Dividido em 3 atos, show rendeu aplausos e superou expectativa daqueles que compareceram.
Texto: Italo Silva / Fotos: Isis Trindade
O Teatro Bradesco recebeu na noite do dia 07 de outubro a apresentação intimista, bem humorada e bem elaborada da cantora e multiinstrumentista holandesa Anneke van Giersbergen (ex-The Gathering), do baixista finlandês Marko Hietala (ex-Nightwish) e do experiente guitarrista finlandês Tuomas Wäinölä (ex-Kotipelto) que, além de parceiro de Marko Hietala no seu projeto solo, também integra a superbanda Raskasta Joulua, que faz versões heavy metal de canções natalinas em finlandês. O show intitulado “Six Strings and a Voice: An Evening With Anneke van Giersbergen and Marko Hietala” faz parte da turnê latinoamericana que começou dia 29 de setembro em Santiago, no Chile, e terminará dia 15 de outubro, em San José, na Costa Rica
Numa noite chuvosa em São Paulo, o teatro, que fica no terceiro andar do shopping Bourbon, em Perdizes (zona oeste), recebeu um ótimo público, que desde às 20h já chegava para acompanhar a apresentação que começaria somente às 21h. Enquanto isso, já se acomodavam nos setores disponíveis no aconchegante Teatro Bradesco ou aproveitavam para comprar uma bebida, petiscos e pipoca.
Com alguns minutos de atraso, as luzes do teatro se apagam e o público se empolga com a entrada de Marko e Tuomas, que se sentam nas cadeiras que estavam posicionadas no meio do palco, pegam o baixo acústico e o violão de 12 cordas, respectivamente, deixando uma cadeira vazia no meio, que seria destinada mais tarde à Anneke. Após saudar o público, Marko reconhece alguns rostos na plateia e diz que é muito bom estar novamente no Brasil, após tantos anos, apresenta o seu amigo e “parceiro de crime” Tuomas Wäinölä e começa o primeiro ato do show.
O espetáculo foi preparado, assim como uma ópera, em três atos: o primeiro seria composto por músicas solo de Marko Hietala com algumas covers; o segundo seria somente de Anneke, no qual ela viria a tocar músicas do seu projeto solo, sucessos do The Gathering e algumas covers; e o terceiro com os três artistas no palco, composto por algumas músicas dos seus projetos pessoais e covers de nomes marcantes do rock e heavy metal, como Ozzy Osbourne e Iron Maiden.
Para a primeira “ária” desse espetáculo, conferimos Marko abrir com a folk/hard rock “Stones” do seu álbum “Pyre of the Black Heart” (2020), que conta com versões em inglês do seu álbum “Mustan sydämen rovio” (2019) totalmente cantado em finlandês. Com isso, ele anuncia a segunda música, “Isäni ääni” (pt: “A Voz do Meu Pai”), dedicada aos nossos pais, pontuando que tudo que tudo que aprendemos, independente de serem bons ou maus exemplos, vieram deles.
Outros destaques da parte solo de Marko foram certamente “Crazy Train” de Ozzy Osbourne, que o público acompanhou com palmas, e “Holy Diver” de Dio, que teve o refrão cantado a plenos pulmões pelo público. Para a saideira de sua parte solo, Marko separou “Child of Babylon”, cover do Whitesnake, que marca a entrada de Anneke no palco. O público vai à loucura, aplaude e grita. A cantora se senta na cadeira que se encontra no meio do palco, entre os dois artistas, e canta o refrão com eles. Quando a música é encerrada, a plateia se levanta e aplaude a cantora de pé.
Depois de Marko e Tuomas se retirarem brevemente do palco, sob aplausos do público e algumas piadas do baixista, Anneke se prepara para começar a sua parte solo. Ela diz que, apesar da chuva, o Brasil continua quente como sempre. Aliás, o show inteiro é bem humorado e, entre uma música e outra, sempre há uma história e/ou piada dos três. Assim, uma atmosfera intimista e agradável é construída, criando uma sinergia entre artistas e público, que participa ativamente do show.
