Trazendo refrãos marcantes e uma performance poderosa, os suecos divulgaram seu novo disco, “Memorial”, para um Carioca Club lotado.
Texto por Peu Bertasso e fotos por Amanda Sampaio
O clima estranho, nublado com chuviscos, no domingo (15) não tirou a empolgação dos fãs da música progressiva que compareceram ao Carioca Club, em Pinheiros, para o retorno dos suecos do Soen. A banda voltou ao Brasil depois de uma apresentação, acontecida em 2022, que precisou ser remarcada algumas vezes dada a pandemia de Covid-19. Dessa vez, o expoente nome do prog metal veio divulgar seu último disco, “Memorial”, lançado no ano passado. Com seus refrãos melódicos e, por vezes, até pegajosos em nossa memória, o grupo prova que soar comercial não é sinônimo de ser algo ruim.
Quem se aproximava do Carioca Club antes do show pode ver um animado cover de Raul Seixas que acontecia ao lado da casa. Porém, quem não se interessava por aquilo teve a oportunidade de entrar mais cedo, já que o Carioca abriu às 18h, trinta minutos antes do anunciado. Isso não impactou no horário do show que, pontualmente, às 20h, teve o poema “Don’t Go Gentle Into That Good Night”, de Dylan Thomaz sendo recitado no som ambiente da casa, anunciando o começo do show. “Sincere” foi a primeira música apresentada pelo grupo para um Carioca Club com um excelente público. No palco, o pequeno Joel Ekelöf mostrava sua voz poderosa, vestido em sua jaqueta de couro em pleno calor e abafamento da casa quase lotada. Sua voz, soando praticamente igual ao que ouvíamos nos discos da banda, foi um dos pontos altos da noite. Ainda na primeira música, o guitarrista Lars Åhlund já dividia suas funções, tocando também os teclados, mostrando sua qualidade musical aprimorada. Joel convidou os brasileiros a pularem em “Martyrs” e teve uma resposta imediata. O público cantou e pulou o tempo todo, interagindo com a banda sempre que podia. Depois dos gritos de “Soen” vindos da plateia, Oleksii Kobel, último membro da formação atual a se juntar a banda, iniciou um solo muito bem feito, envolvendo até técnicas de two hands em seu baixo antes de “Savia”. Nesta, além do teclado, Lars assumia também a percussão enquanto Cody Lee Fort cuidava das guitarras. O peso de “Savia” também era marcado pelos bumbos de Martíz López, baterista muito conhecido também por seus trabalhos com bandas como Amon Amarth e, principalmente, Opeth. Por sinal, várias camisetas do Opeth podiam ser vistas entre o público da noite.
O show seguiu com “Memorial”, faixa título do último álbum, tendo “Lascivious” logo na sequência, esta última contando com Joel mostrando todo seu rebolado no palco. As músicas apresentadas no show misturavam muito bem partes pesadas com as leves, deixando claro como o contraste funcionava bem. Tudo isso, ainda, era somado com refrões marcantes e melódicos, convidativos para que os fãs cantassem a plenos pulmões. Depois de um solo de Lars na guitarra, “Unbreakable” se deu início, sendo uma das mais cantadas pelos fãs brasileiros naquela noite. “Deciever” também obteve uma excelente resposta dos presentes, contando com o famoso “OIê Olê Olê, Soen, Soen”, canto que sempre derrete o coração das bandas internacionais quando vêm a países da América Latina. Com parte da banda sentada no palco, foi a vez da bonita “Ideate” fazer os brasileiros se unirem à banda num bonito coral. Após isso, sirenes ecoavam pelo som da casa enquanto Martín puxava as batidas de bateria de “Monarch”, melhor música da noite. A performance de toda a banda se misturava com a empolgação dos presentes, tornando aquele momento memorável.
“Jinn”, faixa que entrou no setlist da tour latino-americana, contou com os presentes cantando o riff principal, carregado de influências da música oriental. No fim da música, Cody conversou com Joel e repetiu o riff, convidando os brasileiros a cantarem novamente com ele. Os novos “olês” puxados pelo público contaram com Martín acompanhando na bateria, apenas deixando os fãs mais inflamados. Trocando a jaqueta de couro por um blazer, Joel convidou o público a acender as luzes de seus celulares em “Illusion”. “Modesty” e “Lotus” foram responsáveis por encerrar o set principal da noite, com “Lotus” contando com canhões de fumaça no palco, dando um ar diferente na produção do espetáculo. Após se despedirem do palco, o público clamava por mais. A banda voltou e, dessa vez, Martín López vestia a camiseta do Brasil. Assumindo o microfone, o baterista agradeceu a todos, dizendo que sempre que veio para o Brasil se sentiu muito bem acolhido pelo calor dos fãs. “Antagonist”, “Lunacy” e “Violence” foram as escolhidas para encerrar, de vez, a segunda apresentação dos suecos no Brasil.
O Soen vem apostando, principalmente em seus últimos trabalhos, em uma roupagem moderna para suas músicas e, de forma muito clara, trazendo uma parte melódica para suas músicas, tudo isso sem perder o peso. Com muita qualidade em cima do palco, a forma melódica que seus refrãos são apresentados os tornam cativantes e fáceis de memorizar, o que convida o público a sempre estar cantando e se empolgando. Uma fórmula comercial que é sinônimo de sucesso e, por vezes, esquecida dentro do metal. Isso tudo conquista até os fãs mais jovens, como um pequeno garotinho com uma folha de papel escrito o nome da banda com uma bandeira da Suécia desenhada. Os fãs deixaram o Carioca Club satisfeitos e, muitos, com refrãos gravados na cabeça. Eu mesmo, em meu retorno para casa, não parava de cantarolar. Isso é sinônimo de sucesso, o que faz com o que Soen conquiste cada vez mais um merecido espaço na cena metal mundial.
Soen – 14/04/2024 – Carioca Club
Sincere
Martyrs
Savia
Memorial
Lascivious
Unbreakable
Deceiver
Ideate
Monarch
Jinn
Illusion
Modesty
Lotus
BIS:
Antagonist
Lunacy
Violence