Texto por Luis Antonio / Fotos por Raíssa Correa
Após adiamentos e cancelamentos, a banda retornou ao país e se reconectou com os fãs brasileiros em um show dançante e cativante
O Turnover finalmente fez seu aguardado retorno ao Brasil passando por São Paulo no último sábado, 11 de maio, na Fabrique Club. A turnê que celebra seu último trabalho, Myself in the Way, lançado em 2024, contava inicialmente com três datas, com apresentações em Belo Horizonte (10/05) e Porto Alegre (12/05), porém, devido a catástrofe climática que tem assolado o Rio Grande do Sul nas últimas semanas, a apresentação em Porto Alegre acabou sendo cancelada. A apresentação em São Paulo contou com a abertura da banda de shoegaze Terraplana.
Formada em 2009, em Virginia Beach, o Turnover foi mudando sua sonoridade ao longo dos anos e explorando novas camadas musicais a cada álbum lançado. Seu primeiro disco, Magnolia (2013), tem seu som calcado no emo/pop-punk, o que ajudou a banda a ganhar visibilidade ao lado de nomes como Basement, Citizen e Tigers Jaw. Já em seu segundo trabalho, o clássico contemporâneo Peripheral Vision (2015), flerta fortemente com o indie rock, grunge e até mesmo dream-pop.
Já em Good Nature (2017), o lado dream-pop acabou aflorando ainda mais. A banda trouxe uma sonoridade mais dançante para seus últimos lançamentos, Altogether (2019) e Myself in the Way (2024), sem deixar de lado a essência indie/dream-pop.
Depois de adiamentos e cancelamentos, temos Turnover novamente no Brasil
O Turnover fez sua estreia no Brasil em 2017, passando por São Paulo (Clash Club), Rio de Janeiro (Teatro Odisséia) e Curitiba (John Bull). Em 2020, o grupo anunciou seu retorno ao Brasil com duas datas para divulgar o álbum Altogether. Os shows que aconteceriam em São Paulo e Porto Alegre precisaram ser remarcados para junho de 2020 por motivos de força maior, mas acabaram sendo adiados devido a pandemia do COVID-19.
Em 2022, novas datas para a turnê do Turnover no Brasil foram anunciadas. Uma parceria entre as produtoras Powerline Music & Books e a Monkeybuzz anunciaram shows da banda em Porto Alegre e São Paulo em dezembro. Porém, novamente a passagem do grupo pelo país não se concretizou. As datas foram canceladas por incompatibilidade de datas da banda, para a tristeza dos fãs, que a essa altura já haviam perdido a esperança de ver o Turnover ao vivo novamente no Brasil.
Mas como brasileiro não desiste nunca, em 2024 a Powerline Music & Books fez a alegria dos fãs brasileiros e viabilizou a tão aguardada (e por muitos desacreditada) turnê do Turnover no Brasil. Após o cancelamento do show em Porto Alegre devido às tragédias envolvendo as condições climáticas no Rio Grande do Sul e um show gratuito e curto em Belo Horizonte, a banda se apresentou no palco da Fabrique Club no último sábado, 11 de maio, em São Paulo.
O Shoegaze do Terraplana
Os curitibanos do Terraplana foram escalados para fazer a abertura do show do Turnover em São Paulo. Formada por Stephani Heuczuk (voz e baixo), Vinícius Lourenço (voz e guitarra), Cassiano Kruchelski (voz e guitarra) e Wendeu Silverio (bateria), a banda, que é um dos nomes em ascensão no cenário underground nacional, faz uma mistura imersiva e poderosa de shoegaze e rock alternativo. Com seu disco de estreia “olhar pra trás” lançado pela Balaclava Records em 2023, o grupo se tornou um dos principais representantes do shoegaze no Brasil. Com pouca luz, um telão com seu nome e interações pontuais com a plateia, o Terraplana fez um show introspectivo e envolvente. Sua sonoridade prende a atenção do ouvinte e o transporta para a bolha repleta de paredes de guitarras da banda.
