Ney Matogrosso hipnotiza público com uma performance memorável em São Paulo

Apesar de tumulto no início, show foi marcado por uma performance marcante do cantor com sua banda

Texto: Peu Bertasso (@peubertasso) / Fotos: Leca Suzuki (@lecasuzukiphoto)

Se você pensar em uma pessoa de 82 anos, talvez você não imagine alguém em cima de um palco rebolando, pulando, dançando, sensualizando e cantando com uma voz cristalina. A não ser, é claro, que você imagine Ney Matogrosso. Uma força da natureza, o ex-vocalista dos Secos e Molhados continua mostrando toda sua majestade com a turnê “Bloco na Rua” que vem rodando o Brasil desde 2019 com maravilhosas interpretações de canções clássicas da MPB e de sua carreira. No sábado (9), foi a vez de São Paulo receber esse show outra vez, agora em um Tokio Marine Hall completamente abarrotado.

A noite começou no palco “Novos Talentos”, no hall de entrada do Tokio Marine Hall, onde a cantora Diameyka Odara animava o público com canções autorais e de artistas como Belchior, Maria Bethânia e Luedji Luna. “Orgulhosamente uma travesti preta”, como dito pela própria, a cantora era acompanhada de uma excelente banda, entretendo os presentes que chegaram mais cedo à casa. Por volta das 22h, já no palco principal, Ney Matogrosso e sua banda apareceram por detrás da cortina com “Eu quero é botar meu bloco na rua”, de Sérgio Sampaio. “Jardins da Babilônia” e “O Beco”, músicas de Rita Lee e Paralamas do Sucesso, respectivamente, continuaram o show. Ainda na terceira música era possível ver pessoas entrando no hall principal, porém, sem muito mais espaço sobrando. No fundo da pista desta casa, abaixo dos camarotes, existe um setor como se fosse uma plataforma, um pouco mais alta que a pista, cercada por uma grade em todo seu perímetro. Aquela parte estava aberta ao público e os que chegavam após o início do show foram se posicionando dentro desse setor. Porém, sem respeitar a fila que se fazia para entrar nessa parte, as pessoas pularam a grade, se colocando na parte mais alta daquele lugar. Outros, se penduravam nas grades para ver o palco e eram alertados pelos bombeiros presentes para que descessem.

Enquanto isso, a performance de Ney acontecia sem nenhum problema. Pelo contrário, o show foi impecável a todo momento. “Já Sei”, de Itamar Assumpcão, precedeu a clássica “Pavão Mysteriozo”, originalmente composta por Ednardo, que fez o público cantar e dançar. No palco, Ney parecia um garoto. A todo momento dançava e rebolava enquanto cantava com a mesma voz que marcou gerações e conquistou a todos (incluindo Cazuza). “Tua Cantiga”, de Chico Buarque, teve “A Maçã”, de Raul Seixas, logo na sequência, música essa que contou com cenas (beirando a explicitude) de casais transando. Mesmo sentado na cadeira, como em “Yolanda”, o cantor continuava interagindo e provocando o público, como quando abriu parte de sua roupa, na região peitoral, levando todos ao delírio. Majoritariamente mais velho, os presentes acompanhavam Ney nas danças, cantando e agitando bastante. As excelentes “Postal de Amor” e “Ponta do Lápis” são apenas alguns dos exemplos da qualidade da banda que acompanha o cantor, com destaque aos instrumentos de sopro que a arrancavam arrepios quando se uniam com a performance de Ney em “Ponta do Lápis”. Em “Corista de Rock”, outra de Rita Lee, o telão apresentava imagens de toda a carreira de sucesso do dono da noite.

Todas essas músicas foram regravadas pelo cantor sul-matogrossense no disco “Bloco na Rua”, com uma excelente roupagem moderna. A batida de funk em “O Último Dia”, de Paulinho Moska, é um bom exemplo disso, assim como a pegada mais direta de rock em “Sangue Latino”, do eterno Secos e Molhados. Depois dessa última, Ney comentou que o show, teoricamente, acabava após aquela música, comentando que sairia do palco naquele momento e voltaria depois que a plateia o chamasse de volta. Porém, brincou com quem ali estava perguntando se preferiam que ele continuasse direto, opção escolhida por todos. O show seguiu, então, com uma belíssima e intimista performance de “Como 2 e 2”, de Gal Gosta. A emoção apenas aflorou ainda mais com “Poema”, arrancando lágrimas em uma performance de tirar o fôlego. “Roendo as Unhas”, de Paulinho da Viola, e a clássica “Homem com H” foram as responsáveis por encerrar o show. Porém, com o público o chamando de volta, Ney Matogrosso gritou por direitos iguais para todos com a letra de “Rua de Passagem (Trânsito)”, encerrando de vez a extraordinária performance da noite.

Infelizmente, assim como no início, o tumulto se repetiu na saída. Na área citada anteriormente, assim como pularam a grade para entrar, pulavam também para sair, sem respeitar a fila que se formava. Ainda assim, nada disso roubou o brilho de uma apresentação tão marcante. Ney Matogrosso arranca suspiros de todos com uma performance hipnotizantes, como se nos obrigasse a olhá-lo ininterruptamente, fazendo-nos esperar para ver qual seria seu próximo movimento, algo que poucas vezes vi na vida. Aos 82 anos, Ney parece um garoto, um menino. Um “Menino Ney” que, de fato, enche o país de orgulho.

Ney Matogrosso – Tokio Marine Hall – 10/03/2024

Eu Quero é Botar Meu Bloco Na Rua
Jardins da Babilônia
O Beco
Já Sei
Pavão Mysteriozo
Tua Cantiga
A Maçã
Yolanda
Postal de Amor
Ponta do Lápis
Corista de Rock
Já que tem que
O Último Dia
Sangue Latino
Como 2 e 2
Poema
Roendo as Unhas
Homem com H

Bis:
Rua de Passagem (Trânsito
)

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About Gustavo Diakov

Idealizador disso aqui, Fotógrafo, Ex estudante de Economia, fã de música, principalmente Doom/Gothic/Symphonic/Black metal, mas as vezes escuto John Coltrane e Sampa Crew.

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