Paul-ta que pariu: Paul McCartney no Allianz (15/10)

Fotos: Marcos Hermes

Aos 82 anos, ex-Beatle novamente incendeia a capital paulista com um show de quase 3 horas, passando por todos os clássicos

De todos os músicos que estão vivos hoje em dia, o Paul McCartney certamente está lá no alto da lista dos mais importantes. Um dos pilares das composições dos Beatles, o impacto do garoto de Liverpool na música não pode ser de maneira alguma quantificado. Na ativa como artista solo desde meados da década de 80, o músico de 82 anos trouxe sua turnê Got Back (que está rolando sem parar desde 2022) pela segunda vez para terras tupiniquins, passando duas vezes pelo Allianz Parque em São Paulo e visitando o Estádio da Ressacada em Florianópolis. Fora sua gira pelo Brasil, ele também tocou em Montevidéu, Buenos Aires e Santiago, tendo datas marcadas em Córdoba e Lima para o final do mês. Durante sua apresentação no Chile, um casal ficou noivo, então as expectativas para suas performances no Brasil (inclusive uma esgotada) estavam altas. O Sonoridade Underground esteve presente no show do dia 15/10 (terça-feira), venha ver como foi!

A noite prometia ser incrível, pois Paul havia feito apresentações históricas no ano passado, disse que “voltou a treinar o português” e tocou mais ou menos duas horas e quarenta em nossos vizinhos latino-americanos, até contando com “Now and Then”, música final dos Beatles no repertório. Os serviços começaram relativamente cedo naquela terça-feira, com os portões do antigo Palestra Itália previstos para abrir às 16:00, quatro horas antes do horário esperado do show. Por volta das 17:00 e pouco, às ruas já estavam quase paradas e havia um grande fluxo de pessoas em torno do Allianz. O clima estava ameno, por volta dos 22 graus, mas com previsão para descer um pouco até o Paul subir no palco.

DJ esquenta a festa

Às 19:30, subiu ao palco um DJ para esquentar o público. Sua primeira escolha musical foi a clássica “Para Lennon e McCartney”, de Milton Nascimento. De resto, seu repertório contou com um misto de alguns trechos de faixas dos Beatles, como “Come Together”, por exemplo, e músicas nacionais. Conforme o passar do tempo, os setores iam se populando, a arquibancada já se encontrava majoritariamente lotada, enquanto a pista e pista premium ainda tinham alguns buracos. O set breve do DJ foi bom porque adicionou uma trilha sonora ao estádio, que estava quieto, até então, mas em termos de animar o povo, víamos no máximo uma dancinha na hora de entrar na pista e alguns gritos no começo de certas músicas (“Revolution”, que foi uma das últimas, levou o público à loucura, na medida do possível), mas fora isso, as atenções estavam 100% dedicadas ao garoto de Liverpool que assumiria o palco do “chiqueirão”.

Pontualidade britânica seletiva

Com uma pontualidade britânica, o DJ saiu do palco exatamente às 20:00, abrindo espaço para um pequeno vídeo introdutório mostrando um prédio antigo, que conforme ia subindo, ia mostrando fotos de época da carreira de McCartney. O prédio ficou todo colorido, agora ao som de remixes de “Twist and Shout” e “I Wanna Be Your Man”, mas nada saciava a sede que os fãs tinham do Beatle. “Oh! Darling”, ainda pelo sistema de PA desencadeou um coro do público, que assistia atentamente à equipe técnica finalizar a montagem do palco. 20:10, e nada do Paul… os fãs gritavam, mas sem aval, só “Love is Strange”, dos Wings pelo alto-falante. 

Apesar de todo o atraso, era nítido que era um daqueles infames “atrasos combinados”, um jeito de teoricamente “criar ânimo” nos fãs, mas isso pode ser discutido extensivamente. Se não tivéssemos o show do DJ anteriormente, até daria mais para entender, mas qual a necessidade de fazer os fãs esperarem mais de 15 minutos para o show começar, quando já tiveram meia hora de aquecimento. Se ao menos passassem algo muito interessante na tela, mas não, era um prédio com imagens da carreira de Paul, passando pela tela em uma velocidade agonizantemente vagarosa. Foi interessante, mas só nos primeiros 5 minutos.

Querendo ou não, não tem muito o que reclamar, ele tem material o bastante na carreira para preencher mais de 20 minutos de imagem, ele foi um Beatle, eu não, então para os superfãs, deve ter sido no mínimo interessante.

