Ensiferum – Winter Storm

Por Fernando Queiroz

Quatro anos após o bem recebido Thalassic, os icônicos nomes do Folk Metal finlandês do Ensiferum voltam com a mesma fórmula de sucesso de (quase) sempre, mas mostrando constante evolução e provando que não precisa-se reinventar a roda para fazer um grande material.

A polêmica em cima do “mudar o som” ou “permanecer o mesmo”, entre bandas com algum tempo na estrada, já é antiga, mas nunca resolvida. Alguns críticos e fãs dizem que mudar faz bem, e que permanecer sempre igual uma hora cansa. Outros dizem que mudar demais faz com que uma banda perca sua identidade, e torna-se irreconhecível. Ambos estão certos, e ambos errados! Temos diversos exemplos de cases de sucesso em ambos os lados. O Ensiferum se consolida, com Winter Storm, como um exemplo a ser seguido do primeiro grupo. Pois embora nem sempre se sobressaiam, os finlandeses sempre demonstraram grande apreço em agradar seu público. Não foi diferente aqui, em Winter Storm, e mesmo seguindo a mesma fórmula de seu antecessor, elevou a qualidade e o profissionalismo na parte de produção a outro nível, outro patamar, dentro do gênero. Um gênero que, ao contrário de tantos dentro do metal, nunca decaiu de popularidade, e mantém seu nicho firme e forte para o que der e vier.

AS MÚSICAS: BEM COLOCADAS E ESCOLHIDAS

Um clássico álbum de Folk Metal fica quase incompleto sem uma introdução épica, e é exatamente isso que a primeira faixa, Aurora, nos traz. Aquela faixa introdutória, de trazer expectativas, com pouco mais de um minuto traz exatamente o que se espera: uma entrada triunfal para a pesada e rápida Winter Storm Vigilantes, com um clima épico de batalha e heroísmo. Canção que alterna muito bem entre os guturais de Petri Lindroos e os limpos de Sami Hinkka, ainda uma pausa que deixa a música leve no meio, voltando ao peso para sua conclusão. Peso, velocidade, e heroísmo são o que não faltam no álbum. Segue-se com Long Cold Winter Of Sorrow And Strive, mais lenta, mas não mais leve, e muito menos menos heroica. Os instrumentos de sopro aqui são mais presentes, dando vida à temática nórdica finnica, e os coros em refrão, a cara do Ensiferum e de todo o Folk Metal do norte europeu dão as caras em peso aqui, assim como as passagens de pianos e instrumentos folclóricos. A velocidade não para, nem a intensidade, em Fatherland, um perfeito Death Metal Melódico folclórico, com pedais rápidos, refrães totalmente em coros, e com realmente muita coisa acontecendo, muitas vezes com as vozes de Petri e Pekka, guturais e limpos ao mesmo tempo. Finalmente chegamos na ‘balada’ do álbum que, surpreendentemente, não conta com vocais de ninguém da banda. A belíssima Scars In My Heart é provavelmente a faixa de mais fácil assimilação do disco, e conta com a excelente cantora sueca Madeleine Liljiestam, da banda de metal sinfônico sensação do momento, Eleine, cantando a música inteira. A música mais reta e direta do disco não desaponta, e se torna um dos pontos mais altos. Após um pequeno interlúdio, Resistentia de pouco mais de um minuto, com narração e sons climáticos e ambientais, seguimos com outra faixa pesada, mas não tão rápida, até um pouco lenta, The Howl, novamente com vocais guturais, muitos coros, e vocais limpos de Pekka, que em muitos pontos chegam a lembrar o timbre de Kai Hansen(Helloween). Em seguida temos a longa e bem trabalhada faixa From Order To Chaos, com seus quase nove minutos de duração, muitas passagens e variações, e uma sonoridade cinemática incrível, tornando a música, apesar de bem longa, muito fácil de ser ouvida. Ponto mais alto do álbum, provavelmente! Mais um interlúdio com ambientação e clima, Leniret Coram Tempestate, com seus pouco mais de trinta segundos de duração, faz uma ponte para a derradeira canção de fechamento do álbum, a rápida e pesada Victorious. Uma música curta, mas que cumpre muito bem seu papel de fechar o álbum, com muito peso, orquestrações e um clima heroico!

No geral, uma escolha de sequência impecável para um álbum que mostra a banda em sua fase mais alta!

PRODUÇÃO DIGNA DOS GRANDES

Se a parte de composições foi excelente por si só, não deixaram para menos na produção. Em especial a mixagem e masterização, feitas pelo já icônico produtor sueco Jens Bogren. Não há problemas para ouvir cada instrumento do álbum, e acredite, há muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. O trabalho de se colocar tudo isso junto e ainda poder se ouvir cada detalhe, é um feito, e um que deixa a carreira do Ensiferum ainda mais completa, e isso vale muito para uma banda já consolidada no mercado. Destaco também o trabalho de orquestrações feito por Mikko Mustonen, que já vinha trabalhando com a banda desde o clássico From Afar. Há um zelo em se fazer orquestras para o álbum sem deixar que isso se torne o ponto central, mas ao mesmo tempo tornando ele o que é.

ÁLBUM PARA SE OUVIR E RE-OUVIR ATÉ A VINDA AO BRASIL!

Uma das maiores qualidades do álbum é ser de fácil assimilação. Há faixas para todos os tipos de fãs do gênero, e até de gêneros fora do Folk. O fato de ser agradável de se ouvir sem dificuldades, os refrães marcantes para se cantar junto, e ao mesmo tempo o peso que se espera de uma banda que tem um dos melhores vocalistas guturais do mundo, Petri Lindroos, fazem com que todos chegados nesse tipo de som possam aproveitar as músicas novas em shows junto aos clássicos mais antigos, pois em nenhum momento as canções novas tornam cansativa a espera para outras já consolidadas.

SALDO FINAL MUITO POSITIVO

Dito tudo isso, é um álbum que deixa a longa e sempre em alta carreira do Ensiferum mais robusta, entregando exatamente o que os fãs esperam, e ainda algumas surpresas, como uma música com vocal exclusivamente feminino. Os finlandeses mostram que, mesmo com mais de vinte anos de carreira, estão ainda em seu momento ascendente, com possibilidade para vôos ainda mais altos. Trabalho realmente digno e acima da média, até para o meio de altíssima qualidade normalmente que é o metal finlandês!

(5 Estrelas)