ROTTING CHRIST – MESMO NÃO CEM POR CENTO, GREGOS ENTREGAM TUDO E MUITO MAIS EM SÃO PAULO

Retornando ao país em menos de um ano da sua última passagem, Banda faz apresentação que agrada Gregos e Troianos

Texto por Fernando Queiroz (@fer_nando_nw) e Fotos por Gabriel Gonçalves (@dgfotografia.show)

Se tem uma banda no Black Metal que todos admiram, ou, pelo menos, respeitam, é o Rotting Christ. Seja por ser a banda do gênero com menos “atitude black metal”, e por manter uma qualidade sonora e de produção sempre de alto nível, mas ao mesmo tempo manter a sonoridade pesada e densa, acabam furando a bolha do gênero e atraindo públicos menos ferrenhos. Ao vivo, então, mostram o porquê de tamanha notoriedade e respeito que receberam, mesmo em uma noite com seus membros não estando cem por cento em suas condições físicas.

INÍCIO MORNO, MAS PÚBLICO FOI CHEGANDO:

Desde a abertura dos portões, uma quantidade moderada de gente entrou na casa. Claro, muitos ficaram ainda do lado de fora tomando suas cervejas, mais baratas que do lado de dentro, mas às 17h, hora da abertura do Carioca Club, já se podia ver um aglomerado na frente do palco. Morno, ainda, mas sinal que não seria um show vazio – como era de se esperar para um show de uma banda tão grande e relevante no cenário extremo mundial, ainda mais em um dia sem outros grandes shows concorrentes. Em uma hora, quando a banda de abertura entraria pontualmente, já tínhamos um público bem legal para prestigiá-los.

MIASTHENIA MOSTRA A FORÇA DO BLACK METAL FOLCLÓRICO EM PORTUGUÊS:

Black Metal sempre foi sinônimo de temas obscuros de diversos folclores – do cristão aos diversos pagãos, e a abordagem do Miasthenia, brasileiros da capital federal Brasília, apesar de singular, faz bastante sentido. Com corpse paint’s baseados em pinturas indígenas, letras em português, e temáticas históricas e mitológicas da cultura dos primeiros povos brasileiros, algo equivalente ao que bandas nórdicas fazem com seus próprios mitos, a banda veterana, capitaneada pela vocalista “Hécate”, professora doutora de história, fez um dos melhores shows de bandas de abertura que qualquer um daquele meio poderia querer.

Divulgando seu último trabalho, Espíritos Rupestres, com letras sombrias, sobre temas indígenas, e muitas passagens da história do Brasil que nós não temos o menor conhecimento, não aprendemos na escola foram muito bem recebidos. E o fato curioso de Hécate tocar teclado no meio enquanto canta deu uma dinâmica de palco diferente e única.

Em termos de som, dado o histórico de bandas de abertura, podemos dizer que não foi nem de longe das piores qualidades. Alguns problemas com microfonia, e a guitarra muitas vezes estourando prejudicaram, e o baterista substituto parecia ainda não estar muito familiarizado com as músicas. Mas, no geral, nada que apagasse o brilho da apresentação de uma banda que deveria estar em um patamar superior – mais que algumas que vemos por aí em todos os eventos incansavelmente. Quarenta minutos é pouco, mas no tempo que tiveram, mostraram ótima performance, e souberam agradar a quase metade da casa cheia.

O ROTTING CHRIST NÃO DECEPCIONA! SHOW QUE VALE CADA CENTAVO:

Previsto inicialmente para às 19h20, os gregos subiram ao palco às 19h30. Apenas dez minutos depois, o que não é um problema, mas um atraso é um atraso. De qualquer forma, é interessante falarmos nos horários. Estamos acostumados com shows começando às 21h, ou até às 22h, em especial num sábado. Um show tão cedo assim é, para todos os casos, algo muito bem-vindo! 