O pai tá on

O prédio finalmente chegou ao fim às 20:30 (600 “You Suffer”s depois do que começou), revelando o lendário baixo de McCartney. Pouco tempo depois, ele, sempre muito bem vestido, acompanhado de sua banda de apoio, subiu no palco, saudando os fãs. Já começando com ambos os pés, braços, a cabeça, as costas, tudo na porta, foi só a primeira nota de “Hard Day’s Night” soar que o público explodiu. Milhares e milhares de celulares foram ao ar para registrar esse momento incrível. Se a reação do público foi tão bombástica agora, 60 anos após a Beatlemania, imagina lá atrás. Pulando para o repertório dos Wings, deu sequência ao show com “Junior’s Farm”.

Conquistando os corações do público, o músico soltou um “E aí, São Paulo? Boa noite, Brasil!” – com um sotaque muito melhor do que aquele artista pop que diz ser de Marte, diga-se de passagem – dizendo que é muito bom estar de volta. Como já era de esperar, foi recebido muito calorosamente. Sem mais, emendou “Letting Go” direto, com direito aos trompetistas tocando no meio da arquibancada. Quem me conhece, já me ouviu falar essa frase diversas vezes, mas acho que nunca coube melhor no caso de McCartney: “quando o cara sabe, o cara sabe”. Paul não só tem um carisma ímpar (especialmente para um baixista), como também sabe exatamente o que fazer para ficar com o público na mão. O ânimo era tanto, que os fãs cantaram até os riffs dos metais.

“I have a feeling we’re gonna have a bit of fun tonight! Fiesta! Esta noite vou tentar falar um pouquinho de ‘portchuguês’! Well, mostly English…” pensa em um músico fofinho. Não pensou no Paul? Pense de novo. Se o público já estava com o ânimo lá em cima com as habilidades linguísticas dele, quando aquela levada de “She’s a Woman” ecoou pelo Allianz…. Posso dizer com um grau de certeza que os moradores do bairro da Água Branca ouviram um “baby, you can drive my car” ensurdecedor. Com seu trio de metais já de volta no palco, “Gotta Get You Into My Life”. Depois dessa música, ele soltou a frase, o título desta mesma seção: “thank you! O pai tá on!”

Em forma perfeita – musical e fisicamente

Foto: Guilmer Silva

Paul não só atuou com os Wings e com os Beatles, como também gravou diversas músicas como artista solo. Uma delas, “Come To Me”, repleta de “tchu tchu-ru, tchus” foi a próxima da lista, envolvendo bem o público, que levou um dos refrãos na base das palmas, espontaneamente. Aqui vale destacar a perfeição de sua banda de apoio. Seu baterista era um relógio, não saía do tempo por nada, e ainda por cima, cantava que era uma beleza. Seus apoios tanto nas 4 quanto nas 6 cordas (um dos guitarristas era a cara do Roberto Carlos, aliás) tinham habilidades invejáveis, completando cada nota que Paul tocava com perfeição. O trabalho de seu tecladista podia não ser o mais perceptível, mas estava lá, adicionando camadas e camadas de profundidade.

Antes de começar “Let Me Roll It”, dos Wings, o britânico tirou seu casaco, revelando sua forma física estarrecedoramente sólida para um senhor de 82 anos que passou uma vida em turnê. “Let Me” foi a primeira em que McCartney assumiu as 6 cordas, colocando o pé no repertório de outra lenda da música, assumindo o solo de “Foxy Lady” após brevemente tocar o riff. Ele se justificou, agradecendo e dizendo que sempre coloca esse finalzinho na música como um tributo ao finado Hendrix, conhecido de Paul da cena de Londres nos anos 60. De acordo com ele, Hendrix era “um cara muito bonito”.

Mostrando que é só um semideus, não um Deus por completo, errou a entrada de “Getting Better”, fazendo um olhar ligeiramente espantado e brincando: “opa, não era essa”. Para a próxima música, ele calmamente sentou ao seu lindo piano Yamaha e deixou as coisas um pouco mais cadenciadas com “Let Em In”, dos Wings. Novamente se aventurando no português – e mostrando ser muito mais fiel do que certos ex-integrantes de bandas gigantes, agora membros de outras bandas grandes (*cof cof* Dave Grohl *cof cof*) disse: “eu escrevi essa música para minha amada esposa, Nancy!” Com uma felicidade genuína no rosto, levantou do piano e continuou: “ela está aqui hoje!”, fazendo um coração com as mãos. Com imagens dela no telão, “My Valentine”, melosa, mas ainda linda, foi a próxima.

