi a mesma pessoa que cantou com o Madball em sua passagem pelo Brasil ano passado. A energia feminina estava em alta, e a conexão entre a banda e o público era palpável.

A intensidade continuou com “HELL ON EARTH” e “Love Don’t Live Here”, esta última com a participação especial de Marcel Serra, do Sujera. Os riffs pesados e a bateria implacável de Jay Scott criaram um clima de tensão e euforia, enquanto o público respondia com mais stage diving e mosh. As letras, gritadas em uníssono, pareciam um manifesto de resistência em meio ao caos do mundo moderno.

Vale destacar o som da casa, que estava impecável. Todos os instrumentos eram ouvidos com clareza, o que é crucial para a qualidade de um show. Um som ruim poderia ter arruinado a experiência, mas, felizmente, isso não aconteceu.

O set continuou com “Born Feet First” e um cover surpreendente de “Break Stuff”, do Limp Bizkit, novamente com a participação de Marcel Serra. A energia foi tão intensa que parecia que a City Lights iria desmoronar. Com “LIVE BY THE GUN” e “Lifer”, que possui um dos breakdowns mais marcantes da banda, o Lionheart se encaminhava para o final do show.

A clássica “Fight for Your Right”, dos Beastie Boys, serviu como trilha sonora para a apresentação dos membros da banda, levando ao encerramento com “LHHC”. Para fechar com chave de ouro, vários fãs subiram ao palco e cantaram junto com a banda, criando um momento de união e celebração.

O Lionheart foi como um rolo compressor, arrasando tudo em seu caminho e deixando uma marca permanente na memória de todos os presentes. Um furacão varreu a City Lights naquela noite, provando que o hardcore está mais vivo do que nunca.

Set Sujera:

  1. Não Fica Um
  2. Matilha Vira-Lata
  3. Sensaki
  4. Calle Hood Quebrada
  5. Nego Drama
  6. Terror Zero Onze
  7. Out of the Cage (com Rob Watson)
  8. Zoião
  9. Original da Vila

Setlist Worst:

  1. Desenterrado
  2. Enterrado
  3. Transbordando Ódio
  4. Draining Me
  5. Vencedores
  6. Que Se Foda
  7. Left for Shit
  8. A Verdade
  9. Não Pode Ver Paz
  10. Sem Dó

Setlist Lionheart:

  1. Cali Stomp
  2. DEATH COMES IN 3’S
  3. Vultures
  4. Hail Mary
  5. Trial by Fire
  6. Burn
  7. Keep Talkin’
  8. HELL ON EARTH
  9. Love Don’t Live Here (com Marcel Serra)
  10. Break Stuff
  11. (Limp Bizkit cover) (com Marcel Serra)
  12. LIVE BY THE GUN
  13. Lifer
  14. Fight for Your Right (Beastie Boys cover)
  15. LHHC
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About Guilmer da Costa Silva

Movido pela raiva ao capital. Todo o poder ao proletariado!

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