Sacrilégio, cerveja e punk, tem coisa melhor? – Supersuckers na Jai (18/10/24)

Vindo para o Brasil pela terceira vez, os Supersuckers mostraram o que é o country punk para uma Jai Club cheia

Que os 7 dias entre o dia 11 e 18 de outubro foram complicados não é surpresa para ninguém. Após a passagem do “furacão miltinho” pelo estado, milhões de residências ficaram dias sem luz, a cidade ficou um caos. Após a loucura que foi o dia 11, parece que as coisas iam ficar mais tranquilas, no contexto do clima, até que a chuva ameaçou voltar no final da outra semana, dia do Knotfest. Alguns eventos chegaram a ser cancelados, mas apesar de todos os pesares, a noite de punk que rolaria na Jai ficou de pé.

Promovida pela Sob Controle, os ícone do punk country, Supersuckers viriam ao Brasil pela terceira vez, em São Paulo, acompanhados dos holandeses do Peter Pan Speedrock e os piracicabanos do The Mullet Monster Mafia. Eu estive lá para ver esta insanidade comer solta. Veja como foi:

Peter Pan Speedrock- rock direto, sem massagem

Formados em 1995 na cidade de Eindhoven, Sul da Holanda, pelo guitarrista e vocalista Peter Van Elderen e agora composta também por Bart Nederhand e Bart Geevers, nos seus quase 30 anos de atividade, têm se tornado um dos maiores nomes do rock holandês. Em 2016, anunciaram que a banda ia acabar, fizeram seu último show, mas como toda banda de rock, voltaram 5 anos depois. Essa turnê foi sua primeira pelo Brasil, e o guitarrista/vocalista falou que estaria tocando com sua “guitarra brasileira”, que ele só usou para tocar nos dois shows que fez por aqui, naquela sexta e um dia antes, em Curitiba.

Pensa na personificação do espírito punk europeu. Você deve ter pensado em uma figura similar à de Dikke Dennis (Dênis Gordo, em português – uma versão europeia do nosso João Gordo, talvez) tatuador, ator, cantor e mascote do Peter Pan Speedrock que se juntou aos nativos de Eindhoven para tocar Megasdetitas. Já completamente maluco das ideias, mais bêbado do que aquele seu tio que sua família escolhe ignorar, subiu no palco com uma cerveja na mão e dizendo que o Brasil era seu país favorito. Não dá muito para descrever o que ele fez durante a música, mas ele com certeza esteve lá. Essa é a graça do punk, as coisas acontecem, você sai sem fazer ideia o que aconteceu, mas se diverte muito.

A interação com os fãs foi um pilar do show, visto que a ordem do setlist foi alterada diversas vezes por conta de pedidos do público. Houve um fã em específico, que pediu para que a banda tocasse sua melhor música (estavam no meio do show ainda), então Van Elderen disse que as condições para que tocassem-a eram que o fã ficasse. We Want Blood!, Cock-Teaser e algumas outras tiveram um sua ordem completamente alterada. Chegou uma hora que viram que tinham só mais 10 minutos no palco e mais ou menos umas 7 músicas no setlist, então acabaram cortando algumas do seu repertório, mas o show ainda foi incrível, cheio de energia, música boa e muita cerveja.

The Mullet Monster Mafia – o melhor do surf interiorano

Quem acompanha a cena nacional de psychobilly e do surf music com certeza sabe quem é a Mullet Monster Mafia, o icônico power trio de surf que – acredite ou não – não tem um membro sequer que tenha um mullet (Celso Russomano será informado). Piadas à parte, o som deles é incrível. São completamente instrumentais, então foi algo bem diferente do Peter Pan, mas de qualquer jeito, a habilidade que os 3 tem com seus instrumentos é invejável. 

Como o baterista disse, trocaram de formação no ano passado, após 17 anos de estrada. Apesar disso, o novo baixista, Jefferson Novaes, coube no grupo como uma luva. Eles tem uma química absurda. Durante as músicas não falam nem uma palavra – mal se olham – mas o som sai perfeito. No palco, eles têm uma presença elétrica, Neri Orleone toca a bateria com uma força absurda, é o Eloy Praia Grande. Ed Lobo Lopes, o homem das 6 cordas, faz os vertiginosos riffs Dick Dalescos parecerem doom metal, tocando com uma facilidade. Sua performance até rendeu comentários do próprio Neri: “vai, meu Kerry King!”

Sonoramente, vão muito além do surf, a influência do metal é inegável; até tocaram a introdução icônica do Troops of Doom. A saideira, Break Beach, por exemplo, é surpreendentemente pesada. Se fosse um pouco mais rápido, já teria os dois pés fincados no crossover. Outros destaques da noite foram The Storm, lançada como single no ano passado, Zorch X-99 e Demon Attack, que abriu o show (e que pelo nome, poderia facilmente ser uma música do Flageladör).

We’re the Supersuckers and we’re the best rock and roll band ever”

Para soltar uma dessas logo no começo, tem que – no mínimo – confiar no seu trabalho. Só pelo simples fato da Jai estar cheia, empanturrada de gente, dava para ver que não eram só os Supersuckers que confiavam no trabalho deles. Na ativa desde 1988, não dá para negar que os caras tem estrada. Esses 36 anos de shows não foram só flores, em 2015, o hipercarismático vocalista Eddie Spaghetti foi diagnosticado com um câncer sério na garganta, mas, o cara é forte, e conseguiu dar a volta por cima. Desde então, lançaram seu 11º e 12º trabalho de estúdio, Suck It, de 2018 e Play That Rock N Roll, de 2020. Foi exatamente isso que fizeram na Jai, tocaram aquele rock n roll.