Talvez estejamos todos maravilhados

Injetando uma boa dose de groove no público já bem animado, veio “Nineteen Hundred and Eighty-Five”, até com direito a lasers verdes pelo ar (Alok, pode anotar). Apesar de sua cara de cansado, no final da música, levantou e fez uma dancinha, soltando um carismático “yo! Thank you!” e dando um gritinho em letra minúscula “ªªªªªªªª”. Ecoada a plenos pulmões, “Maybe I’m Amazed” definiu a reação do público, surpresa, em inglês, amazement. Não era questão de “maybe” (talvez), era “I’m amazed with you”, sem espaço para dúvidas.

Showman nato, assim que pegou seu violão para “I’ve Just Seen a Face”, perguntou se os fãs estavam gostando do show, fazendo aquele famigerado “e desse lado? e do outro lado? que tal no meio?” “Just Seen a Face” é diferente, é até meio country, contrastando com os rocks felizes e baladas que haviam sido apresentadas até então. É essa mesma variação, esse mesmo dinamismo que faz com que o Paul possa tocar por 3 horas sem ser chato.

Gostando da reação do público, agradeceu: “thank you all, you’re a great crowd! Da hora!” Respondendo à uma declaração de amor, soltou um “I love you” bem baixinho. Prometendo levar-nos a um lugar no norte da Inglaterra, Liverpool, Terra de quatro garotos que queriam gravar um disco, anunciou, em português “a primeira canção que os Beatles gravaram, essa daqui”, “In Spite of All the Danger”. Ele realmente veio com o português afiado, dá para ver que ele tem um apreço real por seus fãs da nação verde-amarela. 

Um dos maiores clichês dos shows, independente de gênero, mas que são sempre incríveis de presenciar ao vivo são sem dúvidas a iluminação da casa por meio de lanterna do celular, isqueiro e afins e a troca de “uooo”. Os dois rolaram em “In Spite”, e foi lindo.

Te amamos, Paul

Seguindo com a cronologia dos quatro garotos, ele disse que depois de gravar o primeiro disco, desceram para Londres e gravaram no Abbey Road Studios, ao lado do grande George Martin, e a próxima música seria um dos primeiros resultados daquela gravação. Posso só falar da gaita que a música já vem na sua cabeça. “Love, love me do! You know I love you!” Essa foi outra que viu um mar de celulares subir para registrar o momento.

Um dos diferenciais destas próximas músicas foi a aproximação da banda, com todos tocando perto um do outro e o baterista tocando de pé, criando um clima intimista. Paul pegou seu mandolim (que não passa de um cavaquinho gringo, mas isso é outra história) e disse que todos iriam dançar; “Dance Tonight”. Deixa do seu espírito brasileiro florear, o baterista fez diversas danças inusitadas, arrancando risadas do povo.

A próxima foi um momento lindo, apesar de sua letra muito pesada. Paul pegou seu violão, foi para um canto, fingiu que ia dar um stagedive e iniciou “Blackbird”. Como um anjo, o chão abaixo de seus pés começou a subir, e Paul ascendeu graciosamente, ao som de “Blackbird” sendo cantada na íntegra pelos fãs, apaixonados. A plataforma recém-criada contava com várias placas de LED que complementavam o telão de trás, ora mostrando nuvens, ora a lua, ora estrelas, ora pássaros; é uma produção indubitavelmente monstra. De lá de cima, deu um tchauzinho para a galera.

Também de lá de cima, dedicou a linda “Here Today” para seu “mano” John. O que seguiu foi lindo, emoções à flor da pele, uma vulnerabilidade majestosa, todo mundo chorou por dentro – não adianta mentir. Tem algo muito especial em ouvir mais de 40 mil pessoas cantarem uma canção linda, em uníssono. Tenho certeza que John sentiu a presença do público, de onde quer que esteja.

Um pouco mais de John

“Thank you! Thank you! Thank you, little ‘brasilianos’! Paulistas!” – disse o inglês. Prometendo trazer um pouco mais de seu saudoso companheiro, tocou “Now and Then”, gravada em uma demo de piano solo de John em 1978, cogitada para ser lançada como terceiro single de reunião em 1995, mas arquivada até 2022 e lançada só em novembro do ano passado, com overdubs de Ringo Starr e McCartney e guitarras das sessões abandonadas de 1995. Em um gesto lindo, vários fãs levantaram cartazes com a frase “it’s all because of you”, presente no refrão da frase. McCartney falou que não conseguia ler por conta da luz, mas após ela ser apagada, mostrou estar surpreso e agradeceu bastante.

Levantando o clima, contou com a volta do trio de metais em “New” e “Lady Madonna”, rapidamente engajando todos os fãs com “Jet”, faixa icônica dos Wings. Com sua arma lendária (baixo) já em mãos das outras músicas, não deixou o clima cair nem um tico e emendou logo “Being For the Benefit of Mr Kite!”, tirada do Sgt. Peppers.

