A exposição segue até o dia 14 de dezembro no Edifício Oswald de Andrade. Aberto ao público, as visitações acontecem de terça à domingo, sempre das 10h às 20h.
Foto: Anna Bogaciovas
O artista Achiles Luciano, um dos nomes mais expressivos da arte digital negra contemporânea, inaugura uma nova fase de sua trajetória com a exposição ‘ID Corpos Negros’, aberta ao público no Edifício Oswald de Andrade, no centro de São Paulo. A mostra, gratuita, integra o calendário do Novembro Negro e apresenta 10 obras inéditas que utilizam realidade aumentada (RA) para criar experiências imersivas e multicamadas.
Unindo afrofuturismo, ficção científica e ancestralidade, Achiles reafirma seu protagonismo na pesquisa de novas tecnologias aplicadas à estética afrodiaspórica. Sua produção, que transita entre pintura, audiovisual expandido, live painting e RA, evidencia como artistas negros têm reconfigurado os territórios digitais e tecnológicos no Brasil.
Para ele, a narrativa não-linear é parte crucial da experiência de ‘ID Corpos Negros’, se assemelhando às reflexões do escritor e filósofo Nego Bispo. Nas palavras do artista e idealizador da mostra, cada perspectiva se revela em uma nova experiência expográfica, desdobrando-se em camadas da história, arte e cultura afrodiaspórica, que se entrelaçam e enriquecem a jornada do visitante.
“A mostra ‘ID Corpos Negros’ é o fragmento de um sonho que começa a se realizar.
Nascido do meu fascínio por histórias de ficção científica, o projeto expressa uma inquietação antiga: perceber como a tecnologia, cada vez mais presente no nosso cotidiano, parece materializar aquilo que antes só existia nas páginas da imaginação, nos gibis, em filmes de ficção. Com esse trabalho, proponho uma travessia visual que oscila entre o real e o digital, o lúdico e o surreal. Uma experimentação artística que funde a arte mista com reflexões pessoais, mas que também toca questões mais amplas sobre identidade, ancestralidade e futuro”, explica Achiles Luciano.
O projeto, que celebra mais de três décadas de trajetória artística de Achiles Luciano, consagra um momento especial da arte contemporânea negra com as pesquisas em novas tecnologias que ele vem conduzindo. “Nos anos 1990, minha expressão era essencialmente pictórica — eu só pintava. O audiovisual entrou timidamente na minha trajetória, começando em 2008 e 2009. Nesse período, enquanto pesquisava sobre arte digital, montei meu primeiro set usando o Tagtool, um software aberto da época que permitia criar animações com joystick e realizar pinturas digitais ao vivo por meio de projeção. Batizei essa experiência de “grafite digital”.
Nesse contexto, o artista se firma como um dos grandes nomes da live painting, expressão que se conecta com sua vivência nas jam sessions e nas noites de jazz e blues no emblemático clube Urbano. Seu trabalho, em diálogo com o improvável e o espontâneo, revela a pintura ao vivo como uma força estética fundamental, capaz de traduzir a própria essência de uma cidade que nunca parou de se reinventar.
Natural de São Paulo, Achiles Luciano ficou conhecido na cena da arte digital negra por construir narrativas que expandem o olhar sobre memória, território e identidade. Após a performance de videomapping no projeto Pavilhão Aberto da Fundação Bienal de São Paulo (2025), o artista provoca um entrelaçamento entre o sci-fi e a ancestralidade afrodiaspórica, em um autorretrato da comunidade negra.
Essa homenagem é observada através das obras Corpo Oculto, Exú – Fragmentos de Sonho, Secções e CSM_K4P031R4. Para Achiles Luciano, “ID Corpos Negros é um gesto de visibilidade, força e imaginação. Uma tentativa de traduzir, em imagens, a complexidade de existir, resistir e sonhar em um mundo em constante transformação. Neste momento estamos vivendo, talvez, o início de uma era onde a ficção científica se torna real”, revela.
Gratuito e aberto ao público, o projeto foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo do município de São Paulo, inserida no edital SP CINE 06/2023 – criação de obras com Realidade Aumentada em Audiovisual Expandido.
A exposição ‘ID Corpos Negros’ é uma realização da Lei Paulo Gustavo, do artista Achiles Luciano, e conta com o apoio da SPCine, Secretaria Municipal de Cultura – São Paulo capital da cultura, LPG, CULTSP PRÓ, Ministério da Cultura – Governo Federal do Brasil. A produção é da PROTOLAB Cultural, direção de produção Felipe Brait e apoio cultural CANVAS Audiovisuais.
SERVIÇO
[Exposição ‘ID Corpos Negros, de Achiles Luciano]
Onde: Complexo Cultural Oswald de Andrade, na Rua Três Rios, 363 – Bom Retiro, São Paulo – SP, 01123-000
Quando: de 15 de novembro a 14 de dezembro
Dias e horários da exposição: de terça a domingo, das 10h às 20h
sábado e domingo, das 09h às 18h
Gratuito
Sobre Achiles Luciano
Achiles Luciano é artista multimídia paulistano, com trajetória iniciada em 1993, cuja pesquisa transita entre pinturas analógicas e digitais, fotografias, projeções urbanas, realidade aumentada e performances audiovisuais.
Reconhecido por suas performances de Live Painting durante as JAM Sessions que pipocavam em São Paulo no final da década de 90 até ano 2009, com essa exposição revela uma parte de sua pesquisa que trás essa carga de trabalhos que manipulam técnicas híbridas — da pintura ao grafite digital, do tagtool ao video mapping, do grafite digital à edição e animação — para construir narrativas que expandem o olhar sobre memória, território e identidade.
Sua obra já ocupou instituições e projetos centrais da cena cultural brasileira, incluindo Bienal de São Paulo, Sesc, Festival Feira Preta, Museu Afro Brasil Emanuel Araújo e Casa das Caldeiras. Entre seus destaques recentes, realizou performance de videomapping no projeto Pavilhão Aberto da Fundação Bienal de São Paulo (2024 e 2025), video mapping durante as récitas da ”Ópera Porgy and Bess” com a direção de Grace Passô no Theatro Municipal de São Paulo (2025), com atuação de grande escala que reafirma sua pesquisa sobre luz, imagem e arquitetura como dispositivos narrativos.
Artista premiado, recebeu o Prêmio Pretas Potências, iniciativa da PretaHub, pelo impacto de seus projetos ligados ao movimento “Vidas Pretas Importam” durante a pandemia (2020 e 2021). Sua prática também se expande para a cena internacional, com residência artística na Villa Waldberta, na Alemanha, onde desenvolveu a série Extensão Necessária do Diálogo, aprofundando processos que combinam projeção, fotografia, pintura analógica e digital, texturas e memória visual. Achiles Luciano consolida uma trajetória que integra tecnologia, ancestralidade visual e pulsão futurista para reimaginar narrativas sobre corpos negros, cidades e possibilidades de existência.