Os coros de “Rotting Christ, Rotting Christ” começaram incessantes quando as cortinas se abriram, e as luzes do palco se acenderam com a introdução tocando. Logo, a banda entra no palco, já em verdadeira porrada e densidade com “Aealo”, do álbum de mesmo nome de 2010, seguida direto de “Pretty World, Pretty Dies”, música de seu último álbum, Pro Xristou, de 2024. O vocalista e guitarrista Sakis Tolis, sempre interativo com o público – outra característica que os difere de outras bandas de black metal -, cumprimenta o público com aquele clássico ‘boa noite’, e então tocam “Demonon Vrosis”, música cantada em grego. A essa altura, era nítido que a banda não estava cem por cento. Compreensível, pois Sakis estava com uma forte gripe, como ficamos sabendo, o que o impedia de fazer tons muito altos. Em muitas bandas, isso seria um problema, mas para o Rotting Christ, apenas um contratempo um pouco desagradável, mais para ele que para nós, pois compensam com a energia que passam. O público realmente não parecia estar se importando, e a cada música, gritos e mais gritos da plateia cantando junto.

Pontos altos não faltam no show, como “Elthe Kyrie” e a absolutamente clássica “King Of A Stellar War”. O momento mais interessante e legal do show, porém, foi quando o guitarrista do Mystifier, conhecido como Beelzeebubth subiu ao palco para tocar outro clássico, “The Sign Of Evil Existance”, música de mais de trinta anos atrás, o longínquo ano de 1993. O público, claro, não parou um minuto de fazer barulho. A banda percebia isso, e elogiou o entusiasmo. Sakis realmente compensava em performance e em interação o problema de saúde momentâneo.

A qualidade de som ajudava! Uma equalização mais grave dos vocais melhorava os tons agressivos de Sakis, que não é um cantor de gutural tradicional – neste show, ficava mais parecido com isso, e funcionou. Outro momento interessante ficou por conta da música “Societas Satanas”, um “cover” do projeto Thou Art Lord, que conta com o próprio Sakis na formação, e um som extremamente pesado, com pegada Thrash em muitos elementos.

Curioso, e muito bem vindos são os “hey, hey”, e coros de “oooooh” que a banda puxa. Quem já foi em shows de metal mais tradicional ou power metal sabe como isso funciona bem ao vivo, mas ouvir isso em uma apresentação de Black Metal os torna diferenciados de seus pares mais “malvados”. Não que o Rotting Christ não tenha a aura maléfica, mas é uma banda mais ‘relaxada’ nesse sentido, que não tem a pretensão de transformar seu show em um ritual satânico. Querem tocar música, e esses elementos só aumentam e adicionam a esse resultado.

A banda saiu do palco com “The Raven”, do álbum The Heretics, de 2019, e com os incessantes coros gritando o nome da banda, volta ao palco para fechar a noite com “Noctis Era”. Abriram e fecharam o show com músicas do adorado álbum Aealo, mostrando que sabem fazer setlists!

VALEU? VALEU MUITO!:

As apresentações dos gregos do Rotting Christ são sempre elogiadas, não importa com quem você converse. Esse dia oito de fevereiro provou isso! Superando problemas fisiológicos além de seu controle, a tradicional banda de Black Metal, que menos se porta como uma, e mais se preocupa em entregar o melhor da música extrema a seus ouvintes e espectadores. Quem esteve lá, nesta noite cheia – embora não lotada – no Carioca Club pôde sair satisfeito. Um show que valeu cada centavo, e cada segundo gasto. Boa apresentação, ótimo horário, uma banda de abertura surpreendentemente animadora.

SET-LIST: 

Aealo

Pretty World, Pretty Dies

Demonon Vrosis

Kata Ton Daimona Eaytoy

Like Father, Like Son

Elthe Kyrie

King of a Stellar War

Sign of Evil Existence

Non Serviam

Societas Satanas

In Yumen-Xibalba

Grandis Spiritus Diavolos

The Raven

BIS:

NOCTIS ERA

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