Antes de “Something”, pegou seu ukulele e soltou algumas pérolas. Primeiro, assim que colocou as mãos no instrumento, simplesmente olhou para a frente e disse “ukulele”, fazendo uma pequena batida com os dedos. Por dentro, todos temos TDAH. Depois, disse que a próxima música seria dedicada para seu “parça” George, que também foi quem deu o ukulele ao Paul. Essa foi mais uma que os fãs adoraram, cantando a plenos pulmões, com os “u-u-u-uu-uu-uu” criando abalos sísmicos capazes de serem registrados na escala Richter.

Vocês

Agradecendo o público mais uma vez, Paul pediu para que os fãs cantassem essa próxima junto com ele, dizendo que, no meio, diria algo na linha de “now you!”, ou “vocês!”, sinalizando para o público quando era para entrar. Como se a felicidade geral não pudesse se elevar mais, o inglês tocou uma música dos Beatles bem para baixo, nada feliz, simplesmente “Ob-la-di, Ob-la-da”. Mesmo tendo um sentido duvidoso, foi um momento de curtição pura para os fãs, que cantavam o refrão muito alto: “ob-la-di, ob-la-da”.

Rolou também “Band on the Run”, de seu tempo em que tomava Red Bull (com os Wings), mais animada ainda e recebida tão bem quanto. Assim como sua predecessora, o público gritava o nome da música no refrão. Felizmente, McCartney não sentiu a necessidade de se inspirar nas letras e ficou no palco – sua banda de apoio também.

Ironicamente, a próxima música foi “Get Back”, que preveniria a band de estar on the run. Ancorada pela marcha que o baterista tocava na caixa, a música que – talvez – inspirou o nome da turnê foi outra a ser recepcionada de forma calorosa. Foi recebida tão bem, que depois de terminar, Paul perguntou se queriam “get back”, voltar, e depois da resposta positiva do público, disse que ele também e cantou novamente o refrão. As escolhas feitas para este bloco final do repertório primário foram certeiras. Assustando os fãs, fingiu até que ia jogar seu baixo.

“Fechando” com chave de ouro

Pense em três músicas que definem a carreira do Paul McCartney. Se você disser que não pensou nas 3 que ele escolheu para “fechar” seu show, está mentindo. Primeiro, sentou no piano e tocou aqueles acordes. “When I find myself in times of trouble…” – poderia terminar a cobertura aqui (bem aqui). Não tem nem porque eu tentar descrever o que foi “Let it Be” ao vivo. Foi uma experiência de outro mundo, do tipo que te faz transcender de realidade. No final, levantou do piano, fez um coração com o corpo, mandou beijos para os fãs e sentou para começar o próximo petardo.

Tudo que eu falei de experiência que faz você transcender e tals, pega isso e quadruplica. Pronto, “Live and Let Die”. Quem já viu os vídeos de suas performances ao vivo sabe o diferencial dessa música, a pirotecnia. NADA, nada mesmo me preparou para o que seria. Sabia dos foguinhos, sabia que ia rolar uma queima de fogos, estavam anunciando antes do show começar. Mesmo assim, desculpe a informalidade e a vulgaridade, mas mano do céu, puta que pariu, o Paul McCartney fez o Rammstein parecer aquelas velas de bolo que fazem faísca.

No primeiro “so live and let die”, o palco foi tomado por labaredas e fogos de um jeito que meu Deus do céu. Apesar do que aquele vídeo do YouTube pode te fazer acreditar, ele não explode, muito menos fucking die, mas, para os curiosos, me senti na obrigação de re-criar o meme.

Catarse, esse é o melhor jeito de descrever “Live and Let Die”.

A próxima foi aquela lá, que ninguém esperava que ia tocar, “Hey Jude”. Olha, não gosto de Beatles. Bom, não gostava de Beatles até aquele momento. A energia de ouvir um estádio esgotado gritar “na na nananana, Hey Jude”, acompanhado por um ex-Beatle é o bastante para soltar o Beatlemaníaco interior de qualquer um. O Paul McCartney é incrível, chegou uma hora que ele levantou do piano e disse “só os manos, vamos lá”, e recebeu um coro de vozes masculinas. Depois, soltou um “só as minas”, recebido por um coro feminino. Com as minas e os manos já tendo cantado, convocou a “galera”. Quem não ao menos sorriu nessa hora morreu por dentro – desculpa.

You want some more?