Para já jogar a energia lá para cima desde o começo, a primeira música foi logo Pretty Fucked Up, sem dúvida um de seus clássicos, retratando a história de um homem que perdeu uma mulher que foi linda, mas agora está “toda fodida”. Dá para imaginar o alvoroço que foi, o público cantou tudo em uníssono, ecoando o refrão, “well, she used to be pretty, now she’s just pretty fucked up” a plenos pulmões. O bom e velho rock seguiu andando com mais algumas músicas, The Evil Powers of Rock’n’Roll, do disco do mesmo nome e Rock-n-Roll Records (Ain’t Selling this Year), que acaba não sendo mais verdade, pois não só os discos de vinil estão ressurgindo, mas havia material físico da banda disponível no stand de merchandising, mas isso é outra história.

Ao longo de tudo isso, a galera estava curtindo muito, cantando junto, batendo cabeça, gritando depois de cada música. O Supersuckers pode não ser a maior banda de rock aqui no Brasil, por quantidade de fãs, mas quem gosta deles realmente gosta. Contemplaram o resto de sua discografia com Coattail Rider, um verdadeiro clássico, tocado em quase todo show deles desde 1992, Creepy Jackalope Eye, dedicada aos “good fuckers” e àqueles que queriam ser “good fuckers”, assim como na versão de estúdio e Get the Hell.

Grande parte do show seguiu assim, baseado em músicas que são relativamente conhecidas, mas não são aquelas mais famosas, havia uma real apreciação aos fãs. O que foi interessante foi que grande parte de sua discografia foi contemplada, com poucos lançamentos sendo ignorados por completo, Must’ve Been High (1997), que conta com hits como a faixa-título e Non Addictive Marijuana, incrivelmente foi pulado por completo, o EP Paid (2006), Get it Together (2008) também não tiveram representação alguma. Para os que tiveram, o show foi bem se o, com pouca interação dentre músicas e pouco tempo de descanso entre uma e outra. Tinham apenas 1 hora e 10 para tocar 18 músicas, tiveram que correr mesmo.

Não ficaram completamente quietos, como quando Eddie Spaghetti introduziu os membros da banda – Chris VonStreicher (bateria) e “Metal” Marty Chandler (guitarra). Chandler, por sua vez, teve seu material solo destacado pelo vocalista, não só verbalmente, como também em parte do repertório. Workin My Ass Off, Reckless Kind e Idaho, Baby, que cativou bem o público e envolveu a banda toda, inclusive VonStreicher fazendo parte dos vocais, com sua voz aveludada e grave. Esses covers foram seguidos por mais um cover, That is Rock & Roll, dos The Coasters.

Surpreso com o tempo que havia passado, Eddie informou p público que talvez não daria tempo de tocar tudo que ele havia separado, então fariam mais duas músicas. Essas duas músicas acabaram sendo Then I Wrote a Song, que fará parte do novo disco, cujo os Supersuckers já começaram a preparar, e Born With a Tail, com direito até a uma mostra em massa de dedos do meio, como pode ser visto na capa da matéria. 

Considerações finais

No geral, aquela noite foi incrível para os fãs de punk. Não só tivemos o direito de ver 3 shows animais, vimos 3 shows relativamente diferentes um do outro, da energia sem filtro do Peter Pan Speedrock ao surf music pesado da MMM ao som clássico dos Supersuckers, teve um pouco para cada tipo de fã. Foi perfeito? Não, o som tinha horas que falhava, a iluminação não estava lá aquelas coisas, mas nada é perfeito. Estava evidente que o intuito daquela noite era trazer nomes mais underground da cena punk e realmente abrir portas. Agora que os fãs já conhecem as bandas, acho que podem voltar já…

Peter Pan Speedrock – setlist (talvez não reflita a ordem real):

Rocketfuel

Crank Up the Everything

Resurrection

Angeldust

Donkeypunch

Gotta Get Some (The Spades)

Go Satan Go

Dead End

Killerspeed

Megasdetitas (com Dikke Dennis)

Pedal to the Metal

We Want Blood!

Cock-Teaser

Always Drunk, Always Loud, Always Right!

Hellalujah

Motörblock

Auf der Axe

The Mullet Monster Mafia – setlist:

Demon Attack

Sands

Dust Rain

Surfing Punk

Troops of Doom (só intro)

Zorch X-99

Banana Juice

Fishwater Cataia

The Storm

Shot in the Dark

Hawaii

Break Beach

Supersuckers – setlist:

Pretty Fucked Up

The Evil Powers of Rock’n’Roll

Rock-n-Roll Records (Ain’t Selling this Year)

Coattail Rider

Creepy Jackalope Eye

Get the Hell

Maybe I’m Just Messing With You

Deceptive Expectation

All of the Time

Sleepy Vampire

Ron’s Got Cocaine

Rock Your Ass

Workin My Ass Off (Metal Marty)

Reckless Kind (Metal Marty)

Idaho Baby (Metal Marty)

That is Rock & Roll (The Coasters)

Then I Wrote a Song

Born With a Tail

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