Cobra Spell — Ótima banda com experiência prejudicada por péssimo som e local

Texto por Fernando Queiroz e Fotos por Tamira Ferreira

Banda 100% feminina de Hard n Heavy com excelentes musicistas, que conta com a brasileira Noelle dos Anjos e a ex-Crypta Sonia Anubis, faz apresentação excelente tecnicamente, mas com muitos problemas de som, em uma casa imprópria para uma boa experiência, e uma vibe muito underground para um show internacional com tantas musicistas renomadas.

Atraso e público diminuto, mas dedicado:

Era nítido, ainda na fila, que não teríamos casa cheia. Apesar disso, os que ali estavam eram claramente fãs dedicados! Pessoas com o tradicional visual “headbanger”, grande parte com camiseta não apenas da banda, mas de bandas renomadas e “menos conhecidas”, que de certa forma representam uma dedicação de quem as conhece ao tipo de som que ama.

O show da primeira banda de abertura, o Vingança Suprema, banda paulista de speed/thrash, estava marcado para começar às 18h30, e a casa, o pequeno e nada confortável Jai Club, abriria às 18h. Às 18h15 ainda não havia sinal de fila andando, portas ainda fechadas. Isso, claro, indicava atrasos, e realmente, a casa só foi abrir após às 18h30, e a primeira banda só entrou já quase batendo 19h, com pouco mais de duas dezenas de pessoas dentro. Alguns, claro, ainda ficaram do lado de fora, ignorando a primeira banda, ou até mesmo todas as bandas de abertura. Bandas de abertura que, diga-se de passagem, eram muitas se formos pensar que era um show em uma sexta-feira à noite, com as pessoas saindo cansadas do trabalho.

Vingança Suprema:

Os paulistanos da competente banda de Speed/Thrash Metal entraram já próximo das 19h, com pouquíssima gente na casa e, como de costume no caso de primeiras bandas da noite, muitos problemas de som. Intervalos mais longos entre as músicas eram comuns, com o vocalista Alason agradecendo a compreensão dos presentes, que percebiam as dificuldades de som que a banda encontrava. A apresentação de por volta de meia hora, apesar da dificuldade, e dentro da proposta da banda, foi bem competente, e mostrava que os músicos — muito experientes — estavam em plena forma e entrosamento! Uma banda já veterana no cenário provando que a cena tem muito a oferecer desde sempre.

Alefla:

Nome relativamente recente, o Alefla, uma banda de Hard N Heavy também de São Paulo, subiu ao palco próximo das 20h30, já com algum público a mais, mas ainda bem aquém da capacidade já reduzida do local. Foi a banda com mais problemas técnicos ao que se pôde perceber. Som embolado da bateria, guitarras ora muito baixas, ora muito altas, baixo e vocal sempre altos. Nítido também, a banda estava sem retorno no palco. A vocalista Fla Moorey, que tem uma ótima voz, claramente não se ouvia, quase sempre muito fora de tom, e especialmente, fora de tempo em vários momentos. Infelizmente problemas de som assim têm sido recorrentes em shows de abertura, e neste, em específico, estava bem sério! O destaque técnico fica por conta do baixista Fernando Ferpa, muito técnico e pelo baixo estar com som acima dos demais instrumentos, ouvia-se bem o quão bem toca. O show durou cerca de quarenta minutos, e em momento algum houve melhora no som, infelizmente. De qualquer forma, os integrantes deram seu melhor dentro das possibilidades, e fizeram seu set.

WolfPire:

Sem muita demora após o fim da apresentação anterior, mas já com muito atraso, o WolfPire, também de São Paulo, era possivelmente a banda mais diferente dentro dos participantes — um som bem mais focado no Hard Rock oitentista, inclusive em termos de visual. Entre as três bandas de abertura, o WolfPire foi a que menos teve problemas técnicos de som e, dadas as condições de equipamento e da própria casa, estava tudo relativamente bem audível, embora longe de perfeito. Apesar de contar com músicos experiente, eram aparentemente os mais jovens da noite, e também os com mais ânimo e energia no palco. No geral, uma apresentação acima da média, e souberam animar o público, já quase completamente dentro da casa, com excelentes covers de Billy Idol – Rebel Yell e fechando a apresentação com Whitesnake – Still Of The Night. Apesar de um pouco deslocados dentro do padrão de som das bandas da noite, não se intimidaram, se provaram ótimos músicos, com destaque ao baterista Rod Selmo, conhecido nome na cena Hard Rock paulistana, fazendo parte de várias bandas, tanto de som próprio quanto cover, há muitos anos. Durante a apresentação deles, algumas integrantes do Cobra Spell foram simpáticas ao balcão de merchandising e assinaram CDs, Vinis, e outros itens à venda ali.