Existem 5 certezas na vida, o nascimento, a morte, os impostos, que o Palmeiras não tem mundial e que qualquer grande artista vai voltar para fazer bis. Nem 5 minutos depois de sair, o garoto de Liverpool voltou para o palco e fez uma daquelas perguntas que todo mundo já sabe a resposta: “you want some more?” (querem mais?). Com uma resposta surpreendentemente (só que não) positiva, voltou com “I’ve Got a Feeling”.

Um dos maiores benefícios da tecnologia moderna é que ela permite que o legado de finadas lendas da música sejam preservados. Um ótimo exemplo disso é não só “Now and Then”, mas também o que McCartney fez em “I’ve Got A Feeling”, usando imagens do icônico Rooftop Concert para fazer um dueto virtual com Lennon

Em um momento demasiadamente emocionante, disse que ele também “got a feeling” (fica emocionado) porque consegue cantar com o John de novo. Novamente, soltou um “I love you” baixinho. Perguntando se era aniversário de alguém, seguiu seu “encore” com “Birthday”, bem animada.

Agora sim, fechando com chave de ouro

As músicas que seguiram foram um misto de essenciais dos Beatles e canções que não chegam a ser lado b, mas não são as mais famosas: “Sgt, Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise)”, “Helter Skelter” e “Golden Slumbers”. Achei essas escolhas incrivelmente precisas, pois ele não prendeu ninguém ao refrão, necessariamente – era uma terça-feira, afinal – mas ainda deixou algumas joias para a maioria, que escolheu ficar.

“Sgt.” e “Helter Skelter” foram mais dois pontos altos em um show composto só de pontos altos. “Sgt.” não é das mais enérgicas na versão gravada, mas ao vivo, o Paul colocou um “tchan” especial, algo que não dá muito para apontar, mas dá para perceber. “Helter Skelter” foi um absurdo; não é à toa que ela é considerada uma das primeiras faixas de heavy metal. O tanto de energia que o Paul colocou naquela noite foi incrível. A potência da voz deles aos OITENTA E DOIS anos é incrível, ele tem que ser estudado pela NASA.

Depois de “Helter”, ele chegou perto do piano e disse, com um ar de tristeza, que era hora de ir embora, em português. Apesar da aversão coletiva ao fim que rolava no Allianz, eram quase onze da noite, e era uma terça, talvez realmente fosse hora de ir embora. Após agradecer tudo e todos, equipe de som, de luz, roadies, banda de apoio, fãs, tocou as melancólicas primeiras notas de “Golden Slumbers”. “Once there was a way, to get back home” foi ecoado por grande parte do público, em uníssono, um jeito lindo de fechar a noite. Verdadeiramente comovente.

Considerações finais

Paul McCartney, aos 82 anos, conseguiu novamente esgotar uma data no Allianz Parque, menos de um ano depois de sua última visita. Além disso, o cara é um ex-Beatle, quantos músicos podem falar isso? Diferente de músicos como o Eric Clapton, por exemplo, que fez um show no mesmo estádio, também esgotado, no final do mês anterior, o garoto de Liverpool ainda esbanja um carisma e vigor absurdos. Só para colocar em perspectiva o tamanho do absurdo que foi o seu show, McCartney nasceu antes da caneta esferográfica e conseguiu fazer um show de quase três horas, quando existem artistas muito mais jovens no topo da música nacional que não aguentam nem uma hora no palco. Não sou fã de Beatles, longe disso, mas meu Deus, que show. BonusTrack, já anuncia a vinda dele do ano que vem antes que fique tarde. Até a próxima!

Paul McCartney – setlist:

  1. A Hard Day’s Night
  2. Junior’s Farm
  3. Letting Go
  4. Drive My Car
  5. Got to Get You Into My Life
  6. Come on to Me
  7. Let Me Roll It (com trecho de Foxy Lady)
  8. Getting Better
  9. Let Em In
  10. My Valentine
  11. Nineteen Hundred and Eighty Five
  12. Maybe I’m Amazed
  13. I’ve Just Seen a Facebook
  14. In Spite of All the Danger
  15. Love me Do
  16. Dance Tonight
  17. Blackbird
  18. Here Today
  19. Now and Then
  20. New
  21. Lady Madonna
  22. Jet
  23. Being for the Benefit of Mr Kite!
  24. Something
  25. Ob-la-Di Ob-la-da
  26. Band on the Run
  27. Get Back
  28. Let it Be
  29. Live and Let Die
  30. Hey Jude

Bis

  1. I’ve Got a Feeling (dueto virtual com John Lennon)
  2. Birthday
  3. Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band (reprise)
  4. Helter Skelter
  5. Golden Slumbers
  6. Carry That Weight
  7. The End
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