Após 35 anos de estrada, a banda grega mostra o porquê são uns dos nomes mais respeitados do black metal mundial.
Fotos por Gus Palma – @guspalma e texto por Ítalo Silva
Quatro meses após a vinda dos gregos do Septicflesh à capital paulista, dessa vez tivemos a honra de conferir um verdadeiro culto ao black metal com os seus conterrâneos do Rotting Christ, que comemoram 35 anos com a tour “35 Years of Evil Existence” (pt-br: “35 Anos da Existência do Mal”), mantendo a qualidade nos palcos e nos lançamentos, agradando tanto os fãs mais jovens quanto os mais “old school”.
O show ocorreu no dia 29/03, em plena quinta-feira, no Carioca Club, na região de Pinheiros. Do lado de fora, foi possível encontrar fãs de outros estados, dentre eles Fortaleza e Santa Catarina. Muitos fãs chegaram com mais de uma hora de antecedência e, quando entrei, percebi que já guardavam os seus lugares próximos ao palco, tamanha era a ansiedade para o início do espetáculo.
À medida que a casa enchia, conferi o merch da banda que, além de contar com ótimas peças de qualidade e com lindas artes obscuras, dessa vez, estava sendo vendido também a biografia da banda: “Non Serviam: A Biografia Oficial do Rotting Christ”, escrita pelo vocalista e guitarrista Sakis Tolis com o britânico Dayal Patterson, que também é autor dos livros “Black Metal: A História Completa ” volumes 1 e 2. Ótimas opções para aqueles que são fãs da banda e do estilo, que desejam saber da história da cena por quem realmente esteve envolvido nela.
Às 20h20 o baixista Kostas Heliotis e o guitarrista Kostis Foukarakis sobem no palco para ajustar algumas coisas e já deixam o público animado. Minutos depois, às 20h30, a banda completa vai para o palco e inicia o show pontualmente. Com “Χ Ξ Σ” (Chi, Xi, Sigma) no telão, que representa o número 666 em grego, eles iniciam o show. A música escolhida para iniciar essa cerimônia apocalíptica é exatamente “666” do excelente álbum “Kata Ton Daimona Eaytoy” de 2013 (original grego: “Κατά τον δαίμονα εαυτού”), música que começa como um canto litúrgico, relatando o apocalipse, guiando-nos até a completa obliteração da humanidade.
O show continua com a bateria precisa de Themis marcando a segunda música da noite, do mesmo álbum, a ritualística e épica “P’unchaw kachun- Tuta kachun”, que conta com parte da letra em espanhol.
Após agradecer a presença de todas as pessoas presentes, mostrando-se muito feliz por estarem no Brasil, a banda volta um pouco mais no tempo, apresentando “Demonon Vrosis” do álbum “Aealo” de 2010 e, em seguida, tocando a música homônima do álbum de 2013, a excelente “Kata Ton Daimona Eaytoy”, que é, particularmente, uma das minhas favoritas. Tendo várias de suas passagens referenciadas na música “The Invocation Pt. I ‘Lilith’” da banda dinamarquesa Defacing God, em seu álbum “The Resurrection of Lilith” de 2023. Escute ambas e compare! Logo em seguida, temos “Apage Satana” do álbum “Rituals” de 2016, que surpreende por ser uma versão tribal de “Pai Nosso”, que serve como uma preparação para “In The Name of God”, do álbum “The Heretics” de 2019, que vem carregada de críticas contra a igreja e o seu sistema, com citações de Dostoiévski, Mark Twain e Friedrich Nietzsche.
Ao final do som, com o público em êxtase com esse início catártico, temos mais agradecimentos de Sakis e uma surpresa: eles iriam tocar a música “Pix Lax Dax” do próximo álbum “Pro Xristou” que será lançado no dia 24 de maio deste ano. A música é mais cadenciada, carregada de melodia e tem o uso de orquestração por VS. A quebra no tempo com um som melódico foi providencial para preparar o público para as clássicas “King of a Stellar War”, que fez o público cantar alto, e “Archon”, ambas do álbum “Triarchy of the Lost Lovers” de 1996 que enlouqueceu os presentes, que abriram um mosh no meio do Carioca Club.
Nesse momento, já era notória a sinergia que o público havia criado com a banda, que respondia à altura com uma grande performance dos seus integrantes. Vale a pena ressaltar a grande presença de palco de Kostas e Kostis, que batiam cabeça e agitavam o público a todo instante. Sakis também demonstrou imenso carisma e interação com o público, algo que foge da proposta de muitas bandas tradicionais de black metal. Tal sinergia relatada ficou clara durante a execução de “Non Serviam”, do álbum homônimo de 1994, que era cantada a plenos pulmões pelo público.
O show continua com “Societas Satanas” cover da banda Thou Art Lord, projeto paralelo de Sakis; “In Yumen-Xibalba” e “Grandis Spiritus Diavolos” do “Kata Ton Daimona Eaytoy”. Após essa sequência, Sakis segurou uma bandeira do Brasil estilizada com o nome da banda e agradeceu os fãs por todo carinho. Para finalizar essa sequência incrível, eles tocaram a lindíssima “The Raven” do “The Heretics” e “Noctis Era” do “Aealo”. A banda agradece aos fãs e se retira do palco por alguns minutos.
Apesar de já termos um pouco mais de 1h20 de show, o público não saiu de cena, gritando o nome da banda. Eles regressam, dessa vez, com um convidado especial, o vocalista brasileiro Fernando Iser, conhecido por integrar inúmeras bandas como Torqverem, Malediction 666, Lalssu, Herege, Iron Woods, Fenrir, Exterminatorium e Evil’s Attack, para tocar a destruidora “The Sign of Evil Existence” e finalizam o show com “Fgmenth, Thy Gift” ambas do álbum “The Mighty Contract” de 1993, primeiro full-length da banda. A banda se despede de todos, após 1h30, ciente de que fez um maravilhoso trabalho.
Embora a eles tenham deixado alguns álbuns de fora da celebração como “Genesis” e “A Dead Poem”, a banda se entregou e fez um belo espetáculo. Os fãs saíram felizes e, com certeza, estarão atentos para o lançamento do “Pro Xristou”. Esperamos que o Rotting Christ siga produzindo e nos brindando com grandes apresentações como essa por muitos anos.
Setlist – Rotting Christ em São Paulo, 29/02/2024:
1 – 666
2 – P’unchaw kachun- Tuta kachun
3 – Demonon Vrosis
4 – Kata Ton Daimona Eaytoy
5 – Apage Satana
6 – In the Name of God
7 – Pix Lax Dax
8 – King of a Stellar War
9 – Archon
10 – Non Serviam
11 – Societas Satanas (Thou Art Lord cover)
12 – In Yumen-Xibalba
13 – Grandis Spiritus Diavolos
14 – The Raven
15 – Noctis Era
Bis:
16 – The Sign of Evil Existence
17 – Fgmenth, Thy Gift