Cobra Spell — atração principal, mas não ficou imune aos problemas:

A atração internacional e principal da noite, as multi-nacionais do Cobra Spell, que inclui a guitarrista brasileira Noelle dos Anjos, e a guitarrista Sonia Anubis, ex-Nervosa, já antes de começar já percebiam que não teriam vida fácil na noite. O show, inicialmente marcado para às 21h15, atrasou muito. Já às 21h30, quinze minutos após o horário, a banda e roadies ainda passavam o som no palco, e tentavam, aparentemente, resolver alguns problemas em todos os instrumentos, provavelmente relacionados ao retorno. O público já se encontrava todo dentro da casa, que estava parcialmente cheia — próximo da metade da capacidade total. Após muitos ajustes, e uma trilha sonora ambiente que já repetia músicas, que iam de Judas Priest a Ozzy Osbourne, já quase às 22h, as meninas entraram no palco ovacionadas pelo público. Após a introdução, a banda finalmente entrou, tocando em sequência The Devil Is Inside Of Me e Satan Is A Woman. Se apresentaram, então, novamente ovacionadas, e prosseguiram para tocar Bad Girl Crew e S.E.X., deixando claro a identidade da banda sonoramente que queriam passar nos shows.

O som, porém, não ajudava nada. O microfone da vocalista Kristina Vega era uma montanha russa, ora muito baixo, quase inaudível — em especial no começo das músicas —, ora no volume certo, além de algumas vezes estourando de alto. A bateria da excelente Hale Naphta também era um problema constante. Pratos e caixa em ótimo volume, mas bumbo muito baixo, e aparentemente a microfonação de surdo não estava realmente funcionando. As guitarras tinham também problemas, em especial nos graves. Se ouvia bem os solos, mas as bases eram completamente encobertas pelo contrabaixo. 

Apesar desses problemas supracitados, era evidente que se tratava de uma banda de altíssimo nível. Suas músicas, todas muito bem construídas, eram tocadas com perfeição pelas integrantes, e Kris Vega, em especial, tem ao vivo uma voz fantástica, sem problemas em atingir notas ou manter a consistência. Pelo show todo, também, todas exalavam simpatia, sempre arriscando um português, ou um “portunhol”, como Kris falou. Noelle também usou o microfone para falar com o público, claro, em português. Impossível dizer que não foi um show divertido, com ótimas músicas e descontração. 

Vale dizer também sobre o público durante a apresentação, e quanto a isso, devemos repensar horários e bandas de abertura. Numa sexta-feira à noite, depois de três bandas de abertura, já passando das 22h, era claro o cansaço de boa parte ali. Um público que queria claramente ver a banda, que realmente gostava da banda, mas que não tinha mais pique para agitar como gostaria. O horário e os atrasos também tornaram a apresentação curtíssima — foram tocadas apenas 11 músicas, e o show teve pouco mais de uma hora de duração, o que é muito pouco para uma atração internacional headliner de um evento. 

Já por volta das 23h, a banda tocou sua saideira, a excelente Addicted To The Night, e apesar de todos esperarem mais músicas, voltou o som ambiente e as meninas se despediram com a tradicional foto com o público atrás.

Conclusão — Banda impecável, com show prejudicado por muitos problemas técnicos

Sendo justo, não foi uma má experiência, ainda mais se tratando de uma excelente banda, e ver um grupo formado só por garotas tocando um Hard N Heavy oitentista, geralmente dominado por bandas formadas por homens para homens, é algo incrível, ainda mais vendo um público mais “old school” abraçando a proposta e a banda. O fato é que uma banda desse calibre técnico merecia um local com acústica melhor, melhores equipamentos de som, e um dia melhor para se apresentar. Um set-list completo também seria essencial, algo que não tivemos. Uma hora apenas de show não faz jus a tudo que a banda tem a oferecer. O público também merecia uma situação melhor, mais cômoda, e com mais tempo para a banda principal. No geral, um bom show, que talvez não tenha valido o valor do ingresso por conta dos contratempos, atrasos e más escolhas de horários.

Cobra Spell:
Kris Vega – vocais
Sonia Anubis – guitarra
Noelle Dos Anjos – guitarra
Roxana Herrera – baixo
Hale Naphta – bateria

Setlist:
-Intro-
The Devil Inside Of Me
Satan Is A Woman
Bad Girl Crew
S.E.X.
Love Crime
You’re a Cheater
Poison Bite
Accelerate
Warrior From Hell
High On Love
Addicted To The Night

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About Guilmer da Costa Silva

Movido pela raiva ao capital. Todo o poder ao proletariado!

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One Comment on “Cobra Spell — Ótima banda com experiência prejudicada por péssimo som e local”

  1. O show da Cobra Spell valeu cada centavo investido, até muito mais!!! As bandas de abertura também mandaram muito bem. Uma correção, no texto menciona a Sonia Anubis como ex-guitarrista da Nervosa, quando antes já havia a mencionado como ex-Crypta.

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