O setlist foi calcado em seu álbum de estreia, trazendo para o palco da Fabrique músicas como olhar pra trás, memórias, você, me esquecer, cais e conversas. Ainda teve espaço para tocarem fall, música presente no EP Exílio, lançado em 2017 e algumas canções novas, como amanhecer e desaparecendo. A performance da banda foi muito competente e trouxe uma “vibe” muito reconfortante e melancólica. Uma ótima escolha para complementar o show do Turnover.
O belo e dançante show do Turnover
O Turnover subiu ao palco da Fabrique com um atraso de 20 minutos. Com uma postura reservada e de pouca conversa, iniciaram o show com Stone Station, Tears of Change e Myself in the Way, as faixas que abrem seu trabalho mais recente. A resposta do público para as canções de Myself in the Way foi bem morna e com pouca emoção.
Bastou a banda tocar os primeiros acordes de Humming, faixa do aclamado Peripheral Vision, que a resposta dos fãs foi completamente diferente. Agora sim o espetáculo começou. O público cantou junto com a banda e já era possível ver várias pessoas dançando e balançando o ombrinho ao som da canção. Like Slow Disappearing manteve a vibe lá em cima e mostrou a força do álbum lançado em 2015, facilmente o favorito entre os fãs.
Super Natural foi a primeira música de Good Nature a marcar presença no setlist. Os fãs já estavam entrosados com a banda a essa altura, recebendo com alegria a faixa e cantando com vontade a canção que traz uma atmosfera envolvente, calma e suave, como se o ouvinte realmente estivesse em contato com a natureza. New Scream foi outro momento forte do show. Era impressionante ver a comoção do público quando as faixas de Peripheral Vision eram executadas. Era como se a Fabrique se tornasse uma só voz.
What Got in the Way também trouxe uma resposta calorosa dos fãs, mostrando que Good Nature também é um queridinho na discografia do Turnover. A dobradinha Parties e Plant Sugar, ambas do álbum Altogether, não contaram com a mesma euforia, mas animaram mais o público do que as faixas de Myself in the Way, mostrando que os trabalhos recentes do Turnover não foram recebidos com o mesmo carinho e atenção que seus antecessores.
A reta final do show foi um verdadeiro deleite para os fãs, já que a banda tocou cinco faixas seguidas do adorado Peripheral Vision, sendo elas Diazepam, Dizzy on the Comedown, Take My Head, Hello Euphoria e Cutting My Fingers Off. Foi um dos momentos mais intensos da apresentação, com o público cantando emocionado. A troca de energia entre os fãs e a banda era algo belo de se ver, mostrando que o Turnover se reconectou com o público brasileiro, após tantos adiamentos e cancelamentos.
Os músicos Austin Emanuel Getz (vocalista, guitarrista e tecladista), Casey Charles Getz (baterista), Daniel Joseph Dempsey (baixista) e Nick Rayfield (guitarrista), não interagiram muito com o público, mas fizeram questão de dizer que estavam felizes por voltarem ao Brasil, que adoram os fãs brasileiros e que voltaram logo. O perfil reservado do grupo combinava com a estética intimista e minimalista do palco, que contava com luzes roxas e verdes e sem telão ou bandeira da banda ao fundo.
O Turnover fez o seu aguardado retorno ao Brasil com uma bela apresentação na capital paulista. Com um show cativante e, em muitos momentos, dançante, a banda se reconectou com seus fãs brasileiros e celebrou com uma intensa troca de energia a sua segunda passagem pelo país. Fica a expectativa para que a banda não demore mais seis anos para voltar.
Setlist Turnover – Fabrique Club 11/05/2024
1 – Stone Station
2 – Tears of Change
3 – Myself in the Way
4 – Ain’t Love Heavy
5 – Humming
6 – Like Slow Disappearing
7 – Super Natural
8 – Humblest Pleasures
9 – New Scream
10 – What Got in the Way
11 – Parties
12 – Plant Sugar
13 – Much After Feeling
14 – Pure Devotion
15 – Diazepam
16 – Dizzy on the Comedown
17 – Take My Head
18 – Hello Euphoria
19 – Cutting My Fingers Off