Bruce Dickinson em São Paulo: vocalista faz apresentação impecável, em noite memorável

Encerrando turnê no Brasil, Bruce e sua banda realizam show enérgico e emocionante

Texto por Bruno Santos / Fotos por Gabriel Gonçalves

O primeiro final de semana de Maio teve um grande espetáculo como presente para os fãs de Heavy Metal paulistanos. Quem esteve presente no Vibra São Paulo no último sábado (04) teve a oportunidade de prestigiar um dos maiores ícones da música, acompanhado de uma banda formada por excelentes músicos, executando um setlist virtuoso e bem elaborado. A “The Mandrake Project Tour”, que passou por sete cidades brasileiras, se encerrou na capital paulista e atraiu um grande número de fãs do vocalista para a casa de shows localizada na zona sul, formando grandes filas e lotando seus setores no decorrer da noite. 

A abertura ficou por conta do Noturnall, banda brasileira formada por Thiago Bianchi (vocal), Saulo Xakol (baixo/backing vocal), Henrique Pucci (bateria) e o novato Victor Franco (guitarra). Os músicos subiram ao palco pontualmente às 20:45 e encararam uma boa quantidade de pessoas nos setores da casa, que gradativamente foram enchendo. Alguns dos presentes mostraram conhecer o repertório da banda, inclusive.

A banda é muito técnica e virtuosa, sua sonoridade tem grande influência do metal progressivo e flerta com elementos de metal extremo, como blast beats e vocais guturais em determinados momentos das músicas. Thiago é um frontman performático e interage e agita o público a todo momento, além de ter uma ótima técnica vocal. O new blood Victor é um excelente guitarrista, esbanja técnicas e solos frenéticos nas seis cordas e é acompanhado de Saulo que segue suas bases rápidas com precisão. Henrique fecha o time sendo um “monstro” nas baquetas, tocando bateria com uma pegada destruidora e brutal. 

Conforme foi pedido por Bruce no backstage, nas palavras de Thiago, o grupo “esquentou” a plateia e preparou o solo para o grande show da noite. O setlist, que durou cerca de quarenta e cinco minutos, foi repleto de peso e mostrou como a cena nacional se mantém viva com bandas compostas por músicos que se dedicam ao máximo ao seu trabalho e sua paixão pela música pesada.

Setlist Noturnall – Vibra São Paulo – 04/05/2024

Try Harder
No Turn At All
Fight The System
Cosmic Redemption
Wake Up
Reset The Game
Nocturnal Human Side

Após vinte e quatro anos desde sua última passagem por São Paulo com sua banda solo, em uma casa de shows já extinta (Via Funchal), o frontman da Donzela, Bruce Dickinson retorna acompanhado de excelentes músicos e apresenta um setlist composto com clássicos e músicas de seu último trabalho, intitulado “The Mandrake Project”, lançado em Março deste ano. A formação conta com Philip Näslund (guitarra), Chris Declercq (guitarra), Tanya O’Callaghan (baixo), Dave Moreno (bateria) e Mistheria (teclado).

Após um pequeno atraso que, inevitavelmente aumentou o anseio dos fãs, a banda sobe ao palco e inicia as atividades com a eletrizante “Accident of Birth”, faixa título do álbum lançado em 97. Escolha certeira que mostrou como a banda está afiadíssima, a executando com competência. E o grande nome da noite, Bruce Dickinson, iniciou o show com uma energia ímpar, gesticulando, dançando, pulando, andando por todos os cantos do palco e nos mostrando que com seus 65 anos de idade continua dominando suas técnicas vocais e atingindo notas altíssimas com total maestria. O início do set contou com outro hit do álbum: “Starchildren”, que por sua vez, tem uma pegada mais densa, riffs com notas graves e arrastadas, compondo arranjos bem ao estilo Heavy Metal noventista. Na sequência, “Laughing In the Hiding Bush” mantém o clima de densidade, com breves pausas mais leves e melódicas. 

Em poucos minutos de apresentação, os fãs foram presenteados com grandes clássicos, o que era de grande merecimento após aguardar mais de duas décadas até um retorno ao país. Porém o show também teve espaço para os destaques do último álbum de estúdio lançado este ano, o tão esperado (e divisor de mares) “The Mandrake Project”. Músicas como “Afterglow of Ragnarok”, “Many Doors to Hell” e “Resurrection Men” promoveram o álbum, tendo como grande influência o Progressive Metal, estilo este que também está presente nos trabalhos mais recentes do Iron Maiden. A construção de todas elas agrada aos ouvidos, com muita técnica e variações entre suas passagens, assim como todo o trabalho audiovisual do telão ao fundo do palco que agradou os olhares de quem esteve presente, com imagens sombrias de cemitérios, lápides e criaturas, em preto e branco, remetendo aos filmes de terror dos anos vinte e trinta, como os clássicos Nosferatu e Frankenstein.

E falando em Frankenstein, houve espaço no setlist para um cover de The Edgar Winter Group, que recebe o nome do famoso monstro dos cinemas. Um instrumental despojado e descontraído, que transita por tempos e ritmos diferentes, mas que no conjunto proporciona um sentimento de apreciação para quem está assistindo, principalmente se (também) for músico. Bruce tira um tempo para descansar, mas apenas sua voz, pois não deixou de participar tocando percussão e brincando com a banda enquanto ia até eles para “baquetar” seus instrumentos. Até mesmo um teremim que estava no palco foi tocado por ele, dando um ar psicodélico e experimental ao show. 

Retomando os clássicos, estes que sem dúvidas foram os mais aguardados da noite, devemos destacar as performances de “Chemical Wedding”, faixa título do álbum lançado em 98 e “Tears of the Dragon” do aclamado “Balls to Picasso” de 94. Bruce recrutou um time incrível, com grandes nomes e é indispensável citá-los aqui, pois executaram as faixas de forma espetacular. Em “Chemical”, o Maestro Mistheria, que é um showman não só quando está performando em todos os cantos do palco, mas também quando está no background, executa uma base sólida que dá um ar sombrio a canção. Moreno mantém uma pegada tradicional na bateria, com alguns contratempos e atacando seu jogo de pratos, dando destaque para muitas das notas dedilhadas por Tanya nas quatro cordas do baixo.

“Tears of the Dragon”, que certamente foi a mais aguardada da noite, trouxe Philip empunhado seu violão e executando a icônica introdução deste verdadeiro hino, emocionando muitos já nos primeiros segundos da música. Cris ficou responsável pelos riffs acompanhados de harmônicos e os solos repletos de técnicas, estes também inesquecíveis e que marcam a passagem progressiva da música, que gradativamente retorna ao clima cativante e ameno do início da balada. E o que dizer sobre o sir Bruce Dickinson? Bom, não poderia ser diferente: sua performance foi perfeita, bem como ouvimos no estúdio. Voz impecável e afinadíssima, encantou todos os presentes, que cantaram alto e em perfeita sincronia, inclusive quase encobrindo a voz do vocalista em alguns pontos, tomados por tamanha emoção ao prestigiar tais momentos da apresentação.

A noite se encerrou com comoção, emoção e agitação: “Navigate the Seas of the Sun” deu início ao encore. A faixa do álbum “Tyranny of Souls” de 2005 foi dedicada às vítimas da catástrofe que ocorre em cidades do estado do Rio Grande do Sul e que está devastando a vida de muitas famílias. A banda tocou em Porto Alegre dias antes das enchentes e Bruce se referiu ao ocorrido como uma verdadeira tragédia. Mesmo após o clima difícil, o show seguiu com “Book of Thel” e por fim, “The Tower”. Ambas as músicas foram responsáveis por transformar o clima da “água pro vinho” e assim, retomando os ares ao ritmo Heavy Metal que tomou conta de grande parte do show, o encerrando de forma tradicional e memorável. 

Apesar da demora, a espera compensou (e muito!). Bruce Dickinson escalou um time essencial e talentoso para acompanhá-lo na turnê, assim como construiu um setlist impecável que agradou e muito seus fãs, sendo um verdadeiro presente para todos eles. Diferente de um show do Iron Maiden, assistir um solo do vocalista nos permite ter a experiência à parte de como o mesmo pode ser tão grandioso quanto, sem a necessidade de subir em um palco gigantesco, repleto de pirotecnias e cenários épicos. Não que isso seja um problema, óbvio – pois quem já foi a um show da Donzela sabe o espetáculo que é – mas aqui, em uma casa menor e com um palco que dispensa exuberâncias, podemos dizer que nos sentimos mais próximos exclusivamente do vocalista, dando atenção e apreciando sua voz com maior primor. Dickinson prometeu retornar ao Brasil em 2025, nos deixando ansiosos para as surpresas que poderão vir.

Setlist Bruce Dickinson – Vibra São Paulo – 04/05/2024

Accident of Birth
Abduction
Laughing in the Hiding Bush
Afterglow of Ragnarok
Chemical Wedding
Many Doors to Hell
Gates of Urizen
Resurrection Men
Rain on the Graves
Frankenstein (The Edgar Winter Group cover)
The Alchemist
Tears of the Dragon
Darkside of Aquarius

Encore
Navigate the Seas of the Sun
Book of Thel
The Tower

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About Guilmer da Costa Silva

Movido pela raiva ao capital. Todo o poder ao proletariado!

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