Back to Black: Entenda os bastidores da música de Amy Winehouse que bateu 1 bilhão de streams no Spotify

Este ano, a música “Back to Black”, grande clássico de Amy Winehouse, surpreendeu ao ultrapassar a marca de 1 bilhão de reproduções no Spotify, quase 13 anos após a morte da cantora. Parte do ressurgimento no interesse pela canção foi impulsionado pela estreia do filme de mesmo nome, mas não foi o único motivo. A sinceridade de suas composições autobiográficas, que refletiam as batalhas de sua mente, deixou um impacto profundo no coração do público. E é essa honestidade rara que reverbera até os dias de hoje, como explica a psicanalista Marly Klien em seu livro “Amy Winehouse: A dor de existir”.

De acordo com a autora, fica mais fácil entender a complexa mente da cantora quando enxergamos suas canções através das lentes de dois famosos psicanalistas, o austríaco Sigmund Freud e o francês Jacques Lacan. Este último, por exemplo, atribuía uma grande importância à linguagem como uma forma de entender uma pessoa. E pensando por este lado, a melhor forma de entender uma cantora seria por suas músicas.

Em “Back to Black”, Amy Winehouse lamenta o término do relacionamento com Blake Fielder-Civil, interpretado na recente cinebiografia da cantora pelo ator Jack O’Connell. A canção descreve detalhadamente o sentimento de vazio sentido pela britânica. Porém, a escolha de palavras, com um tom forte de autodepreciação, revela outro lado sobre a cantora: a personalidade melancólica, no sentido mais clínico possível.

Marly explica que a forma como Amy se relacionava com as pessoas ao seu redor refletia as descrições de Freud sobre a melancolia, uma dificuldade de se conectar com o outro que surge logo na infância. Existem muitas semelhanças com o estado de solidão e falta de direção sentido no luto. Entretanto, ao invés de ser direcionado a saudade de alguém próximo, é uma resposta a uma ausência interna, em si mesmo.

Sem conseguir enxergar o outro, a cantora procura espelhar a si mesma naqueles com quem se relacionava. E isso não poderia ficar mais claro do que na tatuagem que Amy fez, com um mês de relacionamento, com o nome de seu amado. Não demorou muito tempo para os problemas com entorpecentes de Blake se tornarem seus também. E esse comportamento aparece não apenas no seu romance mais conhecido, mas era presente até mesmo na relação com seu primeiro namorado, Chris Taylor.

Na canção “Stronger Than Me”, de seu álbum de estreia “Frank”, a cantora desabafa sobre a frustração com a forma que o então namorado não alcançava suas expectativas. Sem perceber, a cantora demonstrava uma dificuldade de enxergar o rapaz por quem realmente era. Procurava um reflexo de si mesma que nunca encontraria.

Blake Fielder-Civil pode ter sido o único homem com quem Amy Winehouse conseguiu se identificar ao enxergar um reflexo de si nele. Isso explicaria as idas e vindas do casal, mesmo após o divórcio em 2009. Na música “Back to Black”, que escreveu logo após um término com o ator, a cantora define o afastamento deste romance como retornar à escuridão, ou nas palavras de Freud, uma “identificação com o nada”.

A vida e a morte de Amy mostram a história de alguém desesperada por amar e ser amada e que sofreu bastante por não conseguir conquistar algo tão puro de uma forma simples, descomplicada. Em seu livro, a psicanalista Marly Klien explica que isso pode abater completamente uma pessoa.

“Devemos, portanto, amar para não adoecer; do contrário, acabamos adoecendo em consequência da frustração pela incapacidade de amar,” diz a autora em seu livro.

Publicado pelo selo Folio Digital, o livro “Amy Winehouse: A dor de existir” explora de forma meticulosa e sensível a complexidade psicanalítica por trás da figura pública da britânica. Para isso, a autora conduz os leitores por uma jornada introspectiva, revelando os fios invisíveis que conectam a melancolia da artista à sua genialidade musical. O livro conta ainda com ilustrações e caricaturas elaboradas por Soraya Boechat, que dão um toque especial à publicação. Disponível nas principais livrarias digitais.

Sobre a autora:

Marly Monteiro Klien nasceu no Rio de Janeiro em 1960. Iniciou em Nova York – onde residiu durante 15 anos – a faculdade de Psicologia. Em 2001 retornou ao Brasil após a queda das Torres Gêmeas. Concluiu o curso de Psicologia na Universidade Veiga de Almeida e, em seguida, a pós-graduação lato sensu em Psicologia Clínica pela PUC – Rio. Desenvolveu sua pesquisa de mestrado – que deu origem a este livro – no Programa de Pós-Graduação stricto sensu sob a orientação da Prof. a Dra. Maria Anita Carneiro Ribeiro. Realizou por nove anos um trabalho social de atendimento psicanalítico aos moradores das comunidades da Rocinha e do Vidigal.

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