Como música de abertura para a sua parte, Anneke toca a animada “Lo and Behold” no violão, utilizando som mecânico como parte do instrumental. Essa música, do álbum “The Darkest Skies Are the Brightest” (2021), é uma declaração à sua família: seu marido, Rob Snijders, e ao seu filho Finn Snijders. Além dela, também cantou o sucesso do The Gathering “Saturnine”, seguida da “Valley of the Queens”, música de vocais bem marcantes da sua participação no projeto holandês Ayreon. Depois delas, veio a revelação de que a próxima música, a divertida “I Saw a Car”, quase não fez parte do álbum, pois o álbum já estava na mixagem, quando Anneke a escreveu e pediu ao seu produtor que a incluísse.
Para encerrar a sua parte solo, Anneke ainda cantou a lindíssima “The May Song” do The Gathering, relatando ser uma das mais difíceis do seu set, além de sua interpretação de “Cloudbusting” de Kate Bush, que se encaixou como uma luva na sua voz doce. Posteriormente, cantou também “Hurricane” do seu álbum solo de 2021.
Marko e Tuomas, então, voltam ao palco para o terceiro ato do espetáculo com “Catch the Rainbow”, do Rainbow, seguida de uma homenagem a Tom Jobim, no momento que Marko pede a Tuomas que eles toquem algo mais “metal”. A plateia é surpreendida e canta “Wave” enquanto o guitarrista executa o seu instrumental. Essa é a deixa para que a energia do show se eleve e, então, Tuomas faz a introdução de “Wasted Years” no violão com perfeição. Os fãs presentes de Iron Maiden vão à loucura e cantam alto.
De Iron Maiden para Ed Sheeran, os três músicos fazem uma versão para a música “I “See Fire” que faz parte da trilha sonora do filme “o Hobbit”, mas não antes de Marko fazer uma piada, falando que o filme o faz lembrar de casa, já que ele também “saiu da floresta”. Após a surpresa, o trio se prepara para tocar “Strange Machines” do The Gathering, quando Marko e Anneke se rendem ao talento um do outro, comentando que era um desejo antigo que eles fizessem parte de um projeto juntos, já que são amigos de longa data e sempre se encontraram nos bastidores de festivais pela Europa. Hoje, o fato de estarem tocando juntos, é considerado algo muito especial para eles.
Caminhando para as músicas finais, Marko leva os saudosos fãs de Nightwish à loucura ao tocar “The Islander”, música do álbum “Dark Passion Play” (2007), e completa com, segundo ele próprio, mais uma música de um dos seus heróis, Ozzy Osbourne, a incrível “Perry Mason”, que tem uma das melhores harmonias vocais apresentadas durante a apresentação. Após tocarem um dos sucessos de Ozzy, os três se levantam, bastante aplaudidos, fazem a menção de irem embora, mas os fãs pedem “mais um”, sendo prontamente atendidos. Os três se sentam novamente e tocam a linda “The Sound of Silence”, uma adaptação do original de Simon & Garfunkel. Ao final, eles são aplaudidos de pé por um longo período.
É o final de uma noite agradável, com muito humor e vozes incríveis. Superou as expectativas dos fãs, que estavam com saudades de Anneke e Marko, e que se renderam ao talento de Tuomas. Anneke anunciou que pretende voltar em breve para executar canções do seu último álbum e Marko já tem data para voltar ao Brasil, em turnê com Tarja Turunen, em março de 2024. Certamente, depois dessa noite, o público ficou ainda mais empolgado e não irá perder a volta dos dois.
Setlist
Six Strings and a Voice: An Evening With Anneke van Giersbergen and Marko Hietala
Marko Hietala e Tuomas Wäinölä
- Stones
- Isäni ääni
- Crazy Train (Ozzy Osbourne cover)
- Holy Diver (Dio cover)
- Two Soldiers
- Children of the Grave (Black Sabbath cover)
- Child of Babylon (Whitesnake cover)
Anneke van Giersbergen solo
- Lo and Behold
- Saturnine (The Gathering cover)
- Valley of the Queens (Ayreon cover)
- I Saw a Car
- The May Song (The Gathering cover)
- Cloudbusting (Kate Bush cover)
- Hurricane
Anneke van Giersbergen, Marko Hietala e Tuomas Wäinölä
- Catch the Rainbow (Rainbow cover)
- Wave (instrumental – Tom Jobim cover)
- Wasted Years (Iron Maiden cover)
- I See Fire (Ed Sheeran cover)
- Strange Machines (The Gathering cover)
- The Islander (Nightwish cover)
- Perry Mason (Ozzy Osbourne cover)
Bis
- The Sound of Silence (Simon & Garfunkel